Carnaval e os pés de barro da...
mídia!*
George
Gomes Coutinho **
Após os festejos sob o domínio de
Momo espero que meu público leitor tenha sobrevivido aos eventuais excessos
permitidos nesta data. E como sabemos, sendo o Carnaval um de nossos ritos periódicos
mais marcantes do calendário, agora 2018 arromba a porta. Não que indícios do
que será esse ano não tenham sido apresentados em janeiro e na primeira
quinzena de fevereiro. As peças do tabuleiro continuaram se movimentando.
Algumas mais discretamente, afinal, os bastidores jamais pararam. Outras de
maneira mais notória, vide o julgamento de Lula em segunda instância no final
de janeiro.
Contudo há algo que chamou a
atenção durante o período momesco e surpreendeu analistas, o que pode ser um
indicativo de força política discursiva emergente para a conjuntura. O fato
impossível de ser ignorado foi o desfile da escola de samba de São Cristovão no
Rio, a Paraíso do Tuiuti. O desfile ocorrido na madrugada de segunda apresentou
uma narrativa que estava sufocada pela grande mídia oligopolista, o que trouxe
óbvio constrangimento para seus porta-vozes. Ao assistir o desfile carnavalesco
o público atônito pode, mediante a catarse típica do festejo, se ver e trazer o
“não dito”, o “impensé” lacaniano que pulula no inconsciente político. Tudo com
uma eficiência comunicativa de dar inveja aos atores tradicionais da política.
Não se trata de novidade a
crítica alegórica durante o Carnaval. Mesmo antes da Paraíso do Tuiuti blocos
em todos país apresentaram críticas mandando às favas os conservadores.
Contudo, o impacto simbólico provocado pelo pessoal de São Cristóvão em plena
Sapucaí nos convida a uma reflexão. Os pés de barro da grande mídia foram
expostos.
Não obstante o esforço metódico,
entediante, monocórdico e totalitário da mídia tradicional em “vender seu
peixe”, o que implica a defesa intolerante, acrítica e nada plural das
reformas, aparentemente não houve a conquista do imaginário social. A Paraíso
do Tuitui mostrou uma fratura no discurso, algo já apontando em pesquisas onde
é evidente o rechaço à pauta conservadora. Se eu fosse membro das elites
econômicas brasileiras veria o ocorrido como sinal amarelo. É preciso negociar
com os de baixo. A outra opção é a barbárie e nada mais.
* Texto publicado em 17 de fevereiro de 2018 no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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