Temer, Janot e a razão*
George
Gomes Coutinho**
Nesta semana mais uma vez tivemos
um noticiário político tumultuado. Dentre os embates e acusações, que se
tornaram rotina nos últimos anos, um me chamou a atenção: a troca de acusações
entre Michel Temer, o presidente não eleito, e Rodrigo Janot, atual Procurador-Geral
da República. Como conseqüência mais óbvia e rápida deste estranhamento entre
presidência e Procuradoria-Geral da República, justamente no momento em que
ocorreram as eleições para o cargo de Procurador-Geral, Temer quebra a tradição
iniciada pelos governos petistas em 2003 e nomeia o segundo lugar mais votado
dentre os Procuradores da República. O silêncio ensurdecedor de boa parte da
grande mídia corporativa constrange o observador atento da conjuntura. Fico a
me perguntar se não causaria estardalhaço, protestos e congêneres se algum dos
mandatários petistas tivesse feito esta opção.
Cabe lembrar que na Era FHC em
lugar de um Procurador-Geral da República tivemos, na prática, o que ficou
conhecido como “Engavetador Geral da República”, onde os processos eram
solenemente ignorados sempre que fosse conveniente. Não falamos de pouca coisa
afinal.
Retomando as atuações de Temer e
Janot, acredito que em momentos de ânimos inflamados certos conteúdos são
apresentados de forma muito elucidativa.
Temer foi bastante duro em suas
críticas. Apontou falhas jurídicas na peça de acusação que tem se tornado praxe
em parte das ações do Ministério Público Federal. Esta crítica não é feita
solitariamente por Temer. Em mais de uma ocasião foram apontados abusos que
apenas tornam nosso Estado Democrático de Direito cada vez mais esquálido. Para
além disso questionou a legitimidade do que considerou serem “ilações”. Nesta
questão Temer também não está sozinho. É uma opção demasiado arriscada pautar
acusações sem a devida materialidade de provas. Ainda mais chocante são
condenações apriori pautadas por “indícios” e narrativas. Assim voltaremos para
as rotinas inquisitoriais da Idade das Trevas.
Contudo, Temer não desconstruiu
em nada o núcleo do argumento de Janot: as ligações intestinas entre empresariado
e presidência. No final talvez Janot e Temer estejam corretos.
* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 1º de julho de 2017
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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