Witzel e os cem
dias
Por George Gomes Coutinho
No último post
me arrisquei a discutir alguns aspectos dos cem dias do governo Bolsonaro.
Tarefa esta nada simples até mesmo pela particularidade do momento histórico e
dos governos que se constituem após as eleições de 2018: há algo de ruptura,
elementos de continuidade e muitos exotismos produzidos em proporções
industriais em pouquíssimo tempo. Neste texto me dedicarei a um esboço sobre o
governo Witzel em sua experiência no Palácio Guanabara.
Sobre Wilson Witzel,
há menor isolamento se compararmos com Bolsonaro. Ambos não são a mesma coisa,
embora o atual governador do Rio tenha utilizado técnicas, discursos,
intervenções e afins que em nada diferem das do presidente em campanha. Mas,
paramos por aí.
Witzel demonstra maior esforço em dialogar com
setores que vão muito além até mesmo dos grupos que o elegeram. Neste tocante
há maior elasticidade, plasticidade de sua atuação enquanto governador eleito.
Para Witzel o discurso mais propenso a criar cisões se encontra no campo da
segurança pública, seu standard radicalizado e base estruturante de seu
discurso que promoveu a acachapante vitória nas últimas eleições. Contudo,
ainda assim o governador tem tentado diminuir a resistência dos diferentes
setores quanto a ele mesmo, algo que considero fundamental pelas condições de
caos estrutural do estado do Rio de Janeiro.
A própria
distribuição das posições na ALERJ atesta essa disposição.
O grande
problema é a complexidade, a densidade inconteste da situação do Rio de
Janeiro. Paciente terminal de problemas históricos e crônicos jamais
solucionados, estranha ex-capital do país que ainda mantém parte não
desprezível da própria burocracia federal,
híbrido de aparato estatal, paramilitares (as milícias), narcotráfico e
massa falimentar, não há solução simples para o estado e o desalento não é
raro. Um tour de force se coloca
enquanto tarefa histórica em um cenário em que a inércia, apatia e ações
meramente pirotécnicas, seja por mais um dia, semana ou mês, colocam o Rio de
Janeiro, capital e estado, mais próximos de algo insolúvel para a imaginação
política ou para a criatividade institucional.
Não por acaso
Christian Lynch, colega da área de ciência política, anda propondo que o Rio de
Janeiro, a cidade, torne-se um segundo Distrito Federal. Parece exótico. Mas,
só parece dadas as dificuldades postas.
Diante do quadro
causa espécie a sensação de que o governador esteja “queimando a largada” em
desde já colocar suas ambições para a presidência brasileira. A sinceridade é
sempre louvável. Contudo, mirando o tamanho do desafio que ele precisa enfrentar,
talvez a ambição esteja sendo declarada em momento desmesuradamente precoce.
Nenhum comentário:
Postar um comentário