domingo, 13 de novembro de 2016

A globalização e a crítica conservadora

A globalização e a crítica conservadora*

George Gomes Coutinho **

O mundo ficou atônito com as notícias de 09 de novembro. Parte não escondia a euforia com a eleição de Trump. Outro grupo, este mais numeroso na opinião pública mundial, não disfarçava sua perplexidade com a vitória do republicano.

Cabe refletirmos. O que afinal o eleitorado norte-americano quer dizer com esse resultado?

Dentre as possíveis chaves de análise de um fenômeno complexo como esse, irei apostar em somente uma delas. Não irei esgotar a questão. Apenas concentrarei a interpretação em um ponto que pode ser articulado com outras perspectivas. A minha se centra na globalização como promessa de projeto civilizatório para este século XXI.

Retornando para a década de 1990, as promessas de um mundo conectado, horizontalizado, sem fronteiras, com alta mobilidade de pessoas, culturas, capitais e mercadorias era bastante sedutor. Era o mundo pós-Guerra Fria e o inimigo externo do capitalismo, o comunismo, já não assustava. Porém, como muitas promessas úmidas feitas ao pé do ouvido, as sussurradas pelo otimismo liberal pró-globalização no final do século passado não decantaram na realidade.

A globalização “real” produziu diversos efeitos colaterais. Citarei apenas três que aqui importam na construção de meu argumento: 1) A alta mobilidade dos postos de trabalho que produziu desemprego nos países sede das multinacionais; 2) Os  imigrantes provenientes de diversas origens e motivados por diversas razões foram um alento conveniente por aceitarem condições de trabalho subalternas. Contudo, após a adaptação até geracional, estes passam a competir junto aos nativos por vagas escassas no mercado de trabalho; 3) A desindustrialização, que se reflete na redução ou desaparecimento de setores industriais inteiros.

O voto em Donald Trump foi, sem sombra de dúvidas, um voto crítico a todo este processo. O problema é o conteúdo, o direcionamento. A retórica nacionalista, a nostalgia que quase sempre mente sobre um passado glorioso, faz deste um voto crítico conservador. Não se olha para o futuro e sim para o passado. Além de não enfrentar de fato o grande vencedor das últimas décadas: o capital financeiro, predatório e volátil. Muda-se tudo para não se modificar nada.

 * Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 12 de novembro de 2016


*Professor de Sociologia no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes

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