O
topo da pirâmide*
George
Gomes Coutinho **
Há tempos os críticos questionam
de forma dura, por vezes irônica, o uso do termo “elite” tal como é apresentado
pelos militantes dos movimentos sociais, sindicatos, etc.. Diziam, não sem
alguma razão, que “elite” teria algo de amorfo, não explicava o que pretendia
explicar. Afinal, conceitos devem ter a pretensão da precisão. De outro modo
nada elucidam.
Neste âmbito os dados que
começaram a ser divulgados este ano ainda no governo Dilma Rousseff pela Secretaria
de Política Econômica do Ministério da Fazenda são bem precisos acerca de quem
seria, pelo menos, a “elite econômica” brasileira. Esta mantém rendimentos que
permitem um estilo de vida inimaginável para a esmagadora maioria da população.
Os dados foram elaborados
utilizando informações da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio),
do Censo e, a grande novidade, se pauta também pelas informações do Imposto de
Renda da Pessoa Física (IRPF). É este o ponto onde podemos olhar de perto uma
economia fortemente concentradora de riquezas em funcionamento, algo que dá
razão a analistas que vão desde Karl Marx no século XIX até Thomas Piketty no
nosso século XXI. A grande verdade é que a economia de mercado, seguindo as
regras que lhe são particulares, não distribui riquezas de forma eficiente. A
tendência é de concentração, salvo intervenções redistributivas por parte do
Estado.
No Brasil em especial os dados
sobre o “topo da pirâmide” dizem muitíssimo. Trata-se de 0,3% da população.
Pouco mais de 70 mil pessoas, sendo que a projeção da população total de
brasileiros para 2016 é de 206 milhões de pessoas. Esta parcela ínfima mantém
rendimentos mensais per capita de mais de 160 salários mínimos. É o grupo
social que paga menos impostos proporcionalmente e teve redução de alíquotas em
comparação com os outros grupos de declarantes de imposto de renda. É este o
grupo mais protegido pela opção de tributação adotada no Brasil, profundamente
centrada na circulação de mercadorias e não na renda.
Em uma conjuntura de crise
econômica os perdedores são quase sempre evidentes. Mas, há os vencedores.
Estes ainda permanecem ocultos no palco da opinião pública brasileira.
* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 03 de dezembro de 2016
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
Nenhum comentário:
Postar um comentário