Aluysio Abreu Barbosa
Entre
o final da noite de ontem e o início desta madrugada, Joe Biden fez o discurso
que fechou a convenção democrata que lançou sua candidatura a presidente dos
EUA, em 3 de novembro. Pregou a união para que seu país saia da sua maior crise
humanitária, líder mundial em mortes pela Covid-19, e econômica desde a Grande
Depressão de 1929. E evocou o exemplo de outro democrata, que há 87 anos venceu
outro vírus, o da pólio, para reerguer os EUA e fazê-los o país mais poderoso
do mundo: Franklin Delano Roosevelt.
Ao usar o exemplo do passado, Biden se mostrou atento às vozes
do presente. Emocionou-se ao lembrar suas próprias perdas, pessoais e
profundas, para mostrar empatia com as famílias do seu país devastadas pelas
mais de 170 mil mortes pela Covid. Como ressaltou estar atento às vozes dos
jovens que saíram as ruas dos EUA, sendo seguidos no mundo para protestar
contra a discriminação racial e por mais justiça social. E voltou a se
emocionar ao repetir as palavras que lhe disse, no velório do pai, a filha pequena
de George Floyd: “Meu pai mudou o mundo. Meu pai mudou o mundo”.
Biden também foi duro. Deixou claro que os EUA não tolerarão
mais intervenções externas em sua democracia. E citou como exemplo a Rússia do
ditador Vladimir Putin, que usou hackers na criação de fake news para ajudar a
eleger Donald Trump presidente em 2016. A quem criticou duramente pela condução
dos EUA na crise da Covid, pelas pesadas perdas em vidas humanas, empregos e
empresas: “Não precisa de muita retórica.
Apenas julguem pelos fatos: 170 mil mortos, 5 milhões de infectados, 15 milhões
de desempregados, mais de 10 milhões sem plano de saúde, uma em cada seis
pequenas empresas fechando”.
O candidato democrata garantiu que, se eleito, será diferente ao
governar para todos, não apenas aos apoiadores: “Vou trabalhar muito duro para quem não me apoiou. Esse é o trabalho de
um presidente”. Lembrou das minorias e prometeu privilegiar a maioria, sem
as benesses tributárias de Trump às grandes fortunas. Das quais prometeu cobrar
os impostos necessários para garantir direitos previdenciários e de saúde à
população: “Eu não quero punir ninguém. Mas já passou o tempo dos que mais
ganham ficarem isentos de impostos. É hora dos ricos pagarem mais. É preciso
contribuir com mais seguridade social”.
Biden não é um orador brilhante como Barack Obama, a quem
agradeceu por ter servido como vice-presidente por oito anos. Nem um
comunicador histriônico, mas habilidoso, como Trump. Ele é o que os
estadunidenses chamam de “regular guy”
(“cara normal”). Talvez não por acaso, aos brasileiros, “Joe” seja uma gíria
para “mano”. Mas, às vezes, homens comuns são alçados por um contexto maior.
Como o que pareceu se reforçar ontem, com a prisão de Steve Bannon,
estrategista da exitosa campanha de Trump em 2016. De cujo governo saiu para
articular uma aliança internacional da extrema-direita, inclusive com o clã
Bolsonaro. E foi parar em cana por desviar recursos de um fundo para construir
um muro entre os EUA e o México.
“Dê luz às pessoas. São
palavras para o nosso tempo. O presidente atual deixou o país no escuro por
muito tempo. Dou a minha palavra: se me levarem à presidência, serei uma fonte
de luz, não de escuridão”, pregou Biden. E depois completou: “Toda eleição é importante. Mas essa é ainda
mais. Chegamos a um ponto de inflexão. Tempos de perigo, e também de
oportunidades extraordinárias. Podemos escolher um caminho diferente, um
caminho de reformar, unir. Isso vai determinar o que os Estados Unidos serão no
futuro. A decência, a ciência, o caráter. Tudo isso está em jogo”. Falou
para os EUA. Que se o elegerem presidente em novembro, como indicam até aqui as
pesquisas, ecoarão no mundo.
No Brasil,
por exemplo, se Biden vencer em novembro, toda a política externa do governo
Jair Messias Bolsonaro (sem partido) implode.
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