Temer (e) a Câmara*
George
Gomes Coutinho **
No último mês de julho assisti
uma das reprises da entrevista de Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara dos
Deputados, concedida ao jornalista Roberto d´Ávila no canal por assinatura
Globonews. Dentre os muitos momentos da entrevista uma frase de Maia me atordoou:
“O presidente é muito querido na Câmara”. Eu já havia escutado em outras
ocasiões menções sobre a habilidade política de Michel Temer. Mas, “querido”? Me
contorci pensando se haveria alguma forma palpável de mensurar essa denominação
afetiva. Após breve pesquisa utilizando fontes de agências de notícias e algo
de agências de “fact-checking” (checagem de fatos), agrupei algumas
informações. Irei propor que o “afeto” dos deputados com Temer pode ser
avaliado, dentre outras variáveis, pelas emendas parlamentares.
Cabe o alerta: as emendas
parlamentares nada tem de ilegal. São projetos apresentados que tem por
objetivo a destinação de verbas, neste caso federais, para executar ações nas
“bases eleitorais” de cada deputado ou de determinada bancada estadual. Redundam
em pontes, reformas de hospitais, equipamentos para Universidades, etc.. Não é
bom demonizar. Porém, as emendas são utilizadas também como instrumento de
barganha entre executivo e legislativo e em momentos críticos costumam causar
frisson. No Governo Dilma, por exemplo, nos momentos que antecederam a votação
da admissibilidade do processo de impeachment, houve a liberação de 1.4 bilhões
de reais para emendas individuais em 2016. Voltemos a Temer.
Temer desde que assumiu a
presidência tem sido mais generoso.
Segundo matéria de 26 de março de 2017 assinada por Isadora Peron no Estadão, entre maio e dezembro de 2016, em sete meses, Temer empenhou 5.8
bilhões de reais para deputados e senadores. Foram 2 bilhões de reais a mais
que todo o ano de 2015 sob a batuta de Rousseff. Já a dupla Juliana dal Piva e Leandro Resende da Agência Lupa apuram que até julho deste ano foram 3.1
bilhões para 465 deputados. Sem dúvida há uma “mudança de tom” entre executivo
e legislativo. Só que há algo desconcertante: a despeito das emendas aprovadas,
nem todos votam com o governo. Há várias deserções, tanto com Dilma quanto com
Temer. É preciso temer a Câmara.
* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 05 de agosto de 2017
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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