segunda-feira, 24 de junho de 2019

Agende-se: Restaurante Popular em pauta.


Chamada Festival Varilux de Cinema Francês em Campos - 25/06/2019

Após longos anos, Campos dos Goytacazes volta a fazer parte do Festival Varilux de Cinema Francês, encerrando três dias de programação gratuita com a exibição, nesta terça (25/6), de A Revolução em Paris (2018). A superprodução, que consumiu sete anos na vida do diretor Pierre Schoeller, faz relato realista e grandioso dos acontecimentos que mudaram os rumos da história mundial, destacando o protagonismo das mulheres no processo, comumente negligenciado pelos livros de História.

Não faltam, portanto, temas a serem discutidos pelo público com as professoras Natalia Soares Ribeiro e Marcia Carneiro, que conduzem debate logo após exibição, marcada para às 19h30, no Teatro Municipal Trianon.

Só que antes do encerramento, teremos a exibição gratuita, durante toda a terça-feira (25/6) de três outros sucessos recentes do cinema Francês, incluindo Asterix e o Segredo da Poção Mágica (2018), animação dublada por Gregório Duvivier que contará com a presença de alunos da rede pública na plateia.  

O evento é produzido voluntariamente pelo Cineclube Marighella e pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) numa parceria, sem fins lucrativos, que tem como objetivo contribuir para a democratização do acesso à cultura no interior do estado do Rio.

Por isso, as entradas são gratuitas. Basta retirar os ingressos (máximo 2 por pessoa) nas bilheterias do Trianon uma hora antes de cada projeção.

Estudantes universitários também poderão solicitar certificados de atividades complementares.


_Data
Terça-feira, 25 de Junho de 2019

_Local
Teatro Municipal Trianon            
Rua Marechal Floriano, n◦ 211 – Campos dos Goytacazes

_Evento no Facebook
https://www.facebook.com/events/369426743777374

PROGRAMAÇÃO

19h30 – Exibição do filme ‘A Revolução em Paris’ (2018) *

21h30 – Debate ‘A mulher na Revolução’
Com participação de

Natália Soares Ribeiro, 
professora da Rede Estadual e Assistente Social

Campos Marcia S. R. Carneiro, 
professora de História da UFF Campos  

* Classificação indicativa: 14 anos


terça-feira, 18 de junho de 2019

Ctrl+c/Ctrl+v n.4 - Entrevista Emir Sader


Nesta manhã de 18 de junho fui convidado pela equipe do programa Folha no Ar da Radio Folha FM para compor a bancada de entrevistadores do professor Emir Sader que está em Campos para o lançamento de seu “Lula e a esquerda do século XXI”, livro recém lançado de sua autoria pela Editora da UERJ e pelo Laboratório de Políticas Públicas na mesma instituição. Quem desejar adquirir um exemplar por R$30,00 a unidade basta escrever diretamente para o professor: emirsader@uol.com.br

Por conta de um compromisso com a TVT que requisitou o prof. Emir em sua participação no Jornal Brasil Atual ,  acabou que eu concebi uma breve entrevista abordando questões da conjuntura política nacional e local:







Já a entrevista propriamente do prof. Sader onde conversamos sobre Brasil, América Latina, Lula, neoliberalismo e #vazajato está disponível nos vídeos seguintes:






                                          


quinta-feira, 6 de junho de 2019

Restaurante Popular: qual política está posta na mesa? (parte 2)



Restaurante Popular: qual política está posta na mesa? (parte 2)

Por Bruna Machel e Paulo Sérgio Ribeiro

1.            Um breve balanço 

Meses se passaram desde que iniciamos este texto (aqui) e, vale dizer, as motivações para concluí-lo incorporam as vozes das mulheres e homens que tornaram possível o Movimento em Defesa do Restaurante Popular.

De lá para cá, quais avanços e resistências constatamos no debate acerca da reabertura do Restaurante Popular?

Um primeiro avanço, sem dúvida, dá-se no controle social e mobilização dos usuários da assistência social, movimentos sociais, intelectuais e segmentos de esquerda na defesa do caráter universal e acessível dessa política de segurança alimentar e nutricional, em contraponto ao modelo original CESAN, apresentado pela Prefeitura Municipal de Campos. Seja em plenárias no Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), seja em atos de protesto tais como o almoço a R$ 1,00 que nós, Movimento em Defesa do Restaurante Popular, promovemos em frente ao Restaurante Popular Romilton Bárbara em 28/03/2019, dentre outras. Consolidamos não somente uma concepção de projeto consonante com a dinâmica real da cidade de Campos, levando em conta os direitos sociais dos trabalhadores e trabalhadoras, como também impulsionamos participação direta desses setores nas decisões de interesse público.

Um segundo avanço concreto foi a reabertura das discussões junto a Prefeitura de Campos, que reconheceu, em plenária extraordinária do dia 05 de Abril no CMAS, haver a necessidade de reduzir os valores estimados no preço das refeições. Reconhecimento este que, no entanto, não garante alteração em pontos do projeto que nos parecem fundamentais.

As resistências, a serem detalhadas adiante, concentram-se nos seguintes aspectos: a) os critérios de focalização no Restaurante Popular; b) a efetividade ou não deste serviço em sua correlação com outras políticas setoriais.

Os referidos aspectos se complementam, haja vista o que está verdadeiramente em jogo: uma cidade que inclua todos(as) os(as) trabalhadores(as) à vida urbana. Noutros termos, tratar das condições de retomada do Restaurante Popular diz respeito, fundamentalmente, às lutas populares contra a lógica da acumulação capitalista que mercantiliza o espaço urbano, bem como perpetua o acesso desigual aos serviços e benfeitorias nele existentes. 

Seguindo a concepção original de Henry Lefebvre (2008) acerca do “direito à cidade”, avaliar em que medida se realiza a gestão pública de um restaurante que faça jus à alcunha de “popular” é pensar a área central de Campos dos Goytacazes não como mero lugar de consumo, mas, sobretudo, como o direito a uma “centralidade renovada, aos locais de encontro e de trocas, aos ritmos de vida e empregos de tempo que permitem o uso pleno e inteiro desses momentos e locais etc.”[1]

Desse modo, apresentamos uma crítica propositiva do serviço público a ser executado no Restaurante Popular, defendendo-o como a concretização de um espaço de encontro e de convívio de diferentes classes e grupos sociais no que tange ao direito universal à alimentação saudável.

2.            O foco da política

Neste blog, já revisamos as mediações analíticas entre duas orientações da política social - focalização e universalização -, demonstrando como elas podem se interpenetrar na realidade a depender da concepção de justiça social adotada em face dos conflitos distributivos (
aqui).

Tomando por referência aquela discussão teórica e, sobretudo, a validação da mesma no diálogo com diferentes segmentos dos(as) trabalhadores(as), esclarecemos aqui nossa divergência quanto aos critérios de focalização para o Restaurante Popular estabelecidos pela gestão Rafael Diniz.

Relembremos: no “projeto” do Centro de Segurança Alimentar e Nutricional (CESAN), nomenclatura com a qual será rebatizado o Restaurante Popular, delimita-se o público-alvo conforme critérios de renda que justifiquem ou não a gratuidade das refeições.

Quais critérios? Pessoas com renda mensal familiar per capita de até R$ 178,00 inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) terão gratuidade nas refeições; também por meio do CadÚnico, pessoas cuja renda mensal familiar per capita seja de até três salários mínimos ou com renda superior a três salários mínimos, desde que vinculadas a programas sociais em quaisquer esferas de governo mediante inscrição no CadÚnico, terão acesso às refeições pagando a metade do valor a ser licitado.

No sítio oficial da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (aqui), lança-se mão de uma estimativa do preço das refeições conforme o valor licitado no último contrato administrativo concernente ao Restaurante Popular:


Ainda segundo o órgão responsável - a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (SMDHS) -, demais usuários que não se enquadrem em nenhum dos critérios de renda mencionados, pagarão o valor “normal” das refeições, o que põe em xeque a cobertura do serviço em face de inúmeras situações de vulnerabilidade de pessoas cuja renda é depreciada no mercado informal de trabalho.

Ademais, outra proposição se mostra problemática por derivar de um provável erro do diagnóstico que, em tese, justificaria o discurso oficial em torno do CESAN: a priorização dada a pessoas em situação de vulnerabilidade social e à população em situação de rua a partir de sua inscrição obrigatória no CadÚnico.

Ora, alguém indagaria, por que ser contrário à gratuidade de refeições ofertadas pelo poder público a quem se encontra em estado de pobreza ou de extrema pobreza? Não seria autoevidente a justificativa para tal? Será que apontar possíveis equívocos quanto a isso não é recair numa visão elitista da relação entre Estado e sociedade?

Sem ilusões: há muitos ardis nesta discussão e negá-los nada mais é do que subestimar a complexidade da pobreza estrutural em nosso município.

Não discordamos de que pessoas empobrecidas devam ter acesso facilitado aos serviços públicos. Há relativo consenso quanto àquela premissa. Porém, há objeções factuais ao desenho da política de segurança alimentar e nutricional esboçado pela gestão Rafael Diniz. São elas:

1)      Uma quantidade nada desprezível de pessoas muito pobres e/ou em situação de rua não dispõe de documentos pessoais ou, pior, sequer da própria identidade pessoal (algumas são acometidas de doenças mentais inclusive), tendo em vista a precariedade à qual estão submetidas em suas existências. Assim sendo, a obrigatoriedade de inscrição do CadÚnico, que de automática nada tem, implicaria, na prática, uma barreira de acesso ao pretenso público-alvo do Restaurante Popular.

O Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua - Centro POP, por exemplo, que tem como função social oferecer mínimas condições de dignidade e sociabilização das pessoas que se encontram em situação de rua, ainda não conseguiu solucionar o enorme problema de sub-cadastramento desta população no Cadastro Único de Programas Sociais. Segundo estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), apenas 47,1% da população em situação de rua está devidamente cadastradas no Cadastro Único (dados de 2015) [2]

2)      Objetivando a segurança alimentar das pessoas extremamente pobres, os restaurantes públicos não devem servir de substituto de políticas de focalização. Nesse sentido, é indispensável reativar o programa municipal de complementação de renda, possibilitando autonomia às famílias na aquisição dos alimentos necessários à sua subsistência. A focalização da assistência social, nestes casos, ataca o problema da fome considerando a forma espacialmente difusa em que ela se manifesta.

3)          A seleção do público-alvo do Restaurante Popular mediante critérios de renda subjacentes ao CadÚnico, além de acarretar entraves burocráticos, jogaria uma pá de cal na perspectiva da alimentação saudável enquanto direito universal. Não menos, um agravo: a anulação daquela perspectiva ocorreria sob o custo de estigmatizar seus usuários ditos “prioritários”.

Avaliar riscos de estigmatização não é uma perfumaria, se pesarmos o histórico de instrumentalização política da pobreza que empresta uma fisionomia à institucionalidade local, um verdadeiro caldo de cultura no e pelo qual os aprendizes neoliberais de hoje e os carcomidos “garotistas” de ontem têm, digamos, muito a confraternizar no que aparentemente os opõem na arena partidária. 

Em contraponto às vicissitudes daquela arena partidária, o que constatamos no almoço/protesto que realizamos em 28/03/2019? Pessoas socialmente vulneráveis, que na fila se dispuseram para almoçar, compravam uma, duas, três (e, em alguns casos, mais do que três) refeições por nós vendidas a R$ 1,00. Mais do que aproveitar o preço módico que definimos, confirmávamos ali que o ato de alimentar-se é inerente a um bem primário: autorrespeito.

Dito de outro modo: absolutamente ninguém solicitou a gratuidade da refeição. Nós mesmos, organizadores(as) do almoço, revezamo-nos nas tarefas para nos juntarmos aos(às) concidadãos(as) para aguardar a vez de almoçar pagando também R$ 1,00.

Autorrespeito (e autoestima) é um bem primário e, a princípio, impossível de ser distribuído diretamente por uma gestão municipal. Contudo, a percepção de si como a afirmação de sua pertença à uma comunidade de iguais – uma promessa irrecusável da Modernidade –, é um padrão moral de reconhecimento afetado pelo modo como outros bens igualmente primários são distribuídos, tais como renda, riqueza, acesso a oportunidades educacionais e ocupacionais e provisão de serviços.

Sendo assim, adotar um preço único para as refeições seguindo a média nacional dos preços praticados em restaurantes populares (algo entre R$ 2,00 e R$ 3,00) é não só viável, mas necessário para restituir (ou, ao menos, aproximarmo-nos de) um igual status de cidadania das pessoas em nossa urbanidade. Noutros termos, não há como projetar a efetividade do serviço “Restaurante Popular” sem pensá-lo enquanto uma política redistributiva que torne realmente a área central da cidade um patrimônio do povo campista; do contrário, confirmaremos aquilo que ele sempre foi: um escalonamento social em que cada um(a) sabe qual é o “seu” lugar.

No entanto, em uma das “sugestões de operacionalização do CESAN”, chama-nos atenção a notória ausência de uma perspectiva de urbanidade que sedimente a igualdade democrática entre nossos(as) trabalhadores(as):

Considerando as dimensões territoriais do município e a localização do CESAN diante dos custos do transporte, as pessoas em situação de rua e em extrema pobreza e pobreza terão gratuidade em todas as refeições [3]. 

No discurso oficial do CESAN, a crise do transporte coletivo seria facilmente contornável se tomássemos o Restaurante Popular por uma espécie de política “tampão” para serviços de utilidade pública disfuncionais ou, quiçá, inexistentes em certas localidades do município. Ora, segurança alimentar e nutricional mantém uma interface com a política de assistência social sem, contudo, confundir-se com a mesma, uma vez que é fundamentalmente uma ação intersetorial.

Para não recairmos em falácias, indaguemos: o que viria a ser uma ação intersetorial?

3.            Ação intersetorial

A intersetorialidade, antes de ser um conceito, é uma contingência na administração pública dos dias atuais. Atingir graus satisfatórios de eficiência e eficácia nas ações e programas de quaisquer esferas de governo envolve, cada vez mais, incorporá-la na implementação das políticas setoriais.

Conceber e executar uma política pública assumindo de modo consciente a dimensão da intersetorialidade implica, pois, que exista pelo menos algum ensaio de agenda pública em que diferentes setores possam compartilhar objetivos comuns e, consequentemente, articular saberes técnicos na construção de um Estado social em determinado território.

Dito isto, o que vemos no processo de reativação do Restaurante Popular?

Uma sobreposição da Assistência Social (com os discutíveis critérios de focalização já mencionados) às demais políticas públicas sem qualquer arremedo de uma metodologia que lhes proveja articulação tendo por lastro um diagnóstico local sobre a insegurança alimentar e nutricional.

É sintomático a ausência de uma abordagem intersetorial do Restaurante Popular quando observamos a relação espúria que seus gestores estabelecem entre a gratuidade das refeições, a localização daquele serviço e o custo do transporte coletivo.

Ora, a resolução de um problema se insinua na maneira como o formulamos.

Desatemos os nós: desde a promulgação da Lei da Terra (1850), que formalizou a propriedade privado do solo no Brasil, a terra se tornou mercadoria. Não diferente de outras cidade de médio e grande porte, em Campos dos Goytacazes a urbanização se deu de forma desigual, sobretudo e de forma mais acentuada após o processo de falência das usinas de cana-de-açúcar na década de 1980, que promoveria enorme êxodo rural, reservando a essas trabalhadoras e trabalhadores as periferias. A área central de Campos dos Goytacazes confirma, pois, a lógica da segregação socioespacial, que sobrepõe interesses privados ao interesse comum, na medida em que o direito à propriedade passou a ser ditado por uma política liberal, tornando opaca, assim, a substância daquele direito constitucional: a função social da propriedade[4]

Trocando em miúdos: a pouca (nenhuma?) intervenção do Estado no mercado de terras subordina o planejamento urbano à especulação imobiliária, a qual nada mais faz do que reduzir terras e imóveis à sua função econômica, isto é, à sua valorização futura, concentrando-os, desse modo, nas mãos das frações da classe média que tenham inserção privilegiada no mercado de trabalho para adquiri-los segundo seu valor de uso e/ou nas mãos da elite do dinheiro que se volta aos mesmos, sobretudo, pelo seu valor de troca.

O reverso desta moeda chamada urbanização capitalista é o rebaixamento das condições de vida dos(as) trabalhadores(as) com menores rendimentos econômicos, relegando-os(as) às áreas de infraestrutura precária e distantes das melhores localizações quanto a serviços e ocupações devido à sua impossibilidade de participar do mercado formal de habitação e/ou a políticas de remoção arbitrárias e inconsequentes. Um bom exemplo é o programa municipal de habitação Morar Feliz (em Tapera, Eldorado, Aldeia, etc.) que, a fim de oferecer moradia para pessoas que viviam em "áreas de risco", empurrou-as para regiões ainda distantes do centro, desprovidas de serviços públicos mínimos, ou seja, insuficiente transporte público, ausência de creches, escolas, postos de saúde e segurança pública, o que redesenhou a favelização do município [5].

Expostos os parâmetros analíticos, poderíamos devolver os “comos” e porquês” aos seus devidos lugares: não é o custo do transporte coletivo que justificaria a gratuidade de refeições para segmentos mais pobres da população campista[6]. O divórcio entre o direito à moradia dos(as) mais pobres – que só podem usufruí-lo em determinadas áreas urbanas, a saber, as piores sob quaisquer quesitos – e o direito à cidade, enquanto acesso pleno aos serviços e oportunidades, é que os(as) impede de participar da vida social sob os mesmos patamares civilizatórios.

O mínimo social que prenunciasse uma “Cidade para os(as) Trabalhadores(as)” compreenderia aqui a universalidade de cobertura do serviço “Restaurante Popular” mediante o subsídio público de um razoável preço único das refeições. 

Afinal de contas, por que um serviço tão essencial como o pertinente à política de segurança alimentar e nutricional é interrompido e ninguém se escandaliza? Responder a essa pergunta revela o quão ocioso é estabelecer a burocratização do acesso da parcela hipossuficiente da população campista a um serviço público que, em verdade, jamais deveria ter fechado as portas.

As descontinuidades administrativas com a sucessão de governos e seus reflexos em áreas sensíveis como segurança alimentar e nutricional são de tal monta em Campos dos Goytacazes, que chegamos até a suspeitar que nossa “elite do atraso”[7] não precisa mesmo de maiores esforços para legitimar sua vida e visão de mundo.

Ora, o Estado mínimo não é um dado conjuntural na paisagem campista, mas um projeto de poder radicado na pobreza estrutural de uma classe trabalhadora cada vez mais entregue à própria sorte nesta era de regressão dos direitos civis e sociais que, tragédia anunciada, desagua em uma cidade que jamais assumiu o passivo social que a escravidão nos deixou.


[1] Cf. LEFEBVRE, Henry. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2008, p. 139.
[3] Ver o slide nº 13 do documento “Centro de Segurança Alimentar”. Disponível em: https://www.campos.rj.gov.br/newdocs/1545073876projeto-cesan.pdf. Acesso em 28/04/2019, às 18h59min.
[6] Transporte coletivo é uma competência municipal, assim reza a Constituição Federal (art. 30, V). Se a concessão deste serviço público essencial a empresas privadas não supre as reais necessidades dos(as) trabalhadores(as), não cabe à gestão municipal tomar tal regime por um dado da natureza, mas como um ato político passível de revisão com vistas ao interesse local. 
[7] A expressão é uma óbvia alusão ao provocante livro do sociólogo Jessé Souza. Cf. SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017.