terça-feira, 15 de setembro de 2015

Cientistas políticos brasileiros e a conjuntura

As interpretações mais ou menos sistemáticas produzidas na academia sobre o fenômeno político brasileiro, seja na prática de uma "sociologia política" ou entre os ensaístas oriundos de diversas áreas de conhecimento, ou mesmo as produzidas após a institucionalização do primeiro programa de pós-graduação propriamente em Ciência Política, em 1966 na UFMG, quase sempre seguiram uma certa "vocação pública".

 Por "vocação pública" compreendo a disposição do conjunto de pesquisadores que se defrontam com o fenômeno "poder", algo que não é monopolizado de forma incontestável por um único campo de conhecimento, na busca por ofertar análises, interpretações, dados e afins, de modo a dialogar com a sociedade. Evitarei propositalmente o termo "esfera pública" por compreender que o conceito pode levantar polêmicas teóricas ou empíricas francamente desnecessárias.

Inclusive, evidentemente este não é um caminho de mão única. Se nossos analistas ofertam análises para a sociedade, esta, invariavelmente pauta boa parte da pesquisa realizada entre nós. Afinal, a academia não é dotada integralmente de agentes praticantes de solipsismo....

Retomando, justamente por estas análises deterem um "outro patamar" analítico, algo um tanto diferente das esbaforidas e muitas vezes viciadas "opiniões" encontradas fartamente na imprensa, penso que parte da "missão" da academia é assim cumprida. Ao romper com o por vezes necessário insulamento discursivo, algo que gera decerto pesquisas de fôlego e promove a formação/treinamento de novos profissionais para o próprio campo, especialmente aqui os cientistas políticos brasileiros apresentam contribuições criativas, por vezes provocativas.. Mas.. nunca inúteis. Justamente por todas que selecionei saírem da vala comum desnorteada encontrada alhures.

Irei apontar três profissionais da ciência política brasileira que neste momento se dedicam a este papel um tanto incômodo, o de comentarem a conjuntura em um momento delicado como esse no Brasil. Decidiram "surfar" a onda perigosa, indomável  e imprevisível do movimento histórico.. Por isso mesmo são importantes.

O primeiro deles é Wanderley Guilherme dos Santos. Como já chamei a atenção aqui, WGS prossegue com suas análises, muitas vezes contra-intuivas, em seu blog:  http://insightnet.com.br/segundaopiniao/. Justamente por serem contra-intuitivas, as polêmicas nem sempre justas pululam nos comentários....


Outro que destaco é Fabiano Santos (IESP/UERJ) que concedeu uma longa e densa entrevista para Miguel do Rosário em seu "Cafezinho".  A entrevista nos apresenta um conjunto de cenários, análise de comportamento de grupos, temas espinhosos como o impeachment e preocupações com a democracia representativa brasileira. A entrevista, intitulada "Opção pelo golpe vai ser cobrada na história" pode ser acessada aqui: http://www.ocafezinho.com/2015/09/15/fabiano-santos-opcao-pelo-golpe-vai-ser-cobrada-na-historia/ 

Finalizando as sugestões de leitura, Adriano Codato da UFPR tem se dedicado a compreender o fenômeno do crescimento da direita brasileira, seja em termos discursivos ou propriamente demográfico/eleitorais. Neste diapasão Codato, que já mantém uma larga experiência na análise das elites políticas brasileiras, concedeu entrevistas para o Mediapart (aqui), Valor Econômico (aqui), Agência Pública (aqui).... Ainda, sobre o autor, recomendo a visita em seu blog: o "Sociologia Política" que mantém um bom e eclético acervo sobre a área e análises de conjuntura.

Em suma, mesmo que dentre as narrativas em disputa na ciência política brasileira exista uma tentativa de se construir uma aura de uma ciência "ensimesmada", talvez aqui encontremos uma prova de cientistas políticos menos umbigocêntricos do que se poderia supor.


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Excelente entrevista do Bauman - "seus netos continuarão pagando os 30 anos da orgia consumista"

Zygmunt Baumann, mais conhecido entre nós por sua "série líquida" (amor líquido, modernidade líquida, etc..), concedeu uma excelente entrevista no final de agosto deste ano para o Monitor Mercantil. 

Penso, inclusive, que esta entrevista interessa particularmente ao leitor brasileiro. Nestes tempos exageradamente trevosos, onde o pânico disseminado pela Grande Mídia faz produzir a sensação de que chegamos ao fundo do poço, leituras lúcidas de realidade sempre são importantes. Até mesmo para atacar crenças coaguladas e percepções que podem gerar profecias auto-realizáveis pelos próprios agentes. Ou seja, interpretações e análises podem ter mais alcance fático do que imaginamos, trazendo consequências que nem de longe são desejáveis. Só por isso a entrevista cumpre, desde já, um papel importante. 

Dentre outros pontos, dado que o foco central das questões transitava sobre a crise econômico-social no Velho Continente, Bauman nos brinda com algumas pérolas que confrontam diretamente o senso comum. Dada a abrangência, visto que a crise para qualquer analista que compreende a sutil relação partes/todo, o polonês dialoga com as diferentes camadas da realidade social selecionando novidades e continuidades entre os planos micro e macro-estrutural. Destaco algumas questões:

- o sociólogo, que atualmente é o vice-reitor da London School of Economics (LSE), embora cético, mantém um tom relativamente otimista quanto ao médio/longo prazos. Não se fixa de forma obsessiva na atual conjuntura. Em verdade compreende que o atual modelo societário, pautado pelo corrosivo binômio de financeirização e consumismo insustentável, apresenta sinais de profundo esgotamento. Inclusive, para asseverar este juízo, nota as revoluções moleculares que vão se multiplicando, mesmo que a passos muy lentos, ao redor do globo e nas sociedades ocidentais. Ou seja, há um facho de luz, mesmo que tímido, no final do túnel.;

- alerta quanto ao distanciamento da relação entre poder e política institucional. Isto não é exatamente uma novidade na literatura, seja sociológica, econômica ou filosófica: há um robusto distanciamento dos interesses vinculados ao capital "virtual" da especulação financeira e o restante da humanidade. Porém, algo que nos interessa especificamente acerca do funcionamento da política institucional nestes tempos, Bauman é claro ao afirmar sobre os limites das estruturas modernas formais. Partidos, parlamentos, ministérios, a despeito de sua vinculação entre esquerda ou direita do espectro ideológico, tem uma margem de atuação francamente limitada ante as pressões dos grandes agentes financeiros. Neste ponto o que resta é a impossibilidade factual da execução plena e ipsis litteris de promessas de campanha eleitoral nas nações ocidentais. Este é um ponto trágico para a imaginação política contemporânea... A sensação de um certo "estelionato eleitoral" talvez não seja a nossa jabuticaba afinal...

Em suma, recomendo vivamente a leitura que pode ser acessada aqui.

1º CONACSO - Congresso Nacional de Ciências Sociais - PPGCS/UFES

Prezad@s,

Divulgando o website do I CONACSO (Primeiro Congresso Nacional de Ciências Sociais), evento que ocorrerá na bela Vitória/ES entre 23 e 25 de setembro deste ano.

O Congresso está sendo organizado pelos(as) colegas do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da UFES.

Divulguem e prestigiem... Inclusive o website está muitíssimo bem diagramado.... Deve ser um bom prenúncio do que vêm por aí no Congresso!

http://www.conacsoufes.com.br/

terça-feira, 1 de setembro de 2015

I SEMINÁRIO FLUMINENSE DE HISTÓRIA DO PODER E DAS IDEOLOGIAS 1964: DO GOLPE À DEMOCRACIA (LIÇÕES E PERSPECTIVAS)

Prezad@s,

Divulgando o I Seminário Fluminense de História do Poder e das Ideologias. O mesmo ocorrerá na UFF/Campos dos Goytacazes e maiores informações do evento podem ser encontradas no blog criado pelo pessoal do Grupo de Pesquisa sobre História Militar, Poder e Ideologia.

Divulguem e prestigiem!