Bauman
(1925-2017) *
George
Gomes Coutinho **
O sociólogo Zygmunt Bauman morreu
em pleno inverno inglês no último domingo, dia 08 de janeiro, em sua última
casa em Leeds. Porém, Bauman, o indivíduo, habitou outras casas e países em sua
trajetória. Mas, antes, partiu da Polônia, seu local de nascimento, viveu na extinta
União Soviética, também passou por Israel e, por fim, a Inglaterra, nação onde
encontrou bases mais sólidas para construir sua carreira e sua vida.
Assim se resume de forma
absolutamente precária o Bauman concreto. De certa maneira, um desterrado em
sua própria terra. Condição esta de diversos intelectuais judeus, tal como de
muitos outros que se tornam refugiados. Os elementos biográficos não geram o
entendimento por encanto de nenhuma obra teórica ou trajetória. Contudo,
usando um pouco de imaginação sociológica, pode-se utilizar a biografia como
pretexto para abordar uma produção intelectual que publicou aproximadamente 42
livros e 146 artigos acadêmicos traduzidos nos cinco continentes e na polifonia
das línguas humanas.
Bauman trabalhou uma diversidade
de temas. Não posso neste espaço sequer citar todos. Vou apresentar apenas
quatro: o amor, o poder, a desigualdade social e discutiu uma abordagem geral
da sociedade. Integrou análises de escala macro e micro. Dotado de uma maneira
de compreender o mundo conscientemente porosa, Bauman conseguiu transpor as
fronteiras das Ciências Sociais em dois limites distintos. O primeiro limite de
caráter interno: desconsiderou as fronteiras disciplinares e construiu uma obra
subversivamente transdisciplinar. Por isso talvez seja também conhecido como
filósofo. A outra fronteira sobrepujada é a estabelecida pelos muros da
universidade e o leitor comum. Encontrei livros de Bauman em estantes
improváveis de profissionais de formação diversa. Mais uma vez o estrangeiro
onde quer que fosse. Dentro ou fora das ciências humanas. Dentro ou fora da
academia.
Retomando a biografia de nosso
autor, Bauman vivenciou os grandes regimes do século XX. Nazismo, socialismo
realmente existente, a destruição quase integral do Estado de Bem-Estar Social
europeu e, ultimamente, o rentismo neoliberal. Nenhum destes o entusiasmou.
* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 14 de janeiro de 2017
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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