sábado, 2 de dezembro de 2017

As muitas mortes dos comunistas

As muitas mortes dos comunistas*

George Gomes Coutinho **

Em maio de 2016 Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PSC de São Paulo, apresentou o projeto de lei 5358/16. A proposta do ilustre deputado, nascido em 1984 e muito jovem para replicar clichês da Guerra Fria, envolve na melhor das hipóteses a reedição do Macartismo entre nós. Uma outra alternativa seria a confissão da mais profunda e orgulhosa ignorância histórica. Ou no pior, como diria meu avô, a proposição do projeto de lei é como colocar uma melancia no pescoço: uma forma um tanto tola de chamar a atenção.

Talvez na imaginação pouco informada do deputado o Partido Comunista Norte-Coreano e o Partido Comunista Britânico, mormente uma entediante reunião de senhores como disse o historiador Eric Hobsbwam (1917-2012) em sua autobiografia, sejam mesmíssima coisa.

Entre nós, olhando os comunistas brasileiros, não seria novidade este tipo de tentativa de eliminação inquisitorial. Afinal, como sempre frisava o cientista político alagoano Gildo Marçal Brandão (1949-2010), o Partidão entre 1922 e 1985 vivenciou pouco menos de 3 anos e meio na legalidade. Nada original, o projeto do jovem Bolsonaro seria só mais uma dentre as muitas mortes dos comunistas em nossa realidade. A ilegalidade mata como diria Brandão.

Não desconsiderando sua dualidade constitutiva no Brasil, entre a via insurrecional e a “civilista” ou institucional de ação, não custa lembrar que a partir do auto-reconhecimento das atrocidades cometidas nos regimes comunistas realmente existentes desde a década de 1950 do século passado, incontáveis e relevantes comunistas brasileiros firmaram postura intransigente em prol da democracia.

Desde a auto-crítica do Partido, que reconsiderou o papel de Vargas no processo de modernização do país e defendeu a normalidade institucional, até a participação dos comunistas na clandestinidade na Frente pela democratização no esfacelamento da ditadura civil-militar, vimos intervenções, militância e ações que incluem a necessidade da defesa sem tréguas das liberdades fundamentais. Postura diametralmente oposta do deputado e sua platéia. Ah! Cabe dizer que o tal projeto de lei anti-comuna continua parado. Deve ser por sua relevância.

* Texto publicado em 02 de dezembro no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.


** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes

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