No Pasarán! Eleições Espanholas de 2023**
André Kaysel***
Em que pese ter sido o mais votado, o direitista Partido Popular (PP) muito dificilmente governará a Espanha. A legenda liderada pelo galego Alberto Nuñez Feijó obteve 136 cadeiras no parlamento espanhol (33% dos votos), contra 122 do Partido Socialista Obrero Español (PSOE), do atual Presidente (Primeiro-Ministro), Pedro Sãnchez, com mais de 31%.
Para formar governo, uma coalizão necessita de 176 deputados, 50% mais 1 dos 350 acentos da Câmara. O problema para o PP é que seus sócios da extrema-direita, o Vox de Santiago Abascal - muito próximo de Bolsonaro - obtiveram 33 cadeiras, 19 a menos do que nas eleições de 2019. Já a plataforma de esquerda Sumar, da atual Vice-Presidenta Yolanda Díaz, que engloba a antiga Unidas-PODEMOS, obteve 31 cadeiras, praticamente impatando com a ultra-direita em percentual de votos, cerca de 12% cada.
Pois bem, o bloco da direita obteve 169 acentos, enquanto a esquerda alcançou 153, portanto, nenhum dos dois conseguirá sozinho formar governo.
E as 28 cadeiras restantes? A maioria pertencem a partidos regionais e nacionalistas, sobretudo no País Basco e na Catalunha. Alguns estão mais à direita, como o PNV e Junts, outros mais à esquerda, como Eh Bildu e ERC. Porém, nenhum partido nacionalista basco ou catalão irá formar um governo com PP e Vox, representantes do nacionalismo castelhano, monárquico, católico e neofranquista.
Assim, a tarefa de Feijó é como a quadratura do círculo. Sua única chance seria que essas forças minoritárias se abstivessem na votação da investidura, permitindo que ele formasse um governo de minoria, o que é pouco provável.
Assim, Sánchez, embora tenha ficado em 2o. lugar, tem mais chance de chegar a um acordo com Sumar e os nacionalistas bascos e catalães e continuar no Palácio de La Moncloa. Outra possibilidade bem plausível é de um bloqueio total, que obrigue à convocação de novas eleições em breve.
Seja como for, a vitória do PP parece ter sido uma vitória de Pirro, sobretudo pela derrota de seus aliados de extrema-direita, com os quais pretendiam formar o governo mais reacionário da Espanha desde a redemocratização no final dos anos 1970. Como bem disse Yolanda Díaz em seu discurso, a Espanha e a Europa irão dormir mais tranquilas. Pelo menos dessa vez, valeu pelo voto o lema da Passionaria Dolores Ibarruy: "! No Pasarán!".
* Massacre in Korea, Pablo Picasso. Disponível em: https://fineartamerica.com/featured/massacre-in-korea-by-pablo-picasso-1951-pablo-picasso.html, acesso em 25 de julho de 2023.
** Publicado originalmente no perfil de Facebook do prof. André Kaysel em 24 de julho de 2023. Reproduzimos aqui com a autorização do autor.
*** André Kaysel é professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. Kaysel é atualmente diretor do CEMARX, o Centro de Estudos Marxistas da Unicamp, e autor, dentre outros trabalhos, de "Entre a nação e a revolução: marxismo e nacionalismo no Peru e no Brasil (1928-1964)" publicado pela Alameda Editorial.
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