Labaxúrias Decantarábias: Porque esse episódio é um problema político
Esther Alferino*
Eis minha análise que ninguém pediu, mas vou fazer.
Dia desses vimos Micheque, a primeira-dama, falando em línguas estranhas e sapateando, em comemoração a nomeação de André Mendonça para o STF.
Virou chacota e ela disse que foi vítima de
intolerância religiosa.
Em um país cristão podemos falar de deboche de
manifestações extravagantes de fé cristã, mas não de intolerância religiosa
contra esse grupo. Não existe nenhuma estrutura que desfavoreça esse grupo
religioso ou a profissão de sua fé. Deboche é muito diferente de cristofobia.
Mas por que a esposa do presidente nessa cena é
um problema político?
Porque desde a campanha, o marido dessa senhora
e seus apoiadores falavam sobre um ministro "terrivelmente
evangélico", um ministro que irá herdar questões centrais para o interesse
de um grupo específico de pessoas, os evangélicos, e para a base governista.
Vai passar pelas mãos dele, por exemplo, o caso dos perfis fakes do
"gabinete de ódio" do presidente e seus filhos. Ele será o novo
relator do caso dos incêndios na Amazônia e no Pantanal. Relator da omissão do
senado em taxar grandes fortunas. E a primeira-dama, com sua oração
extravagante, sabe exatamente como ele vai se posicionar sobre esses assuntos.
Assim como ela sabe como ele vai se posicionar em relação a temas sérios sobre
os direitos das pessoas LGBT, da questão das armas e do marco temporal das
terras indígenas.
Andre Mendonça terá em mãos algumas das questões
centrais para o governo do qual essa moça faz parte por casamento, por isso ela
acredita que o deus dela é deus de promessas (pra mim ele é assim, com letras
minúsculas, porque meu Deus não honra o mal) como ela menciona entre um
labaxúria e outro, porque ela realmente acredita que tem, por direito divino,
um país do jeito que ela deseja.
Rir e debochar das formas de culto alheias pode
não ser exatamente bonito, mas essa moça nos dá, todos os dias, razões pra
sentir ódio do que ela representa, e se nosso ódio vier em deboche, tudo bem.
Espero sinceramente que ele se transforme em ação política, inclusive para
aprender a dialogar com o povo do reteté, que em sua maioria está em sério
aperto e pode abandonar essa base cristofascista em tempo.
* Mestre em Sociologia Política pela
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
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