O professor José
Luis Vianna da Cruz* nos brinda com mais um texto em que a fina ironia e o rigor analítico guiam seu olhar
atento para a conjuntura nacional:
VIVA A BALBÚRDIA UNIVERSITÁRIA!
O Governo Federal de plantão está tentando destruir
a Educação, com requintes de crueldade. O que está fazendo com o Ensino
Superior e as Instituições Federais é um crime de lesa-humanidade, a pretexto
de uma certa “balbúrdia universitária”!
Não vou defender a Universidade pela linha do
ensino, da extensão e das pesquisas, ou seja, da contribuição para a Ciência,
Tecnologia e Inovação. É cinismo e hipocrisia não reconhecer isso,
principalmente graças à Universidade Pública e Gratuita.
Vou destacar a Universidade pelo seu papel
essencial na formação do cidadão, nos campos da sociabilidade, da cultura, das
artes e da política; vou exaltá-la pela linha da liberdade, da crítica, da
independência, da autonomia e da luta por um mundo melhor.
Nessa linha, a Universidade é pura balbúrdia. Ela
questiona e sacode os valores estabelecidos, as convenções fossilizadas, o
conformismo submisso, a subalternidade, a passividade, a falta de crítica, as
formas de dominação, a ordem injusta e a alienação. Ao lado da reflexão, do
conhecimento, da ciência e da experimentação, é função da Universidade praticar
a rebeldia, a indignação e o inconformismo, e se comprometer com as lutas pelas
mudanças direcionadas para a construção de um mundo melhor.
Nós, Universitários da Balbúrdia, somos pela
contestação da ordem conformista e pela construção de um outro mundo,
solidário, democrático, generoso, equitativo e harmônico, em termos
humanitários e ambientais. Por isso, marchamos ao lado dos pobres, dos
favelados, dos ambientalistas, dos militantes da diversidade de gênero e raça,
dos camponeses, dos indígenas, dos sem teto e sem terra, dos excluídos; enfim,
das minorias e maiorias invisibilizadas, destituídas e descartadas pelas
elites.
Por ser democrática, a Universidade possui todos os
defeitos e virtudes. Tudo o que temos, de bom e ruim, é vivenciado e trabalhado
publicamente, como numa Democracia.
Na Universidade seguimos leis, normas, portarias,
hierarquia, rituais, calendário, organogramas e cronogramas. A pressão por
produtividade está sufocando a autonomia e a liberdade necessárias à
criatividade. Somos uma das instituições mais engessadas e fiscalizadas da
nossa Nação. Toda essa ordem é seguida e contestada, simultaneamente. A
balbúrdia é justamente a liberdade e a autonomia na institucionalidade.
A Universidade é, obrigatoriamente, escola de
política. E o Movimento Estudantil é um grande formador de cidadãos. Eu comecei
minha formação política como Presidente da LAECE, o Grêmio do Liceu de
Humanidades de Campos, em 1968, graças ao estímulo da Profa. Arlete Sendra, uma
das nossas maiores intelectuais. Continuei minha formação política no Diretório
Acadêmico do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, ocupando a
Diretoria entre 1975 e 1978, quando me formei. A queda da Ditadura e o retorno
da Democracia devem muito à Balbúrdia Universitária. No Norte Fluminense, nós,
da galera da balbúrdia universitária, vimos construindo, há décadas, um imenso
e eficiente Complexo de Ensino Superior, nacionalmente destacado.
Deixem a Universidade em paz! Viva a balbúrdia
universitária!
José Luis Vianna da Cruz – da Balbúrdia
Universitária
* Doutor em Planejamento Urbano e Regional (UFRJ) e Professor Colaborador da UFF/Campos dos Goytacazes.
* Doutor em Planejamento Urbano e Regional (UFRJ) e Professor Colaborador da UFF/Campos dos Goytacazes.
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