domingo, 18 de setembro de 2016

Consenso de Washington reloaded

Consenso de Washington reloaded*

George Gomes Coutinho **

Matrix, trilogia cinematográfica orquestrada pelos irmãos Wachowski, causou furor na virada do século XX para o nosso século XXI. O segundo filme da seqüência, lançado em 2003, foi batizado de “Matrix Reloaded” e desde então o termo “reloaded” é utilizado como referência para sensações de continuidade nem sempre alvissareiras em diversas reflexões. Nesta toada, a sensação de déjà vu com os anos 1990 causada pela agenda do governo Temer nos remete necessariamente ao inglório Consenso de Washington. Interpreto como um verdadeiro Consenso de Washington reloaded.

Situando o leitor, o Consenso de Washington encabeçado pelo tesouro norte-americano agradou elites financeiras dos países mais ricos do mundo e diversos grupos da América Latina, o que inclui parte de suas oligarquias. Na prática consistiu em um conjunto de remédios liberais amargos que quase levou os seus pacientes a óbito. Naquela ocasião, propostas de privatização, desregulamentação de direitos trabalhistas e sociais, liberalização da economia, desmantelamento do Estado e sua capacidade de investimento afloraram como soluções inquestionáveis pretensamente capazes de produzir o paraíso terrestre.

O conjunto de medidas recessivas se traduziu em nações com baixa capacidade de distribuição de renda e a perda de soberania decisória dos executivos nacionais no que tange o gerenciamento de suas próprias economias. Naquele momento o Fundo Monetário Internacional gozava de prerrogativas que negavam até mesmo a mais remota pretensão de soberania.

Neste 2016, o FMI não é o mesmo e reconhece em prosa e verso os equívocos que destruíram economias ao redor do mundo com seu receituário. Todavia, o mea culpa parece não ter seduzido os tomadores de decisão nativos. Cabe um alerta: as medidas recessivas produziram um efeito não desejado para os liberais de então e pode se repetir agora com a resistência derivando na aglutinação de movimentos sociais, sindicatos e partidos na esquerda do espectro político. Os resultados eleitorais todos sabemos. Medidas recessivas não são sedutoras mesmo que tentem vender hoje o mesmo discurso de pouco mais de duas décadas atrás.

* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 17 de setembro de 2016.


** Professor de Sociologia no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes.

2 comentários:

  1. Pelamordedeus, George, você apresenta seu texto no facebook como "modesta contribuição"????

    Que é isso, meu caro, vou repetir: Estás a jogar pérolas aos porcos naquela pocilga editorial e ainda se revestes de "humildade"????

    Contribuição boa seria a de quem, do padre ryffan ou do cretino do ranulfo????

    Eu gostaria de debater esse seu texto com você, mas vou renunciar a qualquer conversa sobre conteúdo que tenha sido publicado naquela pocilga.

    Ah, e se quiseres falar sobre economia e "crises", vale ler Nouriel Roubini in Economia das Crises, que ele escreveu com um historiador estadunidense.

    Um abraço.

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  2. Querido Douglas,

    Não tenha dúvida... vou anotar sua indicação de leitura e irei buscar tão logo possa respirar.... A vida tem sido muito rápida por cá, problema este que não me acomete exclusivamente. É estruturante de nossos tempos.

    Sobre o termo "modesta contribuição", não tenha dúvida... Toda contribuição que eu faça, de fôlego ou não, sempre será modesta. Perecível, como deve ser a boa produção reflexiva, hard ou não. Ainda mais quando falamos de algo que tem poucas linhas.

    Não é humildade. É dar a dimensão real.

    Forte abraço

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