Temer:
um Gilmar para chamar de seu? *
George
Gomes Coutinho **
A figura de Gilmar Mendes se
tornou uma espécie de ícone no Supremo Tribunal Federal. Decerto ele representa
parte da sociedade brasileira desde que foi indicado por Fernando Henrique
Cardoso em 2002. Gilmar espelha a própria manutenção do status quo em sua
carreira na mais alta corte brasileira e empunha bandeiras de uma parcela
minoritária da população que se recusa a morrer: latifundiários, empresários
dotados das “más práticas” e grande mídia monopolista. Ou seja, Gilmar simboliza
o atraso e por este é teleguiado e legitimado.
Se a judicialização da política
tem causado caos, a politização da justiça não tem sido menos inofensiva. Afinal,
como disse a insuspeita jornalista Eliane Cantanhede em uma entrevista de
alguns anos atrás, Gilmar seria “tucano demais” em sua atuação no STF. Contudo,
mesmo sabendo que o STF nos últimos anos se tornou um espaço de militância
política e deixou cair por terra a aura de mero guardião da Constituição, não
deixa de causar espécie a indicação de Alexandre Moraes por Michel Temer.
Estaria Temer em busca de um
Gilmar para chamar de seu?
Neste momento Temer conta com
pouca resistência de atores políticos decisivos. Nem a grande mídia e tampouco
o legislativo irão oferecer resistência a suas mais ousadas proposições. Temer
sabe jogar o jogo, algo que Dilma desistiu de fazer e por esta razão sofreu o
impeachment. Provavelmente Moraes será aceito. Mas, não custa pensar se a
indicação de Moraes não soa como a pá de cal na aura imaculada que se mantém de
forma incompreensível no STF.
Moraes tem apenas 49 anos. Ficará
no STF por 26 anos se não mudarem novamente de forma casuística as regras de
aposentadoria. É dotado de um perfil nada discreto, o que inclui uma carta de
clientes que vai desde a Transcooper, relacionada ao PCC, até Eduardo Cunha.
Para além disso se tornou uma espécie de garoto propaganda da chamada “guerra
às drogas”, uma metodologia de enfrentamento das drogas ilícitas que contribuiu
para o cenário de guerra civil nas grandes capitais brasileiras e pela
superlotação dos presídios. Como se não bastasse, era filiado ao PSDB até esta
semana. Por tudo isso, ganham os conservadores. Perde o Brasil.
* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 11 de fevereiro de 2017
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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