Recebendo Le Jeune
Karl Marx*
George
Gomes Coutinho **
Le
Jeune Karl Marx,
o “Jovem Marx” em versão brasileira, é obra cinematográfica do diretor Raoul
Peck e irá estrear entre nós oficialmente em 28 de dezembro. Todavia, não
obstante o filme chegar ao circuito brasileiro somente no final deste ano, desde
sua estréia no Festival de Berlin em fevereiro houve enorme burburinho. Creio
que há algumas razões para tal.
Trata-se de um filme sobre o
filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) e só isto já causaria certo alvoroço, ou
no mínimo curiosidade, entre boa parte da esquerda. Ainda, no Brasil polarizado
ideologicamente boatos de que o filme estaria sendo boicotado pelos “cinemas
burgueses” também surgiram, tal como supostas ameaças de grupos de
extrema-direita que inviabilizariam a exibição do filme. Não testei a
veracidade das informações. Contudo, imagino que o cenário de polarização acrescido
dos boatos, verdadeiros ou não, gerou respostas no circuito cinéfilo nativo e
seus adeptos. A primeira foi disponibilizar versões do filme na plataforma de
mídia Youtube. A outra foram versões d´O Jovem Marx circulando em universidades,
sindicatos, movimentos sociais e cineclubes alternativos. Como podem notar, a
recepção do filme entre nós também vem sendo considerada um ato político, tanto
pelo conteúdo da obra quanto por nosso contexto.
Assisti o filme em duas ocasiões.
Há pouco mais de um mês atrás esbarrei em um link no Youtube com o áudio em
francês, inglês e alemão. Não tudo ao mesmo tempo obviamente. Como Marx foi
“convidado a se retirar” em mais de uma ocasião dos países europeus onde tentou
fixar-se em seu tempo, vindo a falecer finalmente na Inglaterra, o diretor
optou por certo realismo onde a língua falada muitas vezes acompanha o cenário/país.
Advirto aos leitores neste momento que é inútil repassar o link. Fui conferir e
já não é mais possível assistir o filme por lá.
A segunda ocasião foi no
Cineclube Marighella, projeto alternativo orquestrado pelos bravos Léo Puglia e
Gustavo Machado aqui em Campos. Na
platéia contavam-se aproximadamente 120 almas silenciosas e atentas. Nada mal
para uma noite de sábado na exibição de um filme sobre um filósofo. Nonsense?
Talvez a conjuntura nacional explique.
* Texto publicado em 09 de dezembro no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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