PEC
241 e seus contornos*
George
Gomes Coutinho **
Na última segunda-feira a Câmara
dos Deputados aprovou em primeiro turno a PEC 241. Não é o final do debate. Foi
apenas um primeiro round. Certamente uma vitória governista importante, mas,
ainda foi só a primeira grande batalha do governo Temer neste campo.
Em um cenário desta magnitude
salta aos olhos do analista uma torrente de elementos. Neste texto não poderei
aprofundar todos eles, apresentar os detalhes que seriam necessários para uma
análise com pretensões definitivas. Contudo, penso ser viável pontuar algumas
questões. A PEC 241, onde o eufemismo asséptico chama simplesmente de “reforma
fiscal”, não é pouca coisa. Caso aprovada em definitivo, ela irá reestruturar políticas
sociais e atividades “fim” do Estado por nada menos que nos próximos 20 anos. Quando
digo “reestruturar”, estou querendo dizer que pode não haver investimento real.
O texto recomenda a atualização das cifras em acordo com a inflação do ano
anterior. Ou seja, na prática, a chamada “Constituição Cidadã” de 1988, que
jamais alcançou sua plenitude factual por buracos diversos de regulamentação,
torna-se simplesmente uma bela e ficcional peça histórica.
O argumento conjuntural em defesa
da PEC se concentra no tamanho de nossa dívida pública e as medidas ambicionam
priorizá-la enquanto esforço de Estado. Ou seja, a partir de um argumento
construído no curtíssimo prazo são traçadas ações que engessam médio/longo
prazos. Igualmente trata como sinônimos gastos e investimentos, dado o nome
midiático propagado, a “PEC dos gastos”. Confundem alhos com bugalhos e operam
uma constrangedora redução de complexidade onde as pastas de saúde e educação,
dotadas de especificidades diversas, são colocadas em pé de igualdade com
outras demandas de naturezas particulares.
Por fim, há três ruidosos
silêncios sobre o nosso curtíssimo prazo convenientemente ignorados. O primeiro
envolve a nossa taxa de juros que incide não só sobre a dívida pública, mas,
igualmente afeta famílias, empresas, etc.. O segundo ponto é sobre a proteção
deliberada ao topo da pirâmide social. O terceiro é sobre quem está escalado
para pagar a conta. O último grupo, que inclui classe média assalariada e
trabalhadores em geral, só por vezes é lembrado.
* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 15 de outubro de 2016
** Professor
de Sociologia no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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