A Ciência Política como
termômetro da conjuntura*
George Gomes Coutinho **
A Ciência Política brasileira
completa neste ano de 2016 uma data histórica: o aniversário de 50 anos de
criação do primeiro curso de mestrado da área na Universidade Federal de Minas
Gerais. Para a ainda atualmente pequena comunidade de cientistas políticos
brasileiros, o marco de 1966 indica tanto a autonomização da área de
conhecimento disciplinar quanto um passo decisivo na direção da formação
profissional dos seus adeptos.
Nestes 50 anos a Ciência Política
tem se apresentado no cenário acadêmico, junto de suas outras co-irmãs das
humanidades, como uma observadora socialmente interessada, atenta e
indiscutivelmente sensível da conjuntura política. São observados em seu
movimento pendular o cenário das instituições, eleições, os agentes coletivos e
individuais, as regras do jogo e outras temáticas em um continuum de acumulação
de conhecimento. Justamente por esta relação íntima com o fenômeno do poder,
dada a especificidade desta área de conhecimento, a produção de nossa Ciência
Política poderia ser acolhida pelo observador externo, ou, em outros termos, pela
sociedade como um todo, como um verdadeiro termômetro das tendências da
política nacional.
Neste momento há um
direcionamento na agenda de pesquisas e debates na nossa Ciência Política
demarcado pelo retorno das preocupações com soluções autoritárias de diversas
origens e, em anexo, certa inquietação com a saúde de nosso sistema democrático.
Os ventos pós-junho de 2013 continuam a soprar. Não obstante a desconcertante
resiliência das oligarquias, a atenção da área migra para as mudanças circunstanciais
no perfil do legislativo brasileiro, onde ocorre uma guinada francamente
reacionária. Cabe compreender este movimento. Dentre temas emergentes, o
judiciário como agente político cotidiano capaz de descalibrar o sistema de
forças do sistema político igualmente se apresenta. Ainda, dentre as novidades,
o olhar atento sobre a atuação da grande mídia como outro agente político
relevante ganha a complexidade da atuação difusa de grupos nas redes sociais deflagrando
ações coletivas. Caminhamos, assim, com permanências. E novas nem sempre boas.
* Texto publicado no jornal Folha da Manhã em 28 de agosto de 2016
** Professor de sociologia no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes