Urge
um novo consenso *
George
Gomes Coutinho **
É preciso olhar a conjuntura com
certa frieza e racionalidade. O Brasil anda flertando de forma tão perigosa com
o abismo que corre o risco de tornar-se o próprio. Observemos um conjunto de
elementos no âmbito do sistema internacional e no cenário doméstico. Comecemos
atentando para o que está nos arredores.
Ian Bremmer, CEO da Eurasia Group,
empresa de consultoria política que anda fazendo sucesso entre investidores do
mercado financeiro, defende que chegamos num ponto de transição geopolítico.
Bremmer acredita que alcançamos o fim do que os analistas chamam de pax americana após a chegada de Donald Trump
na Casa Branca. Pax americana, termo
que não consigo ler sem sentir algum desconforto, afinal o predomínio
norte-americano no sistema jamais foi pacífico, expressa a ordem mundial
pós-1945 onde um status quo de
liberação comercial e integração mercadocêntrica foi construído paulatinamente.
O protecionismo pregado por Trump seria a razão da fratura da pax americana.
Mais detalhes desta interpretação podem ser conhecidos no documento “Top Risks 2017: The geopolitical recession”,
disponível no próprio site da Eurasia Group.
Na esfera doméstica irei enumerar
só algumas variáveis: 1) a dilapidação do que seria o esboço do Estado
Providência nacional com a destruição de direitos sociais jamais implantados
plenamente pós Constituição de 1988; 2) A implantação de medidas recessivas
duríssimas que alijam o Estado como agente econômico; 3) A falência das
políticas de segurança que redundaram como resultado prático na morte de 142
presos custodiados pelo Estado nos primeiros 15 dias do ano; 4) As taxas de
juros mais altas dentre as grandes economias do mundo e o endividamento
estratosférico, tanto para pessoa jurídica quanto para pessoa física, em um
patamar insustentável; 5) Seis, isso mesmo, seis empresários brasileiros tem a
mesma renda que mais ou menos 100 milhões de habitantes no Brasil; 6) O chamado “desemprego ampliado” no Brasil
atinge 21,2% da população economicamente ativa.
Urge um novo consenso ou o Brasil
perderá a primeira metade do século XXI em definitivo.
* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 04 de março de 2017
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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