A
globalização e a crítica conservadora*
George
Gomes Coutinho **
O mundo ficou atônito com as
notícias de 09 de novembro. Parte não escondia a euforia com a eleição de
Trump. Outro grupo, este mais numeroso na opinião pública mundial, não
disfarçava sua perplexidade com a vitória do republicano.
Cabe refletirmos. O que afinal o
eleitorado norte-americano quer dizer com esse resultado?
Dentre as possíveis chaves de
análise de um fenômeno complexo como esse, irei apostar em somente uma delas.
Não irei esgotar a questão. Apenas concentrarei a interpretação em um ponto que
pode ser articulado com outras perspectivas. A minha se centra na globalização
como promessa de projeto civilizatório para este século XXI.
Retornando para a década de 1990,
as promessas de um mundo conectado, horizontalizado, sem fronteiras, com alta
mobilidade de pessoas, culturas, capitais e mercadorias era bastante sedutor. Era
o mundo pós-Guerra Fria e o inimigo externo do capitalismo, o comunismo, já não
assustava. Porém, como muitas promessas úmidas feitas ao pé do ouvido, as sussurradas
pelo otimismo liberal pró-globalização no final do século passado não
decantaram na realidade.
A globalização “real” produziu
diversos efeitos colaterais. Citarei apenas três que aqui importam na
construção de meu argumento: 1) A alta mobilidade dos postos de trabalho que
produziu desemprego nos países sede das multinacionais; 2) Os imigrantes provenientes de diversas origens e
motivados por diversas razões foram um alento conveniente por aceitarem
condições de trabalho subalternas. Contudo, após a adaptação até geracional,
estes passam a competir junto aos nativos por vagas escassas no mercado de
trabalho; 3) A desindustrialização, que se reflete na redução ou
desaparecimento de setores industriais inteiros.
O voto em Donald Trump foi, sem
sombra de dúvidas, um voto crítico a todo este processo. O problema é o
conteúdo, o direcionamento. A retórica nacionalista, a nostalgia que quase
sempre mente sobre um passado glorioso, faz deste um voto crítico conservador.
Não se olha para o futuro e sim para o passado. Além de não enfrentar de fato o
grande vencedor das últimas décadas: o capital financeiro, predatório e
volátil. Muda-se tudo para não se modificar nada.
* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 12 de novembro de 2016
*Professor
de Sociologia no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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