Gilmar, o judiciário e o
salvacionismo*
George
Gomes Coutinho **
O julgamento da chapa Dilma/Temer
no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi prenhe de aprendizados importantes.
Desde o seu entorno até a decisão final há questões que podem ser elencadas de maneira
construtiva. Todavia, não creio que o atual momento do espaço público tenha
produzido grande reflexão para além do maniqueísmo: Gilmar Mendes foi eleito o
grande vilão e ponto final.
Retomando, vamos para as
motivações do pedido de cassação da chapa. O PSDB seguiu um cálculo arriscado.
Cabe lembrarmos que no dia seguinte após a divulgação dos resultados das
eleições de 2014 Aécio Neves, atual senador afastado, declarou “não aceitar” os
resultados. Já em 2017, após a divulgação dos constrangedores áudios de Joesley
Batista do grupo JBS, Aécio, em profunda demonstração de sinceridade e
anti-republicanismo, afirmou que uma das motivações do pedido de cassação de
Dilma era “encher o saco”. Claro que não obstante “encheções de saco”, ao
cassar a chapa vencedora a presidência poderia cair no colo do segundo lugar. Neste
caso em especial seria a chapa tucana puro-sangue Aécio Neves/Aloysio Nunes.
O pedido de cassação movido pelo
PSDB foi interpretado em 2015 como sendo frágil por Maria Thereza de Assis Moura,
ex-ministra do TSE. Gilmar Mendes conseguiu reverter o posicionamento de Maria
Moura e trouxe o processo de volta para o Tribunal. “Modéstia às favas” apropriadamente
disse o próprio Mendes na semana passada. Se não fosse o esforço do ministro
realmente o pedido de cassação não teria ido adiante. O problema é que a
conjuntura política de 2015 era diversa.
Já neste ano de 2017 o
posicionamento de Mendes foi exótico. Seu voto de minerva derivou na absolvição
da chapa julgada sendo o trâmite do processo sua própria “obra e graça”.
Mendes se apresenta como a
personificação de um judiciário profundamente politizado. Não é o único, não
foi e jamais será. A sensação de “arbítrio” incômoda, avaliação exclusivamente
moral, oculta a avaliação objetiva que joga por terra o judiciário como
entidade imaculada e depósito de virtudes a nos purgar. Espero que não tenhamos
salvacionismos daqui por diante.
* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 17 de junho de 2017.
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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