sábado, 6 de outubro de 2018

TRE-RJ no Instituto Federal Fluminense

Prezad@s,

Nesta semana em que salas de pesquisa dos colegas da Geografia foram reviradas na UFF-Campos dos Goytacazes, RJ pelo TRE-RJ em busca de "material político partidário ilegal" do PSOL, mesmo que nada houvesse e fosse consequência de mais uma das covardes denúncias anônimas que circulam na cidade, agora vemos o mesmo modus operandi ocorrendo no Instituto Federal Fluminense. Nada havia lá ou cá, na UFF e no IFF nas operações que menciono.

Antes de prosseguir, gostaria de dizer que contextualizo a atuação do braço local do TRE-RJ. Campos dos Goytacazes é uma cidade marcada pelo clientelismo desde a Era Glacial. Contudo, causa perplexidade e indignação a truculência, a violência simbólica e física e os abusos em Instituições que, tal como parte dos agentes do TRE-RJ, sempre se posicionaram historicamente em franco enfrentamento às más práticas da política local.

Sendo assim, reconhecendo o histórico de Instituições Republicanas como a UFF e o IFF, só posso arriscar uma hipótese a ser testada. A polarização política tirou do armário grupos que jamais, e digo jamais, tiveram qualquer aprendizado para o diálogo democrático e tampouco apreço pela democracia. Não são capazes de exercer o fino da arte que deve ser o guia ético de toda e qualquer democracia: o convencimento pacífico e, em caso oposto da impossibilidade de convencimento mediante o uso público da razão, a aceitação das diferenças em uma sociedade complexa e diversa como a nossa. Trata-se, por hipótese, de instrumentalização do aparato jurídico coercitivo, não obstante as possíveis boas intenções dos agentes do TRE-RJ envoltas em arbítrio e truculência, para coibir, calar e perseguir adversários políticos dada a miséria e mediocridade discursiva que os gorilas 2.0 em nossos tempos costumam aderir. Em última instância, cabe o alerta: o que está em jogo não é a defesa das boas práticas na disputa no mercado eleitoral, algo que todos nós defendemos. O que está sendo atacado é o próprio Estado Democrático de Direito e nada mais. E, o muito grave, por um braço do Estado que deveria justamente ser defensor intransigente dos valores do Estado Democrático de Direito.

Sobre os "denunciadores anônimos", as semelhanças com o colaboracionismo francês na Segunda Grande Guerra, onde cidadãos franceses pró-autoritarismo nazista denunciavam judeus, homossexuais, comunistas e tudo o que mais não coubesse no rótulo "'cidadão de bem" não é simples coincidência em minha perspectiva. Seja na Psicanálise ou na História, as lições não aprendidas se reiteram indefinidamente... até que sejam definitivamente solucionadas! O que é recalcado sempre retorna a assombrar o cérebro e os corações dos vivos.

Sem mais delongas, reproduzo relato que foi atribuído à professora Ana Poltronieri, coordenadora do curso de Licenciatura em Letras do Instituto Federal Fluminense. O relato refere-se ao dia de ontem:

Hoje, dia 05 de outubro de 2018, no final da tarde, a justiça eleitoral de Campos dos Goytacazes esteve no IFFLUMINENSE campus Campos Centro inspecionando os cursos de Licenciatura em Letras, em Teatro, em Geografia e em Ciências da Natureza. O motivo da visita dos fiscais da justiça eleitoral a esses cursos foi uma denúncia de que havia material político e manifestações de apoio e de repúdio de professores a determinados candidatos. 

Na minha longa carreira de magistério na educação básica e na superior, eu nunca passei por um momento tão triste e sombrio.  As salas onde damos aulas foram revistadas, assim como as coordenações, principalmente a de Geografia. Os fiscais da justiça eleitoral nos disseram que houve uma denúncia. Mais uma vez, a coragem de denunciar se faz por meio de um sujeito indeterminado, ou seja, não tem nome nem cara. Delatores, unam-se. Mostrem a cara. Sejam corajosos.  Que dia triste! 

Pai, afasta de mim este “cale-se”.  

Ana Poltronieri, coordenadora acadêmica do curso de Licenciatura em Letras do IFFLUMINENSE campus Campos Centro.


2 comentários:

  1. George, meu amigo/irmão, parabenizo-o por mais um corajoso texto sobre o arbítrio do TRE-RJ contra a UFF e o IFF. Esse conjunto de práticas autoritárias requer um contraponto crítico e propositivo de todxs aqueles que concebem o restabelecimento da democracia como uma responsabilidade em comum.

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