Nossa UENF agoniza *
George
Gomes Coutinho **
Dentre as viagens que já fiz por
conta do ofício, não era evento raro encontrar pessoas que se referiam à
instituição universitária pública local com ares de deferência. A despeito da
posição ocupada no mercado de trabalho, muitos, de taxistas a gerentes de
restaurante, evocavam determinada Universidade utilizando o pronome possessivo
na primeira pessoa do plural: “nossa”. O termo empregado remetia a sentimentos
de orgulho, respeito e admiração.
Justamente neste ano em que a
UENF completou seus 23 anos de existência a instituição, talvez como nunca
antes, esteja precisando encontrar forças na sua comunidade local para um
enfrentamento que envolve sua sobrevivência. Campos precisa abraçar a UENF e
chamá-la de “nossa UENF”. Digo isso não somente por seus números
impressionantes em pouco mais de duas décadas de história. Segundo dados apresentados
na “Carta para a população” elaborada pela Associação de Docentes da UENF, a
ADUENF, a UENF formou quase 2000 mestres e 700 doutores nesta instituição que,
de forma ousada, foi pensada por Darcy Ribeiro como celeiro da pós-graduação no
Norte Fluminense. Ainda, muitos de seus egressos na graduação, quando não
prosseguiram sua formação na própria Universidade, circularam entre os melhores
centros de pesquisa no Brasil e no exterior. O envolvimento da UENF no processo
de produção de conhecimento igualmente merece ser mencionado, pois para além de
teses, dissertações e monografias, como se estas já não fossem parâmetro
indiscutível, docentes e discentes participam rotineiramente de eventos e
publicações científicas nacionais e internacionais.
Mesmo com tudo isso a profecia
funesta do reitor Luis Passoni de que a UENF corre risco de fechar suas portas
em 2017 se apresenta como factível por um conjunto de fatores. Irei assinalar
um deles: todos pagamos pelas opções do Governo do Estado que infantiliza o
topo da pirâmide. Os incentivos fiscais para o empresariado recusaram os
princípios da ética da responsabilidade. Por outro lado, instituições de
inegável importância nacional como a UENF agonizam. Pensando na sociedade civil
local, torço para que cada campista chame a Universidade de “nossa” e faça dela
sua trincheira nos tempos obscuros que se avizinham.
* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 29 de outubro de 2016
** Professor
de Sociologia no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
Nenhum comentário:
Postar um comentário