Desemprego ampliado*
George
Gomes Coutinho **
Índices são construções de
agências, instituições e pesquisadores que tem por objetivo traçar um
diagnóstico sobre determinado fenômeno ou simplesmente permitem operacionalizar
um conceito abstrato. Almejam mensurar um ou outro. Usualmente são aplicados em
diversos momentos em uma trajetória temporal/histórica, o que permite a
possibilidade da comparação de um ano ou mês X com ano ou mês Y. São ainda mais
interessantes quando há dados que permitem sua aplicação em diferentes nações,
algo que igualmente incentiva o exercício comparativo.
Um índice de qualidade permite
diversas aplicações e os considero tanto melhores, para além do já exposto,
quando agregam variáveis que realmente importam e não escamoteiam o que
pretendem mensurar. É o caso do índice de desemprego ampliado publicado pelo
Banco Credit Suisse, cuja sede é em Zurique/Suíça. Os dados do último trimestre
de 2016 colocam o Brasil na sexta posição dentre os países analisados. O
primeiro lugar do ranking está com a Grécia, justamente o país que implementou
ao pé da letra as medidas recessivas que vêm aplicando por aqui.
A taxa de desemprego ampliado
brasileira é, no período, de 21,6%. Para o IBGE a taxa de “desocupação” está em
12%. Portanto, os números do Credit
Suisse são quase o dobro dos apresentados pelo IBGE.
Cabe notar que o índice aplicado
pelo Credit Suisse condensa o seguinte conjunto de elementos: 1) considera os
que procuram uma vaga no mercado de trabalho e não encontram; 2) inclui os que
desistiram de procurar uma vaga por se sentirem desalentados com a conjuntura;
3) agrega todos os que estão subutilizando sua força de trabalho fazendo os
famosos “bicos”.
Em termos numéricos, 23 milhões
de pessoas da força de trabalho nacional encontram-se na situação descrita em
uma conjuntura política conservadora onde medidas de precarização da relação
patrão X empregado tem sido alardeadas como possíveis soluções milagrosas.
Desconheço encaminhamento mais covarde. Só irão aprofundar o desemprego
ampliado.
* Texto publicado no Jornal Folha da Manhã em 04 de fevereiro de 2017
** Professor de Ciência Política no
Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes
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