Economia e política no Rio de
Janeiro*
George
Gomes Coutinho **
O título deste artigo é somente
provocativo. Trata-se de uma óbvia alusão aos últimos acontecimentos da
política fluminense. As prisões de Anthony Garotinho e Sérgio Cabral, ambos
ex-governadores do Rio de Janeiro, colocam o estado em evidência nas páginas
político-policiais (ultimamente quase um
sinônimo). Contudo, advirto ao leitor que a conexão entre economia e política
não é algo exclusivo do Rio de Janeiro. Na verdade, a relação entre estas duas
esferas fundamentais da vida social ocorre em todos os outros estados e países.
Políticos são agentes de um
determinado sistema. Empresários operam em outra esfera, a econômica. Políticos
operam com o poder formal, onde lidam com processos de tomada de decisão e o
“poder de veto” propriamente. O empresariado, no sistema econômico, produz
indubitavelmente inovação e outros efeitos sociais palpáveis diversos sendo
estes efeitos perversos ou benéficos. Mas, o objetivo, salvo se encontrarmos um
híbrido improvável entre George Soros e Francisco de Assis, é inegavelmente
acumular, enriquecer. Neste ínterim há o
Estado, o aparato estatal, que materializa o maior agente econômico em toda e
qualquer nação. As demandas objetivas do Estado, envolvendo infra-estrutura por
exemplo, tornam os negócios estatais profundamente atraentes para os agentes do
sistema econômico. De outro lado, o poder normativo do Estado é atraente para
lobbies de toda ordem. Por fim, ainda há a mera razão econômica interferindo e
distorcendo decisões eleitorais no caso de compra de votos.
Agentes dos dois sistemas se
encontraram, se encontram e se encontrarão. As interferências, distorções e
outras tantas ressonâncias são parte do cotidiano de sociedades complexas.
Na última semana vimos
demonstrações diferentes da relação entre economia e política. No caso Cabral o
contexto histórico de grandes eventos internacionais explica o assédio de
políticos a empresários, sendo a recíproca libidinosamente verdadeira, na
disputa por executar obras de grande monta. Não há inocentes. Com Garotinho há
a interferência do argumento econômico na decisão do voto em uma sociedade desigual.
Só que a margem de escolha da população empobrecida é muito menor. São reféns.
Empreiteiros, por outro lado, são beneficiários.
* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 19 de novembro de 2016
** Professor de Sociologia no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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