domingo, 20 de novembro de 2016

Economia e política no Rio de Janeiro

Economia e política no Rio de Janeiro*

George Gomes Coutinho **

O título deste artigo é somente provocativo. Trata-se de uma óbvia alusão aos últimos acontecimentos da política fluminense. As prisões de Anthony Garotinho e Sérgio Cabral, ambos ex-governadores do Rio de Janeiro, colocam o estado em evidência nas páginas político-policiais  (ultimamente quase um sinônimo). Contudo, advirto ao leitor que a conexão entre economia e política não é algo exclusivo do Rio de Janeiro. Na verdade, a relação entre estas duas esferas fundamentais da vida social ocorre em todos os outros estados e países.

Políticos são agentes de um determinado sistema. Empresários operam em outra esfera, a econômica. Políticos operam com o poder formal, onde lidam com processos de tomada de decisão e o “poder de veto” propriamente. O empresariado, no sistema econômico, produz indubitavelmente inovação e outros efeitos sociais palpáveis diversos sendo estes efeitos perversos ou benéficos. Mas, o objetivo, salvo se encontrarmos um híbrido improvável entre George Soros e Francisco de Assis, é inegavelmente acumular, enriquecer.  Neste ínterim há o Estado, o aparato estatal, que materializa o maior agente econômico em toda e qualquer nação. As demandas objetivas do Estado, envolvendo infra-estrutura por exemplo, tornam os negócios estatais profundamente atraentes para os agentes do sistema econômico. De outro lado, o poder normativo do Estado é atraente para lobbies de toda ordem. Por fim, ainda há a mera razão econômica interferindo e distorcendo decisões eleitorais no caso de compra de votos.

Agentes dos dois sistemas se encontraram, se encontram e se encontrarão. As interferências, distorções e outras tantas ressonâncias são parte do cotidiano de sociedades complexas.

Na última semana vimos demonstrações diferentes da relação entre economia e política. No caso Cabral o contexto histórico de grandes eventos internacionais explica o assédio de políticos a empresários, sendo a recíproca libidinosamente verdadeira, na disputa por executar obras de grande monta. Não há inocentes. Com Garotinho há a interferência do argumento econômico na decisão do voto em uma sociedade desigual. Só que a margem de escolha da população empobrecida é muito menor. São reféns. Empreiteiros, por outro lado, são beneficiários.

* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 19 de novembro de 2016


** Professor de Sociologia no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes

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