Unite The Right e a direita*
George
Gomes Coutinho *
A pequena cidade de
Charlottesville, situada no estado da Virgínia nos EUA, adquiriu incontestável
relevância na mídia mundial de uma semana para cá. Resumidamente, uma marcha
intitulada “Unite The Right” (doravante Unir a Direita) agrupou grupos como a
Ku Klux Klan, supremacistas brancos em geral e neonazistas norte-americanos
para protestar contra a retirada de uma estátua do general confederado Robert
E. Lee. Para além da inegável comoção causada pela violência explícita e as
reações de perplexidade diante do racismo expresso pelos partícipes do
movimento “Unir a Direita”, o choque diante das cenas que remontam à tragédia
da Alemanha hitlerista causou vertigem no imaginário político. E entre nós no
Brasil politicamente polarizado muita besteira foi ventilada.
Antes, cabe advertir que
“direita” e “esquerda” são conceitos classificatórios que decerto reduzem a
complexidade diante do fenômeno que querem situar. Mas, nem por isso são
denominações inúteis.
Voltemos com uma questão após a
advertência: a direita não é um bloco coeso, tal como a esquerda também não é.
Há dissensos, reinterpretações, disputas, etc.. As diferenças de
posicionamentos de um determinado grupo sobre uma série de temas e problemas
coletivos, o que inclui as possíveis soluções, é o que explica o posicionamento
mais para a ponta “extrema” ou para o “centro” no espectro político. Contudo, o
que une todos em um mesmo lado é a defesa compartilhada e consensual de uma
diretriz ou valor essencial. Só assim é possível situarmos em um mesmo lado do
espectro político um gigante intelectual da estatura de José Guilherme Merquior
(1941-1991) e Jair Bolsonaro (1951). Ambos de direita no que tange a defesa
inegociável da propriedade privada.
Todavia, liberais ortodoxos ou progressistas,
fascistas, democratas cristãos, etc., divergem sobre todo o restante: políticas
sociais, direitos humanos, respeito às minorias, porte ou não de armas. Sequer
o livre mercado é uma pauta pacífica. Assim, uma direita hidrófoba, autoritária
e racista é plenamente factível. Charlottesville apenas nos lembrou disso.
* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 19 de agosto de 2017.
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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