O partido mais forte do planeta *
George
Gomes Coutinho **
O Brasil mantinha até as eleições
de 2014 nada menos que 32 siglas partidárias reconhecidas e legalizadas.
Olhando para o sistema político norte-americano o nosso quantitativo é até
modesto. Nos EUA há pouco mais de 70 siglas em funcionamento mais ou menos
regular. Todavia há diferenças evidentes entre os dois sistemas políticos: os
EUA mantém filtros que tornam o sistema, em termos de concorrência no mercado
eleitoral, praticamente bipartidário. Ou seja, regras restritivas tornam o
sistema pouco poroso para pequenas legendas alternativas, sendo que algumas
destas só atuam dentro dos limites de um ou outro estado específico. Bom para o
status quo binário de republicanos e democratas.
Já no Brasil nada impede que
legendas menos pujantes e/ou tradicionais possam ser exitosas em eleições
majoritárias dependendo de ventos favoráveis da conjuntura. O caso Collor em
1989 é o grande exemplo da Nova República até o presente momento.
Contudo, a despeito das conjunturas,
eleições e alternância de poder, um partido sobrevive de forma inconteste
sempre capaz de exercer o poder de veto e, evidentemente, realizar concessões.
Falamos do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o PMDB. Marcos Nobre
filósofo e professor da Universidade Estadual de Campinas já identificou o PMDB
como “o partido mais forte do planeta” não por acaso. Sem desconsiderar a alternância de poder
bipolarizada da década de 1990 para cá, o que derivou no par PSDB/PT
encabeçando as chapas vencedoras das últimas eleições presidenciais, o PMDB mimetizou
o Deus judaico-cristão. Sempre esteve onipresente. Mas, o que explicaria este
“caso de sucesso”?
Creio que há duas explicações.
Primeiramente o caráter genérico de seu programa partidário onde a democracia
se apresenta como praticamente o único grande valor a guiar a adesão de seus
partícipes. Sob este valor central, que funciona tal qual um generoso abrigo,
cabem todos. Disto deriva a plasticidade do PMDB, capaz de dotar feições
profundamente regionalizadas e, conseqüentemente, forjar seus caciques locais.
Desta dobradinha eficiente, onde o fisiologismo é parceiro estratégico, o
partido sem feição ideológica clara torna-se relevante.
* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 10 de junho de 2017
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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