segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Carta a Oscar Grau




Carta a Oscar Grau*

Prezado Senhor Oscar Grau, diretor executivo do Barcelona Futebol Clube, venho, por meio deste, iniciar as tratativas sobre minha contratação para solucionar os problemas apresentados ao clube após a contusão do Suárez. Sou brasileiro e, como o senhor bem deve saber, por aqui estamos em uma nova etapa política, econômica e, sobretudo, discursiva/narrativa. Inspirado pelo momento ímpar que vivemos, decidi me apresentar para atuar ao lado de Messi e demais atletas. Tenho um curriculum invejável, com mais de dois mil gols marcados – isso sem contar aqueles que fiz no Fifa (jogo desde 1994!) e no Pes. Infelizmente perdi as gravações do gol 2000, um momento único na história do futebol nacional onde milhares de torcedores foram à loucura nas arquibancadas do monumental estádio do Folha Seca. De lá pra cá, perdi a conta, pois parei de me preocupar com as estatísticas e as análises técnicas – assim como aconteceu com o restante do meu país. Todavia, do mesmo modo que no Brasil a economia vai de vento em popa, o desemprego foi aniquilado e a ciência avança como nunca - graças à vontade do Design Inteligente de Deus -, meu futebol está cada vez mais afiado. No ano passado fui cotado para liderar o ataque do Flamengo, mas as negociações não avançaram. Fui vítima de sabotagem, sabe como é, né? Com um clube vermelho, as ideologias esquerdistas impediram meus ataques pela direita. Ficaram com o vice do Mundial – Deus castiga! Parte da mídia esquerdista pode tentar boicotar minha contratação, alegando que não há registro de minha atuação em grandes times e que minha idade está avançada. Vou dizer a verdade: não jogo em time petista, então meu futebol evoluiu individualmente, iluminado por minha fé e pela minha galhardia. A idade? Ah, quem está envelhecendo neste corpo sou eu e posso garantir que estou a cada dia mais virtuoso. Posso conversar com o Messi para que ele não se sinta ameaçado e meu salário não precisa ser maior que o dele, podemos começar com igualdade salarial para expressar minha humildade. Quando não fizer gols, farei arminha com a mão e a torcida entrará em êxtase! Se o time perder, a gente diz que é herança do Suárez! Meu agente entrará em contato. Abraço! #muitomaisqueumjogador #brasildistopico

Carlos Valpassos
Antropólogo – Universidade Federal Fluminense.

Publicado no Jornal Folha da Manhã em 01 de Fevereiro de 2020

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