Eleições
fluminenses – brevíssimas notas
George Gomes
Coutinho
O que explica
Witzel para além do divã? Não é mais a pergunta de um milhão de dólares. Há padrões que podem ser
mobilizados. Não exatamente usando o histórico de eleições anteriores. Essa
eleição foi eivada de novidades. Há várias e irei apenas sintetizar algumas,
sem pretensão de aprofundar cada uma delas.
Antes cabe notar
o seguinte: as eleições estaduais de 2018 devem ser analisadas caso a
caso. Mesmo com todas as novidades
destas eleições, as dinâmicas não foram idênticas em todos os estados da
federação. Em parte dos estados brasileiros houve uma dinâmica “normal”, que
encontra paralelo com eleições anteriores e atores políticos tradicionais em
disputa.
Porém, no caso
particular do Rio, as novidades ajudam a explicar sim. Decerto o menor tempo de
campanha, conforme já disse publicamente em inúmeras oportunidades, foi uma
questão importante nestas eleições. Neste sentido, o menor tempo de divulgação
e contraste entre as propostas disponíveis no mercado político, em um cenário
de crise generalizada, deu brecha para ações singulares como o uso intensivo de
redes sociais enquanto via de propagação de “marcas políticas”. Por marcas
políticas estou chamando as chapas propriamente nas eleições majoritárias.
Nesse caldo as “fake news”, e a justiça eleitoral sofrendo da mais franca incompetência
técnica no combate às mesmas, produziram uma deterioração pronunciada da
opinião pública em proporções tão profundas que a erosão talvez só possa ser
devidamente dirimida com o passar dos próximos anos.
Houve também a
demanda pela novidade, pela mudança, o que permitiu que outsiders tivessem
êxito. Nestes termos, Witzel, não desconsiderando seus méritos, que ainda estão
para serem conhecidos na gestão da máquina pública, encontrou um cenário
francamente favorável. Eduardo Paes teve sua experiência e proximidade
profissional com o poder, dadas as particularidades dessas eleições, contando
negativamente. O eleitorado viu em Witzel “o novo”.
Junto a isso, “o
novo” dialogou ironicamente com os setores tradicionais sem qualquer pudor.
Crivella foi um apoio importante, angariando o voto dos setores cristãos reacionários.
Aliado a isso, a tentativa de simbiose da campanha de Witzel com a do clã
Bolsonaro igualmente atraiu eleitores.
Como se não
bastasse, a contundência discursiva de Witzel funcionou para o eleitor
fluminense como canto de sereia. A solução de questões de segurança pública que
dialogam diretamente com o senso comum do cidadão mediano, permitindo uma
polícia com licença para matar, se apresentou como um mote extremamente
eficiente. Cabe sempre lembrar que estamos ainda no estado que vivencia uma
intervenção federal prolongada expressa na presença do exército na capital. Tudo
isso a despeito das seqüelas geradas e da evidente ineficiência em solucionar a
violência urbana que se propôs.
As
particularidades da conjuntura do Rio explicam. Inclusive a baixa eficácia dos
prefeitos do interior em angariar votos para Eduardo Paes. Este expediente era
algo que faria sentido em outros momentos da história eleitoral. Mas, não
nesse. Tudo foi muito sui generis.
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