PSDB versus PSDB*
George
Gomes Coutinho **
O ano eleitoral, conforme
praticamente todos os analistas concordam, será qualquer coisa oposta a um
cenário entediante. Contudo, penso que existam tendências que podem se
confirmar e me concentrarei em uma delas. Falo do momento do PSDB diante da
União, o que me faz excluir as particularidades estaduais. Sendo tudo o mais
constante julgo que os tucanos fizeram opções desde 2014 que podem levá-los a ganhar
o “prêmio” de grandes derrotados em 2018. E poderiam ser os maiores vencedores
em meu cenário hipotético.
Antes de prosseguir cabe alertar
que quando falo aqui em opções, estou falando de caminhos e decisões políticas.
Não desconsiderando o factual, o que foi realmente praticado pelos agentes, os
momentos históricos jamais são jaulas inescapáveis para a criatividade humana.
Se alguém optou por B ignorou A, C, D e daí por diante. E ao optar por B
vive-se o céu e o inferno de B.
Voltando para 2014, a postura do
candidato derrotado Aécio Neves na época causou perplexidade. Críticas e
acusações ao pleito, inclusive questionando sua legitimidade, fariam todo
sentido no caso de partidos ou candidatos anti-sistema. Todavia, vindo de quem
era considerado o “líder” da oposição e do próprio PSDB, um partido do sistema
até a medula, o discurso teve algo de irresponsável. É esta a inauguração não
virtuosa do que virá depois.
No início do segundo governo
Dilma, o governo que não começou, igualmente a postura inflamada de líderes
PSDBistas, o que vai além de Aécio, conclamaram para a interrupção do mandato
da então presidenta. Primeiro clamavam por renúncia. Depois embarcaram na
aventura do impeachment. Pós-impeachment abraçaram de forma um tanto
envergonhada o governo Temer e, mais do que isso, assumiram organicamente a
agenda impopular em curso.
Dentre os cenários possíveis que
não decantaram, onde num exercício de imaginação Dilma não teria sofrido o
impeachment, é quase unânime a aposta de que seria um governo no mínimo
desgastado. Tudo o que o PSDB precisaria neste 2018 para ser vitorioso em um
momento em que suas lideranças se encontram com baixo capital eleitoral
nacional, o que inclui Alckmin e seu déficit de carisma. Por tudo isso o PSDB,
quem sabe, sabotou o próprio PSDB.
* Texto publicado em 06 de janeiro de 2018 no jornal Folha da Manhã em Campos dos Goytacazes, RJ.
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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