domingo, 17 de setembro de 2017

Autocrítica, PSDB e PT

Autocrítica, PSDB e PT *

George Gomes Coutinho **

Há semanas atrás, ainda no mês de agosto, o Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB, apresentou uma propaganda partidária que suscitou reações acaloradas e estranhamento entre gregos, troianos e baianos. Será impossível debater aqui neste espaço todas as contradições ali presentes. Todavia causa perplexidade a crítica de FHC ao que ele anda chamando ultimamente de “presidencialismo de cooptação”, tema apresentado na propaganda partidária, sem reconhecer que parte do DNA deste tipo de relação entre legislativo e executivo é tucano.

Porém ressalto algo que considero importante para a conjuntura. Há a tentativa de realizar a autocrítica. Mesmo que o texto veiculado seja insuficiente, inegavelmente superficial e por vezes piegas, o exercício da autocrítica tenta estabelecer uma nova relação entre partido e eleitorado. Ou seja, para além de seus convertidos, os tucanos sabem que precisam abrir o diálogo com amplos setores da sociedade em virtude da desconfiança endêmica dos cidadãos com seus representantes.   

O Partido dos Trabalhadores, doravante PT, anda seguindo caminho diverso neste momento em que os partidos e a classe política são alvejados diariamente no espaço público.

O PT sem dúvida sofreu diversos reveses nos últimos anos e conta com a fadiga de material causada pelos anos sucessivos no executivo federal. Para além disso tem atuado, em termos táticos, cuidando de outras questões: 1) a denúncia das não poucas contradições do processo de impeachment de Dilma Roussef, onde apresentam a tese do golpe parlamentar; 2) o combate à “lawfare” (guerra jurídica) cujos alvos seriam Lula em particular e o PT em geral.

Não desconsiderando a seriedade destas questões, que fazem parte da guerra de narrativas em voga, o PT peca para além de seu círculo de militantes e/ou simpatizantes. Ou seja, tanto a lawfare quanto o golpe parlamentar até o momento só enternecem os integrados. O auto-elogio também não tem ajudado. Serei excessivamente redundante para fins didáticos: é como Cristo pregando a cristandade entre os cristãos. Por isso a autocrítica, para além de abrir o diálogo com grupos não petistas, pode ser uma excelente terapia em um sistema político em estado terminal.

* Texto publicado em 16 de setembro de 2017 no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.


** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes

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