segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Tempo, processo e escolhas


Tempo, processo e escolhas 

Milton Lahuerta*

Nesta altura do processo eleitoral, os defensores da 3ª via estão apenas adiando o momento -- dramático para eles -- de terem que se posicionar entre Lula e Bolsonaro num provável 2º turno.

A chapa Simone Tebet e Mara Gabrilli não tem nem tempo nem estofo para galvanizar a insatisfação de quem não se sente representado pelas duas candidaturas que polarizam mais de 75% dos eleitores.

Ciro Gomes, apostando num outro tipo de polarização, rompe pontes, um dia sim e o outro também, dificultando qualquer possibilidade de articular um bloco de forças que lhe permitisse crescer no eleitorado, afirmando um programa desenvolvimentista e racional de governo. Seu decisionismo hiper voluntarista tem funcionado, quase que exclusivamente, para fixar sua candidatura apenas entre aqueles que já são ou seus seguidores ou simpatizantes de uma visão mais programática sobre o futuro!

O fato é que a tese dos "dois demônios" não prosperou o suficiente para "engrossar" uma candidatura alternativa aos principais contendores! Inclusive, porque Lula caminhou para o Centro e apostou num horizonte frentista em defesa da ordem democrática e da afirmação dos direitos de cidadania, enquanto seu oponente a cada dia se fecha mais num bloco de extrema direita que atua contra as instituições democráticas e contra a ordem constitucional!

A fabulação da 3º via, nesta altura do jogo, está destinada ao fracasso, por mais simpatia que se pudesse ter por ela. Definitivamente, não estamos diante de "dois demônios", pois só um dos lados tem como meta a destruição do Estado de direito e a ruptura com a ordem democrática!

A dramaticidade do momento exige que se construa a interlocução necessária para se derrotar o (des)governo, conter a sanha golpista, restabelecer um clima de confiança nas instituições e compor um eixo programático que resgate num nível superior a dinâmica de democratização que levou à derrota da ditadura e se confirmou com a Constituição de 1988.

Não há espaço nem muito menos tempo para a vacilação! A hora é a da grande política, sem arroubos voluntaristas, com senso de responsabilidade e com muita generosidade para se centrar no que é fundamental!

 

* Milton Lahuerta é professor de Teoria Política na Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista, Campus de Araraquara. É autor de inúmeros artigos, capítulos de livros e coletâneas nas áreas de pensamento social brasileiro, sociologia dos intelectuais e teoria política. Publicou, em 2014, o seu "Elitismo, autonomia, populismo - Os intelectuais na transição dos anos 1940" pela editora Andreato.

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