sábado, 9 de dezembro de 2017

Recebendo Le Jeune Karl Marx

Recebendo Le Jeune Karl Marx*

George Gomes Coutinho **

Le Jeune Karl Marx, o “Jovem Marx” em versão brasileira, é obra cinematográfica do diretor Raoul Peck e irá estrear entre nós oficialmente em 28 de dezembro. Todavia, não obstante o filme chegar ao circuito brasileiro somente no final deste ano, desde sua estréia no Festival de Berlin em fevereiro houve enorme burburinho. Creio que há algumas razões para tal.

Trata-se de um filme sobre o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) e só isto já causaria certo alvoroço, ou no mínimo curiosidade, entre boa parte da esquerda. Ainda, no Brasil polarizado ideologicamente boatos de que o filme estaria sendo boicotado pelos “cinemas burgueses” também surgiram, tal como supostas ameaças de grupos de extrema-direita que inviabilizariam a exibição do filme. Não testei a veracidade das informações. Contudo, imagino que o cenário de polarização acrescido dos boatos, verdadeiros ou não, gerou respostas no circuito cinéfilo nativo e seus adeptos. A primeira foi disponibilizar versões do filme na plataforma de mídia Youtube. A outra foram versões d´O Jovem Marx circulando em universidades, sindicatos, movimentos sociais e cineclubes alternativos. Como podem notar, a recepção do filme entre nós também vem sendo considerada um ato político, tanto pelo conteúdo da obra quanto por nosso contexto.

Assisti o filme em duas ocasiões. Há pouco mais de um mês atrás esbarrei em um link no Youtube com o áudio em francês, inglês e alemão. Não tudo ao mesmo tempo obviamente. Como Marx foi “convidado a se retirar” em mais de uma ocasião dos países europeus onde tentou fixar-se em seu tempo, vindo a falecer finalmente na Inglaterra, o diretor optou por certo realismo onde a língua falada muitas vezes acompanha o cenário/país. Advirto aos leitores neste momento que é inútil repassar o link. Fui conferir e já não é mais possível assistir o filme por lá.

A segunda ocasião foi no Cineclube Marighella, projeto alternativo orquestrado pelos bravos Léo Puglia e Gustavo Machado aqui em Campos.  Na platéia contavam-se aproximadamente 120 almas silenciosas e atentas. Nada mal para uma noite de sábado na exibição de um filme sobre um filósofo. Nonsense? Talvez a conjuntura nacional explique.


* Texto publicado em 09 de dezembro no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.

** Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes


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