terça-feira, 6 de novembro de 2018

Eleições fluminenses – brevíssimas notas


Eleições fluminenses – brevíssimas notas

George Gomes Coutinho

O que explica Witzel para além do divã? Não é mais a pergunta de um milhão de dólares. Há padrões que podem ser mobilizados. Não exatamente usando o histórico de eleições anteriores. Essa eleição foi eivada de novidades. Há várias e irei apenas sintetizar algumas, sem pretensão de aprofundar cada uma delas.

Antes cabe notar o seguinte: as eleições estaduais de 2018 devem ser analisadas caso a caso.  Mesmo com todas as novidades destas eleições, as dinâmicas não foram idênticas em todos os estados da federação. Em parte dos estados brasileiros houve uma dinâmica “normal”, que encontra paralelo com eleições anteriores e atores políticos tradicionais em disputa.

Porém, no caso particular do Rio, as novidades ajudam a explicar sim. Decerto o menor tempo de campanha, conforme já disse publicamente em inúmeras oportunidades, foi uma questão importante nestas eleições. Neste sentido, o menor tempo de divulgação e contraste entre as propostas disponíveis no mercado político, em um cenário de crise generalizada, deu brecha para ações singulares como o uso intensivo de redes sociais enquanto via de propagação de “marcas políticas”. Por marcas políticas estou chamando as chapas propriamente nas eleições majoritárias. Nesse caldo as “fake news”, e a justiça eleitoral sofrendo da mais franca incompetência técnica no combate às mesmas, produziram uma deterioração pronunciada da opinião pública em proporções tão profundas que a erosão talvez só possa ser devidamente dirimida com o passar dos próximos anos.

Houve também a demanda pela novidade, pela mudança, o que permitiu que outsiders tivessem êxito. Nestes termos, Witzel, não desconsiderando seus méritos, que ainda estão para serem conhecidos na gestão da máquina pública, encontrou um cenário francamente favorável. Eduardo Paes teve sua experiência e proximidade profissional com o poder, dadas as particularidades dessas eleições, contando negativamente. O eleitorado viu em Witzel “o novo”.

Junto a isso, “o novo” dialogou ironicamente com os setores tradicionais sem qualquer pudor. Crivella foi um apoio importante, angariando o voto dos setores cristãos reacionários. Aliado a isso, a tentativa de simbiose da campanha de Witzel com a do clã Bolsonaro igualmente atraiu eleitores.

Como se não bastasse, a contundência discursiva de Witzel funcionou para o eleitor fluminense como canto de sereia. A solução de questões de segurança pública que dialogam diretamente com o senso comum do cidadão mediano, permitindo uma polícia com licença para matar, se apresentou como um mote extremamente eficiente. Cabe sempre lembrar que estamos ainda no estado que vivencia uma intervenção federal prolongada expressa na presença do exército na capital. Tudo isso a despeito das seqüelas geradas e da evidente ineficiência em solucionar a violência urbana que se propôs.

As particularidades da conjuntura do Rio explicam. Inclusive a baixa eficácia dos prefeitos do interior em angariar votos para Eduardo Paes. Este expediente era algo que faria sentido em outros momentos da história eleitoral. Mas, não nesse. Tudo foi muito sui generis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário