Tempo, processo e escolhas
Milton Lahuerta*
Nesta altura do processo eleitoral, os defensores da 3ª via estão apenas adiando o momento -- dramático para eles -- de terem que se posicionar entre Lula e Bolsonaro num provável 2º turno.
A
chapa Simone Tebet e Mara Gabrilli não tem nem tempo nem estofo para galvanizar
a insatisfação de quem não se sente representado pelas duas candidaturas que
polarizam mais de 75% dos eleitores.
Ciro
Gomes, apostando num outro tipo de polarização, rompe pontes, um dia sim e o
outro também, dificultando qualquer possibilidade de articular um bloco de
forças que lhe permitisse crescer no eleitorado, afirmando um programa
desenvolvimentista e racional de governo. Seu decisionismo hiper voluntarista
tem funcionado, quase que exclusivamente, para fixar sua candidatura apenas
entre aqueles que já são ou seus seguidores ou simpatizantes de uma visão mais
programática sobre o futuro!
O
fato é que a tese dos "dois demônios" não prosperou o suficiente para
"engrossar" uma candidatura alternativa aos principais contendores!
Inclusive, porque Lula caminhou para o Centro e apostou num horizonte frentista
em defesa da ordem democrática e da afirmação dos direitos de cidadania,
enquanto seu oponente a cada dia se fecha mais num bloco de extrema direita que
atua contra as instituições democráticas e contra a ordem constitucional!
A
fabulação da 3º via, nesta altura do jogo, está destinada ao fracasso, por mais
simpatia que se pudesse ter por ela. Definitivamente, não estamos diante de
"dois demônios", pois só um dos lados tem como meta a destruição do
Estado de direito e a ruptura com a ordem democrática!
A
dramaticidade do momento exige que se construa a interlocução necessária para
se derrotar o (des)governo, conter a sanha golpista, restabelecer um clima de
confiança nas instituições e compor um eixo programático que resgate num nível
superior a dinâmica de democratização que levou à derrota da ditadura e se
confirmou com a Constituição de 1988.
Não há espaço nem muito menos tempo para a vacilação! A hora é a da grande política, sem arroubos voluntaristas, com senso de responsabilidade e com muita generosidade para se centrar no que é fundamental!
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