Marielle Franco, presente!
Por Paulo Sérgio
Ribeiro
Não há como passar incólume pelo
assassinato da colega Marielle Franco e de Anderson Pedro Gomes, motorista da
vereadora (PSOL-RJ), ocorrido ontem na capital fluminense. Os colaboradores deste blog manifestam pesar e prestam solidariedade
às suas famílias. Emprego “colega” aqui respeitosamente, já que Marielle era
socióloga, tendo se graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC-RJ) e, em seguida, tornado-se mestra em Administração Pública pela
Universidade Federal Fluminense (UFF). A última credencial acadêmica fora
obtida com a defesa da dissertação “UPP: a redução da favela a três letras”, título
mais do que emblemático dos temas e problemas que moviam a sua militância a
partir de uma realidade estruturada pela violação sistemática de direitos.
Deveras, a inevitável comoção
diante do fato não deve balizar a investigação criminal. Espera-se que esta
ocorra com sobriedade para a elucidação do crime. Todavia, essa moderação não
se confunde com uma pretensa “isenção de ânimo” em face dessa brutalidade, pois, a
despeito de quem seja a provável autoria do crime – que reúne
elementos típicos de uma execução – calou-se uma voz que, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, amplificava o grito insubmisso de segmentos populares e de minorias
submetidos a toda sorte de arbítrio chancelada pela promiscuidade entre o
aparelho de Estado e os agentes da criminalidade violenta.
Sua agenda política movimentada e
polifônica era um exercício de poder constituinte: a refundação da vida em
comum pelas iniciativas de indivíduos e grupos com os quais mantinha
uma interlocução permanente em sua vereança; mulheres e homens periféricos que,
através do seu mandato, reabilitavam sua capacidade de ação coletiva ao invés
de serem capturados pela burocracia do estado como seres anônimos e atomizados para
fins de estatística. É cedo para afirmarmos que o assassinato de Marielle
Franco foi ou não um crime político na acepção convencional do termo. Mas, sem dúvida,
foi uma violência contra a política, se entendida como um poder radicado na
liberdade do cidadão comum de praticar a desobediência civil e não no seu controle sob
a forma de um cordão sanitário entre o asfalto e o morro que, de tempos em
tempos, reduz as bases da convivência ao silêncio cínico diante do terror
institucionalizado.
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