domingo, 4 de novembro de 2018

Dos perigos na esquina


Há perigo na esquina. O verso do músico Belchior está mais atual do que nunca. No caso específico do Brasil não se trata de uma esquina literal, mas sim de uma dobra histórica em que o país irá entrar e que representa uma guinada à direita conservantista e reacionária da maneira mais bruta.
A opção feita através das urna pela maioria do eleitorado ao eleger o capitão da reserva do Exército Jair Bolsonaro para o posto máximo de Presidente da República significa que no próximo governo teremos uma série de retrocessos dos mais variados. Para além dos impactos institucionais que se avizinham, como privatização das estatais e o desmonte do Estado, o que está em jogo também são conquistas sociais, civis e políticas. Antes mesmo da posse do referido já é possível perceber o empoderamento dos agentes públicos da segurança, que agem ao seu próprio talante nas ruas, assim como já observamos, por exemplo, perseguição às religiões de matrizes africanas nas semanas seguintes ao pleito.
Um conjunto de conquistas identitárias dos movimentos sociais está em risco. O medo toma conta dos Lgbtis e negros, que sabem o que representam uma pauta conservadora e de perseguição às suas existências.
No plano da educação o cenário que se avizinha é também desalentador haja vista que existe a promessa de transferir o Ensino Superior do Ministério da Educação para o Ministério da Ciência e Tecnologia a vir ser comandado por um astronauta, também militar da reserva. Para além disso, a retomada da discussão do projeto de lei Escola sem Partido também entrou em curso de maneira veloz, sendo que até mesmo uma aprovação açodada em tempo recorde no Congresso está em jogo. Contando com ameaças aos educadores através do incentivo a que jovens alunos filmem seus professores em sala de aula, constituindo uma grave afronta ao direito de cátedra dos mestres. A sinalização de que nenhum novo aporte de investimentos será feito é catastrófica. Afinal temos de lição episódios recentes, tal como o incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro por conta justamente da falta de repasses para o setor.
Em termos econômicos o modelo neoliberal capitaneado pelo especulador financeiro Paulo Guedes aponta para uma grave crise de recessão. Pois historicamente os países que optaram por esse arcabouço já demonstraram que o receituário do Banco Mundial de enxugamento estatal não contribui em nada para a retomada do crescimento mas sim o contrário.
O exercício da Democracia exige o respeito às liberdades de oposição e contestação. As ameaças de “varrer” os vermelhos, ou os candidatos opositores derrotados não contribuem em nada para a saúde de uma já combalida democracia. Para além das urnas, a resistência deve ser feita nas ruas, priorizando uma cultura de conscientização e denúncia do quão lesivos são os movimentos que estão em debate no cenário político do momento.

2 comentários:

  1. Nico, meu caro, seja bem-vindo! É uma satisfação tê-lo aqui. Quanto à análise de conjuntura, concordo em gênero, número e grau. Um grande abraço.

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