domingo, 30 de setembro de 2018

Do que vi e vivi no #elenão em Campos dos Goytacazes



Do que vi e vivi no #elenão em Campos dos Goytacazes

Paulo Sérgio Ribeiro

Pensei duas vezes antes de esboçar esse relato. Admito: por mais que me empenhe na narrativa, acabarei sendo omisso diante das inúmeras tramas da história social entrecruzadas naquela tarde de sábado em que chuva e sol se acotovelaram para buscar o seu lugar na Praça São Salvador. O nome do “titular” desta praça, marco colonial dos nascidos (e sacudidos) em Campos dos Goytacazes, cidade encravada no Norte Fluminense, perdeu um pouco da sua univocidade, pois não é forçado afirmar que, do ângulo de quem enxerga uma vida em comum a partir da Carta Constitucional de 1988, as mulheres, dispensando qualquer atributo de “santidade”, desnudaram-se para salvar a todos e todas de um resultado eleitoral que venha a confirmar o tiro de misericórdia num regime democrático que padece em longa agonia.

Aquela praça, quase sempre mero lugar de passagem, tornou-se a ágora do protagonismo feminino. Ao fundo, uma catedral vetusta e indiferente ao destino dos homens e mulheres e, defronte, uma linha imaginária a nos separar de eleitores/seguidores do presidenciável Jair Bolsonaro espreitando nosso ato com provocações oportunistas. Não haveria mesmo como ser de outro jeito: tornar-se mulher é reconhecer-se emparedada entre a tradição e a força. Desafio não menos imperativo, diga-se, para a comunidade LGBT que também se fez presente no ato com as suas cores de tamanho significado.

Nós “homens”, na acepção convencional que uma cultura heteronormativa nos franqueia, lá também estivemos e espero termos nos comportado à altura da política posta em movimento pelas mulheres de maneira horizontal quanto à coordenação do ato e plural no tocante às lideranças e associações que se fizeram ouvir. A voz própria das mulheres ecoou pelas quatro jornadas, concretizando um protagonismo que é a um só tempo meio e fim na luta contra a última cidadela do “velho homem”, majoritariamente branco e tipicamente burguês, que, desde o impeachment fraudulento da primeira mulher que elegemos Presidenta da República, refugiou-se no Estado operando uma regressão histórica sem precedentes.

Esse refúgio (ou caverna, preferirão alguns) diante das novas subjetividades é uma resposta um tanto virulenta à crescente deslegitimação social do modo de vida calcado na masculinidade hegemônica e, não menos, à perda relativa de eficácia dos padrões de dominação nela referidos, seja nas relações íntimas de afeto, seja na formação mesma de nossa esfera pública. Não à toa, esta última tem sido deformada como um preço a ser pago pelo sítio imposto às liberdades civis, confirmando a olhos vistos a pusilanimidade da imprensa tradicional nativa. Mas a liberdade, digamos, é um rio que nunca deixa de correr, por mais que suas margens o comprimam. A profusão de manifestações do #elenão ocorridas em centenas de cidades no Brasil e no mundo demonstra simplesmente que não há como voltar atrás.  

Voltando a nossa praça que, por algumas horas, bem poderia ter sido renomeada “Praça das Profanas Salvadoras”, chamou-me atenção que os agitadores contrários ao ato só se faziam perceptíveis berrando/buzinando de um carro ou moto. Desnecessário dizer, todos homens. Sintomático posicionar-se politicamente com auxílio de um bem utilitário cuja difusão consagra o rebaixamento do transporte coletivo em nosso planejamento urbano, castrando possibilidades de convívio social orientadas pelo que facultaria a todos o seu igual valor moral. Nós mulheres e homens, por sua vez, nunca estivemos tão à vontade andando com as próprias pernas.

A explicação é simples. Fizemo-nos multidão enquanto eles, se muito, foram o que sempre são: massa. Em multidão, indivíduos diferentes agem em torno de uma finalidade comum sem prejuízo do julgamento que exercem sobre suas próprias motivações. Já no seio da massa, ensina a psicologia social, os indivíduos se “desindividualizam” por assim dizer, tornando-se passivos ante os estímulos externos que a ação coletiva lhes impõe em face dos anseios (instintos?) primários que os agregam. Logo, não é incomum constatar que bolsonaristas confundam a desinibição diante do ridículo e do grotesco com uma suposta autenticidade. Sendo assim, garantimos à civilização o seu lugar merecido: a praça pública por onde passam todos os destinos do nosso torrão campista. Quanto àqueles que flertam com a barbárie, restou-lhes a sombria Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, vulgo "Igreja do Saco". Nada mais justo, pois, para os carcomidos que se deixam fascinar pelo discurso de ódio à política. Vão com Deus!

Brincadeiras à parte, uma eventual derrota de Bolsonaro no 1º ou 2º turno não implicará, necessariamente, no declínio do fascismo à brasileira que ele vocaliza. O piso eleitoral de mais de 20% que alcançou é uma realidade com a qual haveremos de lidar de outubro em diante. Da pequena grande idealidade que experimentamos na Praça São Salvador, assim como nas demais praças deste país, caberá reelaborá-la dando continuidade ao trabalho de conjugar, teoricamente, o ativismo identitário com as lutas de classe. Um terreno fértil surge para tal tarefa histórica e as mulheres e demais minorias ensaiam demarcá-lo nos seus próprios termos.

Grato por viver.

sábado, 29 de setembro de 2018

esclarecimento sobre o dia 13/09, a UFF-Campos e a ação truculenta do TRE-RJ

Prezad@s,


Em virtude do Manifesto do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional, a UFF-Campos, creio que é útil contextualizar o clima de terror político que vivenciamos na atual conjuntura em Campos dos Goytacazes, RJ. O dia 13 de setembro do ano corrente foi especialmente marcante para nossa comunidade. Irei narrar os relatos que recebi "no calor da hora". Explico: embora eu cuide de uma disciplina na graduação nas quintas-feiras deste semestre, eu cheguei pouco após os fatos. Contudo, tentarei ser o mais preciso possível a partir do que me chegou por colegas e estudantes.

No último dia 13 quatro fiscais do TRE-RJ foram no campus da UFF-Campos procurando pelo diretor do Instituto, prof. Roberto Rosendo. Este ministrava uma disciplina no mestrado de Geografia por volta das 16 horas. O prof. Rosendo foi interrompido em pleno exercício docente pelos agentes do TRE que reivindicaram a abertura do Diretório Acadêmico dos estudantes. O motivo seria uma denúncia anônima que alegava ser a UFF-Campos espaço de "propaganda eleitoral irregular". 

O prof. Rosendo perguntou, corretamente, sobre um mandado. Os agentes do TRE-RJ responderam que não detinham o documento. Diante da ausência de um mandado de busca e apreensão, o prof. Rosendo se recusou a abrir o Diretório dos estudantes.

Não contentes os agentes do TRE-RJ saíram para logo após retornar com o próprio juiz eleitoral. Este ameaçou dar voz de prisão ao prof. Roberto Rosendo caso este não abrisse o Diretório. Mais uma vez interrompido em suas atividades e visivelmente coagido, mesmo sem a apresentação do mandado, o professor conseguiu uma chave para abrir o Diretório dos estudantes.

Nesse ínterim o arbítrio, a truculência e o autoritarismo saíram do controle. Outro de nossos colegas interpelou o juiz, até por ser advogado em exercício, perguntando ao meritíssimo sobre os motivos que o levaram a executar tal operação. A resposta foi mais uma ameaça de prisão dado que o professor, um dos mais antigos da UFF-Campos, estaria "obstruindo o trabalho da justiça". 

Entre os estudantes, estes com adesivos de candidatos e partidos de sua preferência em suas camisas, são ameaçados pelos agentes do TRE-RJ, tem os adesivos arrancados, etc..

Os oficiais, o diretor do Instituto, o juiz, todos chegam ao Diretório. Embora de posse das chaves a porta do Diretório é arrombada de forma desnecessária. Os pertences de estudantes e armários são revirados. Mas, ali havia o poderoso material ilegal: 470 panfletos e 4 adesivos. Sim, todo este aparato e violência para apreender o material descrito que estava guardado inerte dentro de um armário dos estudantes no Diretório Acadêmico.

Após o dia 13 de setembro ouço relatos, por colegas docentes e estudantes, da presença de oficiais à paisana circulando pelo campus. No dia 19/09, em Assembléia realizada entre docentes, estudantes e representantes da ADUFF (Associação de Docentes da Universidade Federal Fluminense), mais uma vez houve a presença do TRE-RJ provocada por denúncia de "reunião político-partidária", embora na prática a pauta da referida Assembléia fosse discutir a ação do próprio TRE-RJ ocorrida na semana anterior. 

Nesta semana, no dia 26/09, o diretor do Instituto recebe intimação para comparecer em reunião com representantes do TRE-RJ. Neste caso o objetivo foi abarcar além da UFF-Campos. Todos os dirigentes de Instituições de Ensino Superior públicas e privadas de Campos dos Goytacazes foram "intimados" a comparecer em reunião presidida pelo juiz Ralph Manhães, o mesmo cuja presença substituiu o mandado de busca e apreensão no dia 13/09. Da reunião o produto publicizado foi uma ata onde o juiz proíbe, o termo utilizado foi exatamente este, servidores de realizarem atividades de cunho político-partidário em "horário de expediente".

Creio que todos que conhecem o regime de trabalho de Dedicação Exclusiva compreendem os embaraços desta determinação. Embora o regime de Dedicação Exclusiva inviabilize acertadamente outros vínculos empregatícios, o que deriva em ônus e bônus, quem irá fiscalizar e/ou determinar se a prática política inerente ao exercício da cidadania está sendo realizada em "horário de expediente", não desconsiderando as obviedades do trabalho em sala de aula ou de atendimento ao público?

Há muito mais a ser dito. Inclusive sobre a instrumentalização da justiça por grupos, estes incapazes de exercer o debate democrático, com o fito de enfrentarem adversários políticos. Todavia, neste momento, cabe a descrição dos fatos.

Fraternalmente neste sábado onde parte do país se posicionou de forma veemente contra o autoritarismo nas ruas me despeço disponível para todo e qualquer esclarecimento que se faça necessário,

George Gomes Coutinho
Prof. Adjunto de Ciência Política na UFF Campos
Dr. em Ciência Política pelo PPGCP/UFF

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Manifesto do Colegiado de Unidade do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da UFF em Campos dos Goytacazes a favor da autonomia universitária.

Prezad@s,

Há fatos graves transcorrendo na Universidade Federal Fluminense, Pólo Universitário de Campos dos Goytacazes, que causam perplexidade mesmo que estejamos em um Estado Democrático de Direito absolutamente frágil após o golpe parlamentar de 2016.

Em virtude disso reproduzo abaixo o "Manifesto do Colegiado de Unidade do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da UFF em Campos dos Goytacazes a favor da autonomia universitária.". Há uma descrição dos fatos e um posicionamento político que, em última instância, não diz respeito somente ao público universitário. O Manifesto explicita o Brasil que desejamos: democrático, diverso e sem arroubos autoritários.

Fiquemos com o Manifesto:




Manifesto do Colegiado de Unidade do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da UFF em Campos dos Goytacazes a favor da autonomia universitária.


O Colegiado de Unidade do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes decidiu manifestar seu posicionamento sobre os acontecimentos ocorridos após o último dia 13/09/2018, por ocasião da apuração, por parte do Tribunal Regional Eleitoral, de denúncia sobre supostas irregularidades no cumprimento da Lei Eleitoral n.9504/97. Compreendemos que a forma autoritária através da qual se desempenhou sua atuação exibe, infelizmente, um padrão de tratamento conferido às instituições de ensino, pesquisa e extensão, no atual momento, que parecem estranhas à democracia, à legalidade, às garantias de liberdades previstas oficialmente, bem como a autonomia universitária como um todo.

A história da Universidade Federal Fluminense na cidade de Campos dos Goytacazes já dura 56 anos, figurando, em sua gênese, a reconhecida Escola de Serviço Social. A partir do ano de 2009, com o Programa de Expansão e Reestruturação das Universidades Federais, o Reuni, foram abertos novos cursos e departamentos, possibilitando que hoje a UFF, em Campos, atenda mais de 3.000 discentes de todo o Brasil. Atualmente, totalizamos sete departamentos de ensino, seis cursos de graduação (três deles com a modalidade bacharelado e licenciatura) duas pós-graduações acadêmicas stritu senso, um conjunto de pós-graduações lato sensu, programas como a Universidade da Terceira Idade (UNIT) e o SPA (Serviço de Psicologia Aplicada) que atendem à sociedade campista. Todos os cursos são gratuitos e de qualidade reconhecida, tanto pelo alto nível técnico dos professores, (90% do quadro atual formado por doutores de reconhecido mérito acadêmico), funcionários técnico-administrativos bem formados e qualificados, e estudantes que têm obtido sucesso profissional mesmo na etapa de formação na graduação, como no ingresso no mercado de trabalho dentro e fora da cidade, além daqueles que optam pelo ingresso na pós-graduação nos melhores Programas do país, alguns deles, inclusive, fora do Rio de Janeiro. Dessa forma, os mais de 130 docentes e 60 técnico-administrativos são comprometidos seriamente com o pleno desenvolvimento de seus trabalhos, bem como com o retorno da produção de conhecimento de alto nível para a sociedade campista e do norte-fluminense como um todo, região de atuação precípua desta comunidade universitária.

A universidade pública, embora tenha sido criada tardiamente em nosso país – o que certamente explica parte de nossas contradições e de nossas características enquanto sociedade – se consolidou, ao longo de sua história, como um lugar especial de formação de quadros técnicos, como um espaço para o exercício de atividades científicas refinadas e necessárias para nossa própria compreensão e de transformações sociais e como um espaço plural no qual a diversidade de pontos de vistas, perspectivas e expressões do pensamento encontraram aderência. Na história recente, como sabemos, durantes os anos que estivemos regidos pela Ditadura Militar, cujos direitos civis e as liberdades individuais estiveram sob ameaça, esta multi-vocação, que caracteriza a vida universitária, ficou intimidada, mas, o empenho, a resistência e a luta de profissionais e estudantes ao longo de décadas, foram significativos para sua continuidade, sua expansão e sua excelência. A espinha dorsal deste processo foi e sempre será a autonomia, conceito este que, sublinhamos, não significa aversão às normas oficiais ou descumprimentos, mas, indica, semanticamente, uma gramática que preza pela possibilidade de realização plena do trabalho acadêmico e extensivo, bem como ao exercício de nossas liberdades de pensamento que estimulam nossa produção de conhecimento e o debate aberto e plural de ideias.

Este Colegiado, no mínimo, estranha a forma de atuação Tribunal Regional Eleitoral, tal como relatado, observado, por membros da comunidade universitária, o ocorrido no último dia 13/09, e seus desdobramentos, uma vez que a UFF, na sua presença em 56 anos na cidade de Campos, nunca esteve “fechada” para a sociedade, nem para os órgãos oficiais de gestão e fiscalização. Ao contrário, sempre que recebeu notificações, pedidos de esclarecimentos, ou mesmo denúncias através dos canais legais sob os assuntos mais diversos, seus gestores e seus setores administrativos nunca deixaram de colaborar e auxiliar na condução razoável dos processos, independente de posicionamentos políticos ou controvérsias procedimentais.

Infelizmente, a referida e desastrosa atuação pareceu longe de uma etiqueta justa e condizente com a função e importância de órgãos ligados à fiscalização por parte do Poder Público – estes, sem dúvida, considerados instituições fundamentais para o exercício pleno da democracia e da garantia de direitos. Tal ação, até onde nos chegam as notícias, parece estar encontrando reverberações em outras Instituições de Ensino Superior de Campos e região, o que nos faz pensar que não se trata, apenas, de uma controvérsia local e sim de um processo maior e mais amplo, que está colocando em xeque a autonomia universitária no país como um todo.

Por fim, conclamamos não apenas a comunidade acadêmica da UFF-Campos, mas a UFF como um todo, juntamente com todas as Instituições de Ensino Superior, como também, é claro, a sociedade campista e do norte-fluminense, para unirmos forças e resistirmos juntos neste momento tão sensível pelo qual passa a Universidade Pública. Depende de nós mantermos este espaço de excelência, autonomia, pluralidade e legalidade.

domingo, 23 de setembro de 2018

Manifesto Democracia Sim

Prezad@s,

Convido a conhecer o site/manifesto "Democracia Sim". Eis o link :https://www.democraciasim.com.br/

Não há como ser democrata no Brasil, tendo algum parafuso na cabeça, e não estar preocupado com o que ocorre em nosso país na atual conjuntura.

De todo modo, além de sugerir que visitem o site e assinem o manifesto, reproduzo na íntegra o texto abaixo que, creio, foi produzido por diversas cabeças e mãos:

Democracia Sim

- MANIFESTO -


Pela Democracia, pelo Brasil

Somos diferentes. Temos trajetórias pessoais e públicas variadas. Votamos em pessoas e partidos diversos. Defendemos causas, ideias e projetos distintos para nosso país, muitas vezes antagônicos.

Mas temos em comum o compromisso com a democracia. Com a liberdade, a convivência plural e o respeito mútuo. E acreditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e discriminação.

Como todos os brasileiros e brasileiras sabemos da profundidade dos desafios que nos convocam nesse momento. Mais além deles, do imperativo de superar o colapso do nosso sistema político, que está na raiz das crises múltiplas que vivemos nos últimos anos e que nos trazem ao presente de frustração e descrença.

Mas sabemos também dos perigos de pretender responder a isso com concessões ao autoritarismo, à erosão das instituições democráticas ou à desconstrução da nossa herança humanista primordial.

Podemos divergir intensamente sobre os rumos das políticas econômicas, sociais ou ambientais, a qualidade deste ou daquele ator político, o acerto do nosso sistema legal nos mais variados temas e dos processos e decisões judiciais para sua aplicação. Nisso, estamos no terreno da democracia, da disputa legítima de ideias e projetos no debate público.

Quando, no entanto, nos deparamos com projetos que negam a existência de um passado autoritário no Brasil, flertam explicitamente com conceitos como a produção de nova Constituição sem delegação popular, a manipulação do número de juízes nas cortes superiores ou recurso a autogolpes presidenciais, acumulam declarações francamente xenofóbicas e discriminatórias contra setores diversos da sociedade, refutam textualmente o princípio da proteção de minorias contra o arbítrio e lamentam o fato das forças do Estado terem historicamente matado menos dissidentes do que deveriam, temos a consciência inequívoca de estarmos lidando com algo maior, e anterior a todo dissenso democrático.

Conhecemos amplamente os resultados de processos históricos assim. Tivemos em Jânio e Collor outros pretensos heróis da pátria, aventureiros eleitos como supostos redentores da ética e da limpeza política, para nos levar ao desastre. Conhecemos 20 anos de sombras sob a ditadura, iniciados com o respaldo de não poucos atores na sociedade. Testemunhamos os ecos de experiências autoritárias pelo mundo, deflagradas pela expectativa de responder a crises ou superar impasses políticos, afundando seus países no isolamento, na violência e na ruína econômica. Nunca é demais lembrar, líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários.

Em momento de crise, é preciso ter a clareza máxima da responsabilidade histórica das escolhas que fazemos.

Esta clareza nos move a esta manifestação conjunta, nesse momento do país. Para além de todas as diferenças, estivemos juntos na construção democrática no Brasil. E é preciso saber defendê-la assim agora.

É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós.

Prezamos a democracia. A democracia que provê abertura, inclusão e prosperidade aos povos que a cultivam com solidez no mundo. Que nos trouxe nos últimos 30 anos a estabilidade econômica, o início da superação de desigualdades históricas e a expansão sem precedentes da cidadania entre nós. Não são, certamente, poucos os desafios para avançar por dentro dela, mas sabemos ser sempre o único e mais promissor caminho, sem ovos de serpente ou ilusões armadas.

Por isso, estamos preparados para estar juntos na sua defesa em qualquer situação, e nos reunimos aqui no chamado para que novas vozes possam convergir nisso. E para que possamos, na soma da nossa pluralidade e diversidade, refazer as bases da política e cidadania compartilhadas e retomar o curso da sociedade vibrante, plena e exitosa que precisamos e podemos ser.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Conflito UFF x TRE-RJ

TRE volta à UFF de Campos e intima diretor a proibir panfletagem política na unidade

Docentes de várias instituições públicas de ensino têm sido alvo de práticas consideradas intimidatórias, que atentam contra a autonomia universitária garantida pela Constituição de 1988. Exemplo recente das tensões políticas que antecedem o período eleitoral envolve o professor Roberto Rosendo, diretor do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional (ESR) da Universidade Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes, que na quarta-feira (19), recebeu intimação do juiz Ralph Manhães.
O documento afirma que o docente "deve se abster de praticar ou permitir ato de adesivação e panfletagem no interior dessa instituição, bem como a realização de reunião partidária ou manifesto político em desrespeito à legislação eleitoral e o princípio da isonomia com demais partidos e correntes políticas durante o período pré-eleição sob as penas da lei”.
A intimação foi entregue seis dias depois de a comunidade acadêmica da UFF em Campos ter se pronunciado acerca da visita de um magistrado eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral/RJ ao campus universitário, acompanhado de fiscais e policiais militares, que culminou com o arrombamento da sede do DCE. Há relatos de que também teria havido a revista de pertences, a apreensão de documentos pessoais, retirada à força de adesivos das vestimentas dos presentes e a proibição de que voltassem a portá-los na universidade.
A professora Marina Tedesco, presidente da Aduff-SSind, estava naquela unidade da UFF na noite de quarta-feira (19), reunida com outros docentes da instituição justamente para dialogarem sobre a ação do TRE, realizada no dia 13 próximo passado. Ela conta que a intimação foi entregue ao diretor Roberto Rosendo cerca de meia hora após o término da conversa entre os docentes.  O TRE foi à Universidade para apurar, provocado por uma denúncia, a realização de reunião estudantes com caráter político-partidário. Após, entregou a intimação ao professor Roberto Rosendo.
Para a dirigente sindical, assim como a UFF de Campos dos Goytacazes, outras universidades públicas do país têm sido vítimas de interpretações abusivas da lei, com execuções truculentas destas interpretações, que acompanham a restrição às liberdades civis e democráticas que acontecem nos últimos anos no país.
“Não há dúvidas que setores conservadores estão utilizando as denúncias, quase sempre anônimas, para tentar calar o pensamento crítico e a politização inerente às universidades, que cada vez mais vê sua autonomia desrespeitada. E a ADUFF seguirá se posicionando intransigentemente contra tudo isso”, problematizou a docente.
DA REDAÇÃO DA ADUFF |Por Aline Pereira
Fonte: Associação dos Docentes da UFF/Seção Sindical do ANDES-SN (ADUFF/SSind).
Acesso: 

sexta-feira, 14 de setembro de 2018


NOTA DE REPÚDIO CONTRA O ABUSO DE AUTORIDADE NO ARROMBAMENTO DO DACOM DA UFF CAMPOS*

A ADUENF repudia veementemente a ação repressiva e atentatória às liberdades democráticas e à autonomia universitária realizada no dia 13 de setembro pelo Tribunal Regional Eleitoral contra a comunidade acadêmica da UFF Campos.

A partir de denúncia de que haveria na universidade material de propaganda eleitoral de candidatos de partidos de esquerda, a fiscalização do TRE, de maneira autoritária e contrária aos princípios democráticos mais elementares, conduziu uma ação arbitrária que culminou no arrombamento da sala do Diretório Acadêmico, com revista arbitrária das bolsas e mochilas dos/das estudantes e retirada de adesivos que estavam colados em suas roupas, em flagrante desrespeito à inviolabilidade de seus corpos e ameaça de prisão para aqueles que interpelavam o juiz responsável e denunciavam sua arbitrariedade.

Repudiamos o abuso de autoridade dessa ação e a tentativa de instituição da “Escola com Mordaça” no ambiente universitário. Manifestamos, ainda, nossa solidariedade à comunidade acadêmica da UFF Campos e ao Diretor Roberto Rosendo e ao Professor Hélio Coelho, diretamente atingidos pela arbitrariedade judicial.

Não aceitaremos a violação da autonomia universitária e a repressão ao exercício das liberdades políticas duramente conquistadas com a resistência à ditadura empresarial-militar instituída pelo Golpe de 1964 e garantidas pela Constituição!

DITADURA NUNCA MAIS!!!

Campos dos Goytacazes, 14 de setembro de 2018

ADUENF-SESDUENF
Gestão Resistência e Luta 2017-2019

* Publicado na página da Associação dos Docentes da UENF no Facebook.

Acessível em: 
https://pt-br.facebook.com/aduenf/

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Simpósio - Controle social de rendas petrolíferas

Simpósio discute controle social de rendas petrolíferas

Estão abertas até 17/09/18, ou até o preenchimento das vagas, as inscrições gratuitas para o Simpósio Controle Social, Rendas Petrolíferas e Impactos Socioambientais, que ocorrerá dias 21 e 22/09/18, no Centro de Convenções Oscar Niemeyer, da UENF. O evento integra o projeto de educação ambiental “Territórios do Petróleo: Royalties e Vigília Cidadã na Bacia de Campos”, uma condicionante de licenciamento ambiental federal conduzido pelo Ibama e desenvolvido pela UENF em parceria com a Petrobras.
As inscrições são gratuitas, com vagas limitadas. Haverá emissão de certificado de participação. Informações e inscrições: www.territoriosdopetroleo.eco.br
Fonte: UENF.
Acesso: http://www.uenf.br/dic/ascom/2018/09/12/informativo-da-uenf-12-09-18/ 

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Entre anjos e demônios


Entre anjos e demônios


Por Paulo Sérgio Ribeiro

Um evento insólito: Jair Bolsonaro esfaqueado à luz do dia. O atentado contra o presidenciável ocorrera em plena campanha no município mineiro de Juiz de Fora às vésperas do feriado nacional da Independência. De pronto, teorias conspiratórias pululam e toda sorte de oportunismo político se faz presente nas narrativas sobre suas possíveis causas e os prováveis desdobramentos para o pleito de 7 de outubro. Antecipar prognósticos neste momento é, no mínimo, arriscado, dada à opacidade dos acontecimentos numa eleição atípica em tantos aspectos.

Importa avaliar a agressão sofrida por Bolsonaro não como um ponto fora da curva senão como a "curva" em si e, aqui, tocamos na nervura de todas as tensões. A imoderação das paixões parece ter alcançado o seu ponto de inflexão quando um líder de extrema-direita se encontra com as consequências do imaginário em torno da violência política que o próprio personifica. Esta óbvia constatação não nos autoriza a subestimar o perigo da regressão dos costumes, isto é, a incapacidade de uma cultura e sociedade definirem acordos morais mínimos sobre o que seja “crime e castigo” contra um indivíduo ou grupo nas lutas por poder.

Mesmo admitindo que Bolsonaro desconhece barreiras éticas entre os discursos que profere e o decoro parlamentar enquanto deputado federal no sétimo mandato consecutivo, é forçoso indagar como eventuais mistificações sobre o atentado podem vir a caracterizá-lo como um “mártir” da democracia que sempre desprezou. Se isto procede, não é demais lembrar que, diante desta maré montante de irracionalidade, todos temos de fazer escolhas, tenhamos consciência disso ou não. Repudiar a agressão contra Bolsonaro é fortuito se, e somente se, consigamos, em nossa esfera de ação imediata (quem não tem um parente ou amigo reacionário hoje em dia?), devolver àqueles que o seguem sua condição de sujeito moral, isto é, restituir-lhes a capacidade de responsabilizar-se pelo que falam e sentem quanto à realização de fins legítimos.

Do contrário, a insegurança jurídica promovida por aqueles que custodiam na Justiça Federal a manutenção do golpe parlamentar contra uma Presidenta legitimamente eleita reduzirá a luta política a um embate de vida e morte entre machos-alfa pela comando autoritário da nação. 

Até o momento, os sinais são confusos no que toca à transposição desse cenário.

O debate público no Brasil foi colonizado por moralistas sem moral que fomentam medos e preconceitos em determinados segmentos da classe média tradicional contra os pobres em geral e as minorias em particular, impondo uma agenda antipopular e antidemocrática cujos efeitos se fazem cada vez mais dramáticos e que desafiam o campo progressista a atualizar seus acordos táticos neste 1º turno, caso o que esteja em jogo seja redesenhar um pacto social que reabilite direitos fundamentais e, não menos, valores civilizatórios.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Nota de pesar Ciências Sociais da UFF- Campos dos Goytacazes - Museu Nacional






Campos dos Goytacazes, 03 de setembro de 2018

O Departamento de Ciências Sociais e as Coordenações do Curso de Ciências Sociais de Campos dos Goytacazes vêm manifestar sua profunda dor com a tragédia que atingiu de forma incomensurável a Memória, o Patrimônio, a História e a Ciência brasileira na noite de ontem (02/09/2018) e que culminou na destruição do Museu Nacional.

Gostaríamos ainda de sinalizar nossa solidariedade com aqueles e aquelas que durante 200 anos de História trabalharam na construção desse espaço com sua magnitude, riqueza e compromisso.

Por fim, denunciamos o descaso e descompromisso dos atuais gestores públicos com o patrimônio histórico brasileiro, a produção científica e cultural e a forma como têm sido tratados. Tal descaso e descompromisso ameaçam nossa memória e nosso futuro como nação.

 Atenciosamente,

Chefia do Departamento de Ciências Sociais Coordenações do Curso de Ciências Sociais (Bacharelado e Licenciatura)