A batalha da
previdência*
George
Gomes Coutinho **
A pauta previdenciária foi
apresentada na grande mídia de tempos para cá como a grande solução para as
distorções e déficits fiscais da União. Todavia, a despeito das propostas de
mudança terem impacto substantivo na população brasileira, inclusive sobre as
camadas mais pobres dotadas de menor capacidade de mobilização, a maneira como
a temática vem sendo apresentada expressa um grave entrave democrático . É
notória a ausência de um debate arejado e plural quando a mídia oligopolista
atende aos interesses diretos de determinados grupos de pressão. Quando isto
ocorre há a tentativa de forjar o consenso trazendo especialistas e atores que
corroboram uma versão do problema repetida como um mantra, ignorando
solenemente outros grupos, atores e especialistas que defendem uma perspectiva
diversa. Cria-se uma “verdade” inatacável e o papel de informar é substituído
sem pudores pela propaganda.
Porém, a despeito da tentativa de
construir um consenso artificial e forçoso, na seara previdenciária jamais
houve consenso.
Por tudo que apresentei acima a
Comissão Parlamentar de Inquérito da Previdência, ocorrida no Senado Federal,
não obteve audiência entusiasmada. Entre abril e o final de outubro deste ano ocorreram
26 audiências públicas onde especialistas dotados de óticas diferentes foram
consultados e dados foram escrutinados. Na última segunda-feira, dia 23, o senador
Hélio José (PROS-DF) apresentou o relatório final composto por 253 páginas onde
a conclusão é desconcertante para os setores alinhados com os interesses dos
grupos de pressão empresariais do setor produtivo e financeiro. A previdência,
segundo Hélio José, realmente não é equilibrada
em termos orçamentários. Mas, também não é naturalmente deficitária.
José assinala o escandaloso rombo
de 451 bilhões de reais motivado pelo não pagamento por parte do empresariado
de suas obrigações trabalhistas com a anuência do governo, sendo este último
responsável por utilizar recursos previdenciários para outros fins. O relatório
aponta, ao final, que os déficits são sanáveis mediante mudanças de gestão.
Agora podemos dizer que a crise previdenciária é mais do que uma crise. É um
projeto.
* Texto publicado em 28 de outubro de 2017 no jornal Folha da Manhã de Campos dos Goytacazes, RJ.
** Professor de Ciência Política no Departamento
de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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