sexta-feira, 30 de abril de 2021

Divulgação - "Comunicação, democracia e religião no Brasil".



NO DIA DO TRABALHADOR: DIÁLOGOS SOBRE “COMUNICAÇÃO, DEMOCRACIA E RELIGIÃO 

No próximo sábado, 1° de maio,  Dia do Trabalhador, haverá um debate articulado pela Agência Tambor e pelo programa Papo de Crente, com o tema: Comunicação, Democracia e Religião no Brasil 


Quem participa?
 
- Dom Valdeci - Bispo da Igreja Católica. Atua na diocese de Brejo, no Maranhão. É o atual presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Social Transformadora da CNBB.

- Claudia Santiago - Jornalista, históriadora, editora e educadora. Dirige o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) do Rio de Janeiro, referência na comunicação sindical e popular no Brasil.

- Fábio Py - Teólogo protestante-evagélico e professor do Programa de Pós Graduação em Política Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF). É autor do livro Pandemia Cristofascista.

domingo, 11 de abril de 2021

“Flores nas encostas de cimento”: o silenciamento e a tomada dos crentes de esquerda na política.

Fonte: Mídia Ninja.


“Flores nas encostas de cimento”: o silenciamento e a tomada dos crentes de esquerda na política*.
 

 

“E se as luzes nos roubassem as estrelas
E nosso brilho só nos mostrasse
A silhueta do que poderíamos ser
(…)
Para clarear o meu tormento
Como flores nas encostas do cimento”

 

(Marcelo Yuka)

 

* Publicado originalmente em Mídia Ninja. 

Fabio Py

Não é fácil traçar uma linha sobre qualquer grupo social religioso. É ainda mais difícil desenhar uma linha sobre um grupo sociorreligioso tão grande como os evangélicos, os quais nas últimas décadas cresceram e contabilizam 31% da população brasileira. Uma pesquisa dos estudos demográficos vem chamando a atenção dos analistas porque apontam que por volta de 2032, os protestantes-evangélicos devem se transformar no maior grupo religioso do Brasil. Esse dado vem causando certo alarme nos meios intelectuais, pois se tem a impressão de que essa parcela da população seja parte de uma nova formação talibã, ou seja, uma massa de religiosos dotados de pouco pensamento crítico e que obedecem como zumbis às lideranças religiosas persecutórias a pluralidade democrática.

Para problematizar essa descrição sobre o setor, produzida principalmente por setores das elites e/ou intelectuais, selecionei dois novos mandatos políticos de vereadores, que unem as experiências evangélicas e as pautas de crítica ao sistema capitalista. Antes de aprofundar este tema, farei uma breve recuperação histórica para ampliar a análise sobre a questão dos vínculos dos protestantes-evangélicos com os setores da esquerda, pois existe uma densa “operação de esquecimento, silenciamento” (Pollack) da memória do setor com os movimentos de questionamento da vida.

A operação de silenciamento das Revoltas Camponesas na origem dos evangélicos

Algumas correntes dos memorialistas entendem que as memórias coletivas são concebidas pelos sujeitos de forma aleatória, a partir dos sonhos, como uma apropriação psicologizante dos pensamentos sociais. Michael Pollack contraria tal concepção ao indicar que “os debates e as percepções das memórias fazem parte dos debates das lutas sociais, das intrigas das classes, podendo até causar uma longa operação de silenciamento tanto de memórias como de setores sociais” (1989, p.17). Assim, o silenciamento/esquecimento é uma operação complexa articuladora tanto do passado, quanto das lutas sociais que mobilizam e ocultam ideias e memorias na atualidade. Portanto, pode-se dizer que ainda hoje existe um processo de interdição de certas memórias sobre a origem dos protestantes-evangélicos. Os próprios analistas mais técnicos caem na artimanha montada pelos líderes (religiosos midiáticos) que se arrogam porta-vozes dessa religião, como o pastor Silas Malafaia e o bispo Edir Macedo.

Na verdade, é do interesse desse grupo hegemônico o silenciamento da memória inicial (e contínua) de protesto social dos evangélicos, que buscam, com isso, se notabilizar. Por isso, indico que o setor protestante-evangélico de hoje é muito mais complexo no Brasil que os gritos de Silas Malafaia buscam silenciar e os dízimos/ofertas pedidos por Edir Macedo e Valdomiro Santiago buscam extorquir.

Para tratar dessa complexidade, busco trazer à tona um movimento que foi devidamente “silenciado”, na origem: as Reformas Europeias, dos séculos XV e XVI. As Reformas foram encadeadas em várias geografias, de forma plural:  na Germânia levado pelo monge Martin Luther;  na Suíça liderado por Zwinglio; em Paris, por  João Calvino; O rei Henrique VIII, na Inglaterra. Todos esses movimentos, nas suas diferentes gradações, invariavelmente foram ligados ao poder, aos reis, às monarquias.

Contudo, existe uma reforma esquecida, que foi a mais perigosa, numerosa e justamente não ligada às elites: as Revoltas Camponesas. Na verdade, essas Revoltas foram um amplo movimento popular levado pelos trabalhadores do campo de todos os cantos da Europa. Naquela época, até trabalhadores que vinham da África e da Ásia se revoltaram contra o “Antigo Sistema Feudal” europeu. O movimento transpassou as geografias de toda Europa, do Leste para o Norte. As Revoltas Camponesas uniram variadas lideranças de diferentes regiões, tais como: Thomas Muntzer, Georg Blaurock, Conrad Grebel, Agatha Trezel, John Miliandick, e Félix Manz. Assim, uma grande rebelião camponesa varreu a Europa questionando a divisão das terras dos reinos, seus revoltosos experimentavam as experiências religiosas das glossolalias, não aceitavam a conexão das elites com o cristianismo, e por isso, se rebatizavam nos rios. Eles foram chamados de “anabatistas” – que numa tradução simples seria o “novo-batismo”.

As Revoltas questionaram a ordem europeia a partir das mazelas dos trabalhadores espoliados no continente. É claro que foram completamente massacrados pelos reis, contudo, se parte dos derrotados foram mortos, degolados, e a outra parte promoveu novas demografias, principalmente, no leste europeu. O que gostaria de destacar sobre as reformas camponesas é a amplitude do movimento, que foi numericamente o maior movimento das Reformas com alto caráter reivindicatório. Infelizmente, no entanto, as reformas camponesas foram propositadamente esquecidas. Essa “operação esquecimento” (Pollack, 1989) no Brasil é recorrentemente reafirmada pelas elites intelectuais (ligadas ao positivismo e ao elitismo acadêmico), que desacreditam o amplo movimento popular religioso do início da modernidade, bem como pelos próprios líderes das grandes corporações cristãs familiarizados com o poder, pois temem a memória perigosa dos camponeses. Então, existe um duplo interesse hegemônico na manutenção do “silenciamento da memória” das Revoltas Camponesas justamente por sua força como amplo movimento evangélico popular anti-sistema.

União espiritual das Revoltas Camponesas e as teologias progressistas

Assim, ao apagarem as Revoltas Camponesas como parte das Reformas Europeias produziram um “esquecimento” que ajuda na simplificação política do setor evangélico como conservador ou de pouca crítica social. Por isso, para se opor a esse complexo silenciamento simplificador do setor, discuto agora os grupos de esquerda evangélicos atuais. Existem protestantes-evangélicos ligados às Teologias da Libertação, à Teologia da Missão Integral, à Teologia Feminista, às Teologias Negras. Todos movimentos teológicos que representam o questionamento às ordens religiosas e ao modo de vida cristão.

Esse conjunto de teologias insubmissas ajudaram nas últimas décadas a formar diferentes grupos de evangélicos atentos as lutas sociais, que hoje, chegaram a cargos no poder político. Portanto, busca-se na sequência do artigo pontuar dois políticos eleitos na última eleição (2020), que se sentem irmanados pelas Revoltas Camponesas, e se reconhecem como evangélicos de esquerda, são eles: Wiliam Siri, do PSOL do Rio de Janeiro, e Elenizia Matta, do PT de Goiás. Passamos agora a destacar essas duas importantes trajetórias políticas.


  • Wiliam Siri, sua trajetória político-religiosa de Campo Grande para a Câmara de Vereadores

William Carlos Brum Bispo, mais conhecido como William Siri, é membro da Igreja Presbiteriana do Recreio (na cidade do Rio de Janeiro). Contudo, seu histórico na igreja evangélica é antigo. Quando tinha dois anos de idade, seus pais se converteram na Igreja Metodista Wesleyana- vertente pentecostal dos metodistas, e passou a frequentá-la com a sua família. Por isso, se considera “praticamente nascido no lar evangélico”. Lá pelos dez anos migrou para a Igreja Maranata, em Campos Grande. Ficou nessa outra estrutura pentecostal até seus 20 anos, quando passou a conhecer outras igrejas, e há quatro anos ele se estabeleceu na Igreja Presbiteriana do Brasil, no Recreio.

Logo, Siri tem longa trajetória entre os pentecostais. Sua vinculação com o PSOL começa em 2015, antes, porém participava de encontros do PSB embora não fosse filiado ao partido. Na entrevista ele narra como entrou no PSOL: “No PSB conheci o deputado federal Glauber Braga, e depois, em 2015, pela morte do Eduardo Campos, o PSB apoiou o Aécio Neves. E, aquele grupo resolveu sair, nós fomos para o PSOL”. Em termos das eleições diretas, em 2016 e 2018, conseguiu uma boa margem de votos, mas não se elegeu (ficou como terceiro suplente). Também, entre 2017 a 2018 foi assessor do Glauber Braga (PSOL), e depois, entre 2019 à 2020, passou a trabalhar com o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL).

Tal como os revoltados camponeses do passado, William Siri entende que existe uma conexão do cristianismo com a realidade. Afirma que o cristianismo tem toda a “questão espiritual, envolvendo o evangelho, mas o cristianismo também tem a política, na dinâmica de como tratar o outro, o próximo (…) A vida é política! As escolhas que vamos fazendo são políticas. Acho que é isso, é o combate à desigualdade, à injustiça”. O vereador vai mais adiante nos desafios do cristianismo absolutamente político que “é todo mundo ter o que comer! Todo mundo ter dignidade (…) bem estar, vida digna. Essa é a conexão do cristianismo com a política na raiz”. O vereador sintetiza seu mandato sobre o paradigma da dignidade, que é uma base do cristianismo. Para ele, o cristão deve se “conectar com a política raiz, que é de luta por justiça e dignidade para todos e todas de forma irrestrita”, o que no território da periferia da cidade é “todo mundo ter acesso à cultura, ao desenvolvimento, acesso à saúde de qualidade (…) Essas pautas têm total conexão com os ensinamentos de Jesus”.

O mandato coletivo do jovem vereador Siri se liga politicamente à espacialidade da Zona Oeste, onde fica o bairro em que mora, isto é, em Campo Grande. Afirma “nossa cidade é maravilhosa, mas na Zona Oeste, Campo Grande, Bangu, Guaratiba, Realengo, tem uma desigualdade enorme. São mais de 2 milhões de pessoas com muita desigualdade, muita miséria”. Assume seu mandato sobre o prisma de colocar “a discussão da produção da desigualdade, da pobreza, de ter educação, ter transporte digno que aqui é, sobretudo, sucateado”.

O vereador diz ainda sobre a espacialidade que vive: “tem uma área rural muito grande na Zona Oeste (…) estou trabalhando todas as questões ambientais, saneamento básico, que não tem aqui”. Portanto, com o mandato, Siri busca inverter a lógica das gestões e das elites urbanas que olham a cidade a partir do centro. O desafio de sua política “é de um olhar de cidade, a partir do subúrbio”, assim, sua proposta é de se colocar junto aos trabalhadores urbanos que não moram nos centros, mas principalmente, nos cinturões periféricos distantes, como os moradores da Zona Oeste.

Diferente dos grandes nomes da Bancada Evangélica do Congresso Nacional, o vereador não teve apoio de qualquer instituição religiosa, pois “não é a favor”. Ao contrário das pautas das grandes corporações evangélicas, sua atividade religiosa se liga ao coletivo que ajuda a construir o “Tudo Numa Coisa Só”, na Zona Oeste. O coletivo tem 12 projetos, como um pré-vestibular comunitário, e se notabiliza a partir de uma atividade de impacto ecumênico que é a Caminhada pela Liberdade Religiosa. O vereador, diferente dos evangélicos apologéticos exclusivistas, circula em “outras religiões”, e por isso, acha importante não ter apoio institucional de qualquer grupo religioso, considerando “completamente errado. Não condiz!”.

Ao fim da conversa, o vereador conclui que busca dar visibilidade as pautas da Zona Oeste que tem “2 milhões de pessoas que tem dons, e justamente a falta de investimento dificulta as pessoas a se desenvolvem, desperdiçando talentos, vocações (…) mas o que não falta aqui são pessoas extraordinárias”. Portanto, luta para que os moradores da região “tenham acesso à cultura, a terem mais equipamentos culturais, que são apenas 26 equipamentos culturais, enquanto a Zona Sul são mais de 200 (…) e o que tem aqui é sucateado, é um descaso muito grande”. Contudo, o grande gargalho da população da Zona Oeste é a “questão do transporte público que dificulta o translado para o trabalho”, fazendo com que a população gaste horas no dia nos trajetos.


  • Elenízia da Mata, trajetória político-religiosa na defesa do serrado e a luta contra o machismo estrutural

Outra persona política irmanada a partir das Revoltas Camponesas, é Elenízia da Mata. Formada em Letras pela UEG, com MBA em Gestão do Terceiro Setor e especialização em Direitos Sociais pela UFC, Elenízia pertence a Igreja de Cristo. Nascida num lar evangélico, seu pai é pastor da Assembleia de Deus, onde ficou até os 18 anos. A partir dali, foi para a Igreja de Cristo, uma denominação pentecostal independente da cidade de Goiás, iniciada em 1986, pelo pastor Raimundo Aires e a bispa Rosa Heide. Migrou para essa igreja “para ampliar o diálogo do cristianismo com a vida” – embora mantenha relação com pessoas da Assembleia de Deus.

A vereadora entrou no PT oficialmente em 2003, embora já participasse das suas atividades antes. Ligou-se ao partido no movimento de pessoas de esquerda da cidade que tentavam abrir espaço para disputar com as antigas oligarquias. Hoje ela é da direção do partido, e justifica: “acho super importante ser uma mulher na disputa por narrativas dentro dele”. Para ela, a função “do cristão e da cristã primar pelos princípios básicos chamados pelo nosso grande líder, que é Jesus Cristo. Ou seja, zelar pelas pessoas, pelos pobres, pelas viúvas. O cristão deve servir aqueles e aquelas que são mais vulneráveis”. Diz ainda que o cristão na sociedade deve “cuidar de quem está preso, quem tem fome, quem não tem roupa, com os desvalidos”, destaca. A vereadora completa: “a política é um instrumento oficial para execução desse chamado”.

Elenízia esteve à frente do Centro Especializado de Atendimento à Mulher, ligado à prefeitura de Goiás, com função de trabalhar com mulheres na condição de violência doméstica, e na prevenção da violência. Esse projeto foi considerado uma das melhores iniciativas nas gestões de municípios do Brasil. Segundo Elenízia, “ajudou a fortalecer meu nome, porque você exercer um cargo público de excelência (…) por ser de esquerda e uma mulher cristã a princípio causou muito estranhamento”. A vereadora consegue unir a vivência na Igreja ao trabalho de luta pelos direitos das mulheres diretamente quando promove atividades sobre violência de gênero nas igrejas da região. Esse projeto foi até aprovado pelo conselho de pastores de Goiás.

A vereadora é atenta também as questões da ancestralidade. Pouco antes da eleição, teve atuação na territorialidade do Quilombo Alto Sant’Anna “tanto na organização da comunidade, de dados para o relatório para o reconhecimento da Fundação Palmares, quando na organização que deu personalidade jurídica ao movimento” – sendo umas das lideranças do movimento negro na organização do “Fórum de Igualdade Racial, que já existe enquanto coletivo”. Ela se orgulha de participar do projeto de Mulheres Coralinas: “um projeto para mulher, com mulheres que se captou recurso da extinta Secretaria de Políticas Públicas para mulheres, ligada à presidência da república”.

Assume que seu mandato está “pautado na luta antirracista, principalmente, pelo viés da questão da segurança para as mulheres”. Por isso, se atenta para a “geração de trabalhos, oportunidades e tanto de empoderamento de espaços de poder para as pessoas mais vulneráveis, que em geral são as pessoas pretas, em geral são mulheres, então isso está interligado”. A vereadora reconhece a vinculação do cristianismo com o socialismo, que se dá “a partir do Reino de Deus, que é sobretudo pautado no reino de justiça, pautado na equidade, no cuidado com aqueles que são mais frágeis, com aquelas pessoas que estão marginalizadas, com aqueles e aquelas que tem fome e sede de justiça”.

Ela não deixa de destacar a conexão do cristianismo com seu partido. Pois ele é formado por “trabalhadores, por aqueles e aquelas que tiveram a vida impactada pelos poderosos e que decidiram pela insurgência pela luta de seus direitos”. Seu mandato defende a “vida segura das mulheres (…) e que tenha delegacia especializada”, e, se propõe trabalhar com os agressores, pois que “se entenda que o machismo estrutural atravessa os corpos dos homens agressores”. Por fim, é sensível a questão da geração de renda para o “setor negro da sociedade, pois a questão do racismo institucional impede a inclusão econômica também (…) assim também tratar da questão da geração de renda pautada em economia solidária”.

Novas lideranças evangélicas de esquerda e a inspiração popular

Portanto, a força política de William Siri e Elenízia Matta se possibilita a partir de suas experiências sociais e religiosas junto às suas espacialidades que permitem agremiar lutas na defesa do despossuídos e aos que sofrem violência junto aos seus mantados políticos populares. Ambos são impulsionados por um cristianismo mais humano atento às dores e às mazelas. Com este artigo, selecionei as trajetórias politicas desses dois crentes, que são novas faces de políticos evangélicos de esquerda que não se ligam à Bancada Evangélica, à Frente Parlamentar Evangélica e ou a qualquer estrutura Evangélica dos grandes evangelistas. Também, apontei que a expansão evangélica avança nos territórios brasileiros formando também pessoas que pensam um cristianismo mais encarnado, insubmisso. Assim, Elenízia da Matta, mulher, pentecostal, negra, direto do cerrado brasileiro, e William Siri, do Sudeste, periférico da Zona Oeste do Rio de Janeiro se inspiram na memória dos camponeses que lutaram contra o peso dos poderosos do mundo europeu do seu tempo. Um dado interessante é que tanto Siri quanto Elenízia passaram a infância e a adolescência nas comunidades pentecostais que se multiplicaram pelo Brasil. Nada mais pulsante e popular no Brasil contemporâneo.

É a partir do amplo território das periferias brasileiras que ambos se identificam com os movimentos de esquerda evangélica que sofrem diariamente um processo de “silenciamento/apagamento” do passado e no presente. Mas, que humanizam as lutas no setor, lutando por justiça, de forma antirracista, feminista, pelo acesso à moradia, à justiça ambiental e pelo transporte dos trabalhadores. Nesse sentido, suas personas inspiram e são icônicas nas suas geografias mesmo quando ao inverso do senso comum que desacredita em qualquer conexão dos evangélicos e as diferentes gradações das esquerdas. Sim, ambos mostram que a simplificação histórica do setor protestante-evangélico só ajuda aos coronéis da fé, reafirmando a barganha fundamentalista.

E, como destacado aqui, essa “operação de silenciamento” e simplificação despreza propositadamente a origem das Revoltas Camponesas, para também, apagar da memória figuras como o pastor Guaracy Siqueira, metodista que participou da Revolta Constitucionalista de São Paulo de 1932, depois se tornaria Deputado Federal – se dizia socialista cristão. Essa operação também silencia os grupos evangélicos trabalhadores rurais, nas Ligas Camponesas, nas décadas de 1950 e 1960, liderados pelo advogado/deputado batista-presbiteriano Francisco Julião. Também, forçam o esquecimento das juventudes presbiterianas, batistas, metodistas, luteranas e anglicanas que lutaram contra a Ditadura civil-empresarial-militar no Brasil.

O que pretendo dizer é que o setor evangélico nunca foi uniforme em termos políticos e sua vinculação com as direitas é uma conclusão apressada. Ocorre assim desde a formação dos protestantes-evangélico nas Reformas Europeias um complexo exercício das elites religiosas de “operar o silenciamento” dos setores descontentes, subversivos dos crentes que questionavam o status quo. E, hoje, parte das esquerdas evangélicas se inspiram nos movimentos dos camponeses revoltosos que buscaram se libertar das amarras dos reis, orando, rezando, falando em línguas, se organizando para lutar por moradia/terras, contra as elites religiosas do seu tempo e sobretudo por justiça social.

É verdade, que muito se repete sobre não generalizar os protestantes-evangélicos. Contudo, acredito que se deva dar um passo a mais. Não basta o alerta pela não generalização do setor, mas, a partir da memória “esquecida” dos camponeses revoltados contra o Antigo Regime, deve-se dizer para não se subestimar os crentes. Sim, porque é uma constante das elites e dos mais letrados desprezar aqueles que seguem limpando os ladrilhos, os vasos, os que são explorados pela servidão dos tempos pandêmicos. Pois, a população evangélica, no Brasil, é parte contundente das camadas populares. Logo, o desprezo pelo setor, se resvala no preconceito de classe e no racismo direcionado às populações negras das periferias.

As mesmas elites e os mais letrados que cismam em cortar as flores, ou então, desprezá-las ao nascerem nas encostas cimentadas. William Siri e Elenízia Matta são flores que aparecem no cinza opaco das encostas, mas que dão luz e beleza, e mostram força ao rompem com o cimento. Ambos conjuntamente são um anuncio da primavera. E, ela, o bom Marcos nos ensinou que é inevitável.

Bibliografia:

BARROS, Odja. Flores que rompem raízes. São Paulo: Recriar, 2020.

CALDEIRA, Cleusa. Fundamentos teológicos da Política. Rever, v.18, n.3, 2018.

DREHER, Martin. História do povo de Jesus. São Leopoldo: Sinodal, 2012.

ENGELS, Frederick. The Peasant War in Germany. Moscou: International Publishers, 1926.

GAGNEBIN, Laurent e PICON, Raphaël. Le protestantisme: La foi insoumise. Paris: Flammarion, 2005.

GOERTZ, Hans-Jürgen. Thomas Müntzer. Mystiker – Apokalyptiker – Revolutionär. München: Beck, 1999.

GRABOIS, Pedro. Devir minoritário no ‘devir-evangélico’ do Brasil. UniNomade Brasil, 2018. Em: http://uninomade.net/tenda/devir-minoritario-no-devir-evangelico-do-brasil/.

LOWY, Michael. A guerra dos deuses, Petrópolis: Vozes, 2000.

PACHECO, Ronilso. Teologia negra: o sopro antirracista do espirito. Brasília: Novos Diálogos: 2019.

PEREIRA, Nancy Cardoso. Teologia da Mulher. Encontros Teologicos, v.30, 2015, p.121-134.

POLLACK, Michael. Memória, Esquecimento e Silenciamento. Estudos históricos, v.2, n.3, Rio de Janeiro, 1989, p.3-15.

PY, Fábio. Pandemia cristofascista. São Paulo: Recriar, 2020.

RAMOS, João Oliveira. Fé subversiva: o conflito sociopolítico da ideologia anabatistas com as demais propostas da Reforma Protestante na Europa Central entre 1525 à 1555. Tese de Doutorado em História, UFG, 2016.

RANDELL, Keith. Luther and the German Reformation 1517-55. Michigan: TransAtlantic Publications, 2000.

sábado, 10 de abril de 2021

Boas-vindas a Roberto Torres

 


Car@s leitores(as),

É com muita alegria e entusiasmo que apresentamos nosso mais novo colaborador permanente: Roberto Dutra Torres Jr.

Roberto notabiliza-se por sua participação ativa no debate público e por uma trajetória profissional que perpassa docência, pesquisa e gestão pública. Ainda jovem para um intelectual, Roberto já parece ter vivido mais de uma vida como cientista social e sua interlocução é promessa de mais vida para a tarefa que nos inspira no Autopoiese & Virtú. Ademais, tendo o blog este nome, não poderíamos mesmo deixar de ter um sistemista dos bons em nosso elenco. Ou, como o próprio diz, um “luhmmaniano de esquerda”.

Não poderia deixar de fazer menção ao fato de que fomos colegas de turma na graduação em ciências sociais na UENF no início dos anos 2000 e de que, aos meus olhos, Roberto – até então o “Soró” que havia conhecido na antiga Escola Técnica Federal de Campos – já impressionava por suas indagações bastante maduras para quem apenas iniciava sua formação científica. Das indagações, não demoraria muito tempo para que, cumprindo uma a uma as etapas de formação, devolvesse à sociedade fluminense proposições (provocações?) indispensáveis sobre as opções culturais que o povo brasileiro tem ao seu dispor diante das contradições vividas no tempo presente.

Nosso time ganhou um reforço e nossa comunidade de leitores(as) um aliado do bom combate.

Seja bem-vindo, Roberto!

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Divulgação - Entrevista com Carlos Valpassos

 

"O professor e Antropólogo, Carlos Valpassos, fala do enfrentamento à pandemia do coronavírus no país, com as ações dos governos federal, estadual e municipal. Ela também comenta sobre o papel da população para atenuar os efeitos da pandemia, além do cenário político em todas as esferas".

Transmitido pelo Folha no Ar 1, edição de 09/04/2021.

Acessível aqui.

terça-feira, 6 de abril de 2021

A desigualdade como problema moderno

Fonte: Clacso.

A desigualdade como problema moderno*

Roberto Dutra**

* Publicado originalmente em Folha 1.

A sociedade moderna é a primeira sociedade em que a desigualdade é percebida como problema social. Quanto mais trivial este fato parece ser, mais as pré-condições sociais desta problematização são esquecidas. Compreender a desigualdade não é só explicar causalmente seu surgimento, sua reprodução e sua mudança, mas também as condições sociais que tornam possível problematizar este fenômeno e observar suas causas não como um dado da natureza, mas como estruturas sociais que podem ser modificadas.

Como é possível que a vida social nos permita ver a desigualdade como um problema e não como garantia natural de ordem? A crítica e a problematização da desigualdade social do ponto de vista da justiça e igualdade pressupõem uma ordem social que seja compatível com a mutabilidade destes fenômenos. Na maior parte da história social da humanidade a desigualdade não foi um problema, mas sim um dado da natureza aceito como tal pelos humanos. Nem toda ordem social comporta a problematização e a mudança das estruturas de desigualdade social. Tanto a crítica da desigualdade quanto as idéias sobre justiça social que orientam esta crítica, incluindo as utopias políticas e o “igualitarismo primitivo” dos sociólogos (Müller, 2002, p. 497-498), pressupõem uma ordem social na qual a mudança das estruturas de desigualdade possa ocorrer sem que esta ordem social desmorone. A mudança das estruturas de desigualdade requer certa continuidade institucional e cultural na sociedade. A idéia de que podemos transformar as estruturas de desigualdade social é muito mais do que uma expectativa sociológica projetada na sociedade (Sachweh, 2011, p. 581): é uma conquista evolutiva da sociedade moderna, que está diretamente ligada à transição para um novo tipo de ordem social, na qual o princípio da igualdade orienta a participação dos indivíduos na política e no direito. É somente como resultado de práticas sociais específicas destas esferas que a desigualdade deixa de ser vista como um dado natural para ser percebida como um obstáculo à realização de determinadas normas e valores sociais. A problematização jurídica e política da desigualdade é o resultado da diferenciação da sociedade em esferas sociais autônomas (economia, política, direito, ciência, família, religião, artes etc.), que abre um horizonte de observação no qual assimetrias entre indivíduos e grupos sociais podem ser percebidas como contingentes e arbitrárias.

A igualdade moderna é complexa (Walzer, 2003): não supõe e nem exige a eliminação de toda e qualquer assimetria social, mas daquelas assimetrias que se somam umas as outras e geram um processo de acumulação de vantagens e desvantagens que destroem a possibilidade de igualdade no acesso a um padrão de vida considerado “digno” e “civilizado” em cada contexto. A igualdade moderna é complexa, não absoluta, porque a sociedade não é uma unidade, mas uma pluralidade de esferas. É este tipo de igualdade complexa que chamamos de cidadania. A pluralidade estrutural criada a partir da diferenciação da sociedade em esferas disponibiliza um horizonte comparativo que coloca as desigualdades em situação de maior ou menor pressão por legitimação. Formas de desigualdade típicas de uma esfera (como as desigualdades de classe produzidas na economia e no sistema de ensino) podem ser contrastadas com formas de igualdade vigentes em outras esferas (como a igualdade formal vigente no sistema político e no sistema jurídico). Em sociedades estamentais como o sistema feudal e o colonial, havia uma unidade estrutural que bloqueava o horizonte comparativo e com isso contribuia para a legitimação não problemática da desigualdade.

Em sua clássica sociologia da cidadania, Marshall (1967) vincula explicitamente o desenvolvimento da busca por igualdade à superação desta unidade estrutural característica de sociedades estamentais e com isso à diferenciação da sociedade em instituições funcionalmente especializadas. Em sociedades feudais, afirma, “não havia nenhum princípio sobre a igualdade dos cidadãos para contrastar com o princípio de desigualdade de classes”(Marshall,1967, p. 64). Com a diferenciação da sociedade em esferas autônomas, ao contrário, a desigualdade de classe deixa de estar fundada em seu próprio direito, e passa a ser “um produto derivado de outras instituições” (Marshall, 1967, p. 77). As duas coisas também podem ser afirmadas em relação às relações de gênero, raça/etnia e à própria divisão política do mundo em nacionalidades (o lado excludente do princípio da cidadania que Marshall não abordou): assim como as relações de classe, elas são constitúidas e observadas em contraste com formas de igualdade vigentes em outras esferas, especialmente com a igualdade formal de natureza política e jurídica, e são produto derivado de outras instituições.

A desigualdade pode deixar de ser um problema

O horizonte cognitivo e normativo que condiciona a problematização da desigualdade não é um dado. Como a hipótese sobre a possível formação de uma sociedade “neofeudal” sugere, este horizonte pode ser eliminado da vida social: a institucionalização da igualdade em determinadas esferas sociais, como o direito e a política, pode ser removida pela formação de estamentos capazes de suprimir a diferenciação da sociedade em esferas. A desigualdade pode deixar de ser um problema para se tornar novamente um dado natural.

Esta possível eliminação do horizonte cognitivo e normativo da igualdade eliminaria também as condições de possibilidade da crítica social da desigualdade. Vale repetir: Esta crítica social é institucionalizada através da introdução e desenvolvimento de direitos de cidadania universalistas, dependendo diretamente das estruturas do sistema político e do sistema jurídico: É somente porque todos os cidadãos têm formalmente o mesmo status político e jurídico que as desigualdades em outras esferas da vida se tornam um problema que deve ser revolvido a partir de decisões políticas e jurídicas: “A distinção entre igualdade e desigualdade constitui um paradoxo. Quanto mais iguais nos tornamos, segundo o paradoxo, mais descobrimos desigualdades, algumas delas de natureza infinitesimal” (Müller, 2002, p. 497).

Recentemente, alguns estudiosos têm levantado a hipótese da refeudalização e renaturalização das desigualdades sociais na sociedade mundial contemporânea (KALTMEIER, 2020; KOTKIN, 2020; DURAND, 2020; ROTH, 2021). Para Joel Kotkin e Olaf Kaltmeier, a classe economicamente dominante está se transformando em um estamento global que concentra recuros econômicos, políticos e culturais no topo da pirâmide social, destrói as classes médias e constrói aquela fusão de dimensões da desigualdade que elimina qualquer esfera da igualdade capaz de servir de contraponto às assimetrias sociais existentes. O novo estamento global passa a dominar a subjulgar as elites políticas, jurídicas e culturais. Surgiria um novo tipo de ordem social de estamentos fechados que suplanta a diferenciação da sociedade em esferas autônomas. Para Cédric Durand, estaríamos diante da formação de um “tecnofeudalismo” como resultado da evolução recente da economia de conquista de dados e espaços digitais: as plataformas corporativas que conquistam, concentram e administram o “mar de dados” (Big Data) produzidos pela multidão de indivíduos e organizações tornam-se “senhores feudais”, dos quais estes indivíduos e organizações passam a depender de modo radicalmente assimétrico. Para Steffen Roth, a possibilidade de formação de uma sociedade neoestamental deve ser tratada como um cenário improvável ao lado de outros possíveis. Ele advoga que a entronização do valor da saúde, como possibilidade surgida da pandemia da Covid-19, produziria a cosmovisão adequada para sustentar e legitimar esta hierarquia neoestamental pós-moderna: povos sanitarimente inferiores poderiam ser governados e colonizados por povos sanitariamente superiores:

“Em uma sociedade mundial da saúde "neo-medieval", seria fácil e óbvio medir não apenas funções específicas, mas praticamente todos os papéis, valores ou comportamentos tendo como parâmetro sua contribuição ou ameaça à saúde. O surgimento de classes, castas ou Estados correspondendo a diferentes níveis de saúde, pureza, infecção ou poluição seria uma consequência provável” (ROTH, 2021, p. 7).

Como vimos, a diferenciação da sociedade em esferas e a igualdade política e jurídica são condições de possibilidade para que a desigualdade seja problematizada, criticada e politizada na sociedade. O aumento da desigualdade e da dependência econômica em relação às corporações que controlam Big Data, e a prevalência de um sistema social (saúde) sobre os outros parecem ser condições necessárias, mas não suficientes para apontar o colapso das condições de problematização da desigualdade. Para que ocorra este colapso, o aumento da desigualdade e o surgimento da dependência na economia digital teriam que resultar não só na fusão das formas de inclusão e desigualdade de distintas esferas sociais, mas esta fusão teria também que eliminar o horizonte normativo e cognitivo da igualdade que permite a problematização da desigualdade. A prevalência do sistema econômico e das desigualdades econômicas teria que ser acompanhada pela formação de uma ordem social mais ampla, destituída de qualquer esfera na qual o valor da igualdade esteja institucionalizado e sirva de parâmetro imanente para politizar desigualdades observadas em outros sistemas sociais. Concretamente, esta ordem social mais ampla teria que ver destruída por completo a igualdade formal entre indivídos e povos, institucionalizada no sistema de Estados nacionais e na cidadania, para que a renaturalização da desigualdade pudesse substituir a igualdade complexa. O mesmo vale para a possibilidade de que o sistema da saúde venha a ocupar a posição de centralidade que a economia ocupa na maioria das situações, com a consequência de que a estrafificação sanitária se torne a dimensão capaz de fundir a agregar desigualdades em uma hierarquia social global, unitária e renaturalizada.

A prevalência de uma esfera social sobre outras é muito mais regra do que exceção na história da sociedade mundial moderna e não significa necessariamente a fusão de estruturas de desigualdade destas diferentes esferas. A formação de grupos estamentais também não basta para identificar o colapso da igualdade. Estruturas de desigualdade estamental especificamente modernas não apenas se formaram a partir de desigualdades de patrimônio e poder ao longo dos séculos XIX e XX (BOURDIEU, 2014), como também foram politizadas e em boa medida alteradas pela própria evolução das esferas sociais.

No entanto, a possibilidade do colapso da igualdade não pode ser descartada. O aumento vertiginoso das desigualdades econômicas, os obstáculos à superação de desigualdades raciais, étnicas e gênero em diferentes esferas sociais e a fragilidade institucional dos direitos igualitários de cidadania são fenômenos que apontam justamente para a possibilidade de desconstrução do horizonte normativo e cognitivo da igualdade e da consequente renaturalização das assimentriais sociais dos mais diversos tipos.

Bibliografia

BOURDIEU, P. Sobre o Estado. São Paulo: Cia das Letras, 2014.

DURAND, C. Technoféodalisme: Critique de l’économie numérique. Paris: Éditions La Découverte, 2020.

KALTMEIER, O. Refeudalisierung und Rechtsruck: soziale Ungleichheit und politische Kultur in Lateinamerika. Bielefeld: Bielefeld University Press, 2020.

KOTKIN, J. The coming of neofeudalism. A warning to the global middle class. New York: Encounter Books, 2020.

MARSHALL, T. H. Cidadania, Classe Social e Status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.

MÜLLER, H-P. Die drei Welten der sozialen Ungleichheit: Belohnungen, Prestige

und Citzenship. Berliner Journal für Soziologie, n. 4 , p. 485-503, 2002.

ROTH, S. The Great Reset. Reestratification for lives, livelihoods, and the planet. Technological Forecasting and Social Change, v. 166, p. 1-8, 2021.

SACHWEH, P. Unvermeindbare Ungleicheiten? Alltagsweltliche Ungleichheitsdeutungen zwischen sozialer Konstruktion und gesellschaftlicher Notwendigkei. Berliner Journal für Soziologie, n. 21, p. 561-586, 2011.

WALZER, M. Esferas da justiça. Uma defesa  do pluralismo e da igualdade. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

** Sociólogo. Mestre em Políticas Sociais. Doutor em Sociologia. Professor Associado do Laboratório de Gestão e Políticas Públicas (LGPP), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).