Por Paulo Sérgio
Ribeiro
07 de abril de 2018 não cabe nas
monótonas folhas do calendário, bem como não cabe neste texto uma síntese dos
significados que poderíamos atribuir a ele. Nesse dia, assistimos à mobilização
popular no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo/SP, iniciada com a
decretação da prisão do ex-Presidente Lula, que ali se reunira com dirigentes do PT, lideranças de outros partidos do campo progressista (PSOL,
PCdoB entre outros), entidades sindicais e movimentos sociais de expressão
nacional, como o MST, devolvendo-nos a imagem da política como uma pulsão de
vida que ainda habita em nosso agir.
A criminalização da maior
liderança nacional depois de Vargas parecia chegar ao seu clímax e a narrativa
que lhe servia de moldura encontrava finalmente o seu epílogo. Mas (sempre há um “mas”...)
faltava combinar os detalhes desse roteiro punitivista com quem não tem outra
vocação além do protagonismo na luta política: Lula. Posso imaginar a tensão
que se acumulava sobre os seus ombros e o seu grupo de apoio para uma tomada
de decisão cujas ponderações táticas mesclavam-se com o clamor pela resistência
ao arbítrio. Ora, por que não resistir diante de uma orquestração de atores institucionais
cuja competência para dizer o direito divorciou-se dos valores morais
universalmente aceitos em torno da garantia de ampla defesa? Por que acatar uma
prisão que se sabe ilegal?
Eu, sentado aqui no conforto do
meu lar, batucando esse teclado, não me atreveria a julgar o posicionamento de
Lula, pois a resposta que teve de dar àquelas questões cruciais foi
o mais solitário dos atos, ainda que cercado por tantos colaboradores
experientes. Provavelmente, para além do risco de invalidar tentativas futuras
de recorrer da decisão, pesou-lhe o custo humano da desobediência civil em face
de uma direita autorizada a tudo pelos “odiadores da política”, este poço sem
fundo de ressentimentos em estado de prontidão para abater o “inimigo público”
da vez.
Porém, dimensionando aquilo que confere
à política o seu pão de cada dia – a luta simbólica – a prisão de Lula foi como
“ele” quis. A exposição da capacidade de sacrifício de um senhor quase septuagenário foi
a deixa que os seus algozes não esperavam conceder. A comunicação emotiva de
Lula aliada à postura conciliatória com a qual conduziu os seus governos de
inclusão ratifica a sua liderança carismática e, considerando a resistência em
São Bernardo do Campo como um dos eventos mais dramáticos da república brasileira
pós-1988, garante-lhe a posteridade – essa versão secularizada do sonho de
imortalidade que os gregos antigos nos legaram. “Eu não sou mais um ser humano,
eu sou uma ideia” – frase proferida por Lula em seu discurso antes de anunciar que iria se entregar à Polícia Federal e que resume à perfeição o alcance de sua presença no imaginário social.
Lula é um preso político. Estará
o campo progressista à altura desse desafio? Haverá consensos mínimos para um
debate programático que contrarie, parcialmente que seja, a sentença
weberiana de que é improvável um líder carismático transferir a
lealdade dos seus liderados a um sucessor? Nesse cenário de crise institucional,
as esquerdas têm a chance de se reinventarem não sem antes correrem o
risco de devorar a si mesmas.
Os dados estão lançados.
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