domingo, 5 de fevereiro de 2017

Desemprego ampliado

Desemprego ampliado*

George Gomes Coutinho **

Índices são construções de agências, instituições e pesquisadores que tem por objetivo traçar um diagnóstico sobre determinado fenômeno ou simplesmente permitem operacionalizar um conceito abstrato. Almejam mensurar um ou outro. Usualmente são aplicados em diversos momentos em uma trajetória temporal/histórica, o que permite a possibilidade da comparação de um ano ou mês X com ano ou mês Y. São ainda mais interessantes quando há dados que permitem sua aplicação em diferentes nações, algo que igualmente incentiva o exercício comparativo.

Um índice de qualidade permite diversas aplicações e os considero tanto melhores, para além do já exposto, quando agregam variáveis que realmente importam e não escamoteiam o que pretendem mensurar. É o caso do índice de desemprego ampliado publicado pelo Banco Credit Suisse, cuja sede é em Zurique/Suíça. Os dados do último trimestre de 2016 colocam o Brasil na sexta posição dentre os países analisados. O primeiro lugar do ranking está com a Grécia, justamente o país que implementou ao pé da letra as medidas recessivas que vêm aplicando por aqui.

A taxa de desemprego ampliado brasileira é, no período, de 21,6%. Para o IBGE a taxa de “desocupação” está em 12%.  Portanto, os números do Credit Suisse são quase o dobro dos apresentados pelo IBGE.

Cabe notar que o índice aplicado pelo Credit Suisse condensa o seguinte conjunto de elementos: 1) considera os que procuram uma vaga no mercado de trabalho e não encontram; 2) inclui os que desistiram de procurar uma vaga por se sentirem desalentados com a conjuntura; 3) agrega todos os que estão subutilizando sua força de trabalho fazendo os famosos “bicos”.

Em termos numéricos, 23 milhões de pessoas da força de trabalho nacional encontram-se na situação descrita em uma conjuntura política conservadora onde medidas de precarização da relação patrão X empregado tem sido alardeadas como possíveis soluções milagrosas. Desconheço encaminhamento mais covarde. Só irão aprofundar o desemprego ampliado.

* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 04 de fevereiro de 2017


** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes

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