Personalidades Autoritárias*
George
Gomes Coutinho **
Hã questões que se não forem
devidamente trabalhadas, discutidas e exorcizadas retornam implacavelmente nas
almas dos vivos. Eis uma inspiração marxista e também freudiana bastante útil
para indivíduos e coletividades. Dentre as nossas questões que retornam de
maneira constrangedora no Brasil polarizado de hoje as garras do autoritarismo
arranham os porões e muitas vezes alcançam de maneira desavergonhada o espaço
público.
Revisitei o clássico “Authoritarian Personality” de Theodor W. Adorno (1903-1969) et. al.. O livro, publicado
originalmente em 1950 nos EUA apresenta a famosa “escala F” que pretendia
mensurar, mediante a aplicação de um teste, o grau de “Fascismo” reproduzido
nos valores e atitudes de um indivíduo.
Já Umberto Eco (1932-2016) em seu
“Ur-Fascism”, artigo publicado na New York Review of Books em 1995, argumenta
que o “Fascismo Histórico”, aquele experimentado no período em que Mussolini (1883-1945)
dominou politicamente a Itália no século passado, foi um regime autoritário
inegavelmente de extrema-direita. Não obstante a falência do “Fascismo
Histórico”, Eco se encontra com o diagnóstico de Adorno ao indicar que há um
fascismo em nossos dias. Menos como regime de Estado e mais como constelação de
atitudes e discursos. Os lamentáveis episódios promovidos ultimamente pela
extrema-direita nos arredores do globo confirmam de forma sinistra esta
interpretação.
Contudo, o autoritarismo enquanto
prática e valor político jamais foi monopólio da direita. Em verdade a esquerda
igualmente flertou e flerta com soluções e posturas autoritárias aqui e
alhures. Neste sentido falarmos em “personalidades autoritárias” no plural soa
melhor dado que o autoritarismo se reencarna nos dois lados do espectro
político. Eu diria que tanto a direita quanto a esquerda em suas aparições
autoritárias neste momento caminham de mãos dadas, como em outros momentos em
nosso país, no desprezo aos aprendizados lentos proporcionados pela democracia
política. O que atordoa é que se juntam a estes grupos o pragmatismo amoral dos
grandes agentes de mercado que igualmente nutrem asco pela democracia política.
* Texto publicado em 09 de setembro de 2017 no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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