Pós-Junho de 2013 *
George
Gomes Coutinho **
As grandes mobilizações no Brasil
do século XXI tem uma data para seu nascimento: junho de 2013. Naquele momento
pautas difusas foram apresentadas, o que incluiu o protesto contra o aumento
das passagens urbanas nas regiões metropolitanas e o questionamento dos
investimentos em mega-eventos (Copa do Mundo e Olimpíadas). Este momento da
história recente brasileira é tão sintomático que sem fazermos esta referência
não entenderemos plenamente as manifestações posteriores, o que inclui os
protestos na Avenida Paulista contra o Governo Dilma Roussef no ano passado ou
mesmo a Greve Geral do último 28 de abril.
Junho de 2013 abriu uma Caixa de
Pandora e suas reverberações ainda não se esgotaram.
O que há em comum em todas essas
manifestações? Assinalo duas questões neste momento. A primeira delas é o uso
ostensivo das redes sociais como ferramenta de mobilização. A segunda é a
desidratação da política tradicional.
No que diz respeito ao uso das
redes sociais enquanto ferramenta de aglutinação da ação coletiva eu observo
problemas severos. O caráter efêmero das
formulações e, não raro, a característica individualista, narcísica e egóica
das redes produz distorções no que tange a proposição de pautas de alcance
societário. Inclusive as redes sociais tem amplificado a polarização e
dificultam o diálogo que seria desejável em um ambiente democrático. Há apenas a
desqualificação a priori do adversário onde os infelizes termos “coxinha” ou
“mortadela” são suficientes para desconsiderar a totalidade dos argumentos do
outro.
Neste ínterim, como segundo
elemento preocupante, temos o esvaziamento da política tradicional. Não há um
projeto de sociedade claro apresentado nem os mecanismos para construirmos uma
melhor versão do Brasil são postos. De junho de 2013 para cá vimos o abandono
dos partidos como agentes legítimos de representação, isso em uma realidade que
se pretende pautada pela democracia representativa! Em prol da “voz das ruas”,
uma polifonia ainda fragmentada, se crê que da espontaneidade das massas virá
alguma solução. Até o momento, pelo conjunto da obra, não me autorizo a tamanho
otimismo.
* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 06 de maio de 2017
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
Prezado George, mais um excelente texto nos oferta. Também não me coloco nada otimista com esse processo. A despeito de não ter sido objeto do vosso texto, é de bom tom arguirmos os motivos que levam a descrença com os partidos ou a política tradicional. No caso brasileiro se houver alguma pesquisa quantitativa creio que a corrupção será apontada como a variável mais significativa. Mas, como justificar essa mesma descrença junto aos países mais "avançado'?
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