domingo, 5 de março de 2017

Urge um novo consenso

Urge um novo consenso *

George Gomes Coutinho **

É preciso olhar a conjuntura com certa frieza e racionalidade. O Brasil anda flertando de forma tão perigosa com o abismo que corre o risco de tornar-se o próprio. Observemos um conjunto de elementos no âmbito do sistema internacional e no cenário doméstico. Comecemos atentando para o que está nos arredores.

Ian Bremmer, CEO da Eurasia Group, empresa de consultoria política que anda fazendo sucesso entre investidores do mercado financeiro, defende que chegamos num ponto de transição geopolítico. Bremmer acredita que alcançamos o fim do que os analistas chamam de pax americana após a chegada de Donald Trump na Casa Branca. Pax americana, termo que não consigo ler sem sentir algum desconforto, afinal o predomínio norte-americano no sistema jamais foi pacífico, expressa a ordem mundial pós-1945 onde um status quo de liberação comercial e integração mercadocêntrica foi construído paulatinamente. O protecionismo pregado por Trump seria a razão da fratura da pax americana. Mais detalhes desta interpretação podem ser conhecidos no documento “Top Risks 2017: The geopolitical recession”, disponível no próprio site da Eurasia Group.

Na esfera doméstica irei enumerar só algumas variáveis: 1) a dilapidação do que seria o esboço do Estado Providência nacional com a destruição de direitos sociais jamais implantados plenamente pós Constituição de 1988; 2) A implantação de medidas recessivas duríssimas que alijam o Estado como agente econômico; 3) A falência das políticas de segurança que redundaram como resultado prático na morte de 142 presos custodiados pelo Estado nos primeiros 15 dias do ano; 4) As taxas de juros mais altas dentre as grandes economias do mundo e o endividamento estratosférico, tanto para pessoa jurídica quanto para pessoa física, em um patamar insustentável; 5) Seis, isso mesmo, seis empresários brasileiros tem a mesma renda que mais ou menos 100 milhões de habitantes no Brasil;  6) O chamado “desemprego ampliado” no Brasil atinge 21,2% da população economicamente ativa.

Urge um novo consenso ou o Brasil perderá a primeira metade do século XXI em definitivo.

* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 04 de março de 2017


** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes

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