Olhando a partir
da planície: eleições 2020[1]
George Gomes
Coutinho
O ano de 2020
será marcado no calendário político brasileiro pelas eleições municipais. Em um
cenário ainda de alta polarização política nas redes sociais e fora delas, 2020
talvez repita parte da temperatura das eleições de 2018 em disputas locais, o
que não quer dizer que necessariamente as suas dinâmicas e os resultados das eleições
gerais serão mimetizados localmente.
Um país da
extensão e da complexidade do Brasil apresenta configurações e alianças
políticas locais que podem, em muitos casos, ser até mesmo contraditórias
diante dos direcionamentos e opções adotadas nas eleições majoritárias de 2018.
Com tudo isso, as
eleições de 2020 são importantes também por duas questões: 1) pode assumir localmente
caráter plebiscitário de aprovação ou rejeição das inovações políticas adotadas
no âmbito federal e nos estados onde houve a vitória eleitoral em 2018 de
candidatos “novatos” para os respectivos executivos; 2) funciona como
continuação do processo de implementação gradual e teste das inovações
preconizadas pela Reforma Eleitoral de 2017, vide, por exemplo, a coligação
partidária para os legislativos ser vedada já a partir deste ano.
Relacionada ao
ponto 1 que mencionei acima, há a particularidade do estado do Rio de Janeiro
onde governador e presidente, ambos novatos enquanto mandatários no executivo e
unidos no início de 2019, encontrarem-se
neste momento em posição de conflito em virtude das particularidades geradas pelas
investigações acerca do assassinato de Marielle Franco. Há uma relação tumultuada
e por vezes agressiva entre os mandatários do governo federal e do executivo
fluminense, isso a despeito de Bolsonaro e Witzel compartilharem de uma mesma
base social, eleitoral e mesmos valores, símbolos, etc..
A aproximação de
candidatos fluminenses para executivo ou legislativo de Witzel ou de Bolsonaro
pode ser um ponto a dividir o eleitorado mais conservador no espectro político.
Feitas estas
observações generalistas, vamos a alguns pontos específicos sobre Campos.
Conforme já disse em outro momento, Campos lida com o ingrediente da possibilidade de uma
votação decisiva no Supremo Tribunal Federal neste ano acerca da distribuição
dos royalties de petróleo. A hipótese da redução do repasse de royalties,
dado o orçamento da prefeitura ser profundamente dependente destes recursos, é
um problema político-administrativo de alta complexidade, para além da
obviedade do estrago na economia local. Em virtude da profunda relevância do
tema, a diminuição do repasse dos royalties, caso assim seja o resultado do entendimento
do STF, certamente será tema de debate e “munição” política a ser utilizada na
concorrência dos adversários em disputa. Mas, “tudo o mais constante”, ou seja,
com o STF mantendo as regras tal como se encontram em vigor hoje, o tema não
chegará “quente” ao segundo semestre. De todo modo, na hipótese de um resultado
pró-redistribuição no STF, na disputa a diminuição de recursos será utilizada
fartamente enquanto recurso político, de forma justa ou não.
Um ponto também
a destacar é a possibilidade das eleições campistas demarcarem a consolidação
da renovação geracional de candidatos a disputarem o executivo local. Caso se confirme,
teremos desta vez quatro candidatos jovens detentores de um capital político
familiar pregresso[2],
incluindo evidentemente o próprio prefeito Rafael Diniz. De alguma maneira aqui
teríamos uma renovação contraditória, tal como vimos em nível federal na Câmara
dos Deputados: sem dúvida uma geração mais jovem dotada de um capital familiar
herdado.
Neste cenário de
“renovação contraditória”, se é viável a utilização deste guarda-chuva pouco
preciso que chamam de “nova política” pela questão etária e cosmética, a manutenção
do capital familiar por vezes obriga relações permanecerem aliados ancestrais,
quase pré-diluvianos.
Com tudo isso
não implica, evidentemente, que a geração “Muda Campos” estará alijada de
disputar o executivo. Mas, esta tem sido parcialmente substituída em termos
geracionais neste pleito.
Quanto ao atual
prefeito, Rafael Diniz terá um teste eleitoral duríssimo em outubro. Desta vez
é vidraça e não mais pedra e lidará com uma opinião pública que o elegeu com
farta dose de expectativas em um surpreendente primeiro turno nas últimas
eleições municipais. Neste momento Diniz terá de lidar com esta mesma opinião
pública impaciente, crítica, onde o prefeito precisará defender uma gestão que
nem sempre trouxe boas notícias orçamentárias e implementou medidas impopulares
em um contexto nacional recessivo que em nada o ajuda.
[1]
Uma primeira versão das reflexões deste pequeno texto surgiu a partir das
questões apresentadas pelo jornalista Aldir Sales do jornal A Folha da Manhã. A
matéria em questão encontra-se disponível aqui: http://www.folha1.com.br/_conteudo/2020/01/politica/1256471-um-2020-que-iniciou-bem-antes.html
[2]
Wladimir Garotinho, herdeiro da família Garotinho; Caio Vianna, filho de
Arnaldo Vianna, ex-prefeito da cidade; Rodrigo Bacellar, filho do conhecido político e ex-sindicalista Marcos Bacellar e, por fim, Rafael Diniz, herdeiro
tanto de Sérgio Diniz, seu pai, quanto de Zezé Barbosa, seu avô.
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