O segundo turno não vai ser fácil**
Luis Felipe Miguel***
O que as pesquisas - vamos nos referenciando nelas, apesar do pesares - mostram, com o crescimento lento mas sólido do pedófilo, é o resultado do esforço final do bolsonarismo para permanecer no poder. E, permanecendo, acelerar e concluir o processo de destruição do Brasil.
É o uso da máquina e do dinheiro públicos, a pressão desavergonhada feita nas igrejas, a intimidação dos oponentes, o abuso contra os trabalhadores nas empresas, o esgoto das mentiras no zap.
E ainda teremos que enfrentar as manobras para aumentar a abstenção dos mais pobres, no dia da eleição.
Faltam 10 dias para o segundo turno. Lula ainda é o favorito. Mas a batalha está longe de ser ganha.
A bolsosfera está indignada com o TSE, que concedeu direitos de resposta a Lula. Com isso, de hoje até dia 28, último dia da campanha em rádio e TV, Lula terá 395 inserções, contra apenas 55 de Bolsonaro.
Espero que a campanha de Lula saiba usá-las com sabedoria.
Além disso, o esforço de todos nós continua sendo necessário. São 10 dias que vão definir o nosso futuro.
Se Lula ganhar, teremos quatro anos árduos, enfrentando uma extrema-direita empoderada, para reconstruir o mínimo da democracia e da civilidade política no Brasil. Quatro anos de luta, mas uma luta que podemos ganhar.
Se Lula perder, nosso destino está selado. Vamos mergulhar na barbárie. Um segundo mandato de Bolsonaro será ainda mais destrutivo e autoritário que o primeiro.
São 10 dias para conversar, para expor argumentos, para fazer campanha.
Com os que já são a favor de Lula, o esforço é para mobilizar mais, engajar mais na campanha.
Com os indecisos, para votar pela democracia e pelo povo brasileiro.
Com os bolsonaristas relutantes, para torná-los indecisos.
Com os bolsonaristas convictos, o ideal seria torná-los, ao menos, envergonhados de sua escolha, mas a gente sabe que isso é difícil.
Sempre há um argumento para justificar o apoio a Lula e a oposição a Bolsonaro: o poder de compra dos salários, a luta contra a fome, o respeito às mulheres, a busca por uma sociedade menos violenta, a preservação ambiental, a compostura nos templos religiosos, a proteção das crianças, o cumprimento da Constituição...
É preciso usar toda a nossa energia para falar com as pessoas, ao vivo ou pelas redes, mostrar as evidências, firmar e virar votos.
* Paul Klee, "Swamp Legend", 1919. Disponível em: https://www.wikiart.org/en/paul-klee/swamp-legend-1919, acesso em 20 de outubro de 2022.
** Publicado originalmente no perfil do Facebook do prof. Luis Felipe no dia 20 de outubro de 2022. Reproduzimos aqui com a autorização do autor.
*** Professor titular livre do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demodê). É autor de "Democracia e representação: territórios em disputa" (Editora Unesp, 2014), "Dominação e resistência" (Boitempo, 2018), dentre outros. Lançou no primeiro semestre deste ano o seu "Democracia na periferia capitalista" pela Autêntica Editora.
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