Eleições 2022 - Lula e a questão Alckmin**
Luis Felipe Miguel***
O IPEC - antigo Ibope - mostra Lula lá na frente, ganhando folgado no primeiro turno. Está quase 30 pontos à frente de Bolsonaro. Moro, com carnaval da mídia e tudo, não chega a dois dígitos, acompanhado de perto por meio Ciro - isto é, aquele Ciro Gomes que parece condenado a fazer metade de sua votação anterior.
Para quem insiste no "antipetismo" como fator atuante na eleição presidencial, como ainda faz boa parte da mídia, está na hora de virar o disco. Lula não apenas é capaz de levar no primeiro turno como tem, também com folga, a menor taxa de rejeição entre os principais candidatos - menor até que a de nanicos como João Doria.
Os números também permitem recolocar a questão da vice. Os defensores mais argutos da chapa com Alckmin já deixaram de lado a questão do impacto eleitoral da composição. Assumem que, embora a presença de Alckmin não tire votos, já que o eleitorado do campo democrático não tem para onde correr, também não acrescenta.
A questão, dizem, é a garantia de "governabilidade" que o ex-governador acrescenta à chapa. E a questão é exatamente esta: governabilidade para quê?
Alckmin na vice é um indicativo poderoso de que Lula, novamente presidente, não afrontará os interesses dominantes no Brasil. Que aceitará os limites impostos, ainda maiores do que aqueles dos primeiros mandatos.
É a espada de Dâmocles pendente sobre a cabeça do novo governo, pronta a cair caso se dê um passo fora da linha.
Nós precisamos, porém, não de "governabilidade" em abstrato, mas de condições políticas para a transformação do país. Para mexer na política tributária, na política agrária, na mídia, militares, mercadores da fé.
Isso só se faz com ação para mudar a relação de forças, isto é, com mobilização e organização do campo popular.
Lula é um político de enorme competência, que sabe medir o pulso das conjunturas. Não adianta esperar que ele tome a iniciativa de adotar posições menos acomodatícias.
O necessário é fazer pressão.
Este foi o erro ao longo dos governos petistas - boa parte dos movimentos abriu mão de fazer pressão, julgando que seu papel era apenas defender os companheiros no poder. Mas as classes dominantes nunca param de fazer pressão, com todos os muitos meios de que dispõem.
Se a pressão vem de um lado só, é natural que obtenha êxito e empurre o governo para o conservadorismo.
Infelizmente, a postura de muitos diante da questão da vice - abster-se de tomar posição, aceitar qualquer decisão - mostra que, uma vez mais, o risco é de um governo sempre na defensiva, condenado a fazer muito pouco e sob ameaça permanente.
* James Rougeron -"Fighting Man" - 1818. Disponível em: https://www.mutualart.com/Artwork/Fighting-Men/0D93A954FA51F127, acesso em 16 de dezembro de 2021.
** Publicado originalmente no perfil do Facebook do prof. Luis Felipe no dia 15 de dezembro de 2021. Reproduzimos aqui com a autorização do autor.
** Professor titular livre do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demodê). É autor de "Democracia e representação: territórios em disputa" (Editora Unesp, 2014), "Dominação e resistência" (Boitempo, 2018), dentre outros. Está lançando neste final de 2021 "Democracia como emancipação" junto de Gabriel Eduardo Vitúlio pela editora Zouk.
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