Autocrítica, PSDB e PT *
George
Gomes Coutinho **
Há semanas atrás, ainda no mês de
agosto, o Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB, apresentou uma
propaganda partidária que suscitou reações acaloradas e estranhamento entre
gregos, troianos e baianos. Será impossível debater aqui neste espaço todas as
contradições ali presentes. Todavia causa perplexidade a crítica de FHC ao que
ele anda chamando ultimamente de “presidencialismo de cooptação”, tema
apresentado na propaganda partidária, sem reconhecer que parte do DNA deste
tipo de relação entre legislativo e executivo é tucano.
Porém ressalto algo que considero
importante para a conjuntura. Há a tentativa de realizar a autocrítica. Mesmo
que o texto veiculado seja insuficiente, inegavelmente superficial e por vezes
piegas, o exercício da autocrítica tenta estabelecer uma nova relação entre
partido e eleitorado. Ou seja, para além de seus convertidos, os tucanos sabem
que precisam abrir o diálogo com amplos setores da sociedade em virtude da
desconfiança endêmica dos cidadãos com seus representantes.
O Partido dos Trabalhadores,
doravante PT, anda seguindo caminho diverso neste momento em que os partidos e
a classe política são alvejados diariamente no espaço público.
O PT sem dúvida sofreu diversos
reveses nos últimos anos e conta com a fadiga de material causada pelos anos
sucessivos no executivo federal. Para além disso tem atuado, em termos táticos,
cuidando de outras questões: 1) a denúncia das não poucas contradições do
processo de impeachment de Dilma Roussef, onde apresentam a tese do golpe
parlamentar; 2) o combate à “lawfare” (guerra jurídica) cujos alvos seriam Lula
em particular e o PT em geral.
Não desconsiderando a seriedade
destas questões, que fazem parte da guerra de narrativas em voga, o PT peca
para além de seu círculo de militantes e/ou simpatizantes. Ou seja, tanto a lawfare
quanto o golpe parlamentar até o momento só enternecem os integrados. O
auto-elogio também não tem ajudado. Serei excessivamente redundante para fins
didáticos: é como Cristo pregando a cristandade entre os cristãos. Por isso a
autocrítica, para além de abrir o diálogo com grupos não petistas, pode ser uma
excelente terapia em um sistema político em estado terminal.
* Texto publicado em 16 de setembro de 2017 no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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