domingo, 11 de junho de 2017

O partido mais forte do planeta

O partido mais forte do planeta *

George Gomes Coutinho  **

O Brasil mantinha até as eleições de 2014 nada menos que 32 siglas partidárias reconhecidas e legalizadas. Olhando para o sistema político norte-americano o nosso quantitativo é até modesto. Nos EUA há pouco mais de 70 siglas em funcionamento mais ou menos regular. Todavia há diferenças evidentes entre os dois sistemas políticos: os EUA mantém filtros que tornam o sistema, em termos de concorrência no mercado eleitoral, praticamente bipartidário. Ou seja, regras restritivas tornam o sistema pouco poroso para pequenas legendas alternativas, sendo que algumas destas só atuam dentro dos limites de um ou outro estado específico. Bom para o status quo binário de republicanos e democratas.

Já no Brasil nada impede que legendas menos pujantes e/ou tradicionais possam ser exitosas em eleições majoritárias dependendo de ventos favoráveis da conjuntura. O caso Collor em 1989 é o grande exemplo da Nova República até o presente momento.

Contudo, a despeito das conjunturas, eleições e alternância de poder, um partido sobrevive de forma inconteste sempre capaz de exercer o poder de veto e, evidentemente, realizar concessões. Falamos do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o PMDB. Marcos Nobre filósofo e professor da Universidade Estadual de Campinas já identificou o PMDB como “o partido mais forte do planeta” não por acaso.  Sem desconsiderar a alternância de poder bipolarizada da década de 1990 para cá, o que derivou no par PSDB/PT encabeçando as chapas vencedoras das últimas eleições presidenciais, o PMDB mimetizou o Deus judaico-cristão. Sempre esteve onipresente. Mas, o que explicaria este “caso de sucesso”?

Creio que há duas explicações. Primeiramente o caráter genérico de seu programa partidário onde a democracia se apresenta como praticamente o único grande valor a guiar a adesão de seus partícipes. Sob este valor central, que funciona tal qual um generoso abrigo, cabem todos. Disto deriva a plasticidade do PMDB, capaz de dotar feições profundamente regionalizadas e, conseqüentemente, forjar seus caciques locais. Desta dobradinha eficiente, onde o fisiologismo é parceiro estratégico, o partido sem feição ideológica clara torna-se relevante.


* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 10 de junho de 2017

** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes


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