tag:blogger.com,1999:blog-37464985755860165182024-03-21T06:19:01.120-07:00Autopoiese e Virtu - Um blog de sociologia e políticaGeorge Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.comBlogger558125tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-8169950711240741452023-12-20T05:50:00.000-08:002023-12-21T08:18:35.347-08:00“Tudo que é sólido desmancha no ar” e lembranças maceioenses<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"></span></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPMKEwSpbq2Cy5EKdVH2NYSTsiVcBZHaMFNokuPF_7aavsFQTuUdFfqetlh8H72w_vpRCm-2vOeK4V1JRfzA1alfW0MqvlDZMilTVDkFEXlW1QCy4xxAvy6pjvfVmL5lQu8H5JSck9-czJ/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="1536" data-original-width="2048" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPMKEwSpbq2Cy5EKdVH2NYSTsiVcBZHaMFNokuPF_7aavsFQTuUdFfqetlh8H72w_vpRCm-2vOeK4V1JRfzA1alfW0MqvlDZMilTVDkFEXlW1QCy4xxAvy6pjvfVmL5lQu8H5JSck9-czJ/w400-h300/DSC07758.JPG" width="400" /></a></span></b></div><div style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif";"><span style="font-size: xx-small;">Porto do Jaraguá visto do bairro Farol, Maceió/AL. Fonte: Arquivo pessoal.</span></span></div><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; font-weight: bold; line-height: 107%;"><br /></span><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">“Tudo que é sólido desmancha no ar” e lembranças maceioenses</span></b><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 8.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 8cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 8pt;"> </span></i><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 8.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 8cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 8pt;">Os membros da
burguesia reprimem tanto a maravilha quanto o terror daquilo que fizeram: os
possessos não desejam saber quão profundamente está possuídos. Conhecem apenas
alguns momentos de ruína pessoal e geral – apenas, ou seja, quando já é tarde
demais</span></i><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 8pt;">. (Marshall Berman)</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><i><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Paulo Sérgio Ribeiro</span></i><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Há seis anos, dizia adeus a Maceió, cidade em que aportei em 2010 e na qual
posso dizer que vivi as dores e amores que conferem alguma grandeza à vida
breve e banal que levamos.</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Em 2010, percorríamos um Brasil um tanto diferente do qual submergimos
com o golpe de 2016 e do qual tentamos sobreviver com a chegada da extrema direita
ao primeiro escalão da política nacional em 2018. A comparação de cenários
poderia ser feita com diferentes chaves de leitura e os processos nela
focalizados demandariam tratar de elementos da conjuntura que a especialização
nas ciências sociais nos induz a enxergar como que dotados de vida própria diante das pretensões de devolvê-los à historicidade dos macroprocessos.</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Longe de mim estar à altura de tais pretensões neste epílogo. Mas na
Maceió que deixei para trás (e que me assalta toda vez que a pulsão de vida
pede passagem...) um fato torna sua lembrança um alerta sobre as ilusões que a
percepção <i>in flux</i> dos acontecimentos nos ocasiona ao olhar de
frente o espírito da modernidade ou, melhor dizendo, a sua contraface mais
impiedosa: a modernização capitalista. </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Uma premissa: o espírito da modernidade é uma expressão objetiva do
domínio do capital e das ruínas deixadas para trás com o suceder das suas
crises de acumulação. O fato: Maceió está afundando. </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Os bairros Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto e Farol estão
literalmente afundando, resultado de mais de 40 anos de exploração das minas de
sal-gema que os circundam pela empresa petroquímica Braskem. O drama derivado
desse crime continuado se traduz em mais de 65 mil famílias expulsas de suas residências,
quase cinco mil empreendedores que perderam renda e, sem alternativa, demitiram
cerca de 30 mil trabalhadores. Pasme, a degradação do solo urbano é de tal
monta que se registrou um terremoto de 2,5 graus na escala Richter na capital
alagoana em 2018<a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>.</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Ter lido essa notícia me remeteu a uma célebre passagem do <i>Manifesto
Comunista</i>, de Marx e Engels, que tomei de empréstimo para o título:</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">“Tudo que é sólido desmancha no ar”.</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Marx e Engels imprimiram naquele panfleto um autêntico testemunho das
esperanças do oitocentos europeu atribuíveis à liberação das potencialidades
humanas com o alvorecer da civilização burguesa sem, entretanto, ocultar seu
fundamento na inevitável destruição dos modos de vida sob um sistema econômico
cuja expansão ignora limites da vida material e destrona interdições da moral e
da cultura tanto em vilarejos quanto em megalópoles.</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Rever, pois, o <i>desenvolvimentismo</i> presente no <i>Manifesto
Comunista</i> permite olharmos para a circunstância dos homens e mulheres
maceioenses sem subestimar o enfrentamento das contradições que lhes atravessam
e que, na referida obra, já se insinuavam na avaliação quase
apologética da capacidade transformadora que a burguesia, enquanto
classe que um dia foi revolucionária, revelaria ao mundo.
Para tanto, nada melhor do que revisitar Marshall Berman, notadamente pelo modo
como ele captou a dimensão <i>fáustica</i> de nossa civilização que
o <i>Manifesto</i> ajudaria a iluminar.</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Para o filósofo estadunidense, a maneira como Marx e Engels se deixavam
levar pela torrente da vida moderna é a um só tempo crítica e “cúmplice” das
revoluções burguesas. Em meio a acelerada transformação que delineava os
contornos mais abrangentes da modernização capitalista – a emergência de um
mercado mundial e a produção de massa capitalista que promoviam o êxodo de
famílias campesinas despossuídas para engrossarem o proletariado das áreas
urbanas cuja paisagem, por sua vez, confundia-se com as fábricas que tanto
absorviam quanto solapavam os antigos mercados locais –, havia na verve
incendiária de Marx a evocação de um ativismo burguês que, lembra Berman,
surpreende o leitor do <i>Manifesto </i>por deixar os seus
contemporâneos a um só tempo “excitados e perplexos”<a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></a> ao descrever
como a mudança social espelhada por aquele ativismo nos defrontava com a
vida moderna enquanto uma “construção móvel que se agita e muda de forma sob os
pés dos atores”<a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
Berman vai além:</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 10pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 10pt;">O que é surpreendente
nas páginas seguintes é que Marx parece empenhado não em enterrar a burguesia,
mas em exaltá-la. Ele compõe uma apaixonada, entusiasmada e quase lírica
celebração dos trabalhos, ideias e realizações da burguesia. Com efeito, nessas
páginas ele exalta a burguesia com um vigor e uma profundidade que os próprios
burgueses não seriam capazes de expressar (BERMAN, 1986, p.90)</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;">.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Ora, mesmo em um autor não propriamente marxista como Yuval Harari,
podemos escutar os ecos dessa revolução permanente quando o historiador
israelense ressalta – de modo um tanto contraintuitivo<a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftn4" name="_ftnref4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 107%;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></a> para consciências
alardeadas pela crise climática – que o estoque de energia disponível no
planeta não parou de crescer desde quando aprendemos a converter um tipo de
energia em outro, viabilizando, pois, as bases técnicas para mudanças dos modos
de produção as quais, para o bem e para o mal, permitiram ao gênero humano
estender sua barganha com a natureza.</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Por óbvio, devemos nos perguntar quais seriam os termos dessa “barganha”
e até quando poderemos nos valer dela. </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Na obra de Marx, há um otimismo diante da janela histórica aberta pela
revolução burguesa, a ponto de o pensador alemão arriscar a própria pele na
organização do movimento operário europeu para contrapor-se às iniquidades da
nova ordem do capital. Se assim o foi, indagaria o leitor, por que cargas
d'água o “velho barbudo” quis enaltecer aquela revolução, se a ordem social que
a sucedeu não teria outra consequência senão a mais atroz desumanização do
trabalho? Haveria uma contradição</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">em termos no <i>Manifesto Comunista</i>?</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">Berman
observa que importava menos para Marx as inovações tecnológicas sobrevindas com
o capitalismo e mais o dinamismo da civilização burguesa. O constante
revolucionar dos meios de produção não deixaria margem à sacralização de um
passado como o do <i>ancien régime</i>. De fato, a burguesia foi a
primeira classe dominante cujo poder se estabeleceu não pela aceitação passiva
das relações hierárquicas em uma estrutura social, mas pela pressão de inovar
ativamente seus negócios em resposta à diuturna competição de uma economia de
mercado. Ao fazê-lo, desvelaria um escopo inaudito da atividade humana
promovendo uma “perpétua sublevação e renovação de todos os modos de vida
pessoal e social”<a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftn5" name="_ftnref5" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">Contudo,
esse novo ideal de “vida ativa” concernente à burguesia não poderia ser contemplado
em todas as suas possibilidades, pois o seu papel revolucionário seria rapidamente
suprimido pela redução de todos os processos ativos e esforços humanos que
impulsionou a um único significado, a mercadoria, e a único propósito, acumular
capital. Berman reconhece em Marx o seu débito com o “ideal desenvolvimentista
da cultura humanística alemã”<a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftn6" name="_ftnref6" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></a>,
uma tradição intelectual da qual ele se filiou de uma maneira <i>sui generis</i>: assimilando a estrutura de
personalidade requerida pela economia burguesa ao mesmo tempo em que se fazia
seu mais contundente crítico ao tentar “fazer história” formulando uma via emancipatória para os trabalhadores. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">O
drama da modernidade, visto pelo prisma do materialismo histórico, é que
realmente ninguém está alheio àquela estrutura de personalidade e que mudanças,
por catastróficas que sejam, apenas confirmam que atividades humanas cada vez
mais sofisticadas </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 16px;">– </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">como o extrativismo de minério em uma área urbana
densamente povoada como a operada pela Braskem em Maceió – não têm um significado
em si mesmas, pois são apenas meios para a consecução de um fim </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 16px;">– </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">fazer dinheiro </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 16px;">–</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">,
reservando às milhares de pessoas atingidas pela negligência a favor do lucro a
impossibilidade de exercer a </span><i style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">vida activa</i><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">
com a fluidez que uma sociedade supostamente aberta como a da economia de
mercado estimularia.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">A
metamorfose do capital – sua transitoriedade quanto aos ramos de atividade em
que é reinvestido –, será traduzida no futuro breve pelos novos anúncios do
mercado imobiliário para a reconstrução dos bairros maceioenses afetados pela ação
predatória da Braskem. Uma ordem grão-burguesa se consolida a despeito de vidas
humanas e não-humanas serem aniquiladas por vorazes empreendimentos nas cidades
litorâneas brasileiras como, entre tantos
outros exemplos, construir torres residenciais fincadas no mar de Salvador<a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftn7" name="_ftnref7" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></a>; o
projeto de urbanização para o cais José
Estelita, em Recife<a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftn8" name="_ftnref8" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></a>;
além claro do mundo <i>bizarro</i> criado
com o alargamento da faixa de areia em Balneário Camboriú, em Santa Catarina<a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftn9" name="_ftnref9" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></a>. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">A noção de “colapso” com
a qual o noticiário reveste os dias de agonia na capital alagoana pode ser
enganosa. Não há evidência alguma de que o que ocorre em Maceió e alhures seja
um esgotamento da capacidade de o capital assumir novas formas em sua autodestruição
inovadora. Mas esse prognóstico não nos desestimula a indagar, perante impactos
ambientais cada vez mais severos, quais são as alternativas emancipatórias às “soluções” das
grandes corporações cujo modelo econômico de sempre é agora requentado pelo discurso da </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 16px;">“</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">transição verde”</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">.</span></p><div><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri","sans-serif"" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>
<i>Brasil 247</i>. Documentário de Carlos Pronzato sobre o crime da Braskem que
está afundando Maceió terá pré-lançamento em São Paulo. Edição de 19/07/2021.
Disponível <a href="https://www.blogger.com/blog/post/edit/3746498575586016518/816995071124074145">aqui</a>.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn2">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri","sans-serif"" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Cf. BERMAN, Marshall. <i>Tudo que é sólido demancha no ar</i>. A aventura
da modernidade. São Paulo: Editora Schwarcz Ltda, 1986, p.89.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn3">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri","sans-serif"" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Idem.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn4">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftnref4" name="_ftn4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri","sans-serif"" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></a>
“O volume de energia armazenado em todo combustível fóssil na Terra é
insignificante quando comparado ao volume que o Sol fornece todos os dias – e
de graça. Embora apenas uma pequena fração de energia solar chegue até nós, ela
equivale a 3 766 800 exajoules de energia a cada ano. [...] Todas as atividades
humanas e indústrias combinadas consomem cerca de quinhentos exajoules por ano,
o equivalente ao volume de energia que a Terra recebe do Sol em meros noventa
minutos. E isso diz respeito apenas à energia solar. Além dela, estamos
cercados de outras enormes fontes de energia, como a nuclear e a gravitacional
– esta última mais evidente no poder das marés oceânicas causadas pela atração
que a Lua exerce sobre a Terra”. Cf. HARARI, Yuval. <i>Sapiens</i>. Uma
breve história da humanidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2020, p. 359.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn5">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftnref5" name="_ftn5" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri","sans-serif"" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Cf. BERMAN, Marshall. <i>Tudo que é sólido demancha no ar</i>. A aventura da
modernidade. São Paulo: Editora Schwarcz Ltda, 1986, p. 92.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn6">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftnref6" name="_ftn6" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri","sans-serif"" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Op. cit., p.94.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn7">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftnref7" name="_ftn7" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri","sans-serif"" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Blog <i>Nem
amigo nem inimigo</i>. A miamização da BTS. Acesso <a href="mailto:https://nemamigoneminimigo.com.br/2023/12/01/miamizacao-da-bts/">aqui</a>.
<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn8">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftnref8" name="_ftn8" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri","sans-serif"" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Jornal <i>Metrópoles</i>. Sob críticas
sociais e Lava-Jato, o Cais José Estelita, em Recife, é um problema. Edição de 23/05/2019.
Acesso <a href="mailto:https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/sob-criticas-sociais-e-lava-jato-o-cais-jose-estelita-em-recife-e-um-problema/">aqui</a>.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn9">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/paulo/Desktop/Escrit%C3%B3rio/Autopoiesi/Tudo%20que%20%C3%A9%20s%C3%B3lido%20desmancha%20no%20ar.docx#_ftnref9" name="_ftn9" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri","sans-serif"" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></a> <i>Diário do Centro do Mundo</i>.
Alargamento da faixa de praia consolida Balnerário Camboriú como o retrato
escarrado da jequice bolsonarista. Edição de 28/08/2021. Acesso <a href="mailto:https://www.diariodocentrodomundo.com.br/alargamento-da-faixa-de-praia-consolida-balneario-camboriu-como-o-retrato-escarrado-da-jequice-bolsonarista/">aqui</a>. <o:p></o:p></p>
</div>
</div><div><div id="ftn5">
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</div><div style="mso-element: footnote-list;"><div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
</div>
</div>Paulo Sérgio Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/03508418150337406508noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-4494590763128325312023-12-10T13:01:00.000-08:002023-12-10T13:01:20.645-08:00Convite Voyeur Político n. 11<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfew376cyvzHw3_NxNLHrjFwnHSXQfuN_MJNClRvUXQOcK4Da-SYsBApRGIpNydDkRUzvStdI2ZSKhov9yvzm1g89d8RUi0fCh-Wnc_KU2MRrpHPB9ylE1UE8SSiJTDq1dCi96ad-e4ZX2FsT0Z1l5cJwA-TcQU_Me3fEPCZdW313igP5bFnMKt8VziwA/s1080/V%20politico%2011.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="367" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfew376cyvzHw3_NxNLHrjFwnHSXQfuN_MJNClRvUXQOcK4Da-SYsBApRGIpNydDkRUzvStdI2ZSKhov9yvzm1g89d8RUi0fCh-Wnc_KU2MRrpHPB9ylE1UE8SSiJTDq1dCi96ad-e4ZX2FsT0Z1l5cJwA-TcQU_Me3fEPCZdW313igP5bFnMKt8VziwA/w367-h367/V%20politico%2011.jpeg" width="367" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Aqui estamos com mais um episódio do projeto Voyeur Político! Estamos no terceiro ano do projeto, episódio nº11. Nossa conversa ao vivo irá acontecer na próxima terça-feira, 12/12, 10 da manhã (hora de Brasília) e as inscrições para acompanhar o papo podem ser feitas por aqui: https://forms.gle/nCzmHjXN8VREjmHJ6 . Como é a praxe, para quem não puder nos acompanhar ao vivo, a conversa ficará disponível no YouTube.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both;">O papo será sobre segurança pública no final deste primeiro ano do mandato de Lula III, O Resiliente. Afinal, avançamos ou retrocedemos? Flavio Dino, o mais pop dos políticos brasileiros contemporâneos, aquele que até mesmo foi retratado como um dos Vingadores, convenceu como policy maker?</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Para uma conversa tão complexa como essa receberemos Roberto Uchôa e Rodrigo Monteiro.</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Uchôa é graduado em Direito pela UERJ, mestre em Sociologia Política pela UENF e doutorando em Democracia no Século XXI pela FEUC-Coimbra. Em sua vida institucional fora da universidade ele atuou na Polícia Civil no Rio de Janeiro e atualmente é Policial Federal da ativa. Com tudo isso Uchôa mantém uma vida engajada na arena pública brasileira, seja como membro do Conselho Administrativo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública ou como intelectual público, intervindo em diversas discussões na mídia sobre a temática da violência urbana, controle de armas de fogo e etc. Publicou em 2021 “Armas para quem?: a busca por armas de fogo” pela editora Dialética.</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Rodrigo Monteiro é prata da casa, professor do Departamento de Ciências Sociais da UFF-Campos e dr. em Saúde Coletiva pelo IMS/UERJ. Rodrigo atua também no PPG em Sociologia Política no IUPERJ-UCAM. Em sua vida profissional prolífica publicou, dentre uma variedade de temas, sobre o urbano, a violência e a criminalidade. Em 2003 lançou o seu “Torcer, Lutar, ao Inimigo Massacrar: Raça Rubro Negra”, pela editora da FGV.</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Com essa dupla o projeto se despede de 2023 em grande estilo! Esperamos vcs na terça!</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Voyeur Político é projeto de Extensão coordenado pelo professor George Coutinho (COC/UFF-Campos) e sediado no Departamento de Ciências Sociais da UFF-Campos.</div></div><p><br /> </p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-27183843284930660962023-12-03T06:16:00.000-08:002023-12-03T06:16:22.809-08:00Causas materiais da frustração e horizonte nebuloso para o Brasil<p dir="ltr" id="docs-internal-guid-bfcac873-7fff-baa6-9b61-5490c76c670a" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><span style="font-size: 14.6667px; white-space-collapse: preserve;"></span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNzvVGVV3OtQM1ntI3jSy98DEpqRpNt8fP4068J7y6fLPBsj9H3G67khBgn3qEFvM4LEk8U40RTtAsWZrdkDnLKcxdtyjHU4OWqYhOAq3mdV-ATEIPLOocrDCGopypnoIZR_tPnhtBQcdhS8xY_PynYV4jZPBl8tNxTe3u5GeVSrz8q1TQLFdTx2amXo4U/s626/images%20(1).jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="417" data-original-width="626" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNzvVGVV3OtQM1ntI3jSy98DEpqRpNt8fP4068J7y6fLPBsj9H3G67khBgn3qEFvM4LEk8U40RTtAsWZrdkDnLKcxdtyjHU4OWqYhOAq3mdV-ATEIPLOocrDCGopypnoIZR_tPnhtBQcdhS8xY_PynYV4jZPBl8tNxTe3u5GeVSrz8q1TQLFdTx2amXo4U/s320/images%20(1).jpeg" width="320" /></a></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"> <b>Fonte da imagem: </b>Freepick </span></div><p></p><br /><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: right;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Jefferson Nascimento</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">*</span></p><br /><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Roger Eatwell e Mathew Goodwin escreveram o livro </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Nacional Populismo – A revolta contra a democracia liberal</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">, publicado no Brasil pela Editora Record. Na obra, reconhecem que a base social é diferente, mas incluem o bolsonarismo como fenômeno associado ao nacional-populismo, cujos principais expoentes são Donald Trump (Estados Unidos), Viktor Orbán (Hungria), Marine Le Pen (França) e o movimento pelo </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Brexit <span style="font-size: 11pt; text-indent: 35.4pt;">(Reino Unido).¹ </span></span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Os autores explicam que o movimento emergiu de um revolta crescente contra o sistema político e a liberalização dos costumes e argumentam que a influência sobre os outros partidos e o sistema político tende a ser duradoura. Considerando que Eatwell e Goodwin associam o bolsonarismo ao nacional-populismo, resgato alguns argumentos e projeto o contexto brasileiro para os próximos anos.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Eatwell e Goodwin identificam quatro mudanças sociais na origem desse movimento político. Existe crescente (1) </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">desconfiança em relação aos políticos e às instituições</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">; </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">verifica-se forte rejeição à liberalização dos costumes pelo (2) </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">medo da possível destruição das comunidades, da identidade histórica do grupo nacional e dos modos estabelecidos de vida</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">; onde o nacional-populismo e movimentos associados mais se fortaleceram houve (3) </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">desalinhamento de partidos tradicionais </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">(no Brasil, o encolhimento do PSDB está relacionado às alterações significativas nas disputas eleitorais e no comportamento da centro-direita e da direita institucional); e, destaco aqui, (4) a </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">privação relativa</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Os psicólogos chamam de privação relativa a crença de um indivíduo de que está perdendo em relação aos outros. A economia globalizada neoliberal fortaleceu essa sensação em função das crescentes desigualdades de renda e riqueza e da falta de expectativa em um futuro melhor. Essa sensação se relaciona com a maneira como as pessoas pensam a imigração, a identidade e a confiança nos políticos; e se traduz na crença de que o passado era melhor e de que o futuro será ainda pior. No entanto, Eatwell e Goodwin verificaram que nos Estados Unidos a maioria dos adeptos não são desempregados e dependentes de programas sociais e sequer está no degrau debaixo, mas partilham da convicção de que o arranjo atual é prejudicial para elas por priorizar outros indivíduos e segmentos sociais. Esse ponto não explica sozinho, mas ajuda a compreender a maciça adesão ao bolsonarismo de segmentos da classe média, pequenos e médios empresários e certos segmentos trabalhadores (como autônomos, informais, etc.).</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Existe um processo silencioso no Brasil que favorece a sensação de privação relativa e que tende a fortalecer o campo bolsonarismo e seus aliados nas próximas eleições. E é principalmente disso que vamos tratar, buscando identificar causas materiais para essa sensação, sem reduzir a questão aos aspectos psicológicos. Estamos diante de uma redução do desemprego/desocupação aparentemente consistente. Observemos o gráfico abaixo:</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="border: none; display: inline-block; height: 385.0px; overflow: hidden; width: 528.0px;"><img height="385.0" src="https://lh7-us.googleusercontent.com/2wE5RL575NpdPXlhiDEro4SE7PImNOrJ-gGR7hyqb7t77xFgC7HWNFxwM3xNPu4ppA15K2amNCEYkzAIEnQL-YZpwPLOe5JyWKxxiwIZf0guq7M_9Kxs14g7DONCOdSYif0b4sWBN752cfMqIP8zEg" style="margin-left: 0.0px; margin-top: 0.0px;" width="528.0" /></span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">No entanto, a euforia em torno desses números sobre ocupação, esconde que a geração de postos de emprego, apesar dos ótimos números de empregos formais, segundo o CAGED, tem sido puxada por ocupações de remunerações menores, com crescimento de modalidades mais precarizadas (intermitente, temporário e terceirizado). Ou seja, a queda do desemprego está combinada com uma recuperação do rendimento mensal médio muito tímida e inferior à inflação. Vejamos o gráfico a seguir.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="border: none; display: inline-block; height: 323.0px; overflow: hidden; width: 553.0px;"><img height="323.0" src="https://lh7-us.googleusercontent.com/EPuZxqis3Mq7fWAEPuNCmU_owPBnPefbEUCjkTT2S2fiAjceF41vaYX5TU1kTmoebdGX5Z6KT5Xqs2qa4QJLidWw8_EywhsHschfAaH3XnJbcqWmxg9uzUzFnjp1X2yfqlQLYGuGiN_GMLdT0dquhQ" style="margin-left: 0.0px; margin-top: 0.0px;" width="553.0" /></span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Ora, é possível argumentar que o processo de recuperação é complexo e exige tempo. Estou de acordo com esse ponto, mas é preciso identificar as causas que tendem fortalecer o bolsonarismo e podem ser parte da queda de popularidade do governo Lula, nas últimas pesquisas. Para isso, é necessário pontuar problemas materiais e não efeitos da desinformação e/ou do claro viés oposicionista de alguns meios de comunicação, como Gazeta do Povo, Estadão e Folha de São Paulo. Assim, é preciso pontuar que apenas agora estamos retornando aos níveis de rendimento médio pré-pandemia e ainda abaixo que o primeiro trimestre de 2021. E há um agravante: no período, a inflação acumulada é de 19,46%. Isto é, para que o poder de compra fosse o mesmo do primeiro trimestre de 2021, o rendimento médio deveria estar em R$ 3.574,34 (e não estamos considerando o pico do rendimento médio, acima dos R$ 3.139,00 entre maio e setembro de 2020; que significaria um rendimento médio corrigido acima de R$ 3.749,00)</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">. É também disso que se trata a privação relativa: a euforia e os festejos em torno do crescimento da ocupação escondem a depreciação do poder de compra dos trabalhadores. A comemoração em torno de dados isolados como provas da melhoria da economia reforça a sensação de muitos trabalhadores de que estão realmente sendo deixados para trás.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">As pesquisas mostram que não se trata de ilações. A aprovação do governo vem caindo consideravelmente e a avaliação sobre a economia é mais negativa que positiva. Na pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira — Economia e População feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI)</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">, apesar 45% da população admitir a melhora da economia nos últimos seis meses, a avaliação negativa sobre o quadro econômico atual é maior que a positiva: 38% consideram ruim ou péssimo contra apenas 24% avaliando como bom ou ótimo. Outro ponto é que 22% da população creem na piora da situação nos próximos seis meses e 21% acreditam que nada deve mudar. Existe ainda uma maioria que acredita na melhora da economia nos próximos seis meses: 53%. A questão é: como não frustrar essas expectativas se o governo continuar a agir do mesmo modo?</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Um exercício simples de projeção é o seguinte: o novo governo Lula, mais comprometido com o receituário neoliberal do que contavam suas propagandas eleitorais, tende a piorar as condições materiais da classe trabalhadora. A inexplicável promessa de déficit zero de Fernando Haddad ameaça uma série de funções sociais do Estado e promoverá um desinvestimento que contradiz as promessas de um novo PAC, como uma nova indução do crescimento econômico coordenada pelo governo. Todos esses fatores materiais são agravados pela péssima condução das estratégias de comunicação do governo com o povo.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Existe um erro nas premissas adotadas. É fato que os eleitores bolsonaristas, tal qual os eleitores do nacional-populismo, não são transacionais e que a melhoria pura e simples das condições materiais não desmobilizará o bolsonarismo. Portanto, trata-se de um movimento que prioriza a cultura e os interesses da nação fortemente relacionado à descrença em relação ao sistema político e a aversão à liberalização dos costumes. No entanto, também tal qual o nacional-populismo, promete dar voz a pessoas que se sentem negligenciadas e/ou desprezadas por elites políticas. E é justamente nesse ponto que o abandono até mesmo da conciliação de classes para um neoliberalismo completo e a incapacidade de dialogar com as pessoas desmobiliza uma base social que poderia sustentar o governo Lula e afugenta os eleitores pragmáticos que depositam em Lula a esperança de um novo 2003-2010 ou, ao menos, uma opção menos pior que o governo Bolsonaro. Em suma: a continuar desse modo, o governo Lula estará sendo o maior cabo eleitoral do bolsonarismo e/ou aliados para as eleições municipais de 2024 e para a nacional de 2026.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">As escolhas de Lula são, em sua maioria questionáveis. Para começar, Lula deixa a impressão ao grande público de ter abandonado a chefia de governo em favor de um consórcio encabeçado pelos neoliberais, fazendo concessões ao Centrão e abandonando pautas à esquerda que foram bandeiras de campanha. Sobre os neoliberais, já mencionamos o Haddad; e, há ainda, Camilo Santana, encabeçando o Ministério da Educação, assumindo os compromissos que Izolda Cela já havia feito no Ceará com entidades empresariais interessadas na educação, como a Fundação Lehman. As concessões ao Centrão não configuram um estelionato eleitoral, Lula foi bem claro no segundo turno, ao afirmar que governaria com o Congresso eleito; o ponto é a ineficaz comunicação favorecendo a retórica bolsonarista, que se notabilizou pelo domínio da comunicação nas redes sociais e vem revertendo os efeitos deletérios da publicização da aliança Bolsonaro-Centrão. Por fim, padecem de inanição pastas cujos temas foram intensamente usados como estratégia de contraposição ao bolsonarismo, como Meio Ambiente, Igualdade Racial e Povos Indígenas, relegando ao ostracismo Marina Silva (apesar do afago feito por Lula na COP), Anielle Franco e Sônia Guajajara. Em outras palavras: Lula parece não governar.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">O terceiro mandato, até o momento, se destaca pelas ações de chefia de Estado, notadamente nas relações exteriores. Lula reposicionou o Brasil com destaque nos grandes debates, como a questão climática, a Guerra da Ucrânia e o genocídio de Israel sobre os palestinos. Portanto, o sucesso do governo, com Mauro Vieira e o Itamaraty, está sendo nortear o Brasil rumo ao resgate do histórico destaque do Brasil nas políticas externas.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">É quase o oposto de Bolsonaro, que concentrou a atuação na política externa em algumas alianças estratégicas, seja por motivos ideológicos (Trump, Estado de Israel, Orbán, etc.), seja por interesses econômicos de setores apoiadores da burguesia (Rússia, lideranças de países árabes como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, e outros). Em termos de grandes questões, Bolsonaro secundarizou o papel do Brasil. Inclusive, com acenos ideológicos e econômicos para seus apoiadores em questões climáticas e em questões de saúde durante a Covid-19. Excetuando, a sua tentativa de colar sua visita à Rússia e sua conversa com Putin à busca pela paz no conflito russo-ucraniano.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">De modo distinto, Bolsonaro soube manter sua base social ativa. Cedeu mais diretamente a gestão da economia aos agentes do mercado, por meio de Paulo Guedes, e fez grandes concessões ao Centrão para garantir governabilidade – até mais evidentes que Lula. Porém, Bolsonaro não abriu mão de imprimir sua marca em elementos culturais caros aos seus eleitores. Na educação, apesar da dificuldade de avançar sobre as Universidades e Institutos Federais, devido à autonomia dessas instituições, Weintraub e Milton Ribeiro implementaram as escolas cívico-militares difundindo uma visão de sociedade e acomodando militares da reserva em cargos; também, manteve agitado debates sobre as questões relativas à história, diversidade e justiça social (gênero, temáticas étnico-raciais, Ditadura Militar, etc.). Essa agitação era complementada pela intensa atuação de Damares Alves no Ministério da Família, com acesso a uma importante rede de conselheiros tutelares pelo Brasil. Para tudo isso funcionar, Bolsonaro e sua equipe cuidou muito bem da comunicação, colocando em suspeição a mídia tradicional, atacou instituições, como o STF, e estabeleceu uma forma de acesso aos apoiadores sem mediação (grupos no Telegram, lives semanais, perfis nas redes sociais dele e de influencers apoiadores). Essa forma de agir garantia uma agitação constante e, dada a característica não-transacional, o bolsonarismo manteve uma ampla base social mesmo em um cenário de indicadores muito ruins com uma gestão catastrófica na pandemia de Covid-19.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Mesmo as nomeações para a PGR e o STF, foram muito coerentes e geraram condições políticas favoráveis para Bolsonaro perante sua base. Augusto Aras, ao atuar em sintonia com o governo, melhorou as condições para a comunicação bolsonarista vender a ideia de um governo quase sem corrupção, em oposição aos corruptos governos anteriores, e estava alinhado aos valores conservadores nas pautas morais (contra questões de gênero e contra criminalização da homofobia). Kássio Nunes Marques e André Mendonça têm votado sistematicamente favorável ao ideário bolsonarista, levando ao STF o conservadorismo moral, ampliação da base neoliberal na Suprema Corte e o compromisso com as lideranças políticas bolsonaristas e seus aliados. Os eleitores bolsonaristas, críticos ferrenhos do STF, passaram a ver os indicados de Bolsonaro como resistência aos supostos interesses dominantes do sistema político.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">O governo Lula sequer consegue mobilizar constantemente sua base em temas caros aos chamados setores progressistas. Representantes desses setores, que eram considerados ideologicamente centrais (pelo menos durante a campanha), pouco aparecem e dispõem de poucos recursos para agir significativamente. Além disso, suas nomeações – como já tinha se tornado praxe nos 13 anos de presidência petista – não apresentam compromissos claros em temas morais nem em pautas econômicas. Zanin – supostamente indicado por ser garantista – agradou até bolsonaristas por suas posições morais conservadores e têm votado contra os trabalhadores. Para a PGR, Paulo Gonet Branco – que já foi sócio de Gilmar Mendes – possui uma trajetória técnica, mas possui perfil conservador com posições contrárias aos grupos que mais apoiam Lula (contra as cotas, contra a descriminalização do aborto e contra a criminalização da homofobia). Ainda que tenha votado favorável à inelegibilidade de Bolsonaro nas duas ações (reunião com embaixadores e uso do 7 de Setembro), ele dificilmente iniciará ações ou dará pareceres favoráveis às minorias. Resta avaliar como agirá Flávio Dino no STF.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Estamos diante de pistas muito claras de que as condições estão favoráveis ao bolsonarismo e aliados, ou outras lideranças que venha por uma posição similar entre a extrema-direita e o populismo autoritário de direita. A manutenção do núcleo de sua base social, que não é transacional e nem se guia apenas por questões econômicas, pode ser incrementada por uma quantidade significativa de trabalhadores que perdem qualidade de vida, dia após dia, e se deparam duramente com uma propaganda mal formulada que comemora dados recortando-os do seu contexto. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">A extrema-direita, os nacional-populistas mundo afora e o bolsonarismo no Brasil se especializaram em ser antissistêmico e em alimentar utopias que os políticos de esquerda abriram mão ao se integrarem a ordem. Defender o </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">status quo</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"> e se acomodar às regras do jogo é entregar a maioria da população ao canto da sereia: apesar do discurso aparentemente inovador, se trata de uma radicalização das condições atuais. Na Europa e no </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">trumpismo</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">, um nacionalismo contrário aos imigrantes; no Brasil e outros países latino-americanos, um neoliberalismo ou ultraliberalismo acelerado por um Estado cada vez mais repressor, excluindo minorias políticas e grupos étnicos e gêneros politicamente subordinados. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Me recordo de uma frase do professor argentino Emilio Taddei em uma aula sobre as transformações políticas na América Latina: o neoliberalismo tornou a dívida uma moratória do futuro. A riqueza dessa frase capta o problema do debate sobre austeridade e déficit zero, que sacrificam funções sociais do Estado – vitais para a maciça maioria da população. Do mesmo modo, o endividamento pessoal ou familiar rouba a possibilidade sonhar e torna o trabalho como um exercício diário de pagar o ontem. Nesse último ponto, sejamos justos, há ações do governo que podem resgatar o ânimo de parte da sociedade (Desenrola e quitação do Minha Casa Minha Vida para família inscrita no Cadastro Único). No entanto, surge uma importante questão: quais as ações contemplam a centralidade do trabalho na vida das pessoas em busca de dignidade?</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Se o perdão de dívidas pode diminuir a massa que trabalha diariamente para pagar o ontem, a redução do rendimento médio ainda condena uma maioria a não projetar o amanhã. Se o neoliberalismo penhora seu futuro e a esquerda propõe acomodação, essas vertentes da direita autoritária se fortalecem ao não terem pudor de colocar fantasias antissistêmicas. </span></p><div><br /></div><br /><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">*</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Jefferson Nascimento</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"> é Doutor em Ciência Política (UFSCar), professor do IFSP, membro do Núcleo de Estudos dos Partidos Políticos Latino-Americanos (NEPPLA) e autor do livro </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Ellen Wood – o resgate da classe e a luta pela democracia </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">(Appris).</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><br /></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">-----------</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify;"></p><a name='more'></a><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">¹ </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-size: xx-small;">A classificação do bolsonarismo ainda é um debate em aberto, há quem chame de populismo autoritário de direita, populismo de direita, neofascismo, extrema-direita, entre outros. O cerne desse texto não é participar desse debate para classificar o bolsonarismo, o resgate do livro citado visa apenas considerar alguns argumentos que cabem no caso brasileiro.</span></span><p></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-size: xx-small;">² A natureza elitista da democracia representativa alimenta a sensação de que grande parte dos cidadãos não possuem voz no debate nacional. É fato que a democracia liberal sempre procurou minimizar a participação das massas, como é possível ver na obra "Os Federalistas" (Federalist Papers). Alexander Hamilton, por exemplo, sugeriu que "os comerciantes eram os representantes naturais dos artesãos e trabalhadores", defendendo um filtro econômico na representação. A pressão impediu que a ideia deste "Pai fundador" constasse na Constituição; no entanto, o desenho institucional da República Federativa dos Estados Unidos impôs outros obstáculos para a inserção no debate político. A democracia representativa liberal dos Estados Unidos serviu de modelo para parte significativa dos desenhos institucionais, inclusive do Brasil. No entanto, cumpre ressaltar que a distância das pessoas em relação ao poder parece aumentar continuamente com o avanço do receituário neoliberal, reduzindo a capacidade de responsividade do Estado.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-size: xx-small;">³ Correções monetárias apenas pelos índices oficiais fornecidos pelo IBGE, sem considerar os impactos desiguais sobre as menores renda da inflação dos últimos anos que, sobretudo entre 2021 e 2023, se concentrou em produtos e serviços essenciais.</span></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-size: xx-small;">⁴ Ver https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2023/10/24/brasileiros-consideram-situacao-da-economia-ruim-mas-acreditam-que-ela-vai-melhorar-nos-proximos-6-meses.ghtml</span></span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"> </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.295; margin-bottom: 8.0pt; margin-top: 0.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><br /></span></p>Jeffersonhttp://www.blogger.com/profile/17651554842331396314noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-18087552157504073272023-11-29T05:42:00.000-08:002023-11-29T05:42:50.404-08:00Memorial Cambayba - Ditadura Nunca Mais<p><b></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgnXohivdScvKx8o-N_NNf6GDV0_mej4WPbjX75E0QnoM0q4NWYaCvLfnbDPm0zJ-OJdYB-TwsNT05r6fuXPnLQRoqCzjx8QAOf99uKp96UeuynJnQRm7yJC3zjYF-GFPPy9Konq7oPPdR59rgJ15zQb6BJy_Fbw6ipPMgfhRmjHalyecnqujWu6Q4BOce/s1079/Cambayba.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1079" data-original-width="1079" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgnXohivdScvKx8o-N_NNf6GDV0_mej4WPbjX75E0QnoM0q4NWYaCvLfnbDPm0zJ-OJdYB-TwsNT05r6fuXPnLQRoqCzjx8QAOf99uKp96UeuynJnQRm7yJC3zjYF-GFPPy9Konq7oPPdR59rgJ15zQb6BJy_Fbw6ipPMgfhRmjHalyecnqujWu6Q4BOce/w400-h400/Cambayba.jpeg" width="400" /></a></b></div><b><br />Memorial Cambayba</b><p></p><p><b>Ditadura Nunca Mais</b></p><p><b>Memória, Verdade e Justiça </b></p><p><br /></p><p>Juntos pela vida, vamos transformar os fornos da usina da morte em símbolos contra os crimes da ditadura civil militar.</p><p><b>Dia 06 de dezembro, às 14:30 horas </b></p><p><b>No Parque Industrial da extinta Usina Cambayba</b></p><p><b>Em Campos dos Goytacazes - RJ</b></p><p>A data marcará o início da caminhada dos 60 anos do golpe de 1964.</p><p>Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça! </p><p><br /></p><p>Nos fornos desta usina foram incinerados os corpos de diversos presos políticos, mortos nas prisões da ditadura.</p><p>Até o momento foram identificados 12 corpos, por confissão de crime:</p><p>Ana Rosa Kucinski Silva (ALN)</p><p>Armando Teixeira Frutuoso ( PCdoB)</p><p>David Capistrano (PCB)</p><p>Eduardo Collier Filho (APML)</p><p> Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira (APML)</p><p>João Batista Rita Pereira (VPR)</p><p>João Massena Melo (PCB)</p><p>Joaquim Pires Cerveira (FLN)</p><p>José Roman (PCB)</p><p>Luiz Inácio Maranhão Filho (PCB)</p><p>Thomáz Antônio da Silva Meirelles Neto (ALN)</p><p>Wilson Silva (ALN)</p><p><br /></p><p>Convocam para este ato:</p><p><br /></p><p>Associação Brasileira de Imprensa ((ABI)</p><p>Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD)</p><p>Associação de Pós Graduandos da UFF Mariele Franco</p><p>Associação Nacional de Pós Graduandos ( ANPG)</p><p>Centro Cultural Triplex Vermelho </p><p>Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis </p><p>Coalizão Brasil Memória Verdade, Justiça, Reparação e Democracia</p><p>Coletivo Fernando Santa Cruz</p><p>Coletivo Mulheres pela Democracia</p><p>Coletivo RJ Memoria Verdade Justica e Reparação</p><p>Comissão dos Direitos Humanos e Cidadania da ALERJ </p><p>Central de Trabalhadores do Brasil ((CTB)</p><p>Central Única dos Trabalhadores (CUT)</p><p>DCE Fernando Santa Cruz</p><p>Fórum Memória, Verdade do Espírito Santo </p><p>Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro </p><p>Juventude do Partido dos Trabalhadores (JPT) </p><p>Movimento dos Trabalhadores SEM TERRA (MST) </p><p>Movimento Humano por Direitos (MHuD)</p><p>Núcleo de atenção Psicossocial a afetados pela violência de Estado (Napave)</p><p>Partido Comunista Brasileiro (PCB)</p><p> Partido Comunista do Brasil (PCdoB)</p><p>Plenaria Anistia Rio</p><p>Partido Socialista Brasileiro (PSB) </p><p>Psicanalistas Unidos pela Democracia - PUD</p><p>Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)</p><p>Partido dos Trabalhadores (PT) </p><p>Rede Brasil Memória Justiça </p><p>Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (SEPE)</p><p>Sindipetro-NF </p><p> Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)</p><p>União Brasileira de Estudantes ((UBES)</p><p>União Brasileira de Mulheres (UBM)</p><p>União Nacional de Estudantes (UNE)</p><p>Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) </p><p>Universidade Federal Fluminense (UFF)</p><p>União Juventude Comunista (UJC) </p><p>União Juventude Socialista (UJS)</p><p>UNEGRO</p><p>Ordem de Advogados do Brasil RJ (OABRJ)</p>Paulo Sérgio Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/03508418150337406508noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-59297517879960404222023-11-02T13:32:00.005-07:002023-11-02T13:33:35.185-07:00Reflexão em Dia de Finados - Adelia Miglievich<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqGVWpYjVwck8qKzzh130o84OJ3GFsdguFCk3jQtnxLT0zqj_tYOad897lNH2t0XjDbJjQByYeqKDL6VB8oPwM5Er-UwgOU7exLOV5naSam1Yv8Q6DEIkHEAtkiqeyWDofmTUAe74xbE2vfLx0m8pfeVnPBfvdAUUD5F-dnKWVLIUzVp3CE142JD-iFrA/s259/estamos.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="194" data-original-width="259" height="257" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqGVWpYjVwck8qKzzh130o84OJ3GFsdguFCk3jQtnxLT0zqj_tYOad897lNH2t0XjDbJjQByYeqKDL6VB8oPwM5Er-UwgOU7exLOV5naSam1Yv8Q6DEIkHEAtkiqeyWDofmTUAe74xbE2vfLx0m8pfeVnPBfvdAUUD5F-dnKWVLIUzVp3CE142JD-iFrA/w343-h257/estamos.jpeg" width="343" /></a><span style="font-family: verdana;">*</span></div><span style="font-family: verdana;"><br /><span style="background-color: white; text-align: justify;"><br /></span></span><p></p><p><span style="background-color: white; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><b>Reflexão em Dia de Finados</b>**</span></span></p><p style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;"><i>Adelia Miglievich</i>***</span><o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;">Há os que creem que humanos
nascem, morrem, viram adubo. Nos que ficam sua história servirá de inspiração,
terão com os que vieram antes muito aprendido, quem sabe o mundo não mais será
o mesmo porque teve no que partiu boa razão para se transformar. No tempo de
"seres vivos" terão aumentado também a espécie humana com seus
descendentes e/ou terão deixado um legado para nós que nos poupa de partirmos
do zero. Existiram e fizeram a diferença (não quero aqui pensar naqueles cujo
legado foi a morte e destruição). Muitos deles foram justos e promoveram, aqui,
outras existências.</span><o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;">Há os que creem que somos mais do
q matéria e nossas costelas que viram pó. Algo como que todos traziam em si uma
alma que nada tem a ver com o tempo de duração do corpo de forma que ela
sobrevive.</span><o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;">Uns pensam q essa alma em virtude
de sua<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>beleza possa se assemelhar ao
Amor Absoluto (Deus) em um universo paralelo e para esse fim seguirá. Mas, que
nem mil vidas teriam bastado parra tal encontro pois, no final das contas,
apenas por misericórdia divina teremos sido capazes de sermos acolhidos na Luz.</span><o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;">Ou a alma ficará eternamente presa
ao caos que criou quando ainda amalgamada à matéria, atormentada como se
estivesse no "inferno".</span><o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;">Disso também outra crença deriva,
a de que o Filho do Amor vivendo entre nós deixou um roteiro a ser seguido,
mesmo contrariando a natureza humana. Ou que há outros guias espirituais.</span><o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;">Também há os que creem q não há
condenação de almas. Elas novamente se encarnam. E, quem sabe, em um tempo
improvável, aprenderão a amar de modo que, nesse caso, não terá bastado uma
vida para que, depois da passagem, consigam acostumar seus olhos (da alma) a
uma claridade que jamais viram com os olhos humanos. Estarão prontas para ser
luz.</span><o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;">Há os que tentam não pensar nisso
posto que é Mistério. Não dizem se creem ou descreem. O problema é se crer no
encontro com Deus é requisito para isso acontecer. Mas, o q importa é que os
que se foram lhes ensinaram valores básicos para ser resistência ética no
mundo, agora. E eles são.</span><o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;"><span style="font-family: verdana;">Na verdade, somos nossas escolhas.</span></span></p><p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: black; mso-color-alt: windowtext;"><span style="font-family: verdana;">* Foto do famoso portal do cemitério da cidade de Paraibuna, SP. O portal correu mundo por ter batizado o célebre documentário do cineasta Marcelo Masagão intitulado justamente "Nós que aqui estamos, por vós esperamos". </span></span><span style="font-family: verdana; text-align: left;">O documentário foi premiado no festival de Gramado em 1999, ano de seu lançamento. </span><span style="font-family: verdana;">Link da imagem original: </span><span style="background-color: transparent; text-align: left;"><span style="font-family: verdana;">https://www.band.uol.com.br/band-vale/noticias/frase-famosa-de-cemiterio-de-paraibuna-inspira-roteiro-turistico-16529483, acesso em 02/11/2023. </span></span></p><p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; text-align: left;"><span style="font-family: verdana;">** Publicado originalmente no perfil do Facebook da autora (</span></span><span style="background-color: transparent; text-align: left;"><span style="font-family: verdana;">https://www.facebook.com/adelia.miglievich. Reproduzimos aqui com a autorização de Adelia.</span></span></p><p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">*** Adelia Maria Miglievich Ribeiro é professora associada no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo, UFES. É autora, além de dezenas de artigos publicados no Brasil e no exterior, do livro "Heloisa Alberto Torres e Marina de Vasconcelos: pioneiras na formação das ciências sociais no Rio Janeiro" lançado pela Edufrj em 2015.</span></p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-77608583801444388252023-10-31T04:18:00.004-07:002023-10-31T04:48:38.853-07:00Reminiscências do trabalho etnográfico<p><b> Reminiscências do trabalho etnográfico</b></p><p style="text-align: right;"><b>Carlos Abraão Moura Valpassos</b></p><p style="text-align: right;"><b><br /></b></p><p style="text-align: right;"><b><br /></b></p><p style="text-align: right;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6THzA7PT8spLfh1R5X45zYDSkBRwL1PQ8t03LQR2o2gr15jlGP7WqTLqAgFmpgnWkVO8t7-SkrlnNfTIGXiMPH5TVf34ftYcgvj_-j3bnOqHUnmveLM-ZbBLz7eE9LKt8DNSLFd6fzARhd-Pbk-vRWjmy9kVOB1bqEq0Qx_h8K0lk2Wt_KLxGHMxAbA20/s515/Captura%20de%20Tela%202023-10-31%20a%CC%80s%2008.20.44.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="515" data-original-width="356" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6THzA7PT8spLfh1R5X45zYDSkBRwL1PQ8t03LQR2o2gr15jlGP7WqTLqAgFmpgnWkVO8t7-SkrlnNfTIGXiMPH5TVf34ftYcgvj_-j3bnOqHUnmveLM-ZbBLz7eE9LKt8DNSLFd6fzARhd-Pbk-vRWjmy9kVOB1bqEq0Qx_h8K0lk2Wt_KLxGHMxAbA20/s320/Captura%20de%20Tela%202023-10-31%20a%CC%80s%2008.20.44.png" width="221" /></a></div><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: 700;">Capa do Livro "Argonautas do Pacífico Ocidental", de Malinowski, na edição brasileira feita pela Editora Ubu - a edição mais bonita já publicada.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Em algum momento no meio da crise sanitária de covid-19, assisti uma palestra online do Roberto DaMatta. Nela, aquele senhor, já na casa dos seus 80 anos, exumava suas experiências de trabalho de campo entre populações indígenas brasileiras. Até aí tudo caminhava como mais uma palestra sobre Antropologia, mas, em determinado momento, ele indagou a si mesmo e também à platéia: como ele, um então jovem na casa dos 20 e poucos anos, poderia lidar com as experiências humanas sendo ele mesmo uma pessoa ainda tão inexperiente? Ele não havia sofrido, ainda, a perda de um filho, nem a perda de sua esposa, mas teria contato com pessoas que tinham sido atravessadas por tais experiências e, por isso, teria que lidar com aquelas histórias. </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Não recordo de nada do que foi dito depois. A única coisa que ficou em mim foi esse trecho. E mesmo com todas as discussões já apresentadas sobre o trabalho de campo em Antropologia, aquela breve reflexão ficou impregnada em mim desde então. Sempre apostei na comunicação como atributo capaz de permitir a compreensão de experiências que não vivemos e de culturas onde não fomos criados. Todavia, a questão ali me parecia, e ainda me parece, ir além disso. Pois há uma diferença entre a história ouvida e a história vivida - e por mais que tentemos aproximá-las, elas não são exatamente a mesma coisa. Há algo na experiência que a torna especial - a sociologia pragmatista que o diga. </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Hoje, dia 31 de outubro de 2023, acordei com essas questões em mente, pois deveria dar uma aula sobre Bronislaw Malinowski, mas tive que cancelar o encontro em "virtude" de uma gripe que me levou não apenas o ânimo, mas também a voz. E sempre que me preparo para discutir Malinowski, me dou conta de como aquele polonês e seus "Argonautas do Pacífico" atravessaram a vida de gerações e gerações de antropólogos, direta ou indiretamente, ao longo do século XX e do século XXI. Foi assim, e não num delírio febril, que recordei da palestra de Roberto DaMatta. E foi assim que, mais uma vez, comecei a me questionar sobre a maturidade que possuía para lidar com as histórias sobre abortos que ouvi e com as quais tive que lidar há cerca de 15 anos atrás. Histórias que ainda me acompanham - e me surpreendem. Histórias que não geraram apenas uma tese, mas que também me transfomaram: enquanto pessoa e enquanto pesquisador, se é que podemos realizar tal separação.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Enquanto tudo isso se misturava nos primeiros minutos desta manhã, levei meu filho, agora com 17 anos, para a escola. Quando ele desceu do carro, adolescente cabeludo ávido por se afastar de sua figura paterna, reparei o óbvio: ele cresceu e não é mais o menino que peguei na escola naquela manhã de março de 2020, quando as aulas foram ministradas presencialmente pela última vez daquele ano. Além do Theo, muita coisa mudou nesses quase quatro anos. Arrisco dizer que o mundo hoje é outro, que mantém os mesmos problemas, certamente agravados, mas que incorporou outros mais. Além disso, os "micromundos" do cotidiano de cada um também foram alterados. Casais se separaram, familiares morreram, doenças vieram. As mudanças da vida, sempre presentes, parecem ser destacadas por esse hiato pandêmico.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">E foi nesse mergulho comparativo entre passado e presente que o trabalho de campo novamente me pegou. Lembrei de Sêo Antônio, um senhor de Ponta Grossa dos Fidalgos que, lá no início dos anos 2000, era apontado como o homem mais velho do arraial. As idades variavam, mas sempre impressionavam: alguns falavam em 107 anos, mas havia certo consenso de que ele tinha 112. "Você tem que conhecer ele!". E lá fui eu, com meus 20 e poucos, sem filho e sem perdas, conhecer aquele senhor que, mais que uma outra pessoa, constituía-se como um outro mundo e como o representante de outros tempos. Eu esperava uma conferência sobre muitas histórias do passado, mas aconteceu algo diferente. Sêo Antonio tinha dificuldades para ver e ouvir, mas estava bastante lúcido. Ele acendeu um cachimbo e, com certa dificuldade, começou a falar do quanto estava triste e de como gostaria de morrer logo, pois se sentia sozinho: seus pais, sua esposa, seus irmãos e seus amigos haviam, todos, morrido. Ele era cuidado pela filha caçula, que na época já tinha mais de 70, e não ficava "sozinho" - mas ele se sentia assim. Eu, aos 20 e poucos, esperava encontrar alguém feliz por ter passado dos 100, mas encontrei alguém cansado. O mundo sem os pais, sem os irmãos, sem a esposa e sem os amigos, enfim, sem os pares etários, não era um mundo que fazia muito sentido - e aquilo me atordoou.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Pouco tempo depois compartilhei a experiência com meu orientador, Arno Vogel, que, com seus 50 e poucos à época, destacou a alteridade daquele encontro. O que Sêo Antônio falava fazia sentido, mas era estranho - e era estranho porque nós não tínhamos como dar conta daquele tipo de experiência. Arno, todavia, já tinha vivido mais e conseguiu ponderar sobre as dificuldades de chegar a uma idade tão avançada - e sobre o impacto da perda dos pares.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Alguns anos depois eu iria ao funeral de Sêo Antônio - um evento que parou Ponta Grossa dos Fidalgos, onde "todo mundo é primo" e, portanto, onde todo mundo tinha algum parentesco com Sêo Antônio. O evento deve estar registrado em alguma caderneta de campo, mas o que ficou registrado na memória foi aquela conversa em que ele lamentava as ausências e manifestava o desejo de reencontrar com os seus. Eu, sempre meio descrente, pensava que, não havendo além, não haveria reencontro e portanto era melhor ficar onde se estava, por via das dúvidas. Hoje, tantos anos depois, num mundo que não é o mundo em que sempre lutei para viver, exumar essas memórias é inquietante. Mesmo na ausência de um além e na impossibilidade dos reencontros, o mundo transformado, dilapidado e destituído do que antes o tornava encantador, ainda é um mundo capaz de despertar o fascínio e a alegria necessários para nele permanecer?</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">As pesquisas de Mirian Goldenberg sobre a "Bela Velhice", em que ela busca compreender o processo de envelhecimento privilegiando as narrativas de pessoas com mais de 90 anos, parecem destacar que encanto e alegria constituem o combustível dessas pessoas que avançam no tempo, apesar do tempo. As redes de relações mostram-se fundamentais para que as pessoas permaneçam ativas. Os afetos, todavia, não são necessariamente aqueles provenientes dos grupos familiares: a base das sociabilidades parece vir das amizades, muitas delas também longevas. E o mundo, assim, constitui-se não apenas como o mundo material, mas sobretudo como o mundo das relações - relações que se alteram e que se desfazem, mas também se perpetuam ou se renovam.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Ainda muito jovem para entender as angústias epistemológicas de Roberto DaMatta e os lamentos da solidão de Sêo Antônio, mas já não tão jovem como há 20 anos atrás, continuo me impressionando com os desdobramentos reflexivos promovidos pelas experiências de trabalho de campo, alicerce desse "ofício contemplativo", como diria Arno em suas aulas, que é a Antropologia. Malinowski não teve uma vida muito longa, mas deixou dádivas que 101 anos depois nos permitem pensar sobre as sociedades - e sobre a vida. </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Ps.: Gosto de pensar que Sêo Antônio está rodeado pelos seus entes queridos, às margens da Lagoa Feia.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Carlos Valpassoshttp://www.blogger.com/profile/16072887937591059495noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-70919468273494004532023-10-30T21:03:00.021-07:002023-12-09T10:44:28.330-08:00O genocídio palestino e nós: da má consciência à coragem moral<p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieP9hB-eXmoAGtA-3npVQYy9cBrxpdKOO1KwauEz5_efWE3UkFmCrzAj6z3Ix38NbSxZOzpqA5iA5UkeyxsQpBzgWYgc09Uxq6PFI0eeoiZuQz6DUHWBzBN_Bll52gC_uibUOVBTCMuwlqQqdjRyyu4mp7UCqeEecBlrbhwzFHAGHF7zI0urVvC-29KieF/s1170/Horror%20em%20Gaza%20(2).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="700" data-original-width="1170" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieP9hB-eXmoAGtA-3npVQYy9cBrxpdKOO1KwauEz5_efWE3UkFmCrzAj6z3Ix38NbSxZOzpqA5iA5UkeyxsQpBzgWYgc09Uxq6PFI0eeoiZuQz6DUHWBzBN_Bll52gC_uibUOVBTCMuwlqQqdjRyyu4mp7UCqeEecBlrbhwzFHAGHF7zI0urVvC-29KieF/w400-h239/Horror%20em%20Gaza%20(2).jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">Fonte: <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2023-10/numero-de-criancas-mortas-em-gaza-ultrapassa-o-da-ucrania">Agência Brasil</a>.</span></div><span style="font-size: 11.5pt;"><br /></span><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: inherit;"><b>O genocídio palestino e nós: da má consciência
à coragem moral</b><o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: inherit;">Paulo Sérgio Ribeiro<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Em 2021, sobrevivíamos
ao terceiro ano da Era Bolsonaro sob a ameaça permanente de uma pandemia ou,
precisamente, aos crimes contra a humanidade perpetrados pela extrema direita então
no poder. Os efeitos deletérios dessa crise ainda se fazem sentir em diferentes
domínios da vida brasileira e revelaram ao mundo toda a brutalidade da frente
neocolonial avalizada pelo Governo Bolsonaro sobre os nossos povos indígenas. Naquele
momento, não hesitamos em seguir o argumento (ver <a href="mailto:https://autopoiesevirtu.blogspot.com/2021/05/genocidio-por-que.html">Genocídio,
por quê?</a>) que imputava aos próceres daquele governo o genocídio indígena. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Iniciada a discussão,
propus a um competente (e amigo) antropólogo que lhe desse continuidade com
todo o repertório que, supunha eu, a antropologia brasileira dispõe sobre a questão
indígena, mas ele declinou. A seu ver, a tarefa requereria um olhar mais
experimentado do que as escolhas profissionais que fez permitiria ter e, em
nome da honestidade intelectual, optou por deixar o assunto a quem lhe
oferecesse uma dedicação à altura das exigências que o “fazer carreira” nas ciências
sociais pressupõe (ou impõe).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Sejamos justos: mesmo
uma opinião com rudimentos sociológicos pede um ponto de vista menos voluntarista
sobre a agenda pública do momento, pois é inevitável confirmar o que Bourdieu certa
vez sentenciou: a opinião pública “não existe”. Ora, se não podemos mesmo ter opinião
sobre todo e qualquer assunto, não é tão óbvio assim que precisemos
ser passivos à articulação dos interesses materiais e ideais que nos afetem como
partícipes da história do tempo presente e, deste modo, gostaria de esboçar esta
reflexão a partir da fatídica constatação de que somos testemunhas de outro
genocídio, o dos palestinos sitiados em Gaza, elegendo a ética da
Modernidade como posição irredutível. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span>Aos não “iniciados”:
do que se trata a “ética da Modernidade”? Partindo </span><span>aqui </span><span>muito ligeiramente da
abordagem de Habermas, poderíamos delinear essa ética pelo caráter responsivo
que os “tempos modernos” exigem de cada um de nós perante a História, uma vez
que a ruptura promovida pela era moderna é justamente a impossibilidade de fundamentarmos
em outras épocas que não seja a atual uma orientação normativa para as nossas
vidas, já que embarcamos, ao menos desde as grandes navegações no século XVI,
em um processo de mudança social cujo moto contínuo é a sempre renovada
expectativa do “novo”, abrindo, pois, todas as comportas da subjetividade
humana. </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Contudo, essa viagem sem volta dos homens e mulheres modernos não é um vale-tudo: viver em um regime de historicidade em que não há mais uma fonte de sentido unitária
para quaisquer preceitos e regras, tal como a religião um dia prometeu ser de
maneira inconteste, fez com que ganhássemos um bônus e pagássemos um tributo,
respectivamente, a autonomia do pensamento como o lócus do direito à crítica em
um mundo onde não há um recôndito sequer da realidade que não possa ser posto
em questão em um debate reconhecido por todos; e a vacuidade da condição moderna
onde, não raro, vemos a nós mesmos “à deriva” com essa ausência de um elemento
unificador das múltiplas filiações valorativas a que estamos sujeitos desde então.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Copo metade cheio,
metade vazio, eis que somos instados a fazer escolhas e estas, para retomar o
fio da discussão, têm uma inegável dimensão ética, sobretudo para quem não se vê
obrigado a abrir mão do potencial crítico da Modernidade para adotar posturas
dúbias como, por exemplo, a de quem presume (simulando até um certo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">charminho</i> crítico) que todos os
discursos sobre as relações entre o Estado de Israel e o povo palestino em Gaza
e na Cisjordânia são verossímeis por terem igual pretensão de validade e, logo,
caberia a quem está longe das chamas e dos destroços nada além do que isenção de
ânimo. Afinal de contas, já temos problemas de sobra no Brasil para nos ater
à geografia do Oriente Médio. Ademais, alguém de boa-fé poderia complementar: como
não subestimar a complexidade daquele conflito sem se deixar levar pela
propaganda de guerra de Israel nem pela retórica do Hamas? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span>Eis uma resposta: ainda que nós, cientistas sociais, não deixemos de explorar todos os
recursos semânticos possíveis da língua, materna ou não, em que desenvolvemos a
nossa ciência para sermos eficazes na comunicação dos seus resultados perante nossos pares ou, em alguns casos, para sermos </span><span>“</span><span>lembrados</span><span>”</span><span> pelo
mercado editorial, nem por isso a busca da verdade se deixa sacrificar pelo mero
uso da retórica. Noutros termos, a verdade de uma proposição sobre a questão palestina
não se confunde com um conjunto de crenças de um determinado público como a audiência
cativa das mídias corporativas que se copiam no dito mundo ocidental retroalimentando o <i>seu</i> público com toda sorte de preconceitos sobre o mundo árabe e muçulmano.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span>A <i>verdade</i>, apreciável
à luz de fatos históricos suficientemente documentados, ainda importa. Afirmar
isso nos dias que correm não é só uma veleidade iluminista, mas sobretudo um
ato de coragem moral. Não haveria exemplo mais bem acabado do que seja essa coragem do que o de Norman Finkelstein, cientista político estadunidense e
judeu antissionista que, diante de uma ruidosa plateia </span><span>alemã</span></span><span><span style="font-family: inherit;"> em
2008, desnudou as inversões ideológicas de alguns estudantes ali
presentes sobre a opressão racista do Estado de Israel nos territórios palestinos
ocupados:</span><o:p style="font-size: 11.5pt;"></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11.5pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/E633ZhIeHmM" width="320" youtube-src-id="E633ZhIeHmM"></iframe></div><span><p class="MsoNormal" style="font-size: 11.5pt; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span>Ser oriundo de uma tradição
como o judaísmo e não ser cúmplice da sua distorção sob a forma de um verdadeiro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">apartheid</i> do povo
palestino mantido sem disfarce algum na expansão territorial de Israel com o
advento do seu Estado étnico (1948) talvez seja a mais solitária das missões que
um intelectual público possa vir a se comprometer. Mas para <span>Finkelstein</span> a condição moderna ainda traduz uma
promessa de emancipação que valha a pena insistir ao aderir à solidariedade e
ao internacionalismo quando defronta-se com a circunstância </span><span>igualmente solitária </span><span>dos povos – indígenas, no Brasil; palestinos em Gaza e na Cisjordânia – que vivem os horrores do imperialismo e do colonialismo </span><span>no século XXI</span><span>.</span></span></p><p style="font-size: 11.5pt;"></p></span><p></p><p></p>Paulo Sérgio Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/03508418150337406508noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-11065739627951981702023-10-30T14:22:00.002-07:002023-10-30T14:24:10.151-07:00Guerra, terror e ultraje seletivo<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRbOIWBu5i1lumxtXSZdyReywrKFKYQn4wmkIJQvWeO9wFB_W3YT_lbgZAe8RO98FyX1HA66B0u5266lAA7XfoZhGYhHO55XTREhQpoJQRSbabUen3kl3UlT7vtIKmglPcY_hMLZHF_nij7jXRtU9rW_B_IhjlsPj2DIwDOjbvfFBWWuAQ2BDKK0u-tMqr/s770/Horror%20em%20Gaza.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="513" data-original-width="770" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRbOIWBu5i1lumxtXSZdyReywrKFKYQn4wmkIJQvWeO9wFB_W3YT_lbgZAe8RO98FyX1HA66B0u5266lAA7XfoZhGYhHO55XTREhQpoJQRSbabUen3kl3UlT7vtIKmglPcY_hMLZHF_nij7jXRtU9rW_B_IhjlsPj2DIwDOjbvfFBWWuAQ2BDKK0u-tMqr/w400-h266/Horror%20em%20Gaza.jpg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">Fonte: <a href="https://www.aljazeera.com/opinions/2023/10/30/israel-is-forcibly-disappearing-gaza">Aljazeera</a>.</span></div><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12pt;"><b>Guerra, terror e ultraje seletivo</b>*</span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">*Publicado
originalmente no jornal <i><a href="https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2023/10/guerra-terror-e-ultraje-seletivo.shtml" target="_blank">Folha de S. Paulo</a></i>.<span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><span style="font-size: 12pt;"><i>Salem
Nasser</i>**<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Imagine. Imagine que
2,5 milhões de judeus vivem há 17 anos numa prisão a céu aberto e que seu
carcereiro decide sobre o que entra e o que sai, energia, comida, remédios…
Imagine que famílias judias são cotidianamente expulsas de suas casas, suas e
de seus antepassados, de sua terra por gerações, para dar moradia a não-judeus
vindos do mundo inteiro. Imagine que judeus vivem cercados de muros e cercas e
não podem andar pelas mesmas ruas que são livres apenas para não-judeus.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Imagine que os
judeus têm a sua a identidade nacional, a sua própria existência enquanto povo,
negada. Imagine que alguém, um ministro, por exemplo, diga que os judeus são
animais a serem eliminados. Imagine que o carcereiro anuncia, e logo cumpre,
que cortará o acesso à água, à luz, à comida, dos judeus. E imagine que aqueles
2,5 milhões de judeus, na sua prisão, são alvo, por dias seguidos, das armas
mais inteligentes e mortais do mundo, e por bombas de fósforo branco e que, por
exemplo, só na primeira noite de bombardeios, 140 crianças morrem….<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Agora, imagine que
os judeus são palestinos. Você acordou, finalmente, agora? Se não acordou, vou
dar uma dica: você precisa imaginar que o palestino é um ser humano como o
judeu; e você precisa imaginar que, assim como os judeus e todos os demais
seres humanos, os palestinos podem ser civis. Crianças tendem a ser civis.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">O jornal <i>Folha
de S. Paulo</i> passou a chamar o Hamas de grupo terrorista porque
“Segundo o <i>Manual da Redação</i>, a palavra terrorista deve ser usada
para qualificar quem “pratica violência indiscriminada contra não combatentes a
fim de disseminar pânico e intimidar adversários””.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Não li versões
recentes do <i>Manual da Redação da Folha</i>, mas lembro com saudades de
uma propaganda, histórica, que o jornal veiculou e que terminava com uma belíssima
frase: “é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade!”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">A <i>Folha</i> parece
não querer se dar ao trabalho nem mesmo de dizer a verdade. Ela reporta o que o
Hamas usou como justificativa para o ataque, mas não nos conta que é verdade o
que o grupo disse. A verdade pode não justificar os atos, mas não deixa de ser
verdade. Reporta o que Benjamin Netanyahu disse, mas apenas a parte que
interessa a Benjamin Netanyahu.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">A <i>Folha</i> pode
chamar o Hamas de grupo terrorista para se manter fiel ao seu <i>Manual</i>,
mas, para manter-se fiel ao mesmo <i>Manual</i>, precisaria se referir a
Israel como um Estado terrorista e aos seus governantes como terroristas, de
acordo com a sua própria definição.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Não discutirei o
conceito técnico de terrorismo, que não existe, mas direi algo sobre o uso
retórico da palavra.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Antes, no entanto,
digo que existem tratados internacionais que estabelecem o Direito
internacional humanitário – o que se pode e o que não se pode fazer na guerra
–, que definem o crime de genocídio, os crimes de guerra, os crimes contra a
humanidade, entre estes o crime de <i>apartheid</i>.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Se alguém se der ao
trabalho de ler, verá que, tecnicamente, Israel viola todas as normas possíveis
do Direito humanitário e verá que os governantes e militares israelenses são
criminosos de guerra e culpados de crimes contra a humanidade, inclusive aquele
de <i>apartheid</i>. Não chego ainda a dizer que sejam culpados do crime
de genocídio porque não tenho certeza de que a limpeza étnica de um povo
sobretudo pela expulsão do território equivale, exatamente, à tentativa de
operar a “destruição, total ou parcial, de um grupo nacional, étnico, racial ou
religioso”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Assim, se a <i>Folha</i> faz
questão de abarcar, no modo como se refere ao Hamas, o que percebe como
violações do Direito humanitário ou como crimes de guerra ou, ainda, crimes
contra a humanidade, eu recorreria a outra terminologia que não a de
terrorista.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Mas, para fazer bom
jornalismo, precisaria se referir, ao menos, do mesmo modo a Israel, suas
autoridades e seus militares.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Bom jornalismo? Não
quero ensinar a missa ao vigário, mas a <i>Folha</i> deve saber, não
pode não saber, que quando se refere ao Hamas como grupo terrorista, nada mais
do que diga ou reporte interessa ou fará qualquer diferença! Assim que diz
“grupo terrorista” ela tira qualquer razão aos palestinos e permite tudo a
Israel. Todos os crimes são permitidos contra o terrorista! Esse é o poder
retórico da palavra.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Se isso não consta
do seu <i>Manual da Redação</i>, recomendo fortemente a sua reciclagem.<o:p></o:p></span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><b><span style="font-size: 12pt;">**Salem
Nasser</span></b><i><span style="font-size: 12pt;"> é professor da Faculdade
de Direito da FGV-SP</span></i><span style="font-size: 12pt;">.</span></p>Paulo Sérgio Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/03508418150337406508noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-75642102018795757232023-09-27T09:15:00.002-07:002023-09-27T09:21:27.987-07:00A demissão de Marcelle Decothé: não foi racismo reverso! A função exige cálculo político.<div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi05rR1YuhmdXO03JhIPa6wWKbJMJ3QjH7pALaw0LFSM5VCWHoWVAOKDLD9wupWbiS58j6O3Vq1rzi1BKDPFedBFENA4F0Ks4EAbFsf2H-4U4dFH66hc76_N6QttmkzweOkwFynGiIen0eC1toVGtEGgOapGIxdPEkkAKq1Z6B-GjJsOzDlS5VaFxbGUJXL" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="225" data-original-width="225" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi05rR1YuhmdXO03JhIPa6wWKbJMJ3QjH7pALaw0LFSM5VCWHoWVAOKDLD9wupWbiS58j6O3Vq1rzi1BKDPFedBFENA4F0Ks4EAbFsf2H-4U4dFH66hc76_N6QttmkzweOkwFynGiIen0eC1toVGtEGgOapGIxdPEkkAKq1Z6B-GjJsOzDlS5VaFxbGUJXL" width="240" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;"><b>Fonte:</b> Thiago Amparo, perfil na rede social X (Twitter)</span></div><br /> </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-family: arial;">Por Jefferson Nascimento*</span></div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">Algumas reações contrárias à demissão da assessora-chefe do Ministério da Igualdade Racial seguiram a avaliação de que "pessoas negras nunca têm uma segunda chance". Infelizmente, a avaliação está historicamente correta, mas parece inadequada para o caso. Esse caso é sobre pré-requisitos básicos para uma assessora-chefe de Ministério: capacidade de realizar cálculo político e agir adequadamente no exercício de função.</div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">Para começar, um erro de avaliação da equipe ministerial, fragilizando a posição da ministra Anielle Franco, que poderia defendê-la. A equipe do Ministério da Igualdade Racial foi à São Paulo de jatinho da Força Aérea Brasileira (FAB). Sabe quem também usou o jatinho da FAB? Fufuca, Ministro dos Esportes, aquele do Centrão, bolsonarista até outro dia que assumiu no lugar de Ana Moser. No entanto, o Ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e seus assessores foram em voo comercial. Não há ilícito na decisão da equipe de Anielle e Marcelle, mas evidencia - no mínimo - uma ingenuidade política ao acreditar que a mídia pouparia o governo, tendo usado essa crítica reiteradas vezes para o governo Bolsonaro. Mais ingênuo ainda seria esperar que a parcimônia dispensada à Fufuca se estenderia a elas. Silvio Almeida compreendeu bem os riscos. É possível argumentar que o uso dessa vez é amparado por um dos três critérios (missão institucional) e que nem de longe se equivale aos abusos de outrora. Porém, os membros do governo Lula devem ser bem céticos em vez de esperar essa isenção de empresas jornalísticas cuja agenda política já ficou clara diversas vezes. Era, portanto, esperado que Anielle Franco fosse objetiva ao explicar a missão institucional previamente e determinasse que todas as servidoras evitassem vídeos/stories em clima de festa com cânticos de torcida dentro do avião - e ela mesmo não fizesse. Esses deslizes abriram margens para explorações indevidas do fato.</div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">Para piorar, o Protocolo poderia ter sido assinado em Brasília ou na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no Rio de Janeiro em evento anterior à final. O jogo poderia ser usado para exibir faixas, vídeo institucional no telão do estádio, anúncios e/ou camisas para publicizar a parceria. Consta que a iniciativa de assinar o documento no Morumbi foi sugerida pelo próprio Ministério da Igualdade Racial. Há aí, talvez, um desconhecimento por parte da equipe: uma das formas de sedução usadas pela CBF para aumentar seu capital político após a proibição de doações de campanha é justamente dar convites, cargos, camisas e comendas. Do mais singelo ingresso para um jogo, chefia de delegações em jogos e competições até cargos remunerados serviram para alimentar sua bancada no Congresso e têm aproximado a CBF dos últimos governos. </div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">Além dessa exposição e fragilidade da equipe ministerial, a demissão de Marcelle Decothé ocorreu após uma sucessão de erros que podem ter custos políticos consideráveis dificultando ações da própria pasta e contrariam o manual de conduta de servidores. A seguir o elenco de problemas:</div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">1) O primeiro story é uma foto de outras servidoras do Ministério com camisas da seleção brasileira. A legenda ironiza dizendo que, em "30 segundos com a CBF", as colegas teriam se tornado "patriotas" e, por isso, seriam (ou poderiam ser) canceladas. Ora, não sejamos ingênuos sabemos que patriota é um eufemismo recente para bolsonarista, principalmente quando associado à camisa da seleção brasileira. Porém, essa ironia ocorreu durante a viagem para uma missão do governo justamente junto à CBF. Como construir pontes e relações políticas ironizando a outra entidade? É claro que a CBF tem um histórico que merece atenção e crítica, mas também é preciso ser justo: Ednaldo Rodrigues tem sido um presidente com ações de combate ao racismo. Que tais ações não caracterizam um ativismo, concordamos. Mas, como servidoras do Ministério da Igualdade Racial podem se dar ao luxo de atacar uma entidade que, mal ou bem, começou a tratar do tema? Inclusive, na contramão do que faz a Federação Internacional de Futebol (FIFA). O evento em questão, aliás, ocorreu no Morumbi, dentre outros motivos, pela preferência da equipe do ministério assinar o Protocolo no jogo da final da Copa do Brasil em uma aproximação maior que o necessário para ações desse tipo. O fato é que a brincadeira mirou as colegas e a crítica ao bolsonarismo, mas acertou a entidade cuja parceria para o Protocolo era a razão da viagem.</div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">2) Há um story que critica a entrada no estádio dentro de uma viatura da Polícia Federal (PF). Uma crítica que não é possível afirmar se foi endereçada à força de segurança ou à situação. O fato é que Marcelle poderia abrir mão dessas facilidades e pegar a fila como os torcedores comuns. Ao não fazer isso, sugere que não estava incomodada com a facilidade e queria, na verdade, fazer outro tipo de crítica. De todo modo, sem contexto, pareceu uma crítica aleatória e gratuita a uma força cujas relações com a esquerda não são e não tendem a ser fáceis, mesmo na gestão Flávio Dino.</div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">3) A crítica aos torcedores do São Paulo Futebol Clube demonstra dois problemas. (1) Hipocrisia ao procurar a diversidade nos camarotes destinados às celebridades e autoridades. De fato, os preços da final impôs uma maior elitização no geral, mas não seria no camarote que ela encontraria a diversidade em jogo algum e em qualquer estádio brasileiro. Ela poderia ir ao encontro do povo nas arquibancadas, sobretudo no anel superior ao sol de quase 40 graus. E ela não foi, não é? (2) Revela também desconhecimento ao reforçar estereótipos antigos (torcedor são-paulino elitizado) e ignora o esforço de setores importantes da torcida (vide <i>Bonde do Che</i>) na defesa de pautas de esquerda, no ativismo em defesa de causas populares e combate ao racismo. Fruto de hipocrisia e desconhecimento, a crítica configura ainda um erro político gravíssimo: foram grupos dessa torcida que fizeram o presidente Júlio Casares não receber Bolsonaro com status de autoridade, quando este foi levado ao Morumbi por Tarcísio e Ricardo Nunes. Sequer aquela foto típica em que algum diretor presenteia o convidado com a camisa ocorreu. Bolsonaro não ficou no camarote da diretoria e ainda foi hostilizado por torcedores. Faz sentido interditar o diálogo com essa torcida? Até porque o mesmo jamais ocorreu no Flamengo, com Landim, onde Bolsonaro era presença constante em jogos e até levantando taças nos títulos recentes. E mais: qual contribuição esse ataque trará para a construção de um futebol brasileiro mais popular? No fim, foi só ataque incompatível com a natureza da presença de Marcelle no Morumbi.</div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">4) Para completar a falta de cálculo político há um story atacando os descendentes de europeus e paulistas. O São Paulo sequer nasceu como clube de comunidade de imigrantes. Mas, isso seria exigir que ela se interessasse pela história do clube. Porém, a questão central é que politicamente a declaração é desastrosa para o governo. Governo no qual Marcelle Decothé é servidora. O cerne não debater se faz ou não sentido defender "o legado dos imigrantes europeus" e sequer tratar de alguma afinidade com imaginário do bandeirantismo. A questão apenas é: qual a razão e a utilidade política para tais críticas e ataques sem contexto?</div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">5) Marcelle ainda fez críticas ao Flamengo: "diretoria fascista" e atletas xingados com palavrões (p** no koo/c*). O desabafo seria comum se partisse de torcedores na arquibancada visitante do Morumbi. Porém, é adequado quando expresso por uma assessora ministerial em serviço? Quem são esses atletas assim xingados? Seriam apenas os atletas paulistas, descendentes de europeus e brancos que merecem esse termo "p** no koo/c*"? Pela tietagem, sabemos que Gerson não está dentre esses criticados, mas e Wesley, Gabigol, Bruno Henrique e Victor Hugo? Pergunto para entender se nesse momento também a assessora se preocupava com a questão racial ou se ela só importava na avaliação de Marcelle sobre a torcida rival elitizada com a qual compartilhava o camarote.</div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">É possível ainda ressaltar o silêncio de Marcelle e toda a equipe do Ministério quando a Polícia Militar usou a força para dispersar torcedores pobres que foram ao estádio depois do jogo homenagear os jogadores. Esses torcedores não eram os torcedores do camarote, não puderem ver o jogo <i>in loco</i> como Marcelle, Anielle e Fufuca. Esses torcedores apenas poderiam ver seus ídolos pelas grades do portão de saída do estádio. Não é honesto afirmar omissão ou má vontade da equipe do Ministério da Igualdade Racial, o histórico de militância de Anielle e Marcelle (e não do ministro dos Esportes) confirmam o real engajamento delas com a luta antirracista. Porém, demonstra o simples, elas não viram. Não viram porque não estavam próximo dali, não viram porque entraram, assistiram o jogo e saíram como autoridades que são. Não viram, como não poderiam ver alguma diversidade (ainda que pequena pelos preços da final) desde o camarote das autoridades. Daí o cuidado com as armadilhas e seduções do poder, que podem distanciar as pessoas de suas bases.</div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">Infelizmente, é verdade histórica que pessoas negras não recebem o benefício da dúvida - sobretudo mulheres negras - e quase nunca contam com uma segunda chance na nossa sociedade e isso tem a ver com a dinâmica do poder. Entretanto, neste caso, cabe a reflexão diante da sucessão de postagens irônicas e agressivas: não se deve esperar cálculo político de uma assessora-chefe? Existiria objetivamente uma extensão de dano político para justificar ou não a demissão de Marcelle Decothé? É claro que é uma estupidez o argumento de um racismo reverso mobilizado por alguns. Não é esse o cerne da questão e, sim, o fato de que a principal assessora de um ministério precisa agir politicamente, principalmente em missões institucionais.</div><div dir="auto" style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><br /></div><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><div style="background-color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">*<i>Jefferson Nascimento é cientista político, professor do IFSP-Campus Sertãozinho, membro do Núcleo de Estudos dos Partidos Políticos Latino-Americanos.</i></span></div></blockquote></blockquote>Jeffersonhttp://www.blogger.com/profile/17651554842331396314noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-44274777586245209752023-07-25T01:15:00.002-07:002023-07-25T01:15:32.070-07:00No Pasarán! Eleições Espanholas de 2023 - André Kaysel<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTRF0CoqWE8J7O5roSp4JpcRy44j527YrWn2LOINshDgsjeWJwbalrBeek431rxRTlwgHx3H7Z2nZYi0rtufr47P9V-mmu8ShQbCQXRhO9P-rsiKmyrR1AMUcFcxDRZI8mFYA-iOx9apF5Hahl7oq59HrrMW_T14V5bFDg38WsXdY-64pbzEVvfr_ljxU/s900/picasso.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="468" data-original-width="900" height="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTRF0CoqWE8J7O5roSp4JpcRy44j527YrWn2LOINshDgsjeWJwbalrBeek431rxRTlwgHx3H7Z2nZYi0rtufr47P9V-mmu8ShQbCQXRhO9P-rsiKmyrR1AMUcFcxDRZI8mFYA-iOx9apF5Hahl7oq59HrrMW_T14V5bFDg38WsXdY-64pbzEVvfr_ljxU/w543-h283/picasso.jpg" width="543" /></a>*</div><br /><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><b>No Pasarán! Eleições Espanholas de 2023</b>**</span></p><p style="text-align: right;"><i><span style="font-family: verdana;">André Kaysel***</span></i></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Em que pese ter sido o mais votado, o direitista Partido Popular (PP) muito dificilmente governará a Espanha. A legenda liderada pelo galego Alberto Nuñez Feijó obteve 136 cadeiras no parlamento espanhol (33% dos votos), contra 122 do Partido Socialista Obrero Español (PSOE), do atual Presidente (Primeiro-Ministro), Pedro Sãnchez, com mais de 31%.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Para formar governo, uma coalizão necessita de 176 deputados, 50% mais 1 dos 350 acentos da Câmara. O problema para o PP é que seus sócios da extrema-direita, o Vox de Santiago Abascal - muito próximo de Bolsonaro - obtiveram 33 cadeiras, 19 a menos do que nas eleições de 2019. Já a plataforma de esquerda Sumar, da atual Vice-Presidenta Yolanda Díaz, que engloba a antiga Unidas-PODEMOS, obteve 31 cadeiras, praticamente impatando com a ultra-direita em percentual de votos, cerca de 12% cada.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Pois bem, o bloco da direita obteve 169 acentos, enquanto a esquerda alcançou 153, portanto, nenhum dos dois conseguirá sozinho formar governo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E as 28 cadeiras restantes? A maioria pertencem a partidos regionais e nacionalistas, sobretudo no País Basco e na Catalunha. Alguns estão mais à direita, como o PNV e Junts, outros mais à esquerda, como Eh Bildu e ERC. Porém, nenhum partido nacionalista basco ou catalão irá formar um governo com PP e Vox, representantes do nacionalismo castelhano, monárquico, católico e neofranquista.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Assim, a tarefa de Feijó é como a quadratura do círculo. Sua única chance seria que essas forças minoritárias se abstivessem na votação da investidura, permitindo que ele formasse um governo de minoria, o que é pouco provável.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Assim, Sánchez, embora tenha ficado em 2o. lugar, tem mais chance de chegar a um acordo com Sumar e os nacionalistas bascos e catalães e continuar no Palácio de La Moncloa. Outra possibilidade bem plausível é de um bloqueio total, que obrigue à convocação de novas eleições em breve.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Seja como for, a vitória do PP parece ter sido uma vitória de Pirro, sobretudo pela derrota de seus aliados de extrema-direita, com os quais pretendiam formar o governo mais reacionário da Espanha desde a redemocratização no final dos anos 1970. Como bem disse Yolanda Díaz em seu discurso, a Espanha e a Europa irão dormir mais tranquilas. Pelo menos dessa vez, valeu pelo voto o lema da Passionaria Dolores Ibarruy: "! No Pasarán!".</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">* <i>Massacre in Korea</i>, Pablo Picasso. Disponível em: https://fineartamerica.com/featured/massacre-in-korea-by-pablo-picasso-1951-pablo-picasso.html, acesso em 25 de julho de 2023.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">** Publicado originalmente no <a href="https://www.facebook.com/andre.kaysel">perfil de Facebook do prof. André Kaysel</a> em 24 de julho de 2023. Reproduzimos aqui com a autorização do autor.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">*** André Kaysel é professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. Kaysel é atualmente diretor do CEMARX, o Centro de Estudos Marxistas da Unicamp, e autor, dentre outros trabalhos, de "Entre a nação e a revolução: marxismo e nacionalismo no Peru e no Brasil (1928-1964)" publicado pela Alameda Editorial.</span></p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-38254856997425237082023-07-02T07:22:00.003-07:002023-07-03T06:33:52.153-07:00Mídia brasileira: tragédia e farsa em um blockbuster hollywoodiano<p style="text-align: right;"> Por <b>Jefferson Nascimento</b>*</p><p align="center" class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: center; text-indent: 35.4pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhOpjcywjpUEGV28aHdFl3T3Uj9JM-OE9bGf2w31OXyDHinIk1A_K6k0Xq600U17kqSCxTny7WEOZOtQjOVOcpcYPHbXbEUXwManq4Iq_R9dLL6XbITVV-c-a7Qan0IqtaoTMh_FM8qGd9CxQzoaDd9TX04XUfEMR0GLUCdP2rL_kuQGa-pzXLtVHqrEbMr" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="168" data-original-width="300" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhOpjcywjpUEGV28aHdFl3T3Uj9JM-OE9bGf2w31OXyDHinIk1A_K6k0Xq600U17kqSCxTny7WEOZOtQjOVOcpcYPHbXbEUXwManq4Iq_R9dLL6XbITVV-c-a7Qan0IqtaoTMh_FM8qGd9CxQzoaDd9TX04XUfEMR0GLUCdP2rL_kuQGa-pzXLtVHqrEbMr" width="320" /></a></div><i> (Foto: Shutterstock)</i><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Hoje, 02 de
julho, uma das manchetes em destaque no portal Globo.com recebeu o título “<i>Com
intensa agenda internacional, Lula recupera espaço do país na política externa,
mas patina sobre a guerra na Ucrânia, avaliam especialistas</i>”<a href="file:///C:/Users/Jefferson/OneDrive/%C3%81rea%20de%20Trabalho/TEXTOS%20E%20PROJETOS%20INDIVIDUAIS/Textos%20OCAC/OCAC%20-%20M%C3%ADdia%20brasileira_democracia_guerra%20russo-ucraniana.docx#_edn1" name="_ednref1" style="mso-endnote-id: edn1;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="color: black; font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[i]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a>.
Essa matéria não é isolada, chama a atenção o ativismo da imprensa nacional em
relação ao conflito na Ucrânia com um viés convergente com
a posição dos Estados Unidos. Ao ler a matéria, qual não é a surpresa: apenas um
dos especialistas falou sobre a guerra, o ex-diplomata Paulo Roberto de Almeida,
que se tornou diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri)
no governo Temer e foi exonerado no governo Bolsonaro. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Almeida, em entrevista ao canal <i>MyNews</i>
em 2021, comentou a demissão de Ernesto Araújo e justificou o anonimato dos diplomatas
na carta de repúdio à Araújo pelo risco de represálias que atrapalhariam a carreira no Itamaraty, ilustrando com exemplos pessoais: teria sido censurado em “governos
tucanos” e colocado nas “escadas e corredores nos tempos lulo-petistas”. O mesmo
diplomata, apesar de ter sido demitido na gestão Bolsonaro e ter se tornado crítico à Ernesto Araújo e Olavo de Carvalho, participou de eventos do <i>Brasil Paralelo</i>,
como o <i>Webinário 2018 Brasil</i> e é autor do livro <i>O Homem que pensou o
Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos<a href="file:///C:/Users/Jefferson/OneDrive/%C3%81rea%20de%20Trabalho/TEXTOS%20E%20PROJETOS%20INDIVIDUAIS/Textos%20OCAC/OCAC%20-%20M%C3%ADdia%20brasileira_democracia_guerra%20russo-ucraniana.docx#_edn2" name="_ednref2" style="mso-endnote-id: edn2;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="color: black; font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[ii]</span></sup></b></span><!--[endif]--></span></span></sup></span></a>.</i>
Como se vê, uma escolha a dedo para manter o viés pró-Estados Unidos. O
ex-diplomata faz afirmações como: “O que Lula está fazendo é absolutamente
inócuo, ninguém apoiou esse clube da paz [...]” e “A gente vê o
antiamericanismo da velha esquerda [...]”. Pela volta do tema à tona, resgato
um texto de minha autoria publicado no <i>Jornal A Vanguarda</i>. O texto resgata fatos e reflete sobre causas do conflito, saindo desse simplismo de
forjar um único agressor para encaixar na máxima reverberada por Almeida de que “quando
você tem um agressor, o dever de todos os estados membros é vir em socorro e
apoio à parte agredida”.<a href="file:///C:/Users/Jefferson/OneDrive/%C3%81rea%20de%20Trabalho/TEXTOS%20E%20PROJETOS%20INDIVIDUAIS/Textos%20OCAC/OCAC%20-%20M%C3%ADdia%20brasileira_democracia_guerra%20russo-ucraniana.docx#_edn3" name="_ednref3" style="mso-endnote-id: edn3;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="color: black; font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-theme-font: minor-latin; mso-ligatures: none;">[iii]</span></sup></span><!--[endif]--></span></span></sup></span></a>
Segue o texto.</span><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Uma
polêmica tomou conta dos noticiários: a posição de Lula em afirmar que a Rússia
não era a única responsável pelo conflito. O foco foi a frase: “Decisão da
guerra foi tomada por dois países”. Não pretendo defender Lula. Meu ponto é
direto: problematizar a militância da imprensa na posição pró-EUA omitindo
fatos e acontecimentos indispensáveis para compreensão do conflito. O ápice foi
um veículo de comunicação dar status de escândalo a uma <i>fake news</i>
iniciada por um secretário do governo estadual paulista afirmando que a estatal
ucraniana Antonov, mesmo em crise financeira, faria investimentos de US$ 50
bilhões no estado de São Paulo, cancelados após a posição de Lula sobre a
guerra. A empresa desmentiu e negou ter representantes no Brasil. A emissora se
defendeu dizendo que era necessário “apurar”, pois “a reunião existiu”. Ora,
não sei o que é mais grave: um secretário de governo mentir ou ser incapaz de
checar com uma empresa a identidade de seus representantes. Sobre a reincidente
emissora, não é preciso novos comentários.</span><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Essa
militância obstinada nega fatos que ultrapassam e antecedem qualquer fala de
Lula ou posição do Ministério das Relações Exteriores. Sendo direto: a</span><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;">firmar que EUA e União Europeia, por meio da OTAN, e
a Ucrânia têm parcela de responsabilidade na guerra não retira a
responsabilidade russa e nem torna Putin um herói. Diferente de filmes e
novelas, a realidade é multifacetada. </span><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;">Esse adendo fiz em fevereiro de 2022 no texto “<i>Rússia,
Ucrânia e OTAN: a história sempre importa”<a href="file:///C:/Users/Jefferson/OneDrive/%C3%81rea%20de%20Trabalho/TEXTOS%20E%20PROJETOS%20INDIVIDUAIS/Textos%20OCAC/OCAC%20-%20M%C3%ADdia%20brasileira_democracia_guerra%20russo-ucraniana.docx#_edn4" name="_ednref4" style="mso-endnote-id: edn4;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="color: black; font-size: 11pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[iv]</span></sup></b></span><!--[endif]--></span></span></sup></span></a></i>.
O texto</span><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> sintetiza fatos públicos não sendo um “furo”. </span><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;">Na apresentação afirmei: “<i>Elencar os fatos
recentes decisivos para esse conflito não é o mesmo que identificar um
‘mocinho’ nesse trágico evento” </i>e<i> </i>concluí:</span><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-left: 35.4pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><i><span style="color: black; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">[...] ainda
que o imperialismo russo mova Putin a reconhecer a soberania das províncias
rebeldes pró-Rússia e a avançar militarmente sobre o vizinho, não se pode
ocultar que o outro imperialismo avançou militarmente ali e progride em todo
mundo, seja pela força das armas ou pela desestabilização interna de países
considerados estratégicos. A condenação à invasão russa na Ucrânia não pode ser
feita sem considerar a ação da outra potência que, vez ou outra, culmina num
humorista ou num boçal submisso na presidência dessas áreas de interesse.</span></i><i><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Veja que d</span><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;">epois de fevereiro de 2022 sanções, envios de armas e
outras ações envolveram ainda mais a OTAN, EUA e a UE. A Primeira Guerra
Mundial já mostrou que não se resolve um conflito complexo escolhendo bodes
expiatórios. </span><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Ademais, a</span><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;"> reunião com o ministro russo
Sergey Lavrov terminou com o Brasil defendendo o fim imediato da guerra e a
Rússia pedindo um acordo que "resolva de forma duradoura o conflito".
Posições diferentes, não é?</span><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;">É preciso reconhecer que a polêmica é
facilitada pela comunicação catastrófica do governo brasileiro. Em diversos
momentos, Lula e os ministros falam sem uma articulação com a equipe de
comunicação caindo em armadilhas, muitas vezes, por falta de clareza e
objetividade.</span><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;">No entanto, a posição dura dos EUA não é
gratuita. Desde a Lava Jato, o Brasil foi colocado novamente numa posição
frágil submisso aos interesses de Washington. A posição de Biden em reconhecer
Lula desde o primeiro momento também não viria de graça. Cabe ao Brasil
comunicar melhor suas posições. O chanceler Mauro Vieira faz, Lula insiste em
falar dentro e fora do país como se estivesse em 2003. </span><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;">A conjuntura mudou e vários países
passaram por desestabilização política desde fora, sob formas diversas de
golpes (<i>lawfare</i>, revoluções coloridas, revoltas supostamente populares e
outros) e em seus lugares governos alinhados aos interesses estadunidenses,
destacados pela fragilidade ou autoritarismo, tocaram um processo antipolítico,
antipovo, antinacional sob a aparência da representatividade exaltada na
democracia liberal. Prática que deu notoriedade a figuras reles como Juán
Guaidó na Venezuela e influenciou manifestações até em Cuba em 2021. Retomo
outra passagem de 2022:</span><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i><span style="color: black; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;">Zelensky também negociou com Trump quando
o ex-presidente dos EUA queria a investigação de Hunter Biden e sua empresa
Burisma, sediada na Ucrânia. A investigação ganhou oposição do Conselho de
Segurança Nacional dos Estados Unidos. Segunda consta, Alexander Vindman,
membro do conselho especialista em Ucrânia, teria alertado para o risco de a
investigação ser considerada “jogada partidária”. Vindman justificou “Sou
patriota, é meu dever sagrado e minha honra defender o país”.</span></i><i><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt; text-align: justify;"><i><span style="color: black; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-color-alt: windowtext;">É isso mesmo: um membro do Conselho de
Segurança, nomeado por Trump, não considerou adequada essa investigação para
“defender o país”. Afinal, de Obama à Trump, passando por McCain e Biden, a
Ucrânia é um projeto de Estado e o apoio dos Estados Unidos à chamada Revolução
Maidan não é um empenho no combate à corrupção e muito menos uma ode à
soberania nacional.<b> O ano era 2014 e esse apoio não estava fora do contexto
da Primavera Árabe e nem das think tanks que se projetaram no Brasil durante e
após as Jornadas de Julho.</b></span></i><i><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Após
a desestabilização política, o roteiro incluiu líderes que desacreditassem as
chamadas instituições democráticas e as colocasse à serviço do entreguismo e do
ataque ao povo e seus direitos – Zelensky, Bolsonaro e projetos malsucedidos
como Guaidó e Sérgio Moro se encontram nesse pastelão. A degeneração do caráter
representativo para uma explícita <i>concertação para o lobby </i>de interesses
alheios aos populares têm sido o mote desde a Primavera Árabe.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É nesse contexto e desse lugar que a imprensa
brasileira faz essa celeuma sobre declarações que destaquem o caráter
multifacetado da guerra em vez de uma farsa hollywoodiana com vilões e
mocinhos. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span></p>
<div style="mso-element: endnote-list;"><div style="text-align: justify;">* <b>Jefferson Nascimento</b> é Doutor em Ciência Política, Professor do IFSP - Campus Sertãozinho, membro do Núcleo de Estudos dos Partidos Políticos Latino-Americanos (NEPPLA).</div>
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="edn1" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/Jefferson/OneDrive/%C3%81rea%20de%20Trabalho/TEXTOS%20E%20PROJETOS%20INDIVIDUAIS/Textos%20OCAC/OCAC%20-%20M%C3%ADdia%20brasileira_democracia_guerra%20russo-ucraniana.docx#_ednref1" name="_edn1" style="mso-endnote-id: edn1;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[i]</span></sup></span><!--[endif]--></span></span></sup></span></a>
Acessar matéria em: <a href="https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/07/02/com-intensa-agenda-internacional-lula-recupera-espaco-do-pais-na-politica-externa-mas-patina-sobre-guerra-na-ucrania-avaliam-especialistas.ghtml">https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/07/02/com-intensa-agenda-internacional-lula-recupera-espaco-do-pais-na-politica-externa-mas-patina-sobre-guerra-na-ucrania-avaliam-especialistas.ghtml</a>.
<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="edn2" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/Jefferson/OneDrive/%C3%81rea%20de%20Trabalho/TEXTOS%20E%20PROJETOS%20INDIVIDUAIS/Textos%20OCAC/OCAC%20-%20M%C3%ADdia%20brasileira_democracia_guerra%20russo-ucraniana.docx#_ednref2" name="_edn2" style="mso-endnote-id: edn2;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[ii]</span></sup></span><!--[endif]--></span></span></sup></span></a>
Roberto Campos, que era apelidado de Bob Fields pelo seu norteamericanismo, foi <span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">se alinhando ao neoliberalismo ao longo dos anos
1970 e 1980, inclusive defendendo entusiasticamente as políticas de Margareth
Thatcher</span>. O livro de Almeida é <span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">uma ode a
Campos, que foi ministro do Planejamento na gestão Castelo Branco, durante a
Ditadura Militar, e cujo neto é o atual presidente do Banco Central, nomeado na
gestão Bolsonaro. O próprio Almeida ingressou no Itamaraty durante a Ditadura,
em 1977.</span><o:p></o:p></p>
</div>
<div id="edn3" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/Jefferson/OneDrive/%C3%81rea%20de%20Trabalho/TEXTOS%20E%20PROJETOS%20INDIVIDUAIS/Textos%20OCAC/OCAC%20-%20M%C3%ADdia%20brasileira_democracia_guerra%20russo-ucraniana.docx#_ednref3" name="_edn3" style="mso-endnote-id: edn3;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[iii]</span></sup></span><!--[endif]--></span></span></sup></span></a><sup>
</sup>As frases atribuídas à Paulo Roberto de Almeida constam na matéria do Globo.com
citada no início do parágrafo e acessível pelo link disponível na primeira nota.<o:p></o:p></p>
</div>
<div id="edn4" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/Jefferson/OneDrive/%C3%81rea%20de%20Trabalho/TEXTOS%20E%20PROJETOS%20INDIVIDUAIS/Textos%20OCAC/OCAC%20-%20M%C3%ADdia%20brasileira_democracia_guerra%20russo-ucraniana.docx#_ednref4" name="_edn4" style="mso-endnote-id: edn4;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><sup><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[iv]</span></sup></span><!--[endif]--></span></span></sup></span></a>
Acessar em <a href="http://autopoiesevirtu.blogspot.com/2022/02/russia-ucrania-e-otan-historia-sempre.html">http://autopoiesevirtu.blogspot.com/2022/02/russia-ucrania-e-otan-historia-sempre.html</a>
<o:p></o:p></p>
</div>
</div>Jeffersonhttp://www.blogger.com/profile/17651554842331396314noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-25278649216104507412023-07-01T03:27:00.001-07:002023-07-01T03:27:42.330-07:00Uma milonga para Helinho Coelho - George Coutinho<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx5yAcHiQ31doRQiqGHKlw2bBb0gMxawUJaDrBZ0RtReFTN_AFWjymBJ3Z_NWvocbEIzv4Pa89lMJ8SWvKxaotQ_ntasVOIo3anFMiPGrOixgDw7MgD-LqaRU9PIB7IJnP8kHeoiIHoBf06Z02I0Hf8g-CA6lS_ekvgXUvfoLxDYQEjJ9jOoCF8057xL4/s1595/Helinho.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1365" data-original-width="1595" height="274" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx5yAcHiQ31doRQiqGHKlw2bBb0gMxawUJaDrBZ0RtReFTN_AFWjymBJ3Z_NWvocbEIzv4Pa89lMJ8SWvKxaotQ_ntasVOIo3anFMiPGrOixgDw7MgD-LqaRU9PIB7IJnP8kHeoiIHoBf06Z02I0Hf8g-CA6lS_ekvgXUvfoLxDYQEjJ9jOoCF8057xL4/s320/Helinho.jpeg" width="320" /></a><span style="font-family: verdana;">*</span></div><span style="font-family: verdana;"><br /></span><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;"><b>Uma
milonga para Helinho Coelho</b>**<o:p></o:p></span></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="color: #333333; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;"><i>George
Gomes Coutinho</i>***<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Conheci
Helinho quando eu tinha 19 anos. Eu fui seu aluno. Ele tentou me convencer das
virtudes de Gramsci na época. Não curti. Achei Gramsci moderado demais e eu
estava mais sintonizado com a nitroglicerina de gente como Bakunin.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Muitos
anos se passaram e Gramsci estava lá muito presente em minha tese. Helinho
venceu.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Entre
graduação e tese nos encontramos em diferentes ocasiões. No antigo Terapia´s
Bar, ainda perto do Liceu, quando um intrépido e troncudo Helinho (sim, ele era
forte) chega pilotando uma Caloi 10 tão magrinha que desafiava a física
newtoniana. Papo vai, papo vem.. política, música, cultura e um engradado de
cerveja são consumidos.. E lá se foi ele na mesma Caloi 10 em que tinha
chegado. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Teve
aquele dia improvável também. Em coordenada não rastreável por GPS, alguma
coisa ali esquecida “nos fundos de Chapéu de Sol”, o reencontro. Era um trailer,
ou o que restava de um, com pessoas reunidas ouvindo o violão dele.. Na mesa um
scotch circulava generosamente. Eu, pato novo naquela lagoa, fiquei ali
curtindo o papo, a viola e o céu estrelado só na cervejinha. Saí meio trôpego
com o céu escuro. Mas, pelo que vi, Helinho estava com pique para amanhecer ali
com seu repertório. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Ainda
Helinho era macho pra caralho. Em 2018, quando a UFF Campos foi violada por um
juiz eleitoral e seus brutamontes, ocasião em que a porta do DACOM foi
arrombada para apreenderem, vejam só, um punhado de panfletos que deitavam inertes
no fundo de um armário trancado dos estudantes, Helinho peitou defendendo a
instituição. Foi ameaçado de prisão. Eu sei que não foi a primeira vez e pode
nem ter sido a última. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Helinho
era muita coisa. Músico, professor, político (foi vereador na cidade),
advogado, historiador, poeta, agitador cultural.... e, como se não bastasse,
gente boa! Como era gente boa!<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Nos
esbarramos uns 10 dias atrás em uma calçada da Pelinca. Estava especialmente
elegante! “Tá mal intencionado hein?”, assim eu disse. Ele deu aquele sorriso
meio maroto que todos nós curtíamos. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Rest
in Power Helinho. Você dizia: “Essa cana, é sacana!”, em uma crítica à
brutalidade de nosso canavial. Por sua saída tão abrupta eu digo que por vezes
a vida também é sacana meu camarada....<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">* Helinho em 2018 em sala de aula da UFF-Campos,
instituição pela qual se aposentou em dezembro de 2022. Foto de Johnatan França
de Assis.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">**
Hélio Coelho, ou simplesmente Helinho como era carinhosamente conhecido, foi uma
das figuras mais ativas da vida intelectual campista nos últimos 50 anos. Ele foi
advogado, historiador prático, escritor, violonista, cantor, poeta, analista político e agitador
cultural. Foi vereador e Presidente da Câmara Municipal durante a Ditadura e um
dos líderes do Movimento pelas Liberdades Democráticas. Também foi membro da
Academia Campista de Letras, associação que presidiu neste século XXI. O
querido Helinho nos deixou na última quinta-feira aos 75 anos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">***
Professor da área de ciência política no Departamento de Ciências Sociais da
UFF-Campos.</span></span></p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-32930833806175758242023-06-28T08:58:00.006-07:002023-06-28T15:36:26.209-07:00Medo à liberdade – Fabrício Maciel<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6gc-1Jk0vj7djzrUBxW0dLoykHzYW8EqqLwc-2V6frnWQd9MZSkqwU01WWi5S9IH5Oc1irCLkwdc_SQeOGNFkn386UPpW_zwOqnhZ0lmce2F5vvOuhxYbu8riiSVFAoiz-vPtaCU-Xfq2gQMuRiJoXdJVPy9ggjqGaziWNLRTEqJHBTLS6hQoBPdL7gA/s1024/Munch%20auto%20retrato.webp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="779" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6gc-1Jk0vj7djzrUBxW0dLoykHzYW8EqqLwc-2V6frnWQd9MZSkqwU01WWi5S9IH5Oc1irCLkwdc_SQeOGNFkn386UPpW_zwOqnhZ0lmce2F5vvOuhxYbu8riiSVFAoiz-vPtaCU-Xfq2gQMuRiJoXdJVPy9ggjqGaziWNLRTEqJHBTLS6hQoBPdL7gA/s320/Munch%20auto%20retrato.webp" width="243" /></a>*</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Medo à liberdade**</span></span></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><br /></span></span></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><br /></span></span></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><br /></span></span></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: right;"><span style="line-height: 107%;"><b><i><span style="font-family: verdana;"><span style="font-size: medium;">Fabrício Maciel</span>***</span></i></b></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: right;"><span style="line-height: 107%;"><b><i><span style="font-family: verdana;"><br /></span></i></b></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: right;"><span style="line-height: 107%;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Especialmente
após a crise global de 2008, o mundo foi tomado de assalto por um espírito
autoritário, que encontra conformações específicas em cada país, o que precisa
considerar as desigualdades históricas nacionais. Donald Trump e Jair Bolsonaro
são, neste sentido, excelentes exemplos advindos de realidades históricas bem
distintas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Ao observar
as razões que levaram à ascensão e a queda e que podem levar à reascensão de
tais líderes, podemos notar diversos fatores em comum. Dentre eles, as
dificuldades na vida econômica da nação, o que significa especialmente o
aumento da precariedade e do espectro da indignidade nas classes populares,
serão sempre o primeiro aspecto a ser observado. Não foi outra coisa o que fez
Erich Fromm em seu tempo, ao buscar compreender as razões profundas do
fascismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Entretanto,
para ele, as razões psicológicas se apresentaram como de maior importância, o
que também é fundamental para compreendermos as novas formas de autoritarismo
atuais. Isso não significa cair em um psicologismo, o que Erich Fromm deixa
muito claro em sua leitura de Freud e sua ruptura com o mestre. Para Fromm, a
natureza humana é dinâmica, sendo modificada ao longo do processo histórico, ao
mesmo tempo em que o modifica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Tal
percepção pode ser encontrada em seu belo livro <i>O medo à liberdade</i> (Fromm,
1974)<i>.</i> Nele, o autor procura compreender as dificuldades humanas na
modernidade em sua relação com a liberdade. Liberto das amarras anteriores, o
indivíduo agora não sabe o que fazer com sua nova condição, encontrando-se
angustiado e com medo. Teríamos assim a condição perfeita para uma entrega à
influência de líderes autoritários.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Isto foi
fundamental para entender o fascismo clássico. Entretanto, na atualidade,
precisamos atentar para alguns aspectos específicos. Fromm não presenciou, por
exemplo, o que a máquina tecnológica atual é capaz de fazer com a produção
de <i>fake news</i> e a mudança de consciência nas pessoas. Sem este
mecanismo de poder Donald Trump e Jair Bolsonaro simplesmente não existiriam.
Faço menção a estes dois casos específicos por considerar as semelhanças da
ação do neofascismo em sociedades de massa gigantescas como o Brasil e os
Estados Unidos, marcadas por fortes desigualdades estruturais. Encontraremos
outros aspectos específicos na Europa e no mundo asiático.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Pensando
especialmente no caso brasileiro, Jair Bolsonaro foi uma resposta um tanto
quanto imprevista ao fracasso de um certo sistema político, econômico, moral e
simbólico em promover justiça social e atender aos anseios existenciais mais
profundos da sociedade brasileira e especialmente das classes populares.
Refiro-me a um sistema que se esboça na década de 2000 e que normalmente
definimos como “progressista”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Naquele
momento, a eleição de Lula incorporou e simbolizou este movimento, em consonância
com o cenário global. Esta será uma década que vai presenciar grande esforço
por parte dos governos do PT em promover justiça e inclusão social, o que foi,
entretanto, muito menor do que o discurso do governo. Este esbarrou na
desigualdade estrutural brasileira e no poder ilimitado de sua elite.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Com isso, a
grande discrepância entre as promessas do sistema progressista e as
possibilidades efetivas de mudança social foram gerando uma série de
dificuldades no campo político e, em contrapartida, uma série de frustrações no
seio da sociedade. Neste sentido, a perspectiva teórica de Fromm cai como uma
luva. Esboçando uma interpretação, podemos dizer que os esforços do sistema
progressista geraram expectativas fora da realidade, buscando provocar um
caráter social igualmente progressista, tolerante e inclusivo. Em boa medida,
não podemos negar o surgimento de um caráter social com boas expectativas de
justiça e igualdade, considerando que várias ações do governo de fato
promoveram alguma inclusão e justiça social nas camadas populares.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Entretanto,
a discrepância entre a “grande promessa” progressista e a realidade estrutural
do Brasil se colocou como o grande empecilho. Neste ponto, não podemos ignorar
a realidade global promovida pelo capitalismo “flexível”, que eu prefiro
definir como “indigno”. Com isso, precisamos ir além do nacionalismo
metodológico e romper com a interpretação equivocada de que o Brasil e a
América Latina possuem culturas autoritárias arraigadas em sua história, o que
explicaria os fenômenos autoritários atuais. Com efeito, um olhar atento no
cenário atual pode perceber a existência de uma cultura autoritária em escala
global, inclusive aqui na Europa, o que pode ser visto com toda a nitidez no
grau de intolerância crescente diante dos imigrantes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Compreendo
este fenômeno como um resultado tardio da ascensão de um capitalismo indigno e
autoritário, em escala global, desde a década de 1970. Este resultado é tardio
no sentido de que, em grande medida, ficou ‘debaixo do tapete’ da grande promessa
progressista neoliberal das últimas décadas. Incondizente com a realidade, esta
promessa apenas omitiu a ação real do capitalismo indigno, cuja verdadeira face
é autoritária, promovendo desigualdade e injustiça social como nunca, agora em
escala global. Neste sentido, a falência do <i>Welfare State</i> em
países como Alemanha, França e Inglaterra é uma das principais provas empíricas
da existência deste novo tipo de capitalismo e de sua lógica intrínseca de
ação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">É claro
que, se compararmos países como a Alemanha e o Brasil, veremos que, na
primeira, o Estado ainda possui volumosos recursos para defender o país do
“grande fracasso” do sistema progressista. Veja-se, por exemplo, a crise do gás
promovida pelo contexto da guerra na Ucrânia. Por outro lado, todo o empenho
progressista dos governos de esquerda no Brasil não foi suficiente para
enfrentar nossa desigualdade estrutural. Como resultado, na década de 2010
começaremos a ver os efeitos deste fracasso e suas especificidades no caso
brasileiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">As
manifestações de 2013, que agora completam dez anos, demonstraram uma certa
revolta contida nas camadas populares, o que foi rapidamente manipulado por
grupos de poder, criando uma crise profunda nos governos de Dilma Rousseff e
levando ao seu impeachment em 2016. Rousseff quase não se reelege em 2014, o
que revela tanto a crise de seu partido quanto a falência maior do sistema
progressista global.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Novamente,
a teoria de Erich Fromm se apresenta como muito propícia. Para ele, o caráter
social significa o tipo ou perfil de humanidade predominante em uma época ou
contexto histórico específico. Em termos simples, é preciso entender o caráter
social do brasileiro mediano que votou e acreditou nos governos progressistas
do partido dos trabalhadores de Lula e Rousseff. Um dado extremamente
importante aqui é que um grande número de pessoas votou duas vezes em Lula,
duas vezes em Dilma e então em Jair Bolsonaro. Isso não é casual e se explica
em grande medida pela frustração generalizada diante da grande promessa que se
transformará em descrença, apatia, animosidade e intolerância em grande parte
da população, além de ódio e agressividade em escala preocupante. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Temos assim
um prato cheio para o discurso neofascista, que vai compreender e
instrumentalizar esta frustração e insatisfação coletiva, traduzida em grande
parte em ressentimento generalizado diante das instituições e sentimento de não
reconhecimento pelas mesmas. Daí se explica o sucesso do discurso antissistema
de Jair Bolsonaro, semelhante ao de Trump e adaptado ao cenário brasileiro.
Vale ressaltar que este discurso possui uma tonalidade ultra meritocrática,
manipulando os sentimentos e o ideal de liberdade individual para justificar e
legitimar a campanha e posteriormente as ações do governo de Jair Bolsonaro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Aqui, o
discurso abstrato da liberdade vai ser bem-sucedido ao se contrapor ao discurso
e a consequente falência do sistema progressista, que prometeu inclusão e
justiça vindos de cima. Com isso, a extrema direita se aproveita do fracasso
progressista com o discurso de que a justiça e a inclusão só podem vir debaixo,
da própria sociedade, através da defesa da liberdade individual de ação no
mercado, o que dependeria de um governo igualmente ultraliberal. A fala
emblemática de Jair Bolsonaro, no auge da pandemia, de que o “povo precisa
trabalhar”, é bastante esclarecedora neste sentido. Ao mesmo tempo, o governo
da extrema direita vai manter políticas sociais da esquerda como um recurso
populista eficaz.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Com isso,
retornando a Erich Fromm, o que presenciamos é uma mudança gradual no caráter
social brasileiro recente. Tal mudança, como percebia Fromm, é dinâmica, típica
da cultura capitalista que ao mesmo tempo molda e é moldada pelo caráter
social. Diferente da interpretação dominante e equivocada de que o brasileiro é
essencialmente autoritário, o que presenciamos durante os governos da esquerda
foi a construção gradual de um contexto de mais tolerância, aceitação e crença
nas propostas progressistas de justiça e inclusão, que começa a ser modificado
diante do fracasso de tais promessas. Com isso, o sistema político ao mesmo
tempo modifica e é modificado pelas formas de pensar, agir e sentir da
sociedade como um todo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Agora, Jair
Bolsonaro perdeu a última eleição e Lula retorna ao poder, em uma situação
muito atípica e de difícil interpretação. Aqui, valem algumas considerações
parciais. Em um primeiro momento, Jair Bolsonaro tentou um golpe, no fatídico 8
de janeiro, o que pode ser entendido a partir de outra parte da obra de Erich
Fromm. Como foi bastante divulgado na mídia, os principais símbolos do poder em
Brasília foram depredados em um ato de vandalismo de dimensões inéditas em
nossa história.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Ali pudemos
ver os impulsos de agressividade e destrutividade individuais canalizados
contra um suposto opressor externo que, depois de amado, no auge da promessa
progressista, agora é odiado. A ambiguidade intrínseca, que expressa o teor
instrumental da manipulação realizada sobre boa parte dos indivíduos no ato,
reside no fato de se empunhar a bandeira do brasil e ao mesmo tempo destruir
seus símbolos de poder. Ou seja, se expressa aqui uma relação mal resolvida de
amor e ódio em relação a autoridade externa do sistema político.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Na prática,
sabemos que boa parte das pessoas envolvidas no ato agiram de maneira puramente
instrumental, sendo inclusive financiadas para tanto. Ou seja, uma milícia da
extrema direita. Por outro lado, muitos indivíduos ali presentes, o que também
pudemos ver em toda a ação da militância de extrema direita ao longo do governo
Bolsonaro, representando seu eleitorado, foram movidos por crenças e ideais que
se infiltraram ou maximizaram no caráter brasileiro recente nos últimos tempos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Aqui, como
conclusão, podemos buscar um diálogo com a leitura de Erich Fromm sobre a fuga
da liberdade e suas dificuldades. Se estivesse vivo, Erich Fromm certamente não
ignoraria os imperativos morais impostos pelo capitalismo flexível, que promete
sucesso e felicidade, ao mesmo tempo em que oferece, no plano material,
instabilidade e precariedade, além de angústia, instabilidade e sofrimento, no
plano existencial.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Com isso,
precisamos de uma nova teoria da alienação e de novas buscas para sua
superação. Em boa medida, Erich Fromm psicologizou a teoria da alienação de
Karl Marx, a partir de sua influência de Sigmund Freud, indo além também deste,
ao mostrar que o indivíduo, em sua natureza humana dinâmica, pode ser vetor
tanto da reprodução quando da superação da alienação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Para Erich
Fromm, a superação da alienação dependeria da construção altruísta de relações
sadias com o outro, diferentes daquelas predominantes na sociedade insana de
seu tempo, muito semelhante ao que vivemos hoje. Neste sentido, a busca por um
humanismo transformador e até mesmo por um socialismo humanista pode ser um
projeto sério a ser construído socialmente. Se Erich Fromm estiver correto, a
sociedade e o caráter social se transformam de maneira dinâmica, o que nos
permite margem para esperança e não para a simples entrega ao conformismo,
pessimismo ou melancolia. Entretanto, esta mudança depende também da ação do
sistema político-econômico, que precisa se reconstruir criativamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Em seu
terceiro mandato, Lula encontra novas dificuldades, mais obtusas e complexas do
que as anteriores. Em certo sentido, a presença de Jair Bolsonaro no poder
deixou claro quem era o inimigo a ser deposto. Ainda que Jair Bolsonaro tenha
sido, como indivíduo, apenas um instrumento de um contra-sistema conservador,
considerando que sua carreira agora parece fadada ao fracasso, ele explicitou,
assim como Donald Trump, os ideais mais obscuros da modernidade, negados pelo
sistema progressista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Agora, a
ação conservadora migrou para mecanismos mais complexos, como aqueles
capitaneados pelo atual presidente da câmara dos deputados, Arthur Lira, que
tem conseguido impedir ações progressivas do governo, assassinando o mesmo
ainda no berço. Com isso, as perspectivas para os próximos anos não são muito
promissoras. Por outro lado, com a eleição de Lula o caráter social brasileiro
parece ter amenizado um pouco os seus ânimos e retomado algum fôlego. Com isso,
podemos talvez ainda ter alguma esperança.</span><o:p></o:p></p></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">* <i>The Night Wanderer</i>, Edvard Munch. Disponível em: https://www.nytimes.com/2016/02/19/arts/design/review-the-darkness-and-light-of-edvard-munchs-work.html, acesso em 28 de junho de 2023.</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">** <span style="text-align: left;">Versão modificada de
apresentação na 3ª Conferência de Pesquisa Internacional sobre Erich Fromm,
realizada na </span><i style="text-align: left;">International Psychoanalytic University</i><span style="text-align: left;"> em
Berlim. Utilizamos aqui, com a devida autorização do autor, a versão publicada
em </span><i style="text-align: left;">A Terra é Redonda</i><span style="text-align: left;"> disponível em </span><a href="https://aterraeredonda.com.br/o-medo-a-liberdade/?fbclid=IwAR0dWi4FmvDPAyNjD_qnsACFUVbjjaJHLutC8D1AJsKgNqFz4I5vH_uVsPs" style="text-align: left;">https://aterraeredonda.com.br/o-medo-a-liberdade/?fbclid=IwAR0dWi4FmvDPAyNjD_qnsACFUVbjjaJHLutC8D1AJsKgNqFz4I5vH_uVsPs</a><span style="text-align: left;">,
acesso em 28 de junho de 2023.</span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="text-align: left;"><br /></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="text-align: left;">*** </span><b style="text-align: left;"><span style="line-height: 107%;">Fabrício Maciel</span></b><i style="text-align: left;"><span style="line-height: 107%;"> é professor de teoria sociológica na
Universidade Federal Fluminense (UFF). Autor, entre outros livros, de O
Brasil-nação como ideologia. A construção retórica e sociopolítica da
identidade nacional (Ed. Autografia</span></i><span style="line-height: 107%; text-align: left;">).</span></span></div><p></p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-74848689572454907012023-05-21T07:59:00.003-07:002023-05-21T07:59:36.496-07:00A burguesia não curte a democracia - Luis Felipe Miguel<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDJIYyDTyKu7_Bak4h_hr0FBVsrIQ0m5vdlSclqUVrM8oAzVt3OneVEX7Pp3S4zPe3-ymEb7Bn6XgBrq4iW96_lCjJ73fr8sCYZF3otBdBdPY6NN-zXI9Q_LLEq5C_pcmGpl9iHCq5bfscZ5g-ny61LPZKK2ChqDv-4UY8Tw8gLOKNtLLgz7R2PbCJ/s514/guedeslascado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="514" data-original-width="514" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDJIYyDTyKu7_Bak4h_hr0FBVsrIQ0m5vdlSclqUVrM8oAzVt3OneVEX7Pp3S4zPe3-ymEb7Bn6XgBrq4iW96_lCjJ73fr8sCYZF3otBdBdPY6NN-zXI9Q_LLEq5C_pcmGpl9iHCq5bfscZ5g-ny61LPZKK2ChqDv-4UY8Tw8gLOKNtLLgz7R2PbCJ/s320/guedeslascado.jpg" width="320" /></a>*</div><br /><span style="font-family: verdana;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A burguesia não curte a democracia**</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: right;"><span style="font-family: verdana;"><i> Luis Felipe Miguel***</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A história é que Bolsonaro, no começo do ano passado, pediu a Guedes para diminuir o preço do gás - para ver se ganhava uns votos. Guedes disse que interferir na Petrobrás afetaria a empresa, o governo e traria um efeito cascata. E explicou: "Não dá para agradar pobre toda hora. Se você agrada pobre, desagrada o rico e quem manda no país é o rico". Bolsonaro concordou.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Agora, Lula cumpriu sua promessa de campanha e baixou o preço do gás - sem nenhum dos efeitos negativos que Guedes anunciara. Bolsonaro ficou puto e chamou seu ex-"posto Ipiranga" às falas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Parece que a conversa, via zap, foi áspera. Cobrado por Bolsonaro, Guedes teria reagido: "Desapega". Daí trocaram alguns palavrões e, no final, Guedes bloqueou o número do seu ex-chefe.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O mais interessante é que Guedes disse, para Bolsonaro, algo que é bem sincero. Para os ultraliberais, a democracia é um problema. Ela obriga a levar em consideração os interesses dos dominados: a classes trabalhadora, os pobres, as periferias, as mulheres, a população negra. Afinal, foi por pressão destes grupos que a democracia se estabeleceu - ela sempre foi um projeto popular.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Isto já está nos gregos antigos, que definiam a democracia como "o governo dos pobres". Não é exatamente isso, claro - os ricos e poderosos sabem usar muito bem seus recursos para garantir uma influência desproporcional nas decisões públicas. Mas a pressão dos dominados gerou um sistema em que sua voz tem como ser ouvida.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A classe dominante tenta fazer com que essa voz perca relevância. São mil pressões, manipulações ou mesmo manobras como dotar de "independência" alguns órgãos cruciais do governo, como o Banco Central (uma "independência" em relação à vontade popular).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Os regimes que eles preferem são como a Itália de Mussolini ou o Chile de Pinochet (ao qual, aliás, o jovem Paulo Guedes serviu). Autores como Hayek, Friedman, Mises ou Nozick manifestavam abertamente sua repulsa à democracia e defendiam a necessidade de limitá-la. Hayek chegou a propor uma constituição em que o direito de voto vem aos 40 anos e é exercido uma única vez...</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Mesmo com seus vieses e limitações, a democracia dá ao povo a chance de desorganizar o jogo das elites. Obriga que os políticos ao menos finjam interesse pelas maiorias. E permite que o povo premie quem atende melhor às suas necessidades.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Por isso, a democracia é uma bandeira central para a esquerda.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A democracia que temos é muito inferior àquela com que sonhamos. A submissão ao capitalismo, o peso do dinheiro, a manipulação da informação, tudo isso enviesa seus resultados. Ainda assim, ela é um avanço - e cabe a nós lutar para aprimorá-la.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">* "Paulo Guedes na Idade da Pedra Lascada", charge do sempre genial Aroeira. Disponível em: </span><span style="text-align: left;"><span style="font-family: verdana;">https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/charge-paulo-guedes-na-idade-da-pedra-lascada-por-aroeira/, acesso em 21 de maio de 2023.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Trebuchet MS", Trebuchet, Verdana, sans-serif; text-align: left;"><span style="font-family: verdana;">**</span></span><span style="font-family: verdana;"> Publicado originalmente no </span><a href="https://www.facebook.com/luisfelipemiguel.unb" style="font-family: verdana; text-decoration-line: none;">perfil do Facebook do prof. Luis Felipe</a><span style="font-family: verdana;"> no dia 20 de maio de 2023. Reproduzimos aqui com a autorização do autor.</span></p><p style="background-color: white; font-family: "Trebuchet MS", Trebuchet, Verdana, sans-serif; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"></span></p><p style="background-color: white; font-family: "Trebuchet MS", Trebuchet, Verdana, sans-serif; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">*** Professor titular livre do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demodê). É autor de "Democracia e representação: territórios em disputa" (Editora Unesp, 2014), "Dominação e resistência" (Boitempo, 2018), dentre outros. </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 20px;">Lançou no primeiro semestre de 2022 o seu "Democracia na periferia capitalista" pela Autêntica Editora.</span></p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-63677094888274774782023-05-12T01:53:00.008-07:002023-05-12T01:55:57.371-07:00Voyeur Político - 1ª Rodada - Ano III - Metropolização na Bacia de Campos<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="325" src="https://www.youtube.com/embed/diFZoaPIRv0" width="391" youtube-src-id="diFZoaPIRv0"></iframe></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><h1 class="style-scope ytd-watch-metadata" style="-webkit-box-orient: vertical; -webkit-line-clamp: 2; background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; color: #0f0f0f; display: -webkit-box; line-height: 2.8rem; margin: 0px; max-height: 5.6rem; overflow: hidden; padding: 0px; text-align: justify; text-overflow: ellipsis; word-break: break-word;"><br /></h1><p style="text-align: justify;"><span style="background-color: rgba(0, 0, 0, 0.05); color: #0f0f0f; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: verdana;">O projeto Voyeur Político é projeto de extensão sediado no Departamento de Ciências Sociais da UFF-Campos coordenado por mim, prof. George Coutinho (georgec@id.uff.br). Neste episódio t</span></span><span style="background-color: white; color: #0f0f0f; font-family: verdana;">ivemos como convidados José Luis Vianna da Cruz (UFF/UCAM) e William Passos IPPUR/UFRJ).</span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"></div>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-66004266445654314612023-04-26T02:16:00.001-07:002023-04-26T02:16:07.773-07:00Voyeur Político - 1ª Rodada - Ano III<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjATN6Hy8fHa37UhCD13J4cH6zGE1DWxEjTFrYmnHkoXzxamOqLsJBDWs1tGqjmTKvtQ__qiOGpN0HCeDdpp4OYHfZBocRp_CAjfcEQtnfnkzsmKVprc0-p9b2jVWrYwEmNWQ-g90g4ZaHtI7DN_Bd9P4zY3hahcmuq5VjtWnDIzNcpyXNBDk4PDd0/s1080/voyeur%201%202023-1.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjATN6Hy8fHa37UhCD13J4cH6zGE1DWxEjTFrYmnHkoXzxamOqLsJBDWs1tGqjmTKvtQ__qiOGpN0HCeDdpp4OYHfZBocRp_CAjfcEQtnfnkzsmKVprc0-p9b2jVWrYwEmNWQ-g90g4ZaHtI7DN_Bd9P4zY3hahcmuq5VjtWnDIzNcpyXNBDk4PDd0/s320/voyeur%201%202023-1.png" width="320" /></a></div><br /><p></p><p><span style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Vamos nós para o terceiro ano do projeto Voyeur Político!</span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">Nos anos de 2021 e 2022 nos dedicamos a acompanhar a
conjuntura eleitoral de out/22. Neste 2023 teremos um refresco do tema e abriremos
para uma maior variedade de questões no projeto.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">Vamos iniciar este Ano III olhando para nosso quintal, a
cidade de Campos dos Goytacazes. Com 188 anos recém completados Campos precisa
lidar com o que pode ser um dos mais complexos desafios de sua existência: a
metropolização.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">Com quase meio milhão de habitantes, desigualdades diversas,
uma cultura econômica que parece pouco afeita a inovações e uma vida política
que gravita por décadas nos arredores da imagem de Garotinho, esta cidade do
interior do Rio de Janeiro está se tornando uma metrópole? Caso esteja, quais
seriam as possíveis consequências da metropolização para sua população?<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">Convidei para esta conversa dois colegas que tem muito a
dizer sobre este tópico: William Passos e José Luis Vianna da Cruz.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">William Passos é recém doutor pelo prestigiado Instituto
de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (IPPUR/UFRJ). Sua tese, que foi desenvolvida com momentos de formação
do autor na Universidade do Porto e no IBGE, justamente discute a
metropolização da bacia de Campos. Para além disso, William, que é geógrafo de
formação, é um ativo colaborador da imprensa regional e se arrisca corajosamente
em solos da gaita.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">José Luís Vianna da Cruz é simplesmente um dos sociólogos
mais importantes da região. Não é possível sequer imaginar a atual fisionomia
da sociologia regional sem sua presença.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Também doutor pelo IPPUR/UFRJ, Zé é formador/pesquisador em instituições
como UCAM e a UFF-Campos, onde sempre discutiu, analisou e problematizou a
região. Com tudo isso é rubro-negro apaixonado, dono de uma biografia
interessantíssima e também tem em seu currículo o tropeção de ter me orientado
no início deste século. Sim, também sou “cria” do professor Zé Luís.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #333333;">Nossa conversa irá ocorrer em 11 de maio de 2023, uma
quinta-feira, 15 horas. As inscrições, para quem desejar acompanhar o papo ao
vivo, podem ser feitas aqui neste link: </span><a href="https://forms.gle/KHzkBYvzk1B14bfV6">https://forms.gle/KHzkBYvzk1B14bfV6</a><span style="color: #333333;"> <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O
projeto Voyeur Político é projeto de extensão sediado no Departamento de
Ciências Sociais da UFF-Campos coordenado por mim, prof. George Coutinho
(georgec@id.uff.br).</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-51378473472383905452023-04-24T12:38:00.001-07:002023-04-24T12:38:12.617-07:00Discurso de Chico Buarque - Prêmio Camões 2019<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzYZvRukBhxjZ4-f7nElRp2VI3XtxXoEblXmZZFMzBi9iVzBPaRIvdJryUuDpxk3ToEUV0TtUQYqvm4RMODPLs3xxgZCyuVsAGKzmYSQmgPAPykwrUdTeu9tGtqlTkKCn2DzVpafprEC-5qyqcODZUocl9bHa9zTUKE_d9733mHbsYC0nJmMAYrFss/s886/342996079_244692978118317_2952352255581217307_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="886" data-original-width="843" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzYZvRukBhxjZ4-f7nElRp2VI3XtxXoEblXmZZFMzBi9iVzBPaRIvdJryUuDpxk3ToEUV0TtUQYqvm4RMODPLs3xxgZCyuVsAGKzmYSQmgPAPykwrUdTeu9tGtqlTkKCn2DzVpafprEC-5qyqcODZUocl9bHa9zTUKE_d9733mHbsYC0nJmMAYrFss/s320/342996079_244692978118317_2952352255581217307_n.jpg" width="304" /></a>*</div><br /><p><br /></p><p><span style="font-family: verdana;">Discurso de Chico Buarque - Prêmio Camões 2019 **</span></p><p><span style="font-family: verdana;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Cerimônia de entrega - dia 24 de abril de 2023, Palácio Nacional de Queluz, às 16.00 horas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Ao receber este prêmio penso no meu pai, o historiador e sociólogo Sergio Buarque de Holanda, de quem herdei alguns livros e o amor pela língua portuguesa. Relembro quantas vezes interrompi seus estudos para lhe submeter meus escritos juvenis, que ele julgava sem complacência nem excessiva severidade, para em seguida me indicar leituras que poderiam me valer numa eventual carreira literária. Mais tarde, quando me bandeei para a música popular, não se aborreceu, longe disso, pois gostava de samba, tocava um pouco de piano e era amigo próximo de Vinicius de Moraes, para quem a palavra cantada talvez fosse simplesmente um jeito mais sensual de falar a nossa língua. Posso imaginar meu pai coruja ao me ver hoje aqui, se bem que, caso fosse possível nos encontrarmos neste salão, eu estaria na assistência e ele cá no meu posto, a receber o Prêmio Camões com muito mais propriedade. Meu pai também contribuiu para a minha formação política, ele que durante a ditadura do Estado Novo militou na Esquerda Democrática, futuro Partido Socialista Brasileiro. No fim dos anos sessenta, retirou-se da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em solidariedade a colegas cassados pela ditadura militar. Mais para o fim da vida, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, sem chegar a ver a restauração democrática no nosso país, nem muito menos pressupor que um dia cairíamos num fosso sob muitos aspectos mais profundo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O meu pai era paulista, meu avô, pernambucano, o meu bisavô, mineiro, meu tataravô, baiano. Tenho antepassados negros e indígenas, cujos nomes meus antepassados brancos trataram de suprimir da história familiar. Como a imensa maioria do povo brasileiro, trago nas veias sangue do açoitado e do açoitador, o que ajuda a nos explicar um pouco. Recuando no tempo em busca das minhas origens, recentemente vim a saber que tive por duodecavós paternos o casal Shemtov ben Abraham, batizado como Diogo Pires, e Orovida Fidalgo, oriundos da comunidade barcelense. A exemplo de tantos cristãos-novos portugueses, sua prole exilou-se no Nordeste brasileiro do século XVI. Assim, enquanto descendente de judeus sefarditas perseguidos pela Inquisição, pode ser que algum dia eu também alcance o direito à cidadania portuguesa a modo de reparação histórica. Já morei fora do Brasil e não pretendo repetir a experiência, mas é sempre bom saber que tenho uma porta entreaberta em Portugal, onde mais ou menos sinto-me em casa e esmero-me nas colocações pronominais. Conheci Lisboa, Coimbra e Porto em 1966, ao lado de João Cabral de Melo Neto, quando aqui foi encenado seu poema Morte e Vida Severina com músicas minhas, ele, um poeta consagrado e eu, um atrevido estudante de arquitetura. O grande João Cabral, primeiro brasileiro a receber o Prêmio Camões, sabidamente não gostava de música, e não sei se chegou a folhear algum livro meu.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Escrevi um primeiro romance, Estorvo, em 1990, e publicá-lo foi para mim como me arriscar novamente no escritório do meu pai em busca de sua aprovação. Contei dessa vez com padrinhos como Rubem Fonseca, Raduan Nassar e José Saramago, hoje meus colegas de prêmio Camões. De vários autores aqui premiados fui amigo, e de outras e outros – do Brasil, de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde - sou leitor e admirador. Mas por mais que eu leia e fale de literatura, por mais que eu publique romances e contos, por mais que eu receba prêmios literários, faço gosto em ser reconhecido no Brasil como compositor popular e, em Portugal, como o gajo que um dia pediu que lhe mandassem um cravo e um cheirinho de alecrim. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Valeu a pena esperar por esta cerimônia, marcada não por acaso para a véspera do dia em os portugueses descem a Avenida da Liberdade a festejar a Revolução dos Cravos. Lá se vão quatro anos que meu prêmio foi anunciado e eu já me perguntava se me haviam esquecido, ou, quem sabe, se prêmios também são perecíveis, têm prazo de validade. Quatro anos, com uma pandemia no meio, davam às vezes a impressão de que um tempo bem mais longo havia transcorrido. No que se refere ao meu país, quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás. Aquele governo foi derrotado nas urnas, mas nem por isso podemos nos distrair, pois a ameaça fascista persiste, no Brasil como um pouco por toda parte. Hoje, porém, nesta tarde de celebração, reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para a assinatura do nosso presidente Lula. Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Muito obrigado</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">* Reproduzo aqui, na cara dura mesmo, o discurso do "clássico que anda" tal qual me chegou.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">** Cartoon do querido Márcio Malta, o Nico. Tomei a arte de empréstimo de sua página pessoal no Facebook: </span><span style="text-align: left;"><span style="font-family: verdana;">https://www.facebook.com/marciomalta.nico </span></span></p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-5607669103718409182023-04-09T02:00:00.001-07:002023-04-09T02:00:20.135-07:00Aula Inaugural - PPGDAP - UFF - Campos<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAmOGnRw__agmamKtnaD3xGl7A98RJDkoUyKuhjaAAlGXGzNf5AVUvlLlMJVUkbuK15tkIWDcfwRPDsGrJI6lZKszjGeezbftM85J1aoitRygQK_SDGgcPyFdbMGt4b6YB7uqBQtFkppmD5w4OEg-Jry2wxY7UWVP-ZHmFKisJes8nVD81vsbq3Abf/s1080/WhatsApp%20Image%202023-04-08%20at%208.35.47%20PM.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="591" data-original-width="1080" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAmOGnRw__agmamKtnaD3xGl7A98RJDkoUyKuhjaAAlGXGzNf5AVUvlLlMJVUkbuK15tkIWDcfwRPDsGrJI6lZKszjGeezbftM85J1aoitRygQK_SDGgcPyFdbMGt4b6YB7uqBQtFkppmD5w4OEg-Jry2wxY7UWVP-ZHmFKisJes8nVD81vsbq3Abf/w410-h224/WhatsApp%20Image%202023-04-08%20at%208.35.47%20PM.jpeg" width="410" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Convidamos a todos e a todas para a Aula Inaugural 2023/1 do Programa de Pós-Graduação Desenvolvimento Regional, Ambiente e Políticas Públicas (PPGDAP), que será realizada nesta quinta-feira, dia 13/04/2023 às 16h00min, no Auditório da UFF Campos/ESR. Teremos a satisfação de ter o conceituado Prof Dr. Jorge Natal - Professor Visitante do PPGDAP em 2023 - como nosso palestrante. A palestra é intitulada “Modernização Capitalista e Projeto Civilizatório Brasileiro: alguns avanços, muitos recuos". O prof. Jorge Natal tem experiência na área de Planejamento Urbano e Regional atuando nos temas de política econômica brasileira e a economia carioca e fluminense. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Solicitamos gentileza de divulgar em suas redes sociais.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Contamos com a presença de todos e todas!!!</span></p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-13621498053683099212023-04-06T10:55:00.004-07:002023-04-06T11:19:11.779-07:00Sobre o morticínio em Blumenau - Luis Felipe Miguel<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: verdana;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-Qvr80J2AwoU7_5fhuKwD6TJL8GUlJ89W7I5QyqnAMrouksTkU3EkJJcvLxfi8UG74PnenG5bHUtcZqGZKdBpJLGIYKtvnER_rEEnExVaL3upMZFLzJHx5I_tkq3roSUmL-49B3dyvo57nAkOSsnKA449OCjZohCleU03vpLi1fdt0BHmpYhXTRkV/s600/prisoners.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="471" height="385" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-Qvr80J2AwoU7_5fhuKwD6TJL8GUlJ89W7I5QyqnAMrouksTkU3EkJJcvLxfi8UG74PnenG5bHUtcZqGZKdBpJLGIYKtvnER_rEEnExVaL3upMZFLzJHx5I_tkq3roSUmL-49B3dyvo57nAkOSsnKA449OCjZohCleU03vpLi1fdt0BHmpYhXTRkV/w302-h385/prisoners.webp" width="302" /></a>*</span></div><span style="font-family: verdana;"><br /><b><br /></b></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><b>Sobre o morticínio em Blumenau**</b></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><b><br /></b></span></p><p style="text-align: right;"><span style="font-family: verdana;"><i>Luis Felipe Miguel***</i></span></p><p style="text-align: right;"><span style="font-family: verdana;"><i><br /></i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O morticínio na creche em Blumenau nos encheu de horror e tristeza, mas não necessariamente de espanto. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Infelizmente, o Brasil está se tornando um país em que esse tipo de atentado é quase corriqueiro.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Não é possível nem imaginar a dor das famílias que perderam aquelas crianças. E, sobretudo, não é possível aceitar uma situação em que um pai ou uma mãe manda seu filho para a escola sem ter certeza de que ele voltará para casa.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A direita já anuncia as "soluções" de sempre. Uns falam em aumentar as penas - como se o perpetrador de um crime desses se guiasse por um cálculo racional. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Ou em armar os professores - perpetuando um clima de paranoia e fazendo do país um bangue-bangue, com uma escalada ainda maior de violência como resultado previsível.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Não faltou nem quem propusesse ampliar a vigilância sobre as escolas - com efeito negligenciável na segurança, mas grande sobre a autonomia dos docentes.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Nada disso é solução, é claro. Penso que são necessárias medidas urgentes, mas também de prazo mais longo. Algumas - as de curto prazo - com caráter mais repressivo. Outras visando as origens do problema.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">No curtíssimo prazo, é preciso reforçar o policiamento próximo às escolas e implantar dispositivos de alarme para situações de risco.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">(O governo federal anunciou a liberação de R$ 150 milhões para reforçar a ronda escolar em todo o Brasil. O valor será repassado para estados e municípios.)</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">É preciso também ampliar o monitoramento da internet, onde as ações são gestadas e incentivadas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">(O governo federal também anunciou a criação de uma força tarefa emergencial com este objetivo.)</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Uma vez que estes discursos têm migrado da deep web para espaços como TikTok, é importante responsabilizar as plataformas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">São negócios bilionários que se eximem de qualquer regulação pela sociedade. Mas precisamos definir o que queremos delas. E, talvez, tomar coletivamente a decisão de refrear seu domínio sobre nossa sociabilidade.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Alguns órgãos de imprensa têm tomado a decisão correta de não divulgar nome e foto do assassino - afinal, o desejo depravado por fama é um componente essencial neste tipo de ataque. Mas não é toda a imprensa. Valeria legislar sobre o tema.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">(A busca de notoriedade como motivo para o crime foi turbinada pelas redes sociais, mas não surgiu com elas. Como exemplo: em 1972, Arthur Bremer deixou de balear Nixon, como queria, porque quis trocar de roupa para a ocasião e perdeu a chance; teve que se contentar em atingir George Wallace, o governador segregacionista do Alabama. Anotou em seu diário que estava decepcionado, pois não teria repercussão na Europa e na Rússia.)</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Medidas de curto prazo são importantes, mas é preciso também pensar sobre as raízes mais profundas dos ataques. O que faz alguém chegar a esse ponto?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Há todo um caldo de cultura de apologia da violência - do culto às armas à ideia de que o desprezo pela vida é algo "transgressor".</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">(Estudos apontam que são meninos recém-chegados à adolescência os capturados por esse tipo discurso. É preciso enfatizar o vínculo entre a construção de uma "masculinidade" hoje fragilizada e a epidemia de violência, para adotar políticas efetivas de saúde mental.)</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Como se o desprezo à vida não fosse, no final das contas, definidor do sistema capitalista em que vivemos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Esta glorificação da violência é central na extrema-direita. O que vemos nas escolas anda junto com o avanço dos discursos de ódio, neonazismo etc. Nem é preciso dizer em quem votou o assassino de Blumenau.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Um deputado indicou um torturador notório como seu herói pessoal - e não só não foi punido como se elegeu presidente. Creio que isso resume muito da história.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Agora, todos fazem seus lamentos hipócritas nas redes sociais.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Não adianta. Cada um que contribuiu para a degradação do debate político no Brasil; cada um que aderiu, por estupidez, convicção ou oportunismo, ao avanço de um extremismo perverso; cada um que reforçou os estereótipos mais vulgares do machismo - são todos, em menor ou maior medida, culpados pela espiral de uma violência gratuita, aberrante, própria de uma sociedade muito doente.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">* Van Gogh, "<i>Prisoners round</i>", 1889. Disponível em: https://www.mutualart.com/Article/The-Sadness-Will-Last-Forever--Van-Goghs/A713E9002A6E4245, acesso em 06 de abril de 2023.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: verdana;">**</span></span><span style="background-color: white; font-family: verdana;"> Publicado originalmente no </span><a href="https://www.facebook.com/luisfelipemiguel.unb" style="background-color: white; font-family: verdana; text-decoration-line: none;">perfil do Facebook do prof. Luis Felipe</a><span style="background-color: white; font-family: verdana;"> no dia 06 de abril de 2023. Reproduzimos aqui com a autorização do autor.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: verdana;">*** Professor titular livre do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demodê). É autor de "Democracia e representação: territórios em disputa" (Editora Unesp, 2014), "Dominação e resistência" (Boitempo, 2018), dentre outros. </span><span style="background-color: white; font-family: verdana; text-indent: 20px;">Lançou no primeiro semestre de 2022 o seu "Democracia na periferia capitalista" pela Autêntica Editora.</span></p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-24625364561337930932023-04-04T11:03:00.008-07:002023-04-06T11:40:53.580-07:00 CONSOLIDAÇÃO DA DIREITA E DECADÊNCIA DO BOLSONARISMO - Christian Lynch<p><span style="font-family: verdana;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: verdana;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinPmQEyX8JMz2Af0CyjnZ7tfjRtx2i5GHNMgYzNH2vPA6sDzC05msX5z3fRpVKFv7fqsS40KdpmMHmJJmv6oWfDn7FfUraGihZ62jWOXDZ9Ka-VFRgx8HAG3HI60tXvqXOeJYqfTDLmb_NbFS5TWI_wbINBck7yItQG8RM6J95NjvlzPGsqOXy_UtC/s768/hoppman.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="512" data-original-width="768" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinPmQEyX8JMz2Af0CyjnZ7tfjRtx2i5GHNMgYzNH2vPA6sDzC05msX5z3fRpVKFv7fqsS40KdpmMHmJJmv6oWfDn7FfUraGihZ62jWOXDZ9Ka-VFRgx8HAG3HI60tXvqXOeJYqfTDLmb_NbFS5TWI_wbINBck7yItQG8RM6J95NjvlzPGsqOXy_UtC/w384-h256/hoppman.jpg" width="384" /></a>*</span></div><span style="font-family: verdana;"><br /> </span><p></p><p><span style="font-family: verdana;"><b>CONSOLIDAÇÃO DA DIREITA E DECADÊNCIA DO BOLSONARISMO**</b></span></p><p><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: right;"><span style="font-family: verdana;"><i>Christian E. C. Lynch***</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Bolsonarismo é uma coalizão de setores conservadores em torno de um homem que lhes serviu de catalizador para reagirem contra os avanços progressistas de uma determinada quadra histórica, em uma circunstância de desmoralização do sistema representativo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O Bolsonarismo representou uma resposta à demanda - desses, cíclicos - de revitalização da direita popular, num momento em que o sistema não tinha representantes conservadores, estava desmoralizado pela Lavajato. Bolsonaro foi quem estava à mão e serviu de para-raios em 2018</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Bolsonaro não era nem é homem à altura para consolidação desse movimento em um momento como o atual, de "normalização" da direita. Representa o radicalismo incompetente e lacrador, quando a maior parte da direita quer moderação e eficiência.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Hoje o sistema já se recolocou de pé, absorveu os conservadores (até demais), e se reorienta em direção à estabilidade. O eleitorado rejeitou Bolsonaro em 2022 por seus excessos. Os "moderados" tendem a rejeitar para o governo a minoria radical, cuja hora já passou</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O que Bolsonaro quer é não ser preso e aproveitar o patrimônio que amealhou com a corrupção. Prefere ficar inelegível para ter pretexto para não trabalhar. Seu desejo coincide com esse momento histórico de "normalização" da direita em um registro mais institucional</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O Bolsonarismo está em vias de se tornar um fenômeno residual dentro do próprio conservadorismo, na forma de extrema-direita isolada. A direita popular, descoberta e enraizada no eleitorado, veio para ficar. Mas o tempo do Bolsonarismo como fenômeno já passou. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O tempo é outro e a fila andou.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">* Caricatura de Frank Hoppman. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/blogs/novo-em-folha/2022/06/caricatura-de-bolsonaro-feita-por-alemao-recebe-premiacao-internacional.shtml, acesso em 04 de abril de 2023.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">** Texto publicado originalmente no <a href="https://www.facebook.com/christian.lynch.5">perfil do autor</a> no Facebook em 04 de abril de 2023. O texto é reproduzido aqui no blog com a autorização de Christian.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">*** Professor da área de Ciência Política no IESP/UERJ. Publicou no segundo semestre de 2022 o <i>Populismo Reacionário </i>pela editora Contracorrente em coautoria com o professor Paulo Cassimiro (IESP/UERJ).</span></p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-39756674780182525022023-04-02T12:32:00.004-07:002023-04-02T12:34:40.664-07:00É neonazismo, estúpido!<p style="text-align: right;"> Por Leonardo Sacramento*</p><p style="text-align: justify;"></p><p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span> </span><span> </span>O assassino
que esfaqueou a professora em São Paulo brigou na semana anterior e apanhou dos
alunos porque havia chamado um deles de macaco. Algo para ser mais bem
elucidado, se a mídia e a polícia permitirem, pois sempre tratam esses ataques
como se fossem<span style="color: red;"> </span>suicídio. Reina a lógica do silêncio
para enfatizar aspectos psicologizantes, deslocando o debate para um mero
casuísmo da psiquê.<o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Em
seu celular, foram encontrados exemplos de invasão e chacina em escolas. A
estética de suas vestimentas segue padrão dos ataques anteriores, com
referências explícitas.<a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_edn1" name="_ednref1" style="mso-endnote-id: edn1;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN;">[i]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> O
twitter trouxe, minutos depois, informações valiosas, como a existência de um
subgrupo neonazista no qual fazia parte, cujo nome escolhido foi o mesmo do
terrorista de Suzano (SP). Ali, foi encorajado e sugestionado a se vingar da
sociedade que teria o retirado de seu devido e histórico lugar. Com essa
narrativa, grupos neonazistas trabalham com jovens em darkweb, deepweb, mundo
gamers e, agora e inclusive, em redes sociais, indicando a existência de uma
considerável aceitação social.<o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>As instituições e principalmente a
esquerda não entenderam o que está acontecendo entre os jovens. Desenhemos o
processo em 10 fatos geralmente silenciados, os quais, por óbvio, não excluem
mais minudências:<o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>1) Esses ataques têm sugestionamento
e direção</span><span class="MsoCommentReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 8pt; line-height: 150%;"> de </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">grupos neonazistas na web,
inclusive em redes sociais abertas. Isso indica que o trabalho realizado por
anos a fios em sítios e jogos que ocultavam paradeiros e emissários deu certo;<o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>2) Os grupos prioritários são jovens
brancos empobrecidos que pertenceriam a uma espécie de classe média baixa – há
exceções, como o terrorista de Realengo, que matou dez mulheres em um total de
doze jovens, quase todos negros.<a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_edn2" name="_ednref2" style="mso-endnote-id: edn2;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN;">[ii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Esses jovens se transformam em guardiões do Tradicionalismo por terem, segundo
narrativa conservadora, perdido espaços em frentes outrora monopolizados em um
mundo mais reto e tranquilo. Agora, disputariam de vaga em ensino superior a vaga
de trabalho, inclusive a própria representação estética, com negros, indígenas,
mulheres e LGBTQIA+;<o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>3) O ataque ocorrido em Barreiras,
na Bahia, por um branco de Brasília, filho de policial (o maior salário de
polícias do Brasil), é o caso mais exemplar. Chamava os habitantes de inferiores.<a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_edn3" name="_ednref3" style="mso-endnote-id: edn3;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN;">[iii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Matou
uma cadeirante, também negra. Ele tinha contato com o assassino de Aracruz
(ES), que matou quatro mulheres (apenas mulheres);<a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_edn4" name="_ednref4" style="mso-endnote-id: edn4;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN;">[iv]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>4) O celular do assassino de
Saudades (Santa Catarina), aquele que matou bebês e professoras (mulheres),
ligou-o a grupos neonazistas do Rio de Janeiro.<a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_edn5" name="_ednref5" style="mso-endnote-id: edn5;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN;">[v]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Talvez tenha sido o caso tratado de forma mais absurda, pois a hipótese inicial
foi a de bullying. O que os bebês fizeram ao terrorista é um mistério;<a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_edn6" name="_ednref6" style="mso-endnote-id: edn6;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN;">[vi]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> 5) Os dados desse grupo do Rio de
Janeiro ligaram-no ao assassino de Suzano (São Paulo). Logo, é uma rede sem
medo de aparecer. Quem faz questão de escondê-la é a polícia, a mídia, os
governos, a burguesia e a classe média, inclusive a autoproclamada progressista.
Em </span><span class="cf01"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;">Monte Mor, a bomba falhou e o terrorista foi
preso com machadinha. Em Suzano um tinha arma de fogo, outro machadinha. Outros
ataques são a faca. Priorizam arma de fogo, mas quando não conseguem, existe um
roteiro com inspiração em certos jogos com facas e machadinhas</span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">;<o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>6) Os grupos neonazistas procuram
jovens que já ganham ou ganharão menos que os pais, sem perspectiva de qualquer
sorte diferente. Culpam as mulheres por entrarem no mercado de trabalho e não
se resumirem ao exercício do papel de mães e esposas, imigrantes (nordestinos no
Sul e Sudeste, latinos nos EUA e africanos e árabes na Europa) e negros
(entrada no mercado de trabalho e cotas). Esses jovens são, sem exceção,
supremacistas, mesmo que não militem formalmente em uma célula neonazista;<o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>7) No caso das mulheres, defendem,
ao lado das Igrejas Neopentecostais, a mulher tradicional e submissa. Entendem
que a nova mulher é fruto de uma espécie de confusão sexual da modernidade,
cujas sexualidades são atacadas como quebra do Tradicionalismo no qual o homem
branco é a ponta da pirâmide. Portanto, defendem um retorno ao que era seguro
aos homens brancos. Redpills e incels são expressões e objetos de interesse de
grupos neonazistas na deepweb, darkweb, gamers e plataformas e redes sociais,
como Youtube, Telegram e Twitter. Basta acompanhar subgrupos e comentários em
canais vinculados à direita e ao universo jovem;<o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: .75pt; margin-right: .75pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0.75pt; mso-add-space: auto; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>8)<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Bullying não provoca os ataques. Quem acha isso, é porque se identifica
com os autores, identificando-se socialmente e racialmente – uma espécie de
supremacismo velado. Não ocorre o mesmo com os jovens pretos em comunidades ou com
as mães que roubam comida;<o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>9) Essa geração é mais afeita ao
neonazismo porque ela é o produto mais bem acabado do neoliberalismo. Fragmentada,
é a geração sem trabalho porque o trabalho foi destruído pelo neoliberalismo. A
garantia social que possuía para reproduzir o status quo familiar foi junto.
Como resposta, essa geração volta-se contra as famigeradas minorias, que
estariam ocupando o lugar que tradicionalmente lhe seria cativa. Ou seja, <b>o
neoliberalismo destrói a realização da expectativa de reprodução de classe e
raça, mas fomenta o sectarismo neonazista para preservar a fragmentação na
classe por meio da reafirmação da superioridade racial</b>. Por isso não é
possível separar fascismo de neoliberalismo. São siameses.<o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>10) Por que apenas escolas públicas?
Porque os intrusos estão lá. Porque os escolhidos, os brancos empobrecidos de
classe média baixa também estão lá, sendo contaminados, como lembrou o
assassino de Barreiras (BA). O assassino de Suzano atacou apenas negros.
Estamos sob ataque! Trabalhadoras e trabalhadores negros precisam aprender a se
defender e reagir preventivamente a grupos neonazistas, de forma organizada e
violenta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Parece que tanto a
institucionalidade quanto a esquerda não entenderam o fenômeno, mais ou menos quando
da ascensão do neofascismo nas Igrejas Evangélicas a partir de 2013 – não
percamos tempo com a direita. Em essência, não é problema de estrutura escolar
(embora não tenha investimento e precise ser feito), bullying e falta de
cultura de paz. É fascismo e neonazismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Não há relação de causa e efeito
entre estrutura escolar, bullying e ausência de cultura da paz. Não foi mero
racismo, em que o pobre jovem branco seria vítima do famigerado “racismo
estrutural”, conceito que foi transformado em pó de pirlimpimpim na mídia e
grupos voltados a oferta de uma “educação antirracista”. Foi neonazismo, com
forte, evidente e explícita atuação de grupos neonazistas. Todos os ataques em
escolas nos últimos anos têm assinatura de grupos neonazistas. Se Umberto Eco
atentava que "o fascismo eterno ainda está ao nosso redor, às vezes em
trajes civis", os ataques em escolas públicas mostram que os trajes civis
foram abandonados. Os trajes são militares. É preciso “golpear de morte a besta
fascista em seu próprio covil”.<span style="color: red;"> <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"></p> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEyl6y7Ee6ebut__MQsySdxEtJxmzpq50hlkdGivrXjgG_s128XsT7XiuZu3KI8m0vgjTKZHltGdaHSASYPsBuRK5uxEQILg9NDCp6_XouT5xaHoyqZq1ElZwmMcO1hkUHHVrPVcQfpmwuIEZxOt5V88Ghv7axaIyP0ngzzsURDYIwwP5g9Yy_45ZWug/s1623/texto%20l%C3%A9o.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1623" data-original-width="654" height="1426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEyl6y7Ee6ebut__MQsySdxEtJxmzpq50hlkdGivrXjgG_s128XsT7XiuZu3KI8m0vgjTKZHltGdaHSASYPsBuRK5uxEQILg9NDCp6_XouT5xaHoyqZq1ElZwmMcO1hkUHHVrPVcQfpmwuIEZxOt5V88Ghv7axaIyP0ngzzsURDYIwwP5g9Yy_45ZWug/w574-h1426/texto%20l%C3%A9o.png" width="574" /></a><br /><br /><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; mso-hyphenate: auto; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-language: AR-SA; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt;">O ataque a escolas por neonazistas,<a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_edn7" name="_ednref7" style="mso-endnote-id: edn7;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt;">[vii]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
independentemente da idade, deve ser tipificado como terrorismo. As
investigações devem ser federalizadas com a formação de um grupo de combate ao
neonazismo, incluindo Polícia Federal e Ministério Público Federal. Deixar para
as polícias estaduais, sem compreender a concatenação de todos os ataques, é
contribuir para a profusão do neonazismo e naturalizar os ataques coordenados e
planejados em escolas. </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; mso-hyphenate: auto; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-language: AR-SA; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt;">Quanto aos jovens objetos dos ataques, é
prudente se formarem para agir preventivamente, de forma violenta e organizada.
Vai ter que ter ação preventiva e reação justa de movimentos populares,
sobretudo negros e mulheres (a grandíssima maioria das vítimas é a mulher negra
e pobre). Não vai dar para terceirizar tudo para o governo. Ele tem a sua cota,
mas sem movimento popular conscientemente violento, como indica Fanon em <i>Os</i>
<i>Condenados da Terra</i>, chegará o dia em que naturalizaremos os grupos
neonazistas como fizemos com o bolsonarismo.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; mso-hyphenate: auto; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-language: AR-SA; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt;">Fora disto, é só confete. </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; mso-hyphenate: auto; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-language: AR-SA; mso-color-alt: windowtext; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 0pt;">Assim, é inadmissível a defesa de cursinhos
antirracistas para neonazista (sic!) porque seria vítima do discurso de ódio. A
questão é: materialmente, por que o discurso neonazista tem aderência a esses
jovens brancos pertencentes a uma espécie de classe média empobrecida? A
resposta é desconfortante a quem acredita que os problemas brasileiros poderão
ser resolvidos com diálogo. O ponto é com os jovens objetos desses grupos, para
reconhecerem e se defenderem preventivamente. P</span><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-color-alt: windowtext;">erguntar
abstratamente o que aconteceu a esses jovens neonazistas e relacioná-los a meras
vítimas do “discurso do ódio” é inverter quem é a vítima. O padrão é ataque a
escolas públicas para matar negros, cadeirantes, mulheres e pobres. Matar
professoras é outra constante de todos os ataques. Eis o busílis.</span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; mso-hyphenate: auto; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-color-alt: windowtext;"><br /></span></p>
<p class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><strong><span style="background: white; color: black; line-height: 150%;">*Leonardo Sacramento</span></strong><span style="background: white; color: black; line-height: 150%;"><i> </i>é
pedagogo no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo.
Autor do livro</span><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"> <i>A
Universidade mercantil: um estudo sobre a Universidade pública e o capital
privado</i> (Appris).</span><span style="background-color: white; font-family: "Times New Roman", serif; text-indent: 35.45pt;"> </span></p><div style="mso-element: endnote-list;">
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="edn1" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_ednref1" name="_edn1" style="mso-endnote-id: edn1;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN;">[i]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"> Em seguida ao
assassinato, o terrorista publicou carta aos familiares, com evidente objetivo
vitimizante. Disponível em </span><a href="https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2023/03/29/autor-de-ataque-a-escola-ameacou-adolescente-por-mensagem.htm"><span class="cf01"><span style="color: #2e74b5; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-themecolor: accent5; mso-themeshade: 191;">https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2023/03/29/autor-de-ataque-a-escola-ameacou-adolescente-por-mensagem.htm</span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">.
Desconhece-se casos de assassinatos em que o assassino se autopsicologiza logo
em seguida, salvo para intenções penais, o que demonstra um planejamento que englobou,
inclusive, uma justificativa para a sociedade com um discurso pronto, notadamente
para grupos sociais no qual esse discurso psicologizante tem forte apelo.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="edn2" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_ednref2" name="_edn2" style="mso-endnote-id: edn2;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN;">[ii]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%;">
Lista de vítimas disponível em </span><a href="https://g1.globo.com/Tragedia-em-Realengo/noticia/2011/04/policia-divulga-nome-e-idade-de-oito-vitimas-do-tiroteio-em-escola-do-rio.html"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%;">https://g1.globo.com/Tragedia-em-Realengo/noticia/2011/04/policia-divulga-nome-e-idade-de-oito-vitimas-do-tiroteio-em-escola-do-rio.html</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%;">.
<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="edn3" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_ednref3" name="_edn3" style="mso-endnote-id: edn3;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN;">[iii]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"> Disponível em </span><a href="https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/03/colega-de-escola-diz-que-adolescente-proferiu-xingamentos-racistas-e-avisou-que-faria-ataque.shtml"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/03/colega-de-escola-diz-que-adolescente-proferiu-xingamentos-racistas-e-avisou-que-faria-ataque.shtml</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">. Também disponível em </span><a href="https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2022/09/me-misturar-com-eles-e-nojento-policia-acredita-que-atirador-de-14-anos-que-matou-aluna-cadeirante-anunciou-massacre-em-perfil-extremista.ghtml"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2022/09/me-misturar-com-eles-e-nojento-policia-acredita-que-atirador-de-14-anos-que-matou-aluna-cadeirante-anunciou-massacre-em-perfil-extremista.ghtml</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">. <o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="edn4" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_ednref4" name="_edn4" style="mso-endnote-id: edn4;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN;">[iv]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"> Disponível em </span><a href="https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2022/11/25/quem-sao-as-vitimas-do-ataque-a-escolas-em-aracruz-es.ghtml"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2022/11/25/quem-sao-as-vitimas-do-ataque-a-escolas-em-aracruz-es.ghtml</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="edn5" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_ednref5" name="_edn5" style="mso-endnote-id: edn5;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN;">[v]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"> Disponível em </span><a href="https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2021/12/16/investigacao-de-massacre-em-creche-de-sc-revelou-celulas-nazistas-no-rio.htm"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2021/12/16/investigacao-de-massacre-em-creche-de-sc-revelou-celulas-nazistas-no-rio.htm</span></a><span class="MsoHyperlink"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">.</span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"> <o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="edn6" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_ednref6" name="_edn6" style="mso-endnote-id: edn6;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN;">[vi]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"> Para uma análise da vinculação entre o ataque à
creche e o neonazismo, ver </span><a href="https://aterraeredonda.com.br/as-motivacoes-do-ataque/"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">https://aterraeredonda.com.br/as-motivacoes-do-ataque/</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">. <o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="edn7" style="mso-element: endnote;">
<p class="MsoEndnoteText" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><a href="file:///C:/Users/Jefferson/Downloads/terrorismo%20(2).docx#_ednref7" name="_edn7" style="mso-endnote-id: edn7;" title=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN;">[vii]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"> Agradeço a leitura, crítica e a proposição da
inclusão de fotos ao Prof. Jefferson Nascimento (IFSP).</span></p></div></div><br />Jeffersonhttp://www.blogger.com/profile/17651554842331396314noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-52054262599681292942023-03-30T07:36:00.007-07:002023-03-30T07:41:06.702-07:00A PEC 206 já foi tarde<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPqxB8YreCN_MxVBhj3HFqZTSACV9-nVddFB8stl1jZn1O58yvjA3aYXNA1eJpn-0hywdTz4aMrauxPspdo5tLPpN2SQ0jorLmO4lez2NRGtAkkHIAeNo2NyjFctFMzs1FCd16Md3-wRDIUhxEeJwBtXY3uVFnPuf_KTn-0S68mvIn0wt-2mgahVQb/s1080/WhatsApp%20Image%202023-03-30%20at%2011.38.45%20AM.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1030" data-original-width="1080" height="398" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPqxB8YreCN_MxVBhj3HFqZTSACV9-nVddFB8stl1jZn1O58yvjA3aYXNA1eJpn-0hywdTz4aMrauxPspdo5tLPpN2SQ0jorLmO4lez2NRGtAkkHIAeNo2NyjFctFMzs1FCd16Md3-wRDIUhxEeJwBtXY3uVFnPuf_KTn-0S68mvIn0wt-2mgahVQb/w417-h398/WhatsApp%20Image%202023-03-30%20at%2011.38.45%20AM.jpeg" width="417" /></a>*</div><br /><p><br /></p><p> <span style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">A PEC 206
já foi tarde**</span></span></p><p><span style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: verdana;">George Gomes Coutinho***<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: verdana;">Com certo
barulho nas redes sociais e na mídia, a “PEC das mensalidades nas Universidades
Públicas”, a PEC 206, que então tramitava na CCJ da Câmara dos Deputados, foi
retirada da pauta. É derrota, mesmo que momentânea, de seus defensores.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: verdana;">A PEC 206,
apresentada em 2019 pelo deputado federal General Peternelli (União Brasil /SP),
discutia a cobrança de mensalidades dos “estudantes ricos” nas Universidades Púbicas
brasileiras. Também defendia a manutenção da isenção de mensalidades para “a
população mais carente”. O argumento, reencarnado periodicamente em editoriais
dos grandes jornais e em círculos conservadores e/ou liberais, apresenta: 1) a
condenação moral da “gratuidade generalizada”, a despeito da não cobrança de
mensalidades implicar na entrega de um serviço público, mesmo que focalizado, prestado
a uma população que já paga impostos diretos e indiretos; 2) uma denúncia
conveniente das desigualdades sociais no espaço das instituições públicas de
ensino brasileiro universitário. Os argumentos neste último caso não
transbordam, por óbvio, para todas as outras esferas da sociedade. Discussões sérias
de caráter tributário sequer mandam lembrança.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: verdana;">Com tudo isso
conta-se ainda com um público dotado de capacidade contributiva que é menor do
que o propositor imagina. Só na Região Norte há apenas 5,6% dos estudantes de
graduação com famílias com renda na faixa acima de 10 salários mínimos, vide
perfil de 2018 dos graduandos das instituições federais de ensino feito pela
Andifes. Além de não lidar com a complexidade dos desafios da universidade
pública brasileira contemporânea a medida, caso fosse aprovada, arriscaria
descambar em constrangedora futilidade. Não reduziria desigualdades e tampouco
produziria recursos relevantes para as instituições.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A PEC 206 já foi tarde.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">* Arte elabora
pela equipe da ANPOCS.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">**A primeira
versão deste texto foi publicada em 03 de junho de 2022 no Instagram da
Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais, a ANPOCS, na seção <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Entre Aspas</i>. Link para o post original: <span style="background: white; line-height: 150%;"><a href="https://www.instagram.com/p/CeV-Acurpbw/?utm_source=ig_web_copy_link">https://www.instagram.com/p/CeV-Acurpbw/?utm_source=ig_web_copy_link</a>,
acesso em 30 de março de 2023. O contexto era mais uma derrota da base do
governo Bolsonaro na CCJ com a famigerada PEC 206. A PEC, como evidencia o
texto, visava instituir a cobrança de mensalidades nas universidades públicas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="background: white; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">*** </span></span><span><span style="font-family: verdana;">Professor
da área de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF-Campos.
É um dos coordenadores do Imagina-Sul (Grupo de Estudos e Pesquisas do
Pensamento e da Imaginação Política no Sul do Mundo).</span><span style="color: #333333;"><o:p></o:p></span></span></p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-5462099451965402352023-03-29T08:01:00.004-07:002023-03-29T08:10:16.334-07:00De que comunismo estamos falando? – Sobre a pesquisa IPEC de março.<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKmywzuk8_0GOgtE3Ja9dnVqF5Xqps02tj4Wo0GKDox-qFb_76a3CREzS0VRwWxpvsfjsP0dfpQF049BMN2morzBd2RQwNKYD7DuMn6FtPPwYflYS8LQea77kRsdwWEyN96dk0RgwMMaWfgHIof5H4duymy9oRS8nYGm8TD6gXxkyfwHm2dbXelfm6/s675/fantacomuna.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="675" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKmywzuk8_0GOgtE3Ja9dnVqF5Xqps02tj4Wo0GKDox-qFb_76a3CREzS0VRwWxpvsfjsP0dfpQF049BMN2morzBd2RQwNKYD7DuMn6FtPPwYflYS8LQea77kRsdwWEyN96dk0RgwMMaWfgHIof5H4duymy9oRS8nYGm8TD6gXxkyfwHm2dbXelfm6/s320/fantacomuna.webp" width="320" /></a>*</div><br /> <p></p><p><b style="text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">De que comunismo estamos falando? – Sobre a
pesquisa IPEC de março.</span></span></b></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #333333;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></b></p>
<p align="right" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: right;"><span style="font-family: verdana;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #333333;">George Gomes
Coutinho</span></i><span style="color: #333333;"> **<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">O IPEC, antigo IBOPE, realizou pesquisa nacional entre 02
e 06 de março. A síntese da pesquisa<a href="file:///F:/Desktop/De%20que%20comunismo%20estamos%20falando%20mar%202023.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: #333333; font-size: 12pt; line-height: 107%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>, divulgada primeiramente
pelo grupo Globo<a href="file:///F:/Desktop/De%20que%20comunismo%20estamos%20falando%20mar%202023.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: #333333; font-size: 12pt; line-height: 107%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
visava verificar a temperatura da conjuntura política no que tange a recepção
do governo Lula 3 e, para além disso, aproveitou para tratar de outras
temáticas de interesse político mais amplo. Dentre as questões apresentadas aos
indivíduos da amostra, um total de 2 mil brasileir@s, algo assombrou formadores
de opinião e demais atuantes no atual mercado descentralizado de produção de
informações: 44% dos participantes concorda total ou parcialmente com a
afirmação de que o Brasil corre o risco de se tornar um país comunista.<o:p></o:p></span></span></p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpVGHZwZzdmLoJcHWhotb2YWwynHmvNDaDlxwg4VVHOtkqXTu-_UK9qEVAkik4Nn3OmfFxtqR9DJ7hlwIysDegWC6Fw97E8jo51khVCB_QjgAxEZgtBsHVOJQb874ow90bEzPsZopzuKJ-zycf_0Ib-nY95MPTTIQ_F5ZBnCaxqOn0k5OIGKdjuNlb/s735/WhatsApp%20Image%202023-03-28%20at%205.33.43%20AM.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="532" data-original-width="735" height="386" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpVGHZwZzdmLoJcHWhotb2YWwynHmvNDaDlxwg4VVHOtkqXTu-_UK9qEVAkik4Nn3OmfFxtqR9DJ7hlwIysDegWC6Fw97E8jo51khVCB_QjgAxEZgtBsHVOJQb874ow90bEzPsZopzuKJ-zycf_0Ib-nY95MPTTIQ_F5ZBnCaxqOn0k5OIGKdjuNlb/w534-h386/WhatsApp%20Image%202023-03-28%20at%205.33.43%20AM.jpeg" width="534" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: verdana;">Fonte: G1 - disponível em: </span><a href="https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/03/19/ipec-44percent-acreditam-que-brasil-corre-risco-de-virar-um-pais-comunista.ghtml" style="font-family: verdana; text-align: left;">https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/03/19/ipec-44percent-acreditam-que-brasil-corre-risco-de-virar-um-pais-comunista.ghtml</a></div><br /><p align="center" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: center;"><br /></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">Vale dizer que se adotarmos a perspectiva do “copo meio
vazio”, e acrescentarmos os que “discordam em parte” da afirmação, o percentual
chega a 55%. Afinal, “discordar em parte” quer dizer que não se discorda totalmente
da possibilidade de nos tornarmos um país comunista na atual quadra histórica.
Ou interpretei errado?<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">A reação de maneira geral foi de estupefação e em alguns
casos resignação. Afinal, estamos no país do patriota do caminhão, dos aliens
golpistas, dos Messias em goiabeiras, etc.. Por outra via há os que se lançaram
no esforço (ou fé) iluminista e se puseram a explicar, afinal, o que é o
comunismo, seja por um resumo conceitual formal ou revisitando experiências factuais.
<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">Os 44%, ou os 55% em minha perspectiva mais pessimista,
que acreditam para mais ou para menos na hipótese do país se tornar comunista,
certamente apresentam baixíssimo letramento político-ideológico em termos
canônicos. Vale dizer que, destes que temem uma ameaça comunista no horizonte,
há grande percentual que se declara portador de diploma universitário (43% do
total da amostra com ensino superior aposta na hipótese comunista – 55% se
somarmos também os que discordam só parcialmente do suposto risco vermelho
neste estrato). A maior qualificação formal não conferiu imunidade cultural ou
cognitiva pelo visto.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">Não se trata de exigir que a população da amostra da
pesquisa IPEC ande com o Dicionário do Pensamento Marxista de Bottomore debaixo
do braço. Mas, a perplexidade generalizada se dá é pela ausência de rudimentos
de conhecimento sobre o que seria o comunismo ou a experiência do socialismo
real. De alguma maneira seria como se 44% da população da pesquisa (ou os 55%
em minha ótica mais sombria) se declarasse inepta para operar somas ou subtrações
simples. O levantamento do IPEC também indica lamentavelmente, dentre outras
coisas, uma lacuna de conhecimento básico.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">Eu reconheço a gravidade do problema e considero
louváveis as intervenções abnegadas dos que se esforçaram no esclarecimento
sobre o que seria o comunismo em termos factuais ou conceituais. Contudo, eu
gostaria de apontar para outra coisa, para algo mais pragmático que importa na
atual luta política brasileira para restituir alguma saúde à democracia nativa.
Considero que o comunismo que está no horizonte de forma mais ou menos palpável
para estes cidadãos, e o que eles temem, é outra coisa, algo para além do
cânone ou das experiências do socialismo em Cuba, Coréia do Norte ou no Leste
Europeu. O que estamos lidando é com a atualização rarefeita, quase etérea, do
anticomunismo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">Heloisa Starling data o nascimento do anticomunismo nacional
em 1935<a href="file:///F:/Desktop/De%20que%20comunismo%20estamos%20falando%20mar%202023.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: #333333; font-size: 12pt; line-height: 107%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> por ocasião dos levantes
comunistas do período. Desta malfadada experiência, voluntarista para dizer o
mínimo, decorreu trabalho sistemático da máquina varguista de perseguição
implacável aos membros do partido e simpatizantes, satanização ideológica e deflagração
de pânico moral. Todo este trabalho foi muito bem sucedido. Gildo Marçal
Brandão costumava lembrar que entre 1922, data de fundação do Partido Comunista
Brasileiro, e 1985, período da abertura da ditadura civil-militar em que houve
a reconfiguração do sistema político tal como o conhecemos, o PCB gozou de
apenas três anos e meio de legalidade plena. Este apagamento, esta vida nas
catacumbas do sistema político, jamais seria possível sem ampla legitimidade. E
aqui pouco importa, em temos das consequências práticas, se é legitimidade alcançada
às custas de iletrados ideológicos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">Portanto, desde 1935 o espectro do anticomunismo assombra
a imaginação política brasileira, tendo atuação decisiva nos fatos que
desencadearam o golpe de março/abril de 1964. O anticomunismo no período ajudou
a conferir eficácia simbólica ao discurso de ditadores, torturadores e de seus
apoiadores, seja na sociedade civil ou nos quartéis.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">A atual reencarnação do anticomunismo nesta década de 20
do século XXI é enquanto recurso retórico eficiente justamente por seu caráter
impreciso, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">lusco-fusco</i>. Aproveita-se
da capilaridade adquirida pelo anticomunismo após décadas de inculcação no
inconsciente político nacional. Mas, a atual versão, mobilizada por direita e
extrema-direita, é dotada de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">conteúdo
vazio<a href="file:///F:/Desktop/De%20que%20comunismo%20estamos%20falando%20mar%202023.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #333333; font-size: 12pt; line-height: 107%;">[4]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i>.
Portanto, os esforços de esclarecimento formal ou factual aí não penetram. Não
se trata de uso público da razão ou algo que o valha. O termo é usado como arma
política de mobilização contra os adversários, e aqui qualquer adversário.
Partido dos Trabalhadores, movimentos LGBTQI+, feministas, ambientalistas,
médicos sanitaristas.. fiscais de posturas, multas de trânsito.. libearis! Tudo
e todos, rigorosamente tudo pode entrar no comunismo dotado de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">conteúdo vazio</i> e neste anticomunismo rarefeito,
militante e popular contemporâneo. Comunista é o inimigo, aqui no sentido
schmittiano, que se opõe ao meu grupo. É antiesquerda e além. <o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">Portanto, pasmem, talvez a eleição de Lula para o grupo
que vislumbra o comunismo no horizonte, tenha significado passo firme em
direção ao regime que promete a socialização dos meios de produção.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">O que fazer? Seguir saneando a opinião pública é trabalho
necessário e importante, até para sairmos desse lodaçal discursivo que não
interessa ao regime democrático. É fundamental que as coisas e seus devidos
nomes se associem, aí pouco importa se para críticos ou simpatizantes ao comunismo.
É preciso instituir qualidade na discussão pública. E junto a isso, nos resta é
a boa, velha e pouco quista luta política, a ocupação de espaços
institucionais, nos veículos de opinião, etc.. Se não o fizermos, os paranoicos
que veem fantasmas comunistas até mesmo em borras de café, o farão.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="color: #333333;">* Ilustração de Maurenilso Freire publicada no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Correio Braziliense</i> em 21 de março de
2023. Disponível em: </span><a href="https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2023/03/5081751-nas-entrelinhas-o-fantasma-do-comunismo-renasceu-com-o-bolsonarismo.html">https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2023/03/5081751-nas-entrelinhas-o-fantasma-do-comunismo-renasceu-com-o-bolsonarismo.html</a><span style="color: #333333;">, acesso em 28 de março de 2023.<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><span style="font-family: verdana;">** Professor da área de Ciência Política no Departamento
de Ciências Sociais da UFF-Campos. É um dos coordenadores do Imagina-Sul (Grupo
de Estudos e Pesquisas do Pensamento e da Imaginação Política no Sul do Mundo).<o:p></o:p></span></span></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 18.75pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 18.75pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p><div style="mso-element: footnote-list;"><hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-family: verdana;"><a href="file:///F:/Desktop/De%20que%20comunismo%20estamos%20falando%20mar%202023.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 107%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> O
relatório completo da pesquisa IPEC pode ser consultado aqui: <a href="https://www.ipec-inteligencia.com.br/Repository/Files/2218/Job_22_1925-3_Avaliacao_Relatorio_de_tabelas_Imprensa.pdf">https://www.ipec-inteligencia.com.br/Repository/Files/2218/Job_22_1925-3_Avaliacao_Relatorio_de_tabelas_Imprensa.pdf</a><span class="MsoHyperlink">. </span>Acesso em 27 de março de 2023.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-family: verdana;"><a href="file:///F:/Desktop/De%20que%20comunismo%20estamos%20falando%20mar%202023.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 107%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Vide publicação dos resultados, no G1: <a href="https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/03/19/ipec-44percent-acreditam-que-brasil-corre-risco-de-virar-um-pais-comunista.ghtml">https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/03/19/ipec-44percent-acreditam-que-brasil-corre-risco-de-virar-um-pais-comunista.ghtml</a>.
Acesso em 27 de março de 2023.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-family: verdana;"><a href="file:///F:/Desktop/De%20que%20comunismo%20estamos%20falando%20mar%202023.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 107%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
STARLING, Heloisa Murgel. O passado que não passou. In: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Democracia em risco? 22 ensaios sobre o Brasil hoje.</i> Sâo Paulo: Cia
das Letras, 2019.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-family: verdana;"><a href="file:///F:/Desktop/De%20que%20comunismo%20estamos%20falando%20mar%202023.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 107%;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Starling, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Op. Cit</i>., 2019.</span><o:p></o:p></p>
</div>
</div>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-31739488232121048132023-03-25T06:59:00.001-07:002023-03-25T07:05:40.892-07:00Lula versus Moro - Luis Felipe Miguel<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyImSUIxtrm8ZIUIc9VDP1UBRPbFelEYWa9DALhWJQNsPVi8d9QGE5PxhRozhrA39CMirVZBJipx_AsUv_6T_ohXeCQk-_EW__90_LoNTyo9VpZoRX7_UbbW1glTMNFnLfpMZelJJowg_LUccqmyyBHIAxQlGAG8fMONON1AoK1RBl01R3Xu3XvvjI/s600/moro%20fascio.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="317" data-original-width="600" height="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyImSUIxtrm8ZIUIc9VDP1UBRPbFelEYWa9DALhWJQNsPVi8d9QGE5PxhRozhrA39CMirVZBJipx_AsUv_6T_ohXeCQk-_EW__90_LoNTyo9VpZoRX7_UbbW1glTMNFnLfpMZelJJowg_LUccqmyyBHIAxQlGAG8fMONON1AoK1RBl01R3Xu3XvvjI/w537-h283/moro%20fascio.jpg" width="537" /></a>*</div><br /><p><br /></p><p><span style="font-family: verdana;">Lula <i>versus </i>Moro**</span></p><p><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: right;"><i><span style="font-family: verdana;">Luis Felipe Miguel***</span></i></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Lula errou feio em suas últimas falas sobre Sérgio Moro. Errou na entrevista ao 247, ao expor a compreensível raiva que sentia por ter sido vítima da desonestidade do juiz, sem levar em conta o uso que a direita daria de suas palavras. E errou mais ainda ao dizer que o plano assassino do PCC era provavelmente uma armação do próprio Moro, reconhecendo, na própria fala, que não tinha provas para fazer a acusação.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O timing da operação é estranho? Sim. A juíza paranaense, cúmplice de Moro, que está tocando o processo não teria competência para tal? É o que dizem os juristas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Mas não cabe ao presidente da República levantar especulações sobre o caso. Lula podia ter dito apenas que, no seu governo, é prioridade garantir a integridade física de todas as pessoas, que a Polícia Federal age sem viés político ou que esperava que a investigação fosse levada até o final.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O problema não é que ele tenha permanecido com "discurso de palanque", como disseram alguns jornalistas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">É que ele devolveu a Moro uma importância que ele não tem mais. Como se um senador medíocre pudesse ser antagonista do presidente.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Hoje, todos sabemos quem é Sérgio Moro: um sujeito inculto, de poucas luzes, não muito inteligente ou articulado, capaz apenas de uma esperteza de fôlego curto.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Deixado à própria sorte, ele terminará seus anos de senador despontando para o anonimato, como diria Nelson Rodrigues.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Não cabe a Lula dar destaque a ele. Lula deve ser cioso da distância que hoje os separa.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">E, se há mesmo suspeita de que houve armação, é melhor deixar a investigação andar, para, no momento certo, denunciar com provas, não apenas com convicções. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">* Charge do genial Aroeira publicada no site <i>Diário do Centro do Mundo</i>. Link para o post original: </span><span style="text-align: left;"><span style="font-family: verdana;">https://www.diariodocentrodomundo.com.br/dia-dificil-para-moro-que-esta-de-ferias-por-renato-aroeira/, acesso em 25 de março de 2023.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: verdana;">**</span></span><span style="background-color: white; font-family: verdana;"> Publicado originalmente no </span><a href="https://www.facebook.com/luisfelipemiguel.unb" style="background-color: white; font-family: verdana; text-decoration-line: none;">perfil do Facebook do prof. Luis Felipe</a><span style="background-color: white; font-family: verdana;"> no dia 25 de março de 2023. Reproduzimos aqui com a autorização do autor.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: verdana;">*** Professor titular livre do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demodê). É autor de "Democracia e representação: territórios em disputa" (Editora Unesp, 2014), "Dominação e resistência" (Boitempo, 2018), dentre outros. </span><span style="background-color: white; font-family: verdana; text-indent: 20px;">Lançou no primeiro semestre de 2022 o seu "Democracia na periferia capitalista" pela Autêntica Editora.</span></p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3746498575586016518.post-52214203187144881432022-12-27T06:38:00.001-08:002022-12-27T06:38:14.523-08:00A dor não acolhida dos (meninos)-jogadores da seleção brasileira<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhG1WBHksyNIMsArHoeYBL7svBb53myB6UXyu0jKN22E4i_ZLzlzwMs4CdeSnkPXdpJASqh6HXWaOFVsouFB6RBfDy__kDLoXvTlzaNAgPtaK2RZYK-vU4j3068FsDFTyJIg_s1t17ggiMcFK0EI2lJtz2SIQvGnFjvUXgnfHeQibKfHRFJNCF3b3Lg/s500/Portinari.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="372" data-original-width="500" height="330" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhG1WBHksyNIMsArHoeYBL7svBb53myB6UXyu0jKN22E4i_ZLzlzwMs4CdeSnkPXdpJASqh6HXWaOFVsouFB6RBfDy__kDLoXvTlzaNAgPtaK2RZYK-vU4j3068FsDFTyJIg_s1t17ggiMcFK0EI2lJtz2SIQvGnFjvUXgnfHeQibKfHRFJNCF3b3Lg/w444-h330/Portinari.jpg" width="444" /></a>*</div><br /><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></span><p></p><p><span style="background-color: white; font-size: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: verdana;"><b>A dor não acolhida dos (meninos)-jogadores da seleção
brasileira</b></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;"><i>Tábata
Berg</i>**<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Quem me conhece, sabe que sou apaixonada por futebol, apesar
de ter passado a última década e meia um tanto brochada. E sei que, como tão
bem nos ensinou Galeano, futebol e política encontram-se fundamentalmente
imbricados. A Copa escancarou várias dessas tessituras. Não vou falar aqui do
que tem sido tão debatido no plano do macro, solo pútrido que contamina todas a
dimensões do espetáculo, isto é, dos acordos econômicos milionários, da
superexploração do trabalho imigrante, da misoginia, homofobia e racismo que
estruturam o futebol como uma poderosa instituição capitalista. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Vou me deter a algumas impressões mais subjetivas. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Logo após o primeiro jogo do Brasil, aquele que Neymar saiu
machucado e Richarlyson fez uma bela partida com um gol que foi uma obra de
arte, eleito pela FIFA como o mais bonito do campeonato, as minhas redes
progressistas foram tomadas por publicações sérias e memes que contrapunham
esses dois craques da seleção. Ressalto, de antemão, que acho legítimo que
Neymar tenha sido responsabilizado por seus posicionamentos políticos. No
entanto, incomodou-me profundamente o prazer sádico, típico da branquitude, em
rivalizar dois homens negros e periféricos. Expurgar o próprio mal para o
outro, nesse caso, Neymar, é uma estratégia colonial, talvez a mais basilar.
Sugiro leituras atentas, não apenas proforma, de Lélia Gonzalez, Toni Morisson,
Fanon. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Depois foi a vez da carne folheada à ouro. Vi várias
postagens de pessoas cujo próprio existir é um impacto ambiental e social, que
são partícipes de instituições ainda profundamente excludentes, como é o caso
das nossas universidades, apontando o dedo! Novamente... Expurgar o mal é uma
delícia, né, meu filho?! <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Quando o Brasil perdeu, vieram outras postagens. Dois padrões
nessas publicações me são particularmente indigestos. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Em primeiro lugar, aquele que reproduzia a noção de
"meninos" do futebol como uma reposição não mediada do machismo,
especialmente vinculada à irresponsabilidade afetiva e ao abandono paterno - aspectos
amplamente difundidos no caso do jogador Militão. Não pretendo entrar nos entremeios
desse caso. Ressalto, o patriarcado, com a consequente reprodução de um padrão
de maternidade/paternidade que responsabiliza com uma desigualdade abissal
mulheres e homens pelos cuidados de crianças e idosos atravessa as mais
distintas posições e condições sociais. Todavia um olhar interseccional e,
portanto, mais acurado nos possibilita não perder de vista as singularidades
que conformam masculinidades não-hegemônicas. Houve de modo difuso uma certa
identificação do caso do Militão com essa meninice tipicamente tupiniquim. Em
contraposição há uma paternidade e afetividade responsáveis encarnada no
jogador argentino (branco) Lionel Messi. É particularmente interessante, nesse
contexto de contraposição, o silenciamento de paternidades ativas como a
exercida pelo jogador Neymar Jr. O racismo é estrutural justamente por operar
também de modo difuso e silencioso.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A identificação da
tríade ausência parterna, masculinidades negras e periféricas e meninice é
profundamente perversa, pois esconde todo o processo histórico no qual o
escravismo impossibilitou homens negros de constituirem famílias e
estabelecerem vínculos afetivos e familiares duradouros, impossibilidade que
foi atualizada no pós-abolição seja pelas políticas de barreiramento (Moura,
1977), seja pelo genocídio aberto empreendido pela República brasileira contra
a população negra, em particular, contra o homem negro (Gonzalez, 1984;
Nascimento, 1977). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">E , ainda, se ser “menino” tem sido amplamente utilizado para
desresponsabilizar sujeitos brancos de suas ações, como podemos ver no caso de
crimes que envolvem jovens brancos, não podemos fazer uma simples transposição
para os homens negros, nesse caso, “menino”, “moleque”, “garoto” é mobilizado
como marca de uma subumanidade. Os infantes, como bem nos mostra Lélia
Gonzalez, são aqueles sem direitos plenos, aqueles pelos quais e dos quais se
fala. Segundo a autora: <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">“temos sido
falados, infantilizados (infans, é aquele que não tem fala própria, é a criança
que se fala na terceira pessoa, porque falada pelos adultos) [...] A primeira
coisa que a gente percebe, nesse papo de racismo é que todo mundo acha que é
natural. Que negro tem mais é que viver na miséria. Por que? Ora, porque ele
tem umas qualidades que não estão com nada: irresponsabilidade, incapacidade
intelectual, criancice, etc. e tal” (GONZALEZ, 1984, p. 225). <span style="background: white;"><o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Mesmo ganhando milhões, homens negros e periféricos, seguem
sendo tratados como meninos. Negar aos oprimidos a sua plena condição de
sujeito, capaz de se responsabilizar e falar por si, continua sendo fundamental
para que a estrutura capitalista do futebol siga tutelando-os, ao mesmo tempo
em que reproduz estigmas raciais e de classe. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">O outro padrão, mas que me parece intrinsecamente ligado a
esse, foi a minimização da dor dos jogadores diante da derrota. Vale ressaltar
que se dedicar a esportes de alta performance demanda um investimento libidinal
exorbitante e, portanto, um grande sofrimento diante da derrota. Sabendo disso,
qual é o peso dessa derrota para sujeitos cujo existir é absolutizado pelo
futebol? E isso num sentido literal, pois o esporte para muitos desses
jogadores pode ter representado a linha tênue que os separou do encarceramento
ou mesmo da morte violenta.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Na derrota para a Croácia, eu chorei com os jogadores da
seleção, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>li seus relatos no instagram
com o coração partido. Inclusive, o de Neymar, que entregou tudo nos últimos
jogos e que pode ter tido a última oportunidade de vencer uma Copa do Mundo. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Sim, sujeitos periféricos podem sofrer! O direito ao
sofrimento, à demonstração de fragilidade diante da dor tem sido um direito há
tempo demais exclusivo dos humanos plenos. Tem dúvida? Veja as estatísticas de
como às mulheres negras têm sido negado analgesia em procedimentos médicos ou como
homens indígenas e negros lideram os números de sucídio no país. "Mas eles
ganham milhões!", por trás desse pensamento expresso, há outro mais
fugidio, a ausência do direito à humanidade plena a qual homens negros e
periféricos encontram-se submetidos, no caso, ao direito tão primordial de
sofrer e ser acolhido na derrota. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Referências <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Gonzalez,
Lélia. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Revista Ciências Sociais Hoje</i>,
Anpocs, 1984, p. 223-244.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Moura,
Clóvis. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O negro</i>: de bom a mau
cidadão?, 2021 (1977). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: verdana;">Nascimento,
Abdias. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O genocídio do negro brasileiro</i>:
processo de um racismo mascarado. São Paulo: Editora Perspectiva, 2016 (1977).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p><span style="font-family: verdana;">* Portinari, "Futebol em Brodowski', trabalho de 1935. Disponível em: </span></o:p></span><span style="text-align: left;"><span style="font-family: verdana;">https://www.arteeblog.com/2018/06/pinturas-de-futebol.html, acesso em 27 de dezembro de 2022.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">** Tábata Berg é Doutora
em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas e integra o Grupo de
Pesquisa Mundo do Trabalho e suas Metamorfoses, o GPMT, também na Unicamp. Tábata
organizou e lançou neste longo ano de 2022, junto de Flávio Lima e Murilo van
der Laan, a obra “Trabalho e Marxismo: questões contemporâneas”: </span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><a href="https://lutasanticapital.com.br/products/o-livro-trabalho-e-marxismo-questoes-contemporaneas">https://lutasanticapital.com.br/products/o-livro-trabalho-e-marxismo-questoes-contemporaneas</a></span><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>George Gomes Coutinhohttp://www.blogger.com/profile/14916152267436950123noreply@blogger.com0