Consenso
de Washington reloaded*
George
Gomes Coutinho **
Matrix, trilogia cinematográfica
orquestrada pelos irmãos Wachowski, causou furor na virada do século XX para o
nosso século XXI. O segundo filme da seqüência, lançado em 2003, foi batizado
de “Matrix Reloaded” e desde então o termo “reloaded” é utilizado como
referência para sensações de continuidade nem sempre alvissareiras em diversas
reflexões. Nesta toada, a sensação de déjà vu com os anos 1990 causada pela
agenda do governo Temer nos remete necessariamente ao inglório Consenso de
Washington. Interpreto como um verdadeiro Consenso de Washington reloaded.
Situando o leitor, o Consenso de
Washington encabeçado pelo tesouro norte-americano agradou elites financeiras
dos países mais ricos do mundo e diversos grupos da América Latina, o que inclui
parte de suas oligarquias. Na prática consistiu em um conjunto de remédios
liberais amargos que quase levou os seus pacientes a óbito. Naquela ocasião, propostas
de privatização, desregulamentação de direitos trabalhistas e sociais,
liberalização da economia, desmantelamento do Estado e sua capacidade de
investimento afloraram como soluções inquestionáveis pretensamente capazes de
produzir o paraíso terrestre.
O conjunto de medidas recessivas
se traduziu em nações com baixa capacidade de distribuição de renda e a perda
de soberania decisória dos executivos nacionais no que tange o gerenciamento de
suas próprias economias. Naquele momento o Fundo Monetário Internacional gozava
de prerrogativas que negavam até mesmo a mais remota pretensão de soberania.
Neste 2016, o FMI não é o mesmo e
reconhece em prosa e verso os equívocos que destruíram economias ao redor do
mundo com seu receituário. Todavia, o mea culpa parece não ter seduzido os
tomadores de decisão nativos. Cabe um alerta: as medidas recessivas produziram
um efeito não desejado para os liberais de então e pode se repetir agora com a
resistência derivando na aglutinação de movimentos sociais, sindicatos e
partidos na esquerda do espectro político. Os resultados eleitorais todos
sabemos. Medidas recessivas não são sedutoras mesmo que tentem vender hoje o
mesmo discurso de pouco mais de duas décadas atrás.
* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 17 de setembro de 2016.
** Professor
de Sociologia no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes.
Pelamordedeus, George, você apresenta seu texto no facebook como "modesta contribuição"????
ResponderExcluirQue é isso, meu caro, vou repetir: Estás a jogar pérolas aos porcos naquela pocilga editorial e ainda se revestes de "humildade"????
Contribuição boa seria a de quem, do padre ryffan ou do cretino do ranulfo????
Eu gostaria de debater esse seu texto com você, mas vou renunciar a qualquer conversa sobre conteúdo que tenha sido publicado naquela pocilga.
Ah, e se quiseres falar sobre economia e "crises", vale ler Nouriel Roubini in Economia das Crises, que ele escreveu com um historiador estadunidense.
Um abraço.
Querido Douglas,
ResponderExcluirNão tenha dúvida... vou anotar sua indicação de leitura e irei buscar tão logo possa respirar.... A vida tem sido muito rápida por cá, problema este que não me acomete exclusivamente. É estruturante de nossos tempos.
Sobre o termo "modesta contribuição", não tenha dúvida... Toda contribuição que eu faça, de fôlego ou não, sempre será modesta. Perecível, como deve ser a boa produção reflexiva, hard ou não. Ainda mais quando falamos de algo que tem poucas linhas.
Não é humildade. É dar a dimensão real.
Forte abraço